Crítica - Godzilla vs Kong (2021)

Aprender com os próprios erros é essencial... Mas na Warner eles não fazem isso.

🚨🚨 Texto com spoilers 🚨🚨

Chegamos ao quarto capítulo desse Monsterverse da Warner (não me pergunte como), e depois de dois filmes horrorosos do Godzilla: "Godzilla" (2014) e "Godzilla 2: O Rei dos Monstros" (2019) e um bom filme do Kong intitulado "Kong: A Ilha da Caveira" (2017), agora culmina em um encontro dos dois. É um daqueles crossovers que você nunca espera que sairá das ideias, pois são duas franquias tão gigantescas que parecia um embate improvável, mas conseguiram colocar os dois na mesma tela, e, olha, e tenho de dizer que só não é decepcionante porque eu já não dava nada para ele. Aí você pensa: "pô, é um macaco gigante lutando contra um lagartão radioativo, pura briga de CGI, como que é ruim? Não tem nenhuma proposta além dessa, é farofa, não é para ganhar Oscar" e essa baboseira toda. Bom, isso não está longe de ser verdade, fizeram isso para os bichão sair no soco, mas o problema é que deixam os personagens do título de lado para dar foco em um grupo de humanos desinteressantes e sem graça.

Cinquenta anos após os eventos de A Ilha da Caveira, Kong cresceu e está sendo mantido em um domo por cientistas, que suspeitam que ele tenha vindo de um reino no interior da Terra, chamado por eles de Terra-Oca, a qual era uma teoria do Dr. Nathan Lind (Alexander Skarsgård). Com isso, tentam levar o mamaco para lá, em uma expedição liderada pela Dra. Ilene Andrews (Rebecca Hall), a qual leva consigo a pequena Jia (Kaylee Hottle), uma garotinha surda a qual tem uma conexão com o gorila. No entanto, em seu caminho marítimo, acabam atravessando as águas do Godzilla, que imediatamente cria uma rivalidade com o macaco. Olha, tem muito mais humanos no longa além dos três que eu citei, mas adivinha? São tão irrelevantes quanto a sociologia nas escolas. Tem cada personagem caricato que não faria diferença estar lá, que dá vontade de baixar o filme, pôr num editor e cortar tanta coisa, porque hão várias qualidades, porém são diminuídas com o excesso de futilidade em tela.

A direção é do Adam Wingard, odiado por muitos, amado por muitos também, é um realizador que divide bastante opiniões, fez obras polêmicas que não vem ao caso aqui. Mas, independente do que você pensa dele, é nítido que ele não fez o que queria, foi usado de chaveiro de estúdio para gerar algo que poderia ter sido muito mais divertido. Pô, eu não vim querendo pensar, não quero saber de história bem elaborada, eu quero é ver kaiju saindo na mão. Quando tem luta, é ótimo, todas as cenas de ação são excelentes, o problema são as quase duas horas restantes que focam nos humanos. Tem bons atores, fato, porém os personagens não são interessantes. O arco do barco tem a menina surda que se comunica com o Kong (que é totalmente desnecessária, aliás), o Alexander Skarsgård, que tem um background interessante, mas é mal explorado. Rebecca Hall é igualmente fútil, só serve para se comunicar com a garotinha e entregar diálogos desnecessariamente expositivos. E a Eiza Gonzalez é uma performance risível, a caricatura da nepobaby que tenta se pagar de Sarah Connor no final é ridícula, parece piada.

Mas nada, NADA, supera o trio da desgraça, com a Millie Bobby Brown, Julian Dennison e Brian Tyree Henry. Nenhum dos três é um ator ruim, temos a Eleven, o Henry foi indicado ao Oscar recentemente com méritos, mas se você pega todas as participações desses personagens e simplesmente retira do longa, não muda quase nada. O que muda é que são eles os responsáveis por liberar o Mecha Godzilla - e ainda é na cagada. São três pessoas insuportáveis, a menina irritante, o pau mandado dela e o conspiratório do podcast, é tudo que eu não quero ver num filme com esse título. Inclusive, outro dos principais pontos negativos é o "vs." no título, já que sofre com o mesmo problema de longas anteriores com essa palavra no nome: sentir a necessidade de pôr os dois personagens do mesmo lado. Eu quero ver o macaco surrando o lagartixa, é o que me prometeram. Colocar uma versão cibernética do Godzilla não é só broxante, como sem nenhuma criatividade, é uma preguiça desgraçada, onde pensaram mais nos brinquedos que no bem comum da narrativa.

O que dá para destacar é realmente luta e parte técnica, é aonde não tem nenhum vacilo. As cenas de porrada são espetaculares, os dois embates dos personagens-título são maravilhosos, é o que todo mundo quer ver, e é loucura, é maravilhoso ver dois personagens icônicos do cinema de ação saindo na trocação franca. Eu confesso ter torcido a favor do macaco, ele é muito mais legal que o lagarto (e tem filmes muito melhores no geral também, só metade daquele do Peter Jackson já surra todos os Godzillas de Hollywood), mas é inegável que o Gojira fez sopa de mamaco com o Kong. A cena da Terra-Oca com o Kong tornando-se realmente o King Kong também é sensacional, a obra toda merecia uma vibe daquela, uma aura épica. O CGI é praticamente o que conduz o longa, já que depende 100% dele para funcionar, os pelos do primata, as escamas da criatura, a reconstrução mecânica do Godzilla, é tudo espetacular, um dos trabalhos mais caprichosos de Hollywood recentemente.

Não há muito para falar sobre "Godzilla vs. Kong", o que faz sentido, é uma trocação franca entre dois bichos gigantes do cinema de ficção científica/ação. Porém,  muito do que tem de falar é negativo graças a um estúdio que interfere em prol do marketing, dos produtos e da moeda ao invés de prezar pela mínima qualidade. Contém ótimas cenas de ação, é um fato. Visualmente, é belíssimo, toda a questão, não só de VFX, como fotografia, os cenários coloridos em neon, os tons que criam um estilo próprio, a direção de arte, dinâmica de cenários, é realmente bem produzido. Porém, há uma história desastrosa que atrapalha o embate entre os monstrão, e no final ainda inventam um adversário que surge DO NADA para fazer com que os dois se unam. Adam Wingard foi feito de marionete pela Warner, dá pena, é o filme de estúdio mais estúdio possível.

Nota - 5,5/10

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