Crítica - Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018)

Em minha opinião, um dos melhores filmes da história do seu gênero!

Muitos falam de Jordan Peele, muitos falam de Robert Eggers e muitos falam de Ari Aster, é uma nova geração de diretores de terror que todo mundo discute qual o melhor e, para mim, o melhor é John Krasinski, pois esse filme sozinho é melhor do que os filmes dos três diretores citados juntos! Para falar a verdade, eu não gosto de filmes de terror, não é que eu ache ruim, só não é meu estilo de filme, claro, tem alguns que eu gosto, como "Possessão" (1981), "Halloween" (1978), "A Mosca" (1986) e meus dois favoritos do gênero seriam "Psicose" (1960) e "O Silêncio dos Inocentes" (1991), são os únicos dois que eu dei nota máxima, porém percebam que os dois não são exatamente do gênero de terror, mas sim, mais do gênero de suspense policial, então percebe-se que eu não sou um grande fã do gênero e que para eu gostar de um filme desses ele tem que ser realmente muito bom e esse consegue. O filme basicamente conta a história de uma família no meio do apocalipse, porém é um filme original na criação de sua ameaça e sua vivencia nesse universo, que para quem mora em uma caverna e não sabe, o filme é ambientado em um apocalipse onde aliens cegos com uma audição sensível invadem a Terra e começam a matar quem faz som, então aí o desafio é maior porque não se pode fazer barulho algum, isso já mostrado em uma cena magistral introdutória onde a família que acompanhos perde o seu caçula por ligar pilhas em um aviãozinho de plástico e aí já temos uma introdução de como funciona esse universo do filme. É um conceito interessantíssimo, é um universo que eu estou muito curioso em ver como será expandido na sequência, cada conceito sobre o som, o movimento, sobre esses aliens, tudo bem planejado, apresentado e explicado por Krasinski, essa parte da explicação que muita gente reclama de ser "roteiro expositivo" eu acho bem necessário, para nos situar de como funciona naquele mundo, nem toda a exposição em filme é necessariamente ruim.

É um filme nervoso, eu já vi esse filme três vezes (contando com essa) e ainda sim é uma experiência imersiva, uma das melhores experiências cinematográficas que eu já tive, mesmo vendo de novo, Krasinski cria um ambiente no filme de suspense o tempo inteiro, é uma apreensão durante toda a exibição, meu coração batia muito forte, sem brincadeira, parecia que ia explodir, isso que eu já estava revendo, imagina como não estava na primeira vez. O filme só tem dois momentos de alívio realmente, onde parece que você está prendendo a respiração abaixo de água e volta para o ar, são quando os personagens gritam, o Noah Jupe na cena da cachoeira e a Emily Blunt na cena do parto, são os únicos dois momentos que a apreensão some, são os momentos onde você consegue respirar, se livrar da tensão que te assola o filme todo. A imersão causada no filme também é dada por Krasinski nos colocar no ponto de vista (ou melhor, ponto de audição) de quase todos os personagens do filme, incluindo os aliens, perceba que: sempre estamos no ponto de vista de um dos personagens e não em algum neutro, isso é trabalhado pelo áudio no filme, quando está na frequência "normal" de som é o ponto de vista da mãe, do pai e do filho (dá para perceber quando que é que cada um está no ponto central em tal momento), quando está apenas ruídos ou quase nada, é o ponto de vista da filha e quando o som está totalmente agudo, é uma amostra do poder auditivo dos alienígenas e, praticamente, sentimos na pele como é ser um deles por alguns segundos, isso parece tão idiota, porém é tão espetacular.

O filme também acerta nos personagens, são personagens com camadas, eu gosto muito da relação entre pai e filha que é trabalhada, pois a filha se sente culpada pela morte de seu irmão mais novo e sente que o pai também acha isso, e deixou de amá-la por esse episódio, porém todo pai (que se preze) ama seu filho com todo corpo e alma e acaba se sacrificando para salvar a vida de sua filha e só nesse momento, a filha percebe o amor de pai. Como disse no meu texto sobre "A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas", é sociologicamente comprovado que um filho do sexo feminino é mais apegado ao pai e aqui vemos meio que uma quebra disso, apesar do pai se aproximar, a filha sempre foge, Krasinski nos apresenta essa relação de uma forma bem pessoal, talvez sendo baseada na relação que ele teve com seus pais, ou que ele tem com seus filhos, não sei, mas senti muito que aquilo é pessoal, também mostra uma realidade, pois à partir de um certo tempo, você começa a se afastar da sua família, na adolescência, principalmente, você fica distante da sua mãe, do seu pai ou de qualquer figura partenal ou maternal, você prefere sua privacidade e sua ansiedade começa a aparecer mais forte, você fica se questionando se eles realmente gostam de você, mas na verdade é você que não está gostando deles. Sei que tem muito adolescente lendo isso agora que está passando por essa fase e quero te avisar que tudo que seus pais fazem é para o seu bem, eles só querem que você tenha a melhor vida possível, não desdenhe deles agora, uma hora você vai precisar deles e eles vão estar debaixo da terra em um caixão, então, valorize enquanto dá tempo. Voltando aos personagens, eu parabenizo o elenco que fez um trabalho espetacular, mas dando um destaque maior na estrela desse filme: Emily Blunt. Essa mulher está incrível, é uma força da natureza aqui, ela transmite para a personagem um ar de mulher forte, inteligente, que, provavelmente, era uma médica muito boa (a mulher fez um autoparto) e principalmente, um ar de mãe, ela é uma mãe, uma cena no filme que eu acho belíssima é já para o final e a Emily Blunt abraça os filhos ajoelhados na entrada de casa, uma cena tão pequena, mas que já significa tanto para a construção da personagem, ela não importa o que aconteça vai cuidar dos filhos, isso que é mãe de verdade! E na cena do parto é aonde que mostra esse talento todo, ela gritando como disse acima, trás uma sensação de alívio ao espectador, ela na atuação vai se contorcendo, como se fosse explodir, eu já vi um vídeo de parto, e é mais ou menos assim, eu nunca vou sentir uma dor assim, porém imagino ser a pior dor do mundo (na verdade já tomei um chute nos testículos que deve doer tanto quanto, porém acho que o parto ainda supera), cara, a atuação corporal é perfeita, a atuação da carreira dela sem sombra de dúvidas.

Também não posso esquecer de algumas mensagens ocultas que interpretei do filme, como dar valor à fala, dar valor à audição e dar valor aos sons ao seu redor, uma hora você não estará mais aqui para apreciá-los. "Um Lugar Silencioso" é mais que um simples filme de terror, é uma experiência espetacular que poucas vezes terás ao ver um filme. Eu geralmente não dou bola para como as pessoas assistem a um filme, porém eu não ligo se você vai ver pausando ou não, só apelo para você ver com fone de ouvido e em silêncio total, só assim para ter a melhor experiência possível. É espetacular, me pegou demais nessa reassistida, eu já tinha visto duas vezes antes, porém o baque só veio agora: eu amo esse filme!

Nota - 10

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