Crítica - Homem de Ferro (Iron Man, 2008)
Já fazem 13 anos desde que esse filme foi lançado no momento que esse texto está sendo escrito, eu era criança na época, lembro de ver DVD pirata vendendo na feira e comprar, saudades daquele tempo. Rever me traz uma sensação de nostalgia pura, eu vi a evolução desse personagem no cinema durante 11 anos da minha vida, praticamente eu cresci evoluindo junto com ele e é legal voltar às origens dele, é um filme que eu não assistia há uns cinco anos e essa experiência melhorou o filme na minha cabeça, eu tenho um carinho bastante especial por ele. O filme começa nos apresentando a Tony Stark (Robert Downey Jr.) do jeito mais estereotipado de um ricasso na época e quase idêntico aos quadrinhos, um alcoólatra, despreocupado, irresponsável, pegador, um cara que não dá a mínima para nada, os primeiros 30 minutos desse filme são a apresentação perfeita de um personagem para vermos a evolução dele após o trauma, o turning point do filme.
O Jon Favreau como diretor soube bem como trabalhar com o personagem, essa introdução dele é espetacular e o trabalho após o ponto chave de mudá-lo totalmente e explorar meio que um trauma nele é muito bem feito, inclusive fazendo o espectador questionar que ele tenha realmente TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático) em certo momento. A parte que se passa no cativeiro é muito boa, pode até ser considerado como a melhor parte do filme, pelo menos para mim é, acho muito bom como o Favreau trabalha o horror do Stark no meio daquela guerra e o choque de realidade dele ao notar o que os produtos dele estão causando, o terror que apresenta e o quanto é perigoso em mãos erradas e a relação dele com o Yinsen (Shaun Toub), não sei bem como descrever, é algo meio que de professor e aluno, mas ao mesmo tempo é meio que uma relação de companheirismo e a interação dos dois atores é, de verdade, muito boa, pena que dura pouco, mas acho que é essa duração que deixa tudo melhor, se durasse mais acho que não iria fazer sentido, ficar monótono e que iria enjoar.
Também gosto de como é trabalhado a relação dele com o Rhodes (Terrence Howard), é uma relação de melhores amigos mesmo, que sempre se ajudam, se zoam e é aquela parada que eu falo em alguns textos sobre o trabalho de contrapontos, um sempre será o racional e o outro sempre será o emocional, o Rhodes é a contraparte racional do Tony e o Terrence Howard no papel tá muito bem, ele dá esse ar de militar mais sério, mais racional, que sempre quer dar seu melhor e sempre que ajudar seu amigo, porém ver depois do Don Cheadle estar no papel há onze anos é meio estranho, é um bom debate até de quem foi melhor. Além do relacionamento com a Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) que é bem explorado e há uma química interessantíssima entre o RDJ e a Gwyneth Paltrow, esse relacionamento dela sempre se preocupar e ele ser só um vagabundo debochado que não tá nem aí é muito bom e a tensão amorosa entre os dois é primorosa para que você torça para eles ficarem juntos.
E bicho, o Robert Downey Jr. como Tony Stark simplesmente o casting mais acertado dos últimos tempos, ou um dos, no mínimo. Primeiro que o Downey Jr. era basicamente o personagem na vida real nos anos 90, depois perdeu tudo e retomou sua carreira, é uma baita história de superação. O cara praticamente encarnou o Tony Stark, ele fez outros filmes sensacionais como "Beijos e Tiros" e "Zodíaco", mas ele vai sempre ser lembrado como Homem de Ferro, é impossível olhar para a cara dele e não pensar "olha é o Homem de Ferro", ele entrou demais no papel e consegue transmitir os sentimentos e a personalidade forte do Tony muito bem, ele consegue transpassar bem tanto o playboy que não dá a mínima que ele é no início, quanto um cara mais preocupado e traumatizado depois que ele sai do cativeiro, mas sem perder o deboche e a ironia enraizada em sua essência. Eu simplesmente amo esse cara e não há ninguém no mundo que teria interpretado o Tony Stark melhor que ele.
Inclusive é um filme bem fiel aos quadrinhos do Homem de Ferro, para quem gosta de HQs, é quase impossível desgostar, a única coisa que muda da origem real do Tony é que nas hqs era a Guerra do Vietnã e na adaptação tiveram que adaptar (duh) e trocaram para os confrontos entre EUA e o Oriente Médio, mas é uma mudança logicamente necessária que no final não muda muita coisa. Só tem duas coisas que eu não gosto no filme e as duas são praticamente relacionadas, a primeira é o vilão, o Obadiah Stane (Jeff Bridges), que nunca fica realmente claro a motivação dele, eu juro que até agora não entendi, ele só é um cara que quer matar o Tony e se tornar CEO, isso dá para entender, mas o que não dá para entender é o porquê dele começar a atacar civis do nada, ele vira só o vilão risadinha, foi um desperdício do grandioso ator que é o Jeff Bridges. A outra coisa que eu não gosto é a forma que ele é derrotado, é bem conveniente e de fácil estranhamento, mas dá para ignorar, é um filme de ação e coisas assim acontecem por livre e espontânea vontade dos roteiristas.
O final do filme é clássico com o Tony dizendo "eu sou o Homem de Ferro", é memorável, é arrepiante, simplesmente sensacional, além da cena pós-créditos, sinceramente nessa última eu queria muito estar na sala do cinema durante a cena pós-créditos, os que continuaram eram verdadeiros fãs que estavam esperando algo e devem ter pirado ao ver o Samuel L. Jackson como Nick Fury falando sobre Vingadores, deve ter sido louca a reação das quatro pessoas que ficaram até o fim.
"Homem de Ferro" até hoje é um dos melhores filmes da Marvel, de origem e de super-heróis, um filme puramente divertido, com uma ação agradável e um dos personagens que viriam a ser um dos mais queridos da história do cinema, uma ótima apresentação de universo, um filme que trouxe Robert Downey Jr. de volta para o público geral (para Hollywood ele já havia voltado anos antes com "Beijos e Tiros") como o personagem que mudou a sua vida e sua carreira. É um filme básico, que serve para estabelecer universo e entregar o mais puro e limpo entretenimento, tem ação no talo, desenvolvimento de personagem bem feito e ainda deixou deixas para o que se tornaria o universo cinematográfico mais bem sucedido do cinema. Apesar de alguns problemas, é marcante e nostálgico.
Nota - 8,0/10