Crítica - Duna (Dune, 2021)

A decepção do ano?

🚨🚨 Texto sem spoilers 🚨🚨

Antes de começar o texto, gostaria de explicar minha relação com a história de Duna. Bom, começa aqui nesse filme. Confesso que até alguns anos atrás nunca tinha ouvido falar sobre essa história, seja o livro de Frank Hebert ou a fracassada primeira adaptação "de" David Lynch. Então, descobri que é simplesmente a base para qualquer ópera espacial existente, o que inspirou muitas das coisas que eu gosto, é a obra literária de ficção científica mais vendida de todos os tempos, uma franquia enorme onde cada livro parece uma bíblia de tão grande. Eu, honestamente não sabia nada da história, quem era quem, eu fui assistir neutro, sem hype nenhum sobre e acabei me surpreendendo... Só que negativamente. Eu não gostei, vou explicar melhor ao longo do texto, eu fui querendo descobrir uma história incrível, um universo novo, uma mitologia interessante, mas eu senti que não me apresentou nada disso, eu só queria que acabasse logo, eu quase não suportei até o final. 

Em uma outra galáxia, acompanhamos a história do planeta Arrakis, um planeta desértico mas que contém a Especiaria, que manda no universo conhecido. Nisso, três povos brigam pelo controle desse artefato, que é usado das mais diversificadas formas, desde construção e culinária até como entorpecente. São eles: a Casa de Atreides, uma importante força do planeta; os Fremen, o povo nativo; e os Harkonenn, os invasores (praticamente colonizadores). Paul Atreides (Timothée Chalamet) é um jovem príncipe habilidoso e com poderes de clarividência, treinado pelos melhores do exército de seu povo, que é preparado para caso algo grande chegue e ele precise ser o grande líder. Quando a inevitável guerra aproxima-se, os Atreides precisam se preparar para que o futuro do planeta não seja ameaçado, jogando Paul em uma busca pelas suas visões e pelo destino de todo um universo. Quem dirige aqui é o Denis Villeneuve, um diretor que no início da cinefilia da atualidade geral gosta e com o tempo muitos desfazem a ilusão (comigo foi assim). Não sou fã, mas, sinceramente, senti falta de autoralidade aqui, de sentir que tinha uma coesão na direção, parece que ele vai trabalhando algo para chegar a um ponto que não chega. Soa como algo genérico que eu já vi várias vezes, não inova, não é tão ambicioso quanto deveria ser, não tem cenas incríveis e fantásticas como prometido, parece um trailer gigante para o segundo.

Se fosse qualquer outra obra, daria para passar, mas acontece que Duna é a maior obra da história da ficção científica, a mais vendida, a mais influente, deveria ser extremamente grandioso, mas não é. A história é contada da forma mais qualquer coisa possível, não é nem um genérico que bem trabalhado, é daquele tipo insuportável mesmo, chega a ser triste até. Não me cativou em nenhum momento, não me prendeu, eu pausei várias vezes, porque eu não suportava. Não senti meu tempo sendo valorizado, são duas horas e meia de exibição que soam nulas, não há nenhum sentimento assistindo, só decepção. Tem algumas coisas que eu gostei, mas no geral é mediano para ruim. Eu acho que isso vem por se vender como um épico, mas essa parte épica não chegar. Não empolga, as cenas de luta são horrorosas, mal coreografadas, não tem um capricho. O Villeneuve não sabe dirigir esses momentos de confronto, até atores que são acostumados com esse tipo de cena são prejudicados por essa inconsistência na direção. Tem até um momento interessante, que é a fuga do protagonista e sua mãe, o sacrifício de um dos personagens, mas depois daquilo, o longa tem praticamente filmagens e filmagens de deserto e noite por uns quinze minutos consecutivos, uma briga que honestamente parecia que eles iam resolver na dança de tão pífia, eles indo embora e acaba.

Primeiro eu gostaria de falar dos efeitos visuais, que são bons, tem seus momentos de glória, as naves são muito bem feitas por exemplo, a criação de alguns artefatos é impressionante, os complementos em cenários e figurinos, as proteções, os tiros, são excelentes. Mas, aqui tem algumas vezes que o CGI é mais ou menos, principalmente em cenas de luta, que parece um jogo de PlayStation 3, é muito visível os bonecões, parecem os inimigos de massa dos Power Rangers (e visualmente também), chega a ser estranho e tem até alguns erros nos corpos dos personagens que nem em um jogo de PS3 tem, e ainda em uma dessas aparece o Chalamet tirando a máscara e é uma das piores utilizações de efeitos faciais que eu me lembre, pois dá para ver o rosto do cara vibrando pra fora do capacete, é bisonho, é risível. O figurino é bem feito, tem uma originalidade ali, a diferença entre as três casas é mostrada através disso, os detalhes são essenciais, mas eu tive uma impressão de que as roupas limitam as cenas de ação justamente por serem roupas mais robustas, mas são ótimas. A maquiagem é um grande destaque, especialmente dos Harkonenn, do Dave Bautista (albinaram o Drax) e a do Stellan Skarsgård com um fat suit diferentão, ficou excelente.

O visual em vários momentos me incomodou, na fotografia temos tons amarronzados e acinzentados e fica parecendo algo depressivo, sendo que é fantasia, ficção científica e o visual não demonstra nada de fantástico ou científico, é um filtro de câmera que deixa muito escuro, quase inassistível, consegue ser mais escuro que algo do Zack Snyder. Com esse visual, não fiquei animado nenhuma vez, me senti até mais distante por causa disso, entretanto, posteriormente descobri que era para ser isso mesmo, já que Arrakis é um planeta que sofreu com vários problemas, incluindo extinção, exploração, questão da água ser uma raridade por lá, então dá para entender, só que mesmo assim não me conquistou. Mas, tecnicamente, o resto é muito bom, principalmente design de produção, a construção de Arrakis é fantástica, o quarto do Paul, o palácio, é tudo muito bem feito, a construção de sets faz toda a diferença, é bem detalhado, conceitos artísticos e arquitetônicos bem interessantes, tons em dourado muito interessantes e remetentes à realeza, o deserto, a base dos Harkonenn, incrível. Curti a trilha sonora do Hans Zimmer, tenho um empecilho em relação aos cantos líricos, são irritantes, mas a música em si é maravilhosa, única coisa que dá um ar épico, a só não funciona quando Zimmer tenta se aparecer mais que o próprio longa, parece medo do Vilanova de limitar um compositor tão grandioso, mas é uma trilha bacana.

Sobre o elenco, um ou outro funcionam, mas eu sinto falta de algo, de humanidade, faz falta para criar apego aos personagens. O Timothée Chalamet como Paul foi fraco, eu quero saber de quem foi a grande ideia de chamar o cara que é zoado por ser o ator mais inexpressivo do mundo para ser protagonista de um épico. Aqui ele faz a mesma coisa de sempre: um galã feio, sem sentimentos, não passa nenhuma emoção verdadeira, não faz nada sem alguém fazer um discurso motivacional para ele (parece até o Flash da série) e no final é um dos heróis mais esquecíveis por enquanto. O ator tem o visual perfeito para o personagem, mas ele sente o peso, ele se prende muito ainda, faltou se soltar mais para entregar esse protagonista incrível que vai ser um grande herói épico. O Oscar Isaac como o duque, o Leto, eu achei que não combinou, não demonstra nenhuma imponência, aparenta não ter voz ativa, ele fica com uma cara fechada e não existe aproximação com ele, acontecem coisas com ele que deveriam ser impactantes, mas justamente pela falta de ser um personagem que você se importa não tem nenhum impacto sentimental.

O melhor personagem para mim é o do Jason Momoa, o Duncan Idaho, ele faz bem a função de interpretar o cara brabo, corajoso e inteligente, que sabe lutar, que tem carisma, que é amado por quase todo mundo, com um conhecimento cultural diverso, basicamente é ele mesmo e por isso funciona, ele tem humanidade, ele é o único que não parece robotizado e acaba sendo funcional por isso, ele é genuíno sempre quando aparece, soltando até os "ma' boy" para o Paul. O Josh Brolin, para mim, é o sinônimo de bad-ass, ele é valente, raçudo, um exímio combatente, líder nato, consegue ser mais imponente que o próprio duque e as melhores cenas do filme são justamente envolvendo ele, seja para o desenvolvimento do protagonista, as lutas ou para a própria narrativa. E a Rebecca Ferguson como Lady Jessica é simplesmente maravilhosa, ela é quase a co-protagonista, ela brilha muito, rouba a cena. Ela tem força, tem poder cênico, você sente a força dela, ainda tem o fator mãe, que ela possui muita credibilidade nisso, a relação dela com o Paul é bastante interessante, há uma questão de proteção ali, há uma referência sublime ao complexo de Édipo por parte dela (ou pode ser apenas uma noia minha, mas ela olhar o moleque trocando de roupa me deu essa impressão), mas no geral é uma referência de personagem feminina para longas desse tipo, especialmente a figura materna, que é usada como catapulta apenas, aqui ela tem uma função que vai sendo acentuada a cada minuto.

Peço desculpas se algumas coisas do texto ficaram apressadas ou mal explicadas, tentei o máximo possível deixar livre de spoilers. "Duna", honestamente, foi uma decepção para mim, eu não senti o estilo do Villeneuve aqui, soa como qualquer coisa, pegaram a inspiração para toda ficção científica posterior e adaptaram de maneira mais fraca que muitas que foram influenciadas pelo material original. É cinzento, não há imersão, não me prendeu em nenhum momento, eu só queria que terminasse logo. Me desanimou até, é anticlimático, as lutas são péssimas, coreografia limitada, e é anticlimático, não encerra um arco, termina numa briguinha de rua e abruptamente cria um terreno desinteressante quanto ao futuro. Talvez se eu tivesse algum conhecimento da história original, eu teria gostado, mas se escorar na base creio que seria ignorar problemas inegáveis da adaptação. Não é péssimo, tem vários méritos, especialmente técnicos e de elenco, mas soa como um trailer enorme de duas horas e meia para a história de verdade, a qual eu espero que seja bem feita na parte dois.

Nota - 5,5/10

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