Crítica - Free Guy: Assumindo o Controle (Free Guy, 2021)

Um dos filmes mais pipocões dos últimos tempos.

🚨 Esse texto não contém spoilers 🚨

A primeira vez que eu ouvi falar nesse filme foi lá no longínquo ano de 2019 (inclusive saudades) quando saiu o primeiro trailer acho que na CCXP, onde saiu o trailer e foi o único trailer que eu vi do filme e quando eu vi na época eu pensei "a ideia desse filme é genial", porque sempre vemos filmes de videogames, mas nunca dão certo (já falei sobre o novo filme de Mortal Kombat aqui que lançou esse ano e não foi nada agradável), os únicos filmes de games que dão certo são os que não são baseados em apenas uma obra específica (Detona Ralph) ou que apenas mantém uma estética gamer (Scott Pilgrim Contra o Mundo), quando eu vi a premissa do filme eu achei sensacional, porque é a revolta do NPC (NPC = Non-Player Character, ex: Crocodilo em Injustice 2) e não é daqueles filmes de complexo de Édipo onde a I.A. se revolta contra o criador, o NPC apenas quer fugir daquela rotina comum dele e acaba se virando contra a ordem natural do jogo por consequência, a ideia no papel é sensacional, mas na prática... É melhor ainda! O filme é dirigido por Shawn Levy, o dono da Tela Quente, pois dirigiu os três "Uma Noite no Museu", o primeiro "Doze é Demais" e "Gigantes de Aço", filmes que marcaram a geração nascida de 2004 para cá, aqui ele chega em seu grande ápice como diretor, fazendo uma história maluca que mistura videogame com sci-fi com aventura com buddy cop com romance com ação com fantasia com realidade com comédia, é uma mistureba de muita coisa boa, todos esses gêneros e estilos narrativos são postos em harmonia por Levy, todos funcionam juntos e todos funcionam de forma separada, o Levy sabe muito bem em que hora o filme tem que ser isso, em que outra hora tem que ser aquilo, ele sempre equilibra bem o estilo que o filme quer seguir. É um filme que bebe de muitas fontes, são muitas referências cinematográficas e gamers, o filme na questão do cinema lembra "Matrix", "Jogador Número 1" e o já citado "Scott Pilgrim Contra o Mundo", na questão do jogo, como funciona o jogo dentro do filme, sua gameplay e seu visual, lembra de "SimCity", "GTA", "The Sims" e "Fortnite", então, se você é fã de filmes de ação pipoca mais algum desses filmes ou jogos que eu citei, você vai adorar esse filme. Levy divide o filme em dois núcleos: um dentro do jogo Free City e o outro no mundo real com a galera que criou e trabalha no jogo e acho que essa divisão é perfeita, pois desse jeito dá para entendermos melhor quem é quem na história, as funções de tal personagem na trama e tal, também gostei que o Levy trabalha a repercussão midiática, do público e dos gamers sobre o que tá rolando no jogo, sinto falta disso em muitos filmes de ação, principalmente os de super-herói, de contar algo que vimos pela visão da mídia ou do público que acompanha, foi um acerto enorme do Levy na minha opinião.

Esse filme me lembra "Guardiões da Galáxia", a comédia misturada com ação, os momentos românticos entre o cara e a donzela rebelde, a trilha sonora marcante e que ambos são filmes que uma hora eu lembro de quando eu assisti e penso "puts, aquele tempo enquanto eu tava assistindo foi muito bom" e a música "Fantasy" aqui é o mesmo que "Hooked on a Feeling" para Guardiões. É um filme muito confortável, é um filme também clichê, mas eu sempre repito porque é assim que se aprende: filme clichê quando bem trabalhado fica incrível, aqui é mais um desses casos, o filme é totalmente clichê, tem a jornada do herói, o romance, o monstro gigante no final (que eu não vou revelar qual, mas é um dos monstros gigantes de final de filme mais geniais dos últimos anos), é um filme autoral feito com o único e exclusivo objetivo de dar diversão ao espectador, é um filme para ser legal, para a família ver junto, para apreciar no cinema quando não tiver nada para fazer, desse jeito o filme cumpre seu objetivo com maestria, se quer refletir vai ver um Bergman ou um Malick, o objetivo aqui não é refletir. Apesar de o filme ter uma mensagem sim, uma mensagem sobre como você não deve ficar sempre amarrado a só uma coisa e que tens que escrever seu próprio destino ao invés de ficar em um caminho que os outros tomam suas decisões por vocês, é uma mensagem implícita, mas é o que eu interpretei vendo o filme. Devo falar também da escolha do elenco aqui, é um elenco curto, mas muito funcional, o Ryan Reynolds é muito bom, eu adoro ele, ele é um excelente comediante, todo filme dele como protagonista é legal (exceto aquele filme da DC que não deve ser mencionado), ele dá todo o carisma necessário ao personagem, ele consegue passar essa vibe dele de status quo cotidiano e depois uma vibe de explorador porradeiro iniciante, é um ótimo trabalho, é visível o quanto o Reynolds tava envolvido no personagem e na história, ele coube demais no papel. A Jodie Comer é outra que encaixou bem no papel, ela tá bem mais solta aqui, ela tá se divertindo muito atuando e nas cenas mais dramáticas ela se sai muito bem, ela demonstra todo o sentimento de traição que a personagem sentiu e o quanto ela é uma artista que só quer seu trabalho de volta, ela está muito bem mesmo. E o Taika deveria aparecer em todos os filmes feitos a partir de hoje, tudo que ele participa é bom, é impressionante, aqui ele faz o típico vilão corporativo satírico, mas aqui ele tem um diferencial: ele é uma metáfora para a Disney, e os personagens da Jodie Comer e do Joe Keery são metáforas para a Fox. Eles eram dois criadores muito aclamados e hypados, aí vem o rico, compra eles, cancela todos os projetos deles e pega o atual principal projeto deles e começa a lucrar centenas de milhões encima dizendo que é dele (que no caso é esse próprio filme), você deve pensar que eu estou viajando, mas tem uma frase do Antwan (personagem do Taika) que comprova que ele é uma metáfora para a Disney, quando o personagem do Joe Keery fala: "por que então não fazemos jogos originais ao invés de sequências?" e o Antwan responde: "jogos originais não vendem, o que vendem são as sequências, o dois, o três e os spin-offs", mas explícito do que isso eu não sei o que é. Inclusive eu não sei se o cara da Disney que aprovou o filme percebeu essa metáfora ou se percebeu e apenas ignorou porque iria trazer dinheiro, provavelmente a segunda opção.

Sinceramente eu adorei "Free Guy: Assumindo o Controle", é um dos filmes que eu mais me diverti vendo na minha vida e não é exagero nenhum. É um filme que tem porradaria boa, tem efeitos visuais bons, uma história original muito legal de assistir, tem bons atores em bons personagens, um vilão incrível, uma trilha sonora marcante, tem fanservices legais, referências de jogos famosos e easter eggs de várias franquias idolatradas e ainda tem o Channing Tatum aparecendo completamente do nada. Se você é gamer, você vai gostar. Se você é fã de super-heróis, você vai gostar. Se você quer apenas se distrair vendo um filminho, você vai gostar. Adorei bastante, sinceramente, veja o filme, recomendo demais, aprecie esta obra.

Nota - 7,5/10

Postagens mais visitadas