Crítica - Godzilla × Kong: O Novo Império (Godzilla × Kong: The New Empire, 2024)

Eu não aguento mais esses humanos e essa ciência fajuta roubando a tela dos bichos.

Após um encontro inesperado no crossover evento "Godzilla vs. Kong" (2021), eles estão de volta, agora não mais em um confronto, mas do mesmo lado, lutando para proteger a humanidade de seres mais perigosos enquanto destroem uma porcentagem da mesma. O anterior foi um grande sucesso de público, muitas pessoas assistiram, saíram de casa em plena pandemia para assistí-lo na telona, mesmo com lançamento simultâneo na antiga HBO Max, fez bastante dinheiro e gerou inúmeros memes e postagens no Instagram e velho Twitter sobre. Foi uma briga, muita gente era #TeamKong (assim como eu) e outros eram #TeamGodzila, mas a verdade é que - primeiro: o lagartão varreu o chão com o pelo do mamaco; segundo: no final o "versus" não adiantou muito, já que no fim forçaram os dois para ficar do mesmo lado. Enfim, juntaram os dois do mesmo lado, fizeram um roteiro na pressa e jogaram em milhares de salas de cinema (é o que dá a entender).

Quando descobrem que a Terra-Oca é muito maior do que os humanos imaginavam, Kong percebe que não está apenas em seu hábitat natural, mas sim em seu império. Enquanto na superfície os Titãs (não, não aqueles da DC, os monstros que já haviam sido introduzidos) estão atacando e sendo atacados pelo Godzilla (que faz o Coliseu de Roma como caminha de gato). Quando os cientistas precisam investigar o que pode ser a expansão da Terra-Oca, a Dra. Ilene Andrews (Rebecca Hall) vai em expedição junto com o veterinário de animais gigantes (sim), Trapper (Dan Stevens), o podcaster conspiratório Bernie (Brian Tyree Henry) e a menina surda que fala com o Kong, Jia (Kayla Hottle), a qual a doutora adotou como filha - e que vai descobrir segredos sobre sua ascendência. Adam Wingard retorna à direção, e agora soa como mais cadela de estúdio do que nunca. Parece que tudo aqui foi gerado por inteligência artificial, literalmente jogaram "faça um filme do Godzilla com o Kong encontrando outros monstros" no ChatGPT e saiu isso aí.

A história desse filme? Pfff... Quem se importa? É macaco gigante, é réptil radioativo, é dragão, é legião de símio, para que ter uma história, é a luta que interessa. Esse é o principal argumento dos defensores desse Monsterverse, mas olha só, em todos os filmes é sempre a mesma crítica, sempre o mesmo problema, que são essas desgraças desses personagens humanos. É óbvio que sempre vão dar destaque para eles, até porque é através deles que vão encaminhar a narrativa, porque as criaturas colossais não falam, é inverossímil, eu nunca vi um monstro falar na vida real. Então temos que aguentar essas pessoas completamente desinteressantes falando, só que o que eles falam é pura besteira. Esse Monsterverse se sustenta em teorias da conspiração para fazer o worldbuilding e acaba que todo diálogo é pseudociência barata, com aqueles indivíduos cagando cada regra para justificar cenas de luta que no geral não agregam em nada ao final da história.

E não dá nem para gostar desses humanos, são totalmente desprezíveis. A Dra. Andrews é meio que a protagonista humana, o destaque, a grande chefe da divisão de monstros gigantes e tal... Mas dane-se, no final a participação dela para a história tem tanta utilidade quanto caneca para canhoto. Eles ainda tentam forçar um relacionamento mãe e filha dela com a Jia, lembra dela? É lógico que não! É a menina surda que se comunica telepaticamente com o Kong no filme anterior, e que aqui recebe um protagonismo maior que o Godzilla por algum motivo. Tentam dar todo um arco para ela, que ela é a última sobrevivente de uma tribo, aí ela descobre que vem da Terra-Oca e que lá ela seria tipo uma líder e, nossa, que arco péssimo, forçado, é não ter ideia do que criar. O mano do podcast retorna, agora mil vezes mais insuportável, não cala a boca, essa desgraça parece que engoliu um dicionário. E tem esse personagem novo, o Trapper, que é um veterinário de monstros gigantes (ah, mano, olha as ideias dos caras, não é possível), e esse cara é feito para ser o galãzinho, bonitinho, debochado, que escuta música antiga, mas no final não passa de um Hemsworth fajuto fazendo um papel genérico sem ter carisma algum.

Mesmo no lado dos bichões, ninguém se salva. Primeiro: se o Godzilla não estivesse no longa, não mudaria quase nada da trama. Tem a piada dele dormindo no Coliseu, mas depois disso ele só aparece em batalha. Tem a cena das pirâmides que é massa, a cena do Rio de Janeiro que eu dei muita risada, mas são esses os dois únicos momentos que ele é útil em cena. Já o Kong é colocado nessa função de protagonista (até parece que os caras vão colocar o japonês como principal ao invés do americano), e ele tem um arco qualquer, mas os caras tratam como se fosse o Kratos, dão até um filhote de macaco para ele que se assemelha ao papel do Atreus. Dão armas para ele, marreta, espada, tentam fazer desse aqui o "arco Caesar" do Kong para tornar-se o King Kong, mas soa ridículo. O que se salva são os efeitos visuais, que praticamente comandam o longa com uma exímia qualidade na criação das criaturas, tanto o Kong com o braço mecânico, quanto o Godzilla com raios rosas, Mothra e os demais símios gigantes, ali é aonde o filme se salva. De resto, descarta.

Apesar da maravilhosa construção visual, efeitos espetaculares em relação à personagens e cenários, "Godzilla × Kong: O Novo Império" não tem nada de novo, apesar do título. São apenas lutas entre monstros com intervalos enormes preenchidos por humanos falando diálogos mal escritos baseados em uma pseudociência absurda que, tudo bem, é ficção, mas é tão exagerado, os caras cada vez mais cagam tantas regras que é desgostoso de assistir. Os personagens humanos são péssimos, são atores ali passando vergonha, especialmente o Dan Stevens achando que é uma mistura de James Bond com Deadpool, quando na verdade é um estereótipo falso de bad-ass criado por Hollywood que seria humilhado pelas mulheres na vida real. Godzilla é praticamente redundante, ele termina sua participação aonde começou, Kong tem uma jornada não tão convincente e termina como um arco vazio. Ainda bem que eu tinha vale ingresso do cinema, felizmente não paguei para ver isso.

Nota - 4,5/10

Postagens mais visitadas