Crítica - Bad Boys: Até o Fim (Bad Boys: Ride or Die, 2024)

O retorno de Will Smith para Hollywood em mais um bom filme da franquia.

Bom, não menciono isto regularmente por aqui, mas sou fã da franquia Bad Boys, gosto muito dos três filmes lançados anteriormente. O primeiro é puro suco de um bom buddy cop, justamente a estreia diretorial dele, do incompreendido Michael Bay, que lá atrás já demonstrava muitos de seus cacoetes, como o fetiche por explosão. Anos depois, em 2003, tivemos o retorno com um segundo filme bastante contestado, mas que eu acho maneirissímo, se bobear é meu favorito, onde consegue ter esta adrenalina pura de um bom filme de ação. O terceiro já é mais blockbusterzado, porém ainda é muito legal de assistir e tem talvez o melhor drama dentre a trilogia. Agora, rapaz, este quarto é talvez o melhor da franquia. Ele não começa tão bem assim, ele é claramente um bebê das greves que aconteceram em 2023 e atrapalharam a produção e as gravações, porém, graças a um trabalho sensacional da dupla de diretores Adil & Billal (Billal kkkkkkkk), acaba que se torna o mais empolgante, completo e arrepiante dentre a quadrilogia, ainda deixando espaço para filmes futuros. Ele é o ápice do que os três anteriores apresentaram, trazendo vários personagens antigos em novas situações, algumas participações especiais e as melhores cenas de ação de toda a série, culminando em momentos de adrenalina, comédia, porrada e família, sendo quase uma espécie de Velozes e Furiosos do bem.

Algum tempo após o filme anterior, os Bad Boys estão de volta, Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Bennett (Martin Lawrence) continuam sua parceria na polícia e na vida. Porém, no casamento de Mike com Christine (Melanie Liburd), Marcus acaba sofrendo uma arritmia cardíaca e entra em coma, fazendo que, quando ele acorde, comece a pensar mais sobre a vida e mortalidade. Entretanto, os Bad Boys são forçados a sair em mais uma missão em busca de inocentar o falecido Capitão Howard (Joe Pantoliano), que após sua morte foi acusado de trabalhar em conjunto com o cartel mexicano. Os nossos protagonistas então saem em uma jornada para comprovar a inocência dele, tendo que trabalhar em conjunto com o filho bastardo de Mike, Armando Aretas (Jacob Scipio), que foi o contratado para atirar em Howard e é um ex-membro do cartel. Além dele, também contam com ajuda de sua equipe, com sua chefe e capitã Rita (Paola Nunez), o hacker Dorn (Alexander Ludwig) e a atiradora Kelly (Vanessa Hudgens). Eu achei legal que aqui deram uma de Missão: Impossível e simplesmente ignoraram o terreno que havia sido preparado anteriormente, já que havia uma cena pós-créditos onde Mike convoca seu filho para uma missão, o que aqui não acontece até quarenta minutos de exibição e não é nem uma convocação propriamente dita, é uma junção por necessidade. Também ignoram o relacionamento de Mike e Rita e colocam ambos com novos interesses românticos. Mas, particularmente, essas mudanças não são tão impactantes, já que elas fazem bem para a trama geral, onde acabamos tendo um filme bem agradável no seu todo.

Este filme deu uma atrasada devido a vários imprevistos, primeiramente o famigerado tapa do Will Smith no Chris Rock ao vivo no Oscar, que acabou colocando a carreira do Will em criogenia por algum tempinho (inclusive ele continua expulso das cerimônias do Oscar até 2032), logo após finalmente conseguiram gravar, trouxeram a dupla de diretores do filme anterior, parecia que ia dar tudo certo o mais rápido que eles conseguissem, contudo, vieram as greves e atrasaram mais uma vez. No entanto, conseguiram trazer de volta e desta vez não demorou tanto por não ser um longa que necessite de grandes efeitos visuais ou coisas do tipo. E este acaba por ser o menos cômico dentre os quatro, focando mais na ação e numa trama de paranóia quanto a ter um infiltrado no meio deles. E, olha, honestamente desde o primeiro segundo já dá para saber quem é, só pela cara do ator, o que ele é e a relação dele com os personagens já existentes, já é perceptível quem seja, no entanto, ainda há uma certa manipulação para criar uma dúvida, eles dão um close num certo personagem que também é suspeito, apesar de cair para o lado mais previsível no final de qualquer jeito. É a trama mais complexa dentre os quatro filmes até agora, já que a dos outros três eram mais simples, aqui também não foge da simplicidade, porém, há uma sofisticação maior, conectando e desenvolvendo vários arcos para juntá-los de uma vez no final.

Adil e Billal na verdade são ótimos diretores, que conseguem imprimir um estilo bem bacana e autoral, apesar de não ser tão diferente do que o Michael Bay fez no seu trabalho na franquia, especialmente no segundo. Além dele, a dupla também pega bastantes inspirações no trabalho do Chad Stahelski com a franquia "John Wick" (2014-) e também de David Leitch, especialmente com "Atômica" (2017), além de inspirações em games (tem até referência de GTA e Red Dead Redemption). As cenas de ação são espetaculares, tem vários momentos que empolgam o espectador na questão de ação. O personagem do Armando na realidade já é um John Wick latino desde o anterior, e aqui a primeira cena de ação dele já é com ele dando uma surra em uns caras na prisão com anilhas numa corrente. Mas, o verdadeiro John Wick deste filme é o Reggie (Dennis Greene), esse personagem era só uma piada de genro lá no dois e literalmente é o único personagem da carreira do ator, e aqui temos uma cena dele protegendo a família do Marcus matando uns quinze caras na base do tiro, com certeza a cena mais bad-ass de toda a exibição, talvez de toda a saga. A cena final também é ótima, uma batalha onde os diretores aproveitam para testar ângulos e maneirismos que são extremamente funcionais, o meu favorito, particularmente, sendo a cena em primeira pessoa, remetendo a um videogame de tiro, é muito legal de se ver. É um conjunto de coreografia, de dublês, edição, fotografia, efeitos, que bem feitos e utilizados em conjunto, acabam criando uma boa experiência de ação, onde você se diverte, sente adrenalina e fica entretido cada vez mais a cada segundo.

Já falo sobre a interação da dupla protagonista, que é o grande carro chefe dessa franquia, mas aqui acaba que eles deixam interessante pois desenvolvem individualmente os Bad Boys, trazendo novas camadas para a duo. O Mike agora amadureceu, se casou, decidiu dar aquela sossegada na vida pessoal depois dos 50 (Neymar no futuro vai ser assim). Aqui meio que ignoram o relacionamento dele no filme anterior com a Rita, trazem ela de volta, mas dão outro par romântico para ele, que mal dá para julgar, já que ela nem tem tempo de tela o suficiente para desenvolver qualquer coisa com ele. Porém, é bem interessante ver como ela impacta no Lowrey, já que ele está bem mais maduro e preocupado, no último filme ele ainda fazia piadinha de comer a mãe dos outros e aqui ele realmente tem mais preocupações, não só pela esposa, mas também pela relação com seu filho, que ele tenta criar de alguma forma, já que ela mal existe. A interação entre ele e o Armando é muito bacana, pois não ficam focando tanto nos problemas que eles tiveram ou no que houve no passado, acaba sendo mais um lance deles começarem do zero. Também é interessante o Mike ter alguns ataques de pânico, já que com esse desenvolvimento das relações familiares e de amizade acaba impactando nele em momentos decisivos, pensando duas vezes antes de fazer qualquer coisa, acaba que o medo e a tentativa de responsabilidade trava algumas de suas ações, mas faz com que ele tome ações melhores.

Sobre o Marcus, ele geralmente é o alívio cômico da dupla (ainda mais depois que o Martin Lawrence engordou), mas neste sua comicidade está relacionada à sua pessoalidade. Como disse lá no início do texto, neste filme ele sofre com um problema cardíaco, deixa ele mal e temos a sequência mais louca e viajada da história da franquia, que é ele numa espécie de purgatório enxergando cenários passados e futuros, metafóricos e literais (uma cena com uma montagem sensacional, inclusive), que fazem com que ele pense de forma cada vez mais livre, como se ele estivesse chapado mesmo estando sóbrio, deixando ele com o pensamento de que ele não pode morrer, e até tem boas cenas disso, como a dele atravessando a rodovia de costas enquanto o Mike corre desesperado atrás dele, ou a cena do jacaré albino no final. Ele está mais puxado para a vibe paz e amor, parece um velho hippie sob efeito da verdinha, aqui as convicções espirituais, religiosas e pessoais dele são colocadas à prova várias vezes durante a exibição, e no final é isto com que faz que ele perceba sua mortalidade. E o Martin Lawrence está ótimo nesse papel que vai para o lado mais cômico, ele nunca foi dos melhores atores dramáticos (na realidade, nem lembro tanto dele em algum filme realmente dramático), entretanto, como ele foi escrito anteriormente para ser a parte responsável e séria da dupla, devido a ser casado e pai de família, aqui fazem esta inversão de papéis, agora que o Mike é casado, e o Marcus quer viver mais leve, acaba que vemos a parte mais louca do personagem, e é um grande acerto.

Mas, como já havia dito anteriormente, o que puxa é essa interação maravilhosa dos Bad Boys, e olha, é até batido usar isso num tópico numa crítica desta franquia, contudo, também é um desrespeito ignorar, já que é uma série que está fazendo sucesso nas telonas há quase trinta anos, mesmo num hiato de dezessete anos entre o segundo e o terceiro, sempre passavam na televisão e eram muito vistos, são clássicos os dois primeiros, e muito desse amor generalizado vem por conta desse dueto. São dois atores cujo o melhor lado deles é o cômico, praticamente não existe filme dramático com Martin Lawrence (não onde ele seja protagonista, pelo menos) e o Will Smith já se aventurou no drama, mas é sempre aquela cara dele de alguém que acabou de se cagar, apesar de ter um ou outro bom papel. Ver esses dois, com um excelente timing para piadas, é muito legal, existe uma química inexplicável ali, é o que gera o entretenimento, eles passam realmente que é uma amizade longeva, que um é fechamento do outro, que eles contam com o outro para qualquer coisa, e que puxam a orelha um do outro quando necessário. Tem ótimas cenas deles agindo como dupla, como a deles conversando com os branquelos da fazenda, ou a cena deles com o Fletcher (John Salley) - os caras trouxeram o Fletcher dos dois primeiros de volta, eu nem lembrava que ele existia, sinceramente.

Os coadjuvantes são excelentes também, um dos grandes primores de Adil e Billal na franquia é justamente estabelecer uma base de personagens secundários fixos, onde você gosta de assistir a interação deles com os protagonistas. Eles trouxeram uma galera mais nova, como a Kelly e o Dorn (e o personagem do Charles Melton, mas aqui ele nem aparece e também não é mencionado), mas ao invés de tentar que estabeleçam como substitutos dos Bad Boys (como seria o praxe de qualquer franquia de ação), acabam os colocando como adições, nisso, criando uma boa equipe. O Alexander Ludwig é bem carismático, é engraçado, especialmente a gag dele de ser meio medroso, de precisar de terapia, ele funciona bem como o cara da tecnologia, é uma subversão bacana, já que ele é gigantão e tem um shape que em qualquer outra franquia colocariam ele como um bad-ass sem expressão, mas aqui tem um ótimo funcionamento. A Kelly aqui não tem tanto desenvolvimento além da relação dela com o Dorn, até porque a especialidade dela em armas não é tão necessária desta vez, mas a Vanessa Hudgens tem um certo carisma que sustenta sua presença em tela por ela mesma. A Rita é uma ótima personagem, ela tem presença quando está em tela, faz um bom papel de chefe, ela tem um quê de confiança, de ser uma base para o que os Bad Boys podem ou não fazer, além do relacionamento dela com Lockwood (Ioan Gruffud), que gera um bom conflito na hora final de longa.

O Armando, que era o vilão anterior, aqui tem um arco de redenção bem bacana, não só com o pai dele, mas num geral, onde ele precisa agir como um dos heróis, quase se torna o terceiro Bad Boy, sem contar que ele é ótimo nas cenas de ação. E fico feliz em anunciar que finalmente temos um bom antagonista principal nessa franquia (o Armando era bom no anterior, mas era a mãe dele a vilã principal na prática). Aqui tem o McGrath (Eric Dane), um ex-militar corrupto que trabalha com o cartel e manipula tudo para culpar o Howard, já que estava caçando-os, e ele é um vilão que põe fogo na ação, ele tem motivação, ele tem presença em cena, é o único vilão até agora que você sente uma ameaça, que é realmente perigoso, e é ótimo. Na parte técnica, existem alguns problemas, como tinha falado, foi feito em meio e após as greves em Hollywood do ano passado, então é perceptível alguns erros em algumas coisas. A montagem mesmo, é excelente nas cenas de ação, porém, em outras cenas mais comuns, dá para perceber algumas estranhezas. Apesar de ter gostado num escopo geral, já que é um dos artifícios no qual a dupla de diretores imprime seu estilo. Outra coisa que dá para perceber que aqui foi um caso de bebê de greve foi nos cenários, já que muitos deles parecem falsos, especialmente quando envolve chroma key, parecendo até propaganda na hora inicial de longa dependendo da cena. A fotografia acaba por ser um primor, já que com longos closes, simetria e estilização, Adil e Billal conseguem estabilizar e seguir seu estilo com primor.

No geral, não tenho mais nada a dizer, além de que finalmente não preciso ficar mais me limitando nos textos por conta do limite do Instagram, então alguns textos serão mais longos mesmo (bom, pelo menos quando tiver realmente muita coisa a dizer). Encerro falando que talvez "Bad Boys: Até o Fim" é o melhor da franquia, ainda não me decidi realmente se prefiro este ou o segundo, acho que preciso rever o dois para ter certeza, mas eu fico com este por enquanto por ser o grande ápice como franquia, de finalmente ter estabelecido e amadurecido os dois protagonistas, de finalmente ter uma boa base de história, ótimos personagens coadjuvantes para dar um suporte e não depender apenas da dupla principal. Colocar praticamente todos os personagens em ótimas cenas de ação, criar momentos de tensão, de ação, de adrenalina, e até de comédia, sabendo muito bem como equilibrar tudo isso em uma balança onde o equilíbrio vem pelo entretenimento, é muito bom de assistir, é aquele tipo de filme para passar o tempo e ter um tempo brabo enquanto assiste. Realmente um bom blockbuster, feliz que faça sucesso ainda, e que Bad Boys volte para um quinto filme, tem caminho a ser trilhado ainda. E feliz pelo Will Smith ter retornado, ele é gente boa.

Nota - 8,0/10

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