Crítica - Jurassic World: Recomeço (Jurassic World Rebirth, 2025)

Recomeçou para dar errado de novo.

Eu achei que eu não iria voltar tão cedo aqui para a página com a franquia Jurassic, especialmente um novo Jurassic World. Eu já trouxe para cá críticas do primeiro, do clássico "Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros" (1993) e depois da trilogia "Jurassic World", onde eu acho o primeiro mais ou menos, o segundo um filmaço subestimado e o terceiro é uma bomba. Mas, não importa a qualidade, o que importa é que dá dinheiro, muito dinheiro, os três filmes bateram a marca do bilhão, e claro que a Universal vai ficar extraindo o leite dessa vaca o máximo que eles conseguirem. Logo, em 2025, não deixaram nem o cadáver assassinado pelo Colin Trevorrow esfriar, e decidiram dar um recomeço para a franquia sob nova visão criativa, chamando, literalmente, de "Jurassic World: Recomeço". Quem eles decidiram chamar? Gareth Edwards, responsável por "Godzilla" (2014), "Rogue One: Uma História Star Wars" (2016) e "Resistência" (2023), um diretor com boas ideias visuais, seus filmes, geralmente, são muito bonitos na questão de fotografia, de CGI, de direção de arte, mas que muitas vezes, na real na maioria das vezes, falha em conseguir deixar uma história coesa e significativa. E bem, histórias coesas e significativas não são muito bem o que tem recentemente na franquia Jurassic, nem mesmo o que eu gosto muito, o Reino Ameaçado, tem uma boa história de verdade, e dando nas mãos do Edwards, também não teve, porque, para a surpresa de zero pessoas, o filme é ruim de novo.

Anos após os eventos do possante "Jurassic World: Domínio", os dinossauros agora estão relegados da sociedade e vivendo em ilhas isoladas perto da Linha do Equador, onde existe um clima mais próximo do que era o ambiente jurássico. No entanto, uma empresa farmacêutica chamada de ParkerGenix, quer usar o sangue das espécies restantes para a criação de remédios para insuficiências cardiovasculares, em busca de aumentar em vinte anos a expectativa de vida média dos seres humanos. Para isso, o chefe executivo engravatado Martin Krebs (Rupert Friend) recruta a aventureira Zora Bennett (Scarlett Johansson) e o paleontólogo Dr. Henry Loomis (Jonathan Bailey) para tentar desenvolver um método de pegar o sangue dos dinos enquanto eles estão vivos. Com ajuda do piloto Duncan Kincaid (Mahershala Ali), os nossos personagens principais partem em busca de pegar o DNA de três espécies nesta ilha, mas, não será tão simples quanto parece, já que eles esqueceram que lá não só vivem dinossauros, como era uma ilha de experimentação de DNA, que cria dinossauros híbridos, e é óbvio que altas confusões vieram no caminho. Vocês leram isso que eu acabei de escrever? Vocês acham que isso realmente tinha potencial de ser bom? Que trama ridícula, que premissa idiota, mas, poderia ser bom, dependendo da direção. Contudo, meu irmão, que filme desgraçado, praticamente é uma burrice atrás da outra.

Ele é tão ruim quanto o anterior, quanto o "Domínio"? Não, até porque dizer isso seria um exagero e praticamente impossível, mas é quase, já que esse aqui consegue ter uma vantagem ainda, de que ele tem um diretor com uma visão diferenciada, ele não é feito por um robô de estúdio que nem o imbecil do Colin Trevorrow, já que o Gareth Edwards é realmente um cara que sabe dirigir cenas de ação, cenas que envolvem muito CGI, e ele manda muito bem em algumas cenas, ele sabe criar uma tensão, ele tem um controle da parte técnica impressionante que deixa coeso diversos momentos onde precisa reinar um sentimento de maior adrenalina e coisas do tipo. Entretanto, sofre dos mesmos problemas dos outros filmes do diretor: a trama não se sustenta por ela mesma. A história aqui é pífia, primeiro que a motivação é um pouco ridícula, não me convence de jeito nenhum que literalmente a ideia dos caras era invadir uma ilha deserta com nada além de dinossauros e roubar o sangue deles enquanto estão vivos para criar remédios para complicações cardíacas, isso nem faria tanta diferença, é ficção científica, tem que ter mesmo uns exageros, mas nada que é apresentado anterior ou posteriormente à ideia da missão convence do porquê isso seria eficiente. Como eu falei, a trama do 2, que eu gosto bastante, é os caras indo tirar os dinossauros da ilha que vai ser devastada por um vulcão, não tem nada demais, mas a direção do J.A. Bayona lá dá sentido para essa história simplória, aqui você fica se perguntando o tempo todo de qual é a brisa desses malucos se focarem nesse objetivo.

Nada aqui é convincente, não consigo comprar nenhuma das coisas que o longa tenta vender. Não dá para comprar os personagens, as tramas, o desenvolvimento de cada um, o background, o objetivo, é tudo muito sem sal, claramente superficial, não tem nada que crie uma aproximação maior com o espectador. O filme começa, tem um prólogo que não leva a nada e a lugar nenhum, passam quinze minutos montando o elenco e o grupinho que vamos acompanhar, sem dar alguma motivação factível para eles entrarem nessa missão suicida e logo depois somos jogados para esta trama principal, e do nada, absolutamente do nada, enfiam uma subplot de uma família das ilhas caribenhas, de um pai cuidando das duas filhas, uma criança e uma adolescente prestes a sair de casa para a faculdade, que curiosamente tem um namorado que é um imbecil. Todos os arquétipos estão presentes: a protagonista bad-ass com um trauma, o cara inteligente que vai fazer o papel de Nolan e explicar o filme todo, o cara brabo que mexe com os veículos, o engravatado com objetivos monetários, o pai preocupado, a filha adolescente um pouco rebelde, o alívio cômico sem graça e extremamente imbecil, e a criança ingênua. Já vimos esse tipo de personagem milhares de vezes e aqui temos eles novamente sendo trabalhados de um jeito genérico, que nem tenta trazer nada de diferente, é só um bando de gente sem graça e alguns eu até torcia para morrer.

Agora, se tem uma coisa que o Edwards foi com certeza aqui, foi que ele foi cagão, ele arregou muito e parece que cedeu muito às pressões do estúdio. Você vê que ele constrói muita coisa num subtexto, que acaba não levando a nada, como ele fazendo diversos foreshadowings sobre mortes de personagens, o que nenhuma acaba acontecendo, pois ele parece que tava com medo de matar algum ator relevante para a história e toda a vez que parece que ele vai ter a coragem, ele dá um jeito impossível e revoltante de livrar aquele personagem do beleléu. Irmão, teve algumas ali que me deixaram irritado, que eu ficava com vontade de quitar o filme, porque não é possível, tem uma escapada que acontece fora de cena, inclusive, porque era tão impossível daquele personagem escapar do destino que nem sequer pensaram em uma forma de fazer ele sobreviver em cena. É covardia pura, assim como a mensagem extremamente forçada que querem passar, sobre ganância e capitalismo. Bom, essa mensagem existia lá no clássico de 1993, então é uma raíz da franquia, só que lá atrás era uma aposta, uma adaptação de um romance de ficção científica sendo levada para o cinema por um gênio do ramo que é o Steven Spielberg, aqui os caras tentam meter essa no SÉTIMO filme da franquia, que só aconteceu porque os três anteriores ultrapassaram a marca do bilhão em bilheteria, e todos nós sabemos que esse aqui foi feito com o único e exclusivo propósito monetário, feito às pressas, sendo anunciado no meio de 2023 para ser lançado já em 2025 e quando foi revelado sequer tinha um diretor trabalhando fixo no projeto, então a hipocrisia reina por aqui toda vez que eles passam uma mensagem fajuta sobre grandes corporações e o povo, soa muito superficial.

Outra coisa que fica atrás são os personagens, porque são todos muito rasos, você não se importa com nenhum deles e nenhum é marcante. Até a trilogia anterior, não tinham grandes personagens, mas o Owen Grady era bacana, tinha o carisma do Chris Pratt, um quê meio Indiana Jones, aí tinha a menininha que era uma personagem com um drama interessante, os dois irmãos do primeiro, tinham alguns personagens melhores, agora, aqui, eu não me importo com ninguém. Cara, me deu pena da Scarlett Johansson de encabeçar esse elenco. Na real, pena não, não vou me contradizer, ela ganhou mais dinheiro aqui para esse papel genérico do que a minha família ganhou em toda a existência, não tem que ter pena. Mas, quando você pensa que essa é uma atriz que passou por tantos filmes excelentes, atuações espetaculares, e do nada ela para aqui, é meio constrangedor do ponto de vista artístico. Cara, essa personagem dela, a Zora, não tem um único traço de personalidade, o background dela é literalmente ter deixado um amigo morrer, e ficam só enfiando isso umas duas ou três vezes no meio dos diálogos para criar algum impacto quanto a ela, mas é insuficiente, você não dá a mínima, porque ela torna-se tão rasa e sem sal que fica impossível de achá-la legal, de comprar a protagonista, o que é irônico, já que ela é uma atriz infinitamente melhor que o Chris Pratt, mas o personagem dele casava melhor com a franquia do que ela. O único motivo da Scarlett estar nesse filme é para vermos o quanto ela é gostosa, o objetivo do diretor e da equipe de figurinos era deixá-la em roupas justas enquanto ela está suada, o que não é uma reclamação da minha parte, apenas uma observação, já que talvez tenha sido a única coisa aqui que eu não detestei.

Mas, um personagem que eu detestei com todas as minhas forças, foi o tal Dr. Henry, interpretado pelo bom Jonathan Bailey, mas que simplesmente é um palestrinha mal escrito. O cara faz o que eu chamo aqui na página de "papel de Nolan", ele fica lá para explicar o filme todo, porque americano não sabe pensar e precisa de um intérprete inserido na narrativa integralmente. Eu não tenho problema com a exposição em filmes desde que ela tenha propósito, mas aqui esse mano só explica coisas que aconteceram nos outros filmes e ele tenta me explicar sobre o capitalismo. Eu juro, irmão, o cara, num filme da franquia mais capitalista da história, passa 75% das cenas dele tentando me dar lição de vida sobre capitalismo e simplesmente não dá para aguentar, torna-se insustentável. O que não passa perto de ser culpa do Bailey, ele entrega bem essa persona de nerdola, do cara que manja tudo do assunto, meio desengonçado, hiperfocado, ele por ele não é ruim, mas o texto dele estraga tudo isso. Sem contar que ensaiam um romance dele com a Scarlett, mas soa ridículo, esses dois não tem química alguma juntos. Na realidade, ninguém aqui tem química com ninguém, a não ser esses personagens desgraçados com a boca do mosassauro, aí eu acho que combina legal, uma pena que apenas poucos cumprem essa função. A única coisa dele que ele fala que faz sentido foi que ele fez pós-graduação com o Alan Grant, uma referência extremamente forçada e jogada de qualquer jeito no meio de um diálogo, mas conecta o universo de algum jeito.

Tem também o Mahershala Ali... Irmão, como esse cara veio parar aqui? Vencedor de dois Oscars, um dos melhores atores da atualidade e ele interpreta um dos personagens mais indiferentes da história. Ele, ao menos, tem algum carisma, entrega algo que conversa mais com os espectadores, mas sofre do mesmo problema da Scarlett, que é que ele não tem nenhum traço de personalidade a mais. O background dele é que ele perdeu o filho e é divorciado, apenas essa citação, e há uma exploração nisso no jeito que ele é protetor com crianças, é a única consequência narrativa que existe por aqui, mas tirando isso, ele é muito dane-se. Ele tem essa vantagem de ser o personagem propositalmente carismático e então torna-se mais multifacetado, contudo, ainda é insuficiente. Poderiam ter explorado muito melhor essa questão dele ter perdido um filho, entrado mais a fundo nesse ponto, mas preferiram gastar uma porrada de tempo com o Jonathan Bailey explicando sobre o clima da Terra e a finitude do meio ambiente (de uma forma que eu acredito não ser tão cientificamente correta, o filme arrega até nisso, qualquer cientista escutando esses diálogos teria vontade de se matar) e deixam um arco em potencial jogado para escanteio. Mas ó, Mahershala, se continuar nessa vibe de blockbuster, bate lá na porta da DC Studios, existe um personagem chamado J'onn J'onzz, eu garanto que você irá adorá-lo e é muito melhor do que esse tal de Duncan.

Agora, o pior de todos os personagens, na realidade é um grupo todo, que é essa desgraça dessa família caribenha. Meu mano, essa subplot é insuportável, fica focando mais tempo nessa desgraça do que nos supostos personagens principais, e é mais um motivo para os demais citados anteriormente não funcionarem, pois se perde um pouco do impacto quando toda essa trama dessa família é chata, fica difícil de aturar, me dá sono. Ainda tem o pior personagem desse filme todo, que é o Xavier, interpretado por David Iacono, que é um maconheiro desgraçado que tá lá só para atrapalhar, tentam fazer um arco de redenção para esse maluco a história inteira, mas a vontade de sair na mão com ele não passa, ele é irritante num ponto que não deveria ser. Tem outro personagem ruim que é o tal do Krebs, que é o milionário engravatado genérico, o cara que eles ensaiam ser o verdadeiro vilão em todo filme dessa franquia, e aqui novamente é muito batido, é muito sem graça e a atuação do Rupert Friend é muito automática, não dá para sentir nada por ele, pois você já esperava que ele faça tudo que ele factualmente faz. Sem contar que eu passei o filme todo xingando esse cara achando que ele era o Orlando Bloom, quando veio os créditos e eu não li o nome do Orlando Bloom, eu fiquei em choque, então, além de tudo, de certa forma, na minha visão o cara estava emulando tão perfeitamente um ator fraco que era o Orlando Bloom, logo tornou-se tão fraco quanto.

Olha, tem alguns méritos, como eu disse, o Gareth Edwards não é o Colin Trevorrow, então ele tem visão artística, os CGIs são muito bons, os dinossauros são visualmente fascinantes, existem momentos bem dirigidos. Mas, honestamente, do que vale? Já que "Jurassic World: Recomeço" nem deveria existir. Foi escrito pelo criador dessa franquia? Foi, mas isso não significa nada, o cara tentou limpar a barra do lixo que transformaram a criação dele e na realidade foi uma cortina de fumaça, já que isso aqui não faz nada, é indiferente em diversos sentidos, irritantes em diversos outros. Tem dois momentos aqui que foram os que me fizeram desistir totalmente de que isso poderia ser bom: o primeiro foi tentarem me dar uma lição de moral anticapitalista, num filme da franquia mais capitalista do cinema atual de muito longe; e a segunda foi todo o apelo para a nostalgia extremamente forçado que eles tentam enfiar goela abaixo, com a trilha sonora do John Williams, com os enquadramentos parecidos, com as cenas parecidas. Mas, na real, a única coisa daqui que é similar ao clássico, é que tem dinossauro, já que aqui torna-se uma antítese do original de 1993, onde essa franquia tornou-se o próprio Jurassic Park, é um lugar onde as pessoas vão se divertir com coisas que já passaram da sua época, e essa franquia é uma dessas coisas, é melhor terminar de uma vez, mas não vai, pois passou novamente dos 800 milhões de dólares de receita e provavelmente vem um oitavo filme por aí.

Nota - 4,5/10

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