Crítica - Jurassic World: Domínio (Jurassic World Dominion, 2022)
Simplesmente inacreditável.
🚨 Texto com spoilers 🚨
Se eu tivesse que definir esse filme em uma palavra, seria incrível, mas no sentido pejorativo da palavra, porque não dá para crer que conseguiram a proeza de fazer o pior filme da franquia inteira! O Spielberg tá se rebatendo no túmulo e ele ainda nem morreu. Tinha um caminho trilhado para pelo menos ser um filme bem divertido, mas o que temos aqui é um longa que tenta agradar os fãs o máximo possível, mas que o diretor tão focado nesse objetivo acaba esquecendo de criar uma história coesa e possível no universo da franquia e praticamente anulando tudo apresentado no filme anterior (igual a outra franquia aí...). O que vimos aqui é facilmente um dos piores filmes do ano até agora, ele é completamente desagradável, sem sal, sem sentido, bizarro, sem carisma, esquisito, desrespeitoso, eu acho que talvez seja impossível gostar desse filme, só querendo MUITO, mas MUITO mesmo.
Como disse, a história de produção lembra a de outra franquia: Star Wars. No episódio VII de Star Wars, vemos o estabelecimento de uma expansão do universo da franquia, com novos personagens e vilões que agregam alguns coisa, no VIII vemos o diretor buscando inovar e gera uma divisão de opiniões, que para o estúdio pesam mais as opiniões negativas e no fechamento da trilogia a opção é colocar o que os fãs pedem e estragar todo o caminho estabelecido até aquele momento. Aqui é similar, essa descrição sobre os três filmes batem perfeitamente, sem mencionar o fato de que o diretor do primeiro filme retorna no final para substituir o diretor que fez algo próprio e diferente que desagradou algumas pessoas. Só que quer tanto agradar os fãs que utiliza dos easter eggs mais bobos que existem, em especial o fato dos personagens antigos estarem com as mesmas roupas e penteados ao longo do filme inteiro e a reutilização de algumas espécies e momentos memoráveis da franquia, no que gera uma das maiores bobagens apresentadas cinematograficamente em blockbusters nesse século.
Inclusive a minha atenção foi chamada após o anúncio de que o trio clássico da franquia iria retornar. Dra. Ellie Satler (Laura Dern), Dr. Alan Grant (Sam Neill) e o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum) e eu me surpreendi positivamente que não era só algumas participações pontuais, eles são protagonistas (pelo menos o Grant e a Satler), estão lá o tempo inteiro, tem um arco próprio e o desenvolvimento de uma relação própria e eu me senti feliz de vê-los novamente juntos depois de vinte e nove anos, finalmente a aguardada reunião rolou, que pena que foi em um longa tão fraco assim, eles mereciam melhor por tudo que significaram e significam para a vida de muitas pessoas. A interação deles é um dos poucos pontos funcionais, o Sam Neill retornando como aquele herói improvável é bom, ele não mudou nada em relação à personalidade, ainda é aquele aventureiro desconfiado e foi legal ver esse herói de infância de novo. A Laura Dern também é bem legal, dá para perceber que houve um amadurecimento da personagem e é bacana ver ela assim mais velha, bate um sentimento nostálgico, o relacionamento dos dois sendo retomado é bem legal de acompanhar com eles mais velhos. O Jeff Goldblum já tinha aparecido no segundo e aqui ele aparece com mais participação ativa e ele é o melhor personagem dos antigos, o carisma dele é absurdo e quando ele aparece, o filme ganha um pouco mais de vida - ele deveria ter aparecido muito mais inclusive.
Os personagens dessa nova trilogia, em contraparte, estão quase todos péssimos. O Owen Grady (Chris Pratt) não faz quase nada, não dá nem para reclamar dele porque na maior parte das cenas com ele, ele tá sofrendo algum acidente com automóvel, tem poucas cenas onde ele seja realmente o herói que projetaram ele para ser, ele é bem discreto e é um desserviço ao último longa o que fizeram aqui, nem como uma figura paterna ele consegue funcionar, o horário já permite falar, me perdoem o palavreado, mas transformaram o Owen num bananão. A Claire (Bryce Dallas Howard) é outra banana, ela é a que mais se distancia em relação aos filmes anteriores, ela só grita, a função dela é essa: gritar e ser gostosa e acaba por aí o que tem para ser falado sobre ela, porque esse é o nível de futilidade que deixaram a coitada, ainda reutilizam a separação dos dois como artifício narrativo e não funciona pela repetição e porque eles facilmente se reconciliam em uma cena de um minuto ou até menos. Quem salva (ou pelo menos tenta) é a Maisie (Isabella Sermon), ela é a única que tem um arco dentro da narrativa, ela tem o desenvolvimento de estar vivendo com o Grady e estar sendo criada por um pai iniciante, tem a questão do DNA dela ser alterado e ela descobrir isso, e ela tem carisma, ela tem uma boa interação com o Grant e a Ellie, a menina tem 16 anos e carrega o filme inteiro nas costas, braba demais, mas coitada também.
A trama é um desastre, porque questões deixadas em aberto são resolvidas cinco minutos depois de serem apresentadas, a relação entre a galera é pífia, tem uma nova personagem, a Kayla (DeWanda Wise), que é tão inútil que eu tive de pesquisar o nome dela, eu juro, eu não sei qual o papel dela no aqui, porque ela não tem nenhuma função, ela só pilota avião e põe a vida do Owen em perigo umas quatro vezes. Tem os gafanhotos que é uma questão risível dentro do longa, porque simplesmente os dinossauros estão à solta, mas a maior ameaça para a humanidade é a porcaria dos gafanhotos, é inacreditável essas ideias, tiraram essa porcaria do reto anal, porque não é possível que isso tenha vindo de uma mente pensante. Ignora totalmente questões do anterior, como o fato dos dinossauros estarem soltos por aí, eles mostram com uma grande naturalidade que tem dinossauros de cinco metros andando nas ruas de grandes cidades europeias, se soubessem explorar bem essa questão já teria sido um pouco mais coerente. O que se salva são apenas algumas cenas de ação no final do segundo ato e no terceiro envolvendo os dinos, que funcionam, com a adrenalina em um ponto certo e os efeitos dos dinossauros estão até que bons, mas o que desgraça fizeram com o chroma key?? Parece que foi gravado numa parede verde em 65% do tempo, cena mínima de uma rua é tela verde, que agonia que me deu.
Como o esperado, "Jurassic World: Domínio" é uma bomba! Não tem história, todos os personagens são inúteis e só funciona minimamente pelo retorno das lendas, pelo arco da Maisie e por algumas cenas envolvendo dinossauros, mas é tudo muito nerfado em comparação ao filme anterior e uma história que tinha potencial baseado nos acontecimentos prévios acaba se tornando mais uma aventura fútil que é pura lavagem de dinheiro da Universal. Eu só fico triste pelo potencial que ficou para trás, que saudades do meu J.A. Bayona.
Nota - 4,0/10