Crítica - Pânico (Scream, 1996)
A sátira séria de Wes Craven.
Você que me conhece sabe que eu não gosto de filme de terror e que eu estou sendo bem light ao falar apenas que não gosto, basicamente eu tenho a mesma opinião que a Sidney: são filmes idênticos onde o cara com a faca mata a loira peituda, sempre é assim, principalmente o gênero de slasher (se não é assim, é filme sobre o diabo entrando em uma pessoa ou sobre o filho dele), eu acho isso incrívelmente fútil e incrivelmente banal - e também eu acho um pouco doentio gostar de filmes que a graça é ver o jeito criativo que o cara mascarado vai matar as pessoas. Mas, esse filme me pegou, justamente porque Wes Craven pega essa história clássica do colegial e satiriza isso de uma forma séria, ele não apela para o humor, não chega a ser um filme de terrir, ele trata o filme como uma sátira séria aos filmes de terror e faz um filme incrivelmente parecido com os outros só que de forma extremamente criativa e surpreendente, realmente me surpreendeu, tenho certeza que é o primeiro filme de slasher que eu realmente gosto e que dou nota alta, acho que só "Halloween" do John Carpenter que eu dei nota alta desse tipo de filme.
Craven não se segura só em fazer críticas ao cinema e ao subgênero de slasher, mas também faz várias críticas à nossa sociedade, aquela escola é basicamente um manicômio, ele faz uma crítica geral à "filhadaputagem" da humanidade, tem os caras se vestindo de Ghostface na escola sem sensibilidade e empatia nenhuma, andando achando legal zoar da cara de um psicopata e na frente de uma quase vítima dele e em um local frequentado poe uma vítima dele, me lembra do Brasil, onde as pessoas gostam de zoar a condição do outro sem forma de empatia nenhuma, como lá em 2017 eu acho, onde começaram a zoar o Fábio Assunção porque ele tinha dependência química, e olha, sou extremamente a favor da zoeira, mas zoar dependente químico, pessoas com doenças, para mim já é algo exagerado, isso ofende, aqui no Brasil chegaram a fazer uma música zoando o Fábio Assunção, isso é passar dos limites já. Outra crítica feita por Craven é através da personagem da Courteney Cox, mostrando a soberba que uma pessoa com um pouco de fama pode ter, se achando mais importante por ser uma repórter, a soberba que um humano pode criar por minutos de fama é impressionante, nisso Craven também envolve uma crítica à repercussão midiática envolvendo casos criminais, mostrando uma pressão da mídia encima das vítimas e uma sede de querer fazer fama com isso e não um bom trabalho.
Craven faz uma subversão genial dos clichês dos filmes de slashers, primeiro que ele tira o gore, o que é ótimo pois eu odeio gore, segundo que tudo que é clichê no filme de terror ele pega e muda completamente mas sempre apresentando da forma mais clichê possível para ficar claro que é realmente uma sátira e sempre que tem uma cena que é geralmente o clichê mas que aqui não vai acontecer nada, mostra o clima de tensão para parecer que vai rolar de verdade um jumpscare. Tem também o fato que ele faz as todas as cenas clichês satirizando mas sem deixar cômica, como a loira peituda sendo morta (e inclusive é mais claro que é sátira aqui pois eles querem destacar que a loira é peituda e propositalmente deixam ela com as mamas duras), a cena em si satiriza as loiras desses filmes slashers sendo mortas, mostrando a loira tendo decisões idiotas e a cena é até meio cômica pois ela morre do jeito mais idiota e imprevisível que era possível.
Mas a subversão mais incrível do Craven na minha opinião é em relação à protagonista burra, que sempre é a donzela indefesa em perigo que chora o filme inteiro, aqui ele subverte isso na Sidney e transforma ela numa personagem que contra-ataca contra o serial killer, que tem decisões inteligentes, que é forte, é corajosa, que tem pudor, que não fica esperando a morte, é uma das melhores heroínas do cinema se duvidar, ela não fica inferior ao Ghostface em nenhum momento, eu achei isso muito bom e a gente começa o filme achando exatamente o contrário, pois o Craven na primeira cena dela a mostra como uma menina sensível, que é superprotegida pelo pai, mostra ela em um pijama rosa e nos dá a impressão de que ela é a personagem 100% feminina que é sensível, com pelúcias de unicórnios e que durante o filme essa imagem vai sendo destruída. Sensacional.
Os twists colocados pelo Craven também são muito bons, como o fato da personagem que ele nos faz odiar o filme todo na verdade ter tido razão em relação ao caso da mãe da Sidney, isso é muito bom. Mas o twist de quem é o Ghostface é o melhor, pois é muito bem articulado o filme inteiro e é dito na nossa cara duas vezes os dois assassinos e nós não acreditamos, mas ele já joga na cara quem são e quando chega no final ainda é surpreendente e ainda mais o porquê deles serem os assassinos fazem sentido, pois um só é endemoniado mesmo e o outro quer vingança pelo divórcio dos seus pais, e aqui entra mais uma crítica incrível do Craven, pois ele critica a mídia indiretamente, hoje em dia parece uma indireta para a Record, ele fala na cara mesmo que psicopatas são psicopatas por natureza e que não são obras audiovisuais que os transformam, apenas dão mais idéias e mais criatividade para eles, o que é uma baita verdade, se alguém se influencia em algo para fazer um crime, essa pessoa já queria fazer isso, os filmes apenas acendem a lâmpada, nem todo mundo é psicopata e as obras não influenciam ninguém a virar nada, eu quando era criança jogava Mario e não saí pisando em tartaruga alada. Esse filme me deu vontade de dizer "chupa, Record".
Incrível, "Pânico" é um dos melhores filmes de terror que eu já vi na minha vida, facilmente top 3. É um filme que é terror, mas ele faz uma crítica ao gênero o satirizando, gerando assim situações que são tensas, que são assustadoras, mas que são satíricas e que mostram a banalidade dos filmes de slashers. Craven não se limita só a criticar o cinema, ele crítica o mundo, uma crítica de um filme de 1996 que ainda é extremamente atual, criticando a má índole geral da humanidade, a nojeira que é a mídia e que psicopatas são psicopatas naturalmente e que nada os torna psicopatas, apenas tornam eles mais inteligentes. Realmente incrível, gostei de cada minuto.
Nota - 10/10