Crítica - 007 - Sem Tempo Para Morrer (No Time To Die, 2021)

Um final digno para o James Bond de Daniel Craig.

🚨🚨 O texto contém spoilers 🚨🚨

007, uma franquia que todo amante de cinema gosta, que tem seus altos e baixos, tem filmes que realmente são considerados obras primas e tem uns que caem no esquecimento. Minha relação com os 007 com Daniel Craig é complicada, "007 - Cassino Royale" me marcou muito desde que vi quando criança e até hoje acho um filmaço, "007 - Quantum of Solace" eu sinceramente achei uma porcaria desde sempre, "007 - Operação Skyfall" é maravilhoso e "007 Contra Spectre" é um filme que tinha bastante potencial mas que no final o saldo negativo é bem maior. Aqui, já fui não esperando muita coisa, eu até disse em um post que tava pouco animado para o filme e que perdi o hype na franquia, esse filme é igual ao geral da franquia: tem seus altos e baixos, momentos que são puramente obras primas e momentos que beiram o ridículo.

A primeira hora de filme é espetacular, até uma hora e seis minutos o filme é obra-prima, tem o DNA da franquia, tem uma ação magnífica, tem um bom desenvolvimento do Bond depois de deixar o MI6, mas depois que o Felix (Jeffrey Wright) morre, o filme na minha visão se perde um pouco, perdeu até minha atenção e eu sinceramente fiquei totalmente decepcionado vendo aquilo, porque justamente nessa uma hora e seis eu fiquei vidrado no filme, achando sensacional, achando o melhor filme do Bond, o prólogo do filme é uma das melhores coisas proporcionadas pelo cinema em 2021, mas depois o filme vira um filme de ação que se sustenta em uma ação sem propósito e escanteia totalmente a espionagem enraizada na franquia, não que a ação seja ruim, a porradaria é sincera e muito boa de ver e é até funcional, mas não tem muito o DNA da franquia.

Quem dirige aqui é Cary Joji Fukunaga, um bom diretor, ele fez o muito bom "Beasts of No Nation" e ele aqui nas cenas de ação se sai muito bem, faz cenas de ação agradáveis de se ver, dá para enganar que os golpes pegam, a coreografia é boa, o Fukunaga botou cenas de ação brabas com vários fanservices para arrepiar quem é fã de verdade e realmente, acho que ele poderia ter feito dentro do DNA da franquia, seguir a vibe clássica de 007, que é a espionagem, tem uma mísera cena de espionagem no filme inteiro e é o filme mais longo entre os 25, o filme se perde muito em querer ser uma celebração a franquia sendo que ele não parece um filme da franquia (e isso só demonstra como isso de fazer filme para os fãs é subjetivo, em filmes como "Vingadores: Ultimato" funciona, por exemplo, porque segue a vibe que deveria seguir, em filmes como esse aqui e "Star Wars: A Ascensão Skywalker" são dois casos que se perdem - esse pelo menos é só pela metade, não é um desastre completo como TROS) e sinceramente, depois de pensar um pouco algumas semanas depois de ver, eu acho que funciona como uma homenagem a franquia no geral, tem fanservices de filmes antigassos de 007 e eu não entendi como eu achei que não era boa homenagem a franquia.

Fukunaga tenta mais explorar um lado mais humano no Bond que não havíamos visto anteriormente, vemos o Bond assumindo o amor, coisa que não vimos direito nem com a Vesper, vemos o Bond aprendendo a amar e ser um humano e não um soldado, o que eu achei legal trazer essa humanização dele, acontece parecido na franquia rival a partir do terceiro filme, só que o problema é que a humanização dele é trazida através de um relacionamento bom com a Madeleine (Léa Seydoux), a Madeleine para mim é uma das poucas coisas que funcionam no "007 Contra Spectre", eu não era muito fã desse relacionamento, o relacionamento dela com o Bond para mim é muito estranho, literalmente o Daniel Craig tem idade para ser pai dela, mas acho que com o desenvolvimento ao longo do filme, acaba funcionando bem, colocam uma filha do casal que você se apega a ela instantâneamente, eu achei meio exagerado quando eu vi botarem uma filha para o Bond, mas depois de pensar um pouco algumas semanas depois, ele precisava disso, precisava ter alguém com quem realmente se importar, o cara era totalmente solitário e acho que a Madeleine e a filha vem como uma espécie de motivação para o Bond viver e pô, é funcional.

Mas a pior coisa do filme é o vilão, com certeza, primeiro que o intérprete é o Rami Malek, só até aí já dá para entender porque é ruim, mas o personagem é ruim, ele até tem um desenvolvimento com o drama de vingança pela família dele, mas é raso ao extremo e isso com certeza poderia ser melhor estruturado e utilizado e cara, que ator medíocre é o Rami Malek, a atuação dele aqui é ridícula, ele literalmente parece só ler o roteiro em voz alta, tem uns momentos que é impossível não rir enquanto ele fala sério, não dá para levar o personagem a sério, ele tem cenas com monólogos que são até bem escritos, mas na voz e interpretação do Rami Malek ficam ridículos, esse cara é tipo o antônimo do Rei Midas.

Mas, por incrível que pareça, é o único filme de 2021 que me fez chorar de verdade, o único onde lágrimas realmente caíram dos meus olhos, porque pô, você vê o personagem por 15 anos, vê ele se apaixonando, criando laços, se aventurando em missões suicidas, perdendo pessoas ao som de trilhas sonoras instrumentais incríveis e ver tudo isso se culminando na sua morte é emocionante demais, eu garanto que se depender de mim, o 007 de Daniel Craig jamais cairá no esquecimento, ele na minha opinião é o melhor intérprete do Bond, o que melhor entendeu a complexidade do personagem e o que melhor atuou no papel, sentirei falta dele como Bond.

Gostaria de destacar algumas outras qualidades do filme antes das considerações finais. Visualmente falando, é o filme mais bonito de 2021 ao lado de "Eternos" e "Ataque dos Cães", tem uma fotografia absurdamente bonita e um monte de cenas belíssimas que servem como ótimos wallpapers, o filme não tenta dizer muita coisa através do visual, é bonitão assim por escolha estética, mas que é lindão, é. Minha parte favorita do filme é a parte de Santiago que envolve a Paloma (Ana de Armas) porque ali tem o DNA da franquia, tem o Bond se infiltrando nos lugares, nas festas, descobrindo pistas e logo depois a confusão generalizada com ótima pancadaria, eu gostei muito da Paloma, gostaria que tivesse sido melhor aproveitada, sete minutos em tela para uma personagem tão carismática é muito pouco. E também gostaria de destacar que mais uma vez a franquia tem uma abertura sensacional, muito bem feita, muito bem animada e já determinando um ritmo mais melancólico e humano no filme e a música da Billie Eillish é maravilhosa, eu nunca fui muito fã dela, mas essa música é bem feita, bem produzida, tem uma letra incrível e o encaixe da voz dela é perfeito, torcendo por ela nas premiações. E também o desenho sonoro do filme é absurdo, a cena do túmulo da Vesper é realmente ensurdecedora, você se sente no meio da ação, é... É sensacional, maravilhoso.

"007 - Sem Tempo Para Morrer" me deu sentimentos mistos, mas o saldo foi positivo. Tem momentos onde o filme é puramente sensacional, arrepiante e divertido e tem uns momentos onde se perde muito em querer se calcar em um estilo de blockbuster de ação que não combina em nada com a raíz e o DNA da franquia, no segundo ato parece um filme de ação genérico. Para Daniel Craig, uma despedida digna, um arco que se encerra com chave de ouro, para a franquia, mais um filme muito bom. Poderia ser o melhor filme do Bond, mas é um filme que se perde no segundo ato, mas o primeiro ato e o terceiro são espetaculares, é pura emoção e impacto causado por cenas emocionantes e fanservices funcionais, não gostei muito quando eu vi, hoje, depois de pensar, considero muito bom o filme.

Nota - 7,5/10

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