Crítica - Pânico (Scream, 2022)

Craven teria orgulho.

🚨🚨 Texto com spoilers 🚨🚨

Depois de 11 anos, a franquia de terror mais querida está de volta. E como eu disse no texto de "Pânico 4": de lá para cá mudou muita coisa, a principal delas é a morte de Wes Craven, o diretor dos quatro primeiros filmes e uma lenda do terror. Nisso, acabou se criando os tais pensamentos: "como continuar uma franquia após a morte do diretor?" e principalmente "como fazer isso sem ser desrespeitoso ao legado que ele deixou?". No final, acabou sendo agradável e é, acima de tudo, uma gigantesca homenagem ao Craven e a tudo que ele passou e deixou, não só a ele, mas para a maior parte dos fãs da série, é quase como se fosse o "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" dos fãs de Pânico, tem quase tudo que gostaríamos de ver. Apesar de não ter agradado todo mundo, sendo mais um consenso entre a crítica e tendo opiniões divididas vindo do público geral, eu acabei curtindo pela homenagem. Estou reescrevendo depois de um ano e hoje minha opinião é um pouco mais rígida do que pela primeira vez, mas é uma experiência bacana como fã.

Visivelmente a intenção é que é para ser um soft-reboot da franquia, novos diretores, novos roteiristas e também traz o fim dos arcos individuais e coletivos de Sidney (Neve Campbell), Dewey (David Arquette) e Gale (Courteney Cox), tanto que continuou para um sexto longa e só a Courteney Cox retornou. De qualquer jeito, mesmo se os outros dois voltassem, não havia como eles serem necessários nisso, o grupo apresentado aqui tomou conta e teve uma merecida continuidade, diferente do "Pânico 4", por exemplo, onde todo mundo era legal, tinha potencial e morreu. Sinceramente é intrigante a busca por novos ares, já que eles não podem se prender em Sidney para sempre, uma das coisas que eu gostei foi isso, como eles encerram os arcos da trindade original: Sidney acabou sendo uma mãe pacata de família sem precisar se preocupar constantemente em ser atacada por um maluco de máscara, Gale como a apresentadora e jornalista nacionalmente conhecida que ela almejava ser e o Dewey acabou como o herói que ele buscou ser e falhou previamente. Inclusive vendo a morte do Dewey eu cheguei na conclusão que se você retorna para uma franquia depois de muito tempo, você acaba esfaqueado (Han Solo e Tobey Maguire tão aí para provar).

O novo grupo de personagens é muito bacana. Eu gostei que não inventaram nada e botaram a maioria deles como relacionados aos personagens clássicos da franquia, tem dois sobrinhos do Randy: a Mindy (Jasmin Savoy Brown) e o Chad (Mason Gooding), tem o filho da Hicks lá do quarto filme: Wes (Dylan Minette) e tem a filha do BillySam (Melissa Barrera), que é nossa nova face da franquia. Os diretores conseguem nos fazem gostar deles logo de cara, todos eles tem motivação, um bom background, uma boa história a ser desenvolvida, carisma e um futuro deixado em aberto que é interessante. A nova protagonista é uma mistura da Sidney com o Billy, ela tem a coragem e a preocupação da Sidney com a loucura sociopata do Billy, e eu achei legal isso de trazer uma filha perdida dele, apesar de parecer batido e meio paia, mostra que nessa franquia tudo pode ter acontecido sem termos conhecimento, além disso o desenvolvimento dela é muito bom, tudo sobre ela é estabelecido rápido e vemos que ela não é tão vítima assim, isso é legal, porque mudam os ares, não é mais uma personagem comum que tá no centro, mas sim uma pessoa tão insana quanto os Ghostfaces. Particularmente acho que a franquia pode ter uma boa vida com a liderança dela nas sequências.

E aqui, sinceramente, tem os Ghostfaces com a motivação mais engraçada da franquia. Essa parte com certeza deixaria um orgulho no Craven porque continua as críticas que ele sempre pôs dentro dos filmes. Os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett decidem fazer uma crítica aos fandoms, e se em 2011 já tinham os fãs tóxicos e obcecados, imagina agora onde a internet é mais acessíveis (tem alguns que merecem adjetivos piores, como os de certa franquias). Aqui, o vilão, ou melhor, os vilões, são dois fãs de "Stab" que ficaram decepcionados com o oitavo filme da franquia e decidiram ir escrever um melhor por conta própria, criando mais uma história real para motivar o nono. Cara, é maravilhoso, e o pior é que dá para entender a motivação mesmo sendo um pouco ridícula por natureza, pois imagina você ser fã de uma coisa, ser moldado por aquilo e estragarem completamente aquilo que você ama. Mostra também como o pessoal está ficando cada vez mais adoecido pela internet, no quarto era crítica sobre a busca pela fama, aqui é sobre como os fã-clubes são extremamente conservadores com coisas novas nos seus queridinhos e preferem cometer crimes do que abraçar as novas mudanças. Só me decepcionei que o melhor personagem, vulgo Ritchie (Jack Quaid) era 50% do vilão, mas tá de boa.

Um interessante soft-reboot, "Pânico" ao mesmo tempo que é o encerramento de uma saga, é o início de uma nova. Esse filme prova de uma vez por todas que não é necessário Sidney, Gale ou Dewey para a franquia funcionar, apresentando um novo grupo carismático que liderará a franquia daqui para a frente de forma merecida.. É uma homenagem a franquia, ao Craven, que respeita primordialmente os materiais prévios, dando uma sequência lógica bem legal em relação aos pensamentos e críticas passadas anteriormente. A real é que essa franquia é tipo um Scooby-Doo live action que não se leva a sério nem um pouco, zoa com o subgênero do slasher e não tem cachorro, por isso eu acho maravilhoso. Que venha o futuro.

Nota - 7,5/10

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