Crítica - Deadpool & Wolverine (2024)

Bem-vindos ao MCU! Pena que chegaram em uma hora ruim...

🚨 Sem spoilers 🚨

Em 2019, a Disney fez mais uma de suas compras caras e estratosféricas quando adquiriu a antiga 20th Century Fox, agora denominada apenas 20th Century Studios, e todas as suas marcas, o que significaria que, indiretamente, os Mutantes estariam de volta ao controle do Marvel Studios. Várias especulações foram iniciadas sobre os retornos das franquias que lá estavam, tivemos como o Kevin Feige iria incluir os X-Men, Quarteto Fantástico, Deadpool e tudo mais no grande fenômeno que é (ou era, ao menos) o Universo Cinematográfico da Marvel? Bom, acontece é que o primeiro projeto anunciado foi logo o fechamento da trilogia do mercenário tagarela, que prometia ser a introdução dos mutantes para o MCU. No entanto, em 2022, fomos pegos de surpresa quando Ryan Reynolds anunciou o retorno de Hugh Jackman como Wolverine para este longa, já que o mesmo havia se aposentado do papel em 2017. Com isso, surgiram especulações, roteiros vazaram, rumores surgiram e criou-se uma expectativa de ser um grande evento do Universo Marvel, desde o que vimos em "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" (2021), e que foi ensaiado, mas sem convencer o público geral, em "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" (2022). A expectativa é gigante, mas será que cumpriu com tudo que foi prometido ou é só mais um dentre os filmes comuns do estúdio?

Wade Wilson, o Deadpool (Ryan Reynolds), se cansou da vida de mascarado e decidiu viver em uma vida tranquila e pacata, trabalhando como vendedor de carros e tendo uma convivência comum com todos os seus amigos dos filmes anteriores. Um dia, a TVA (agência da série "Loki") convoca Wade para uma missão, onde o Sr. Paradox (Matthew Macfayden) revela ao protagonista que seu universo está à beira da destruição, e com isso, o nosso mercenário tagarela favorito precisará de ajuda para salvá-lo. Nisso, ele corre pelo multiverso atrás de encontrar um Wolverine (Hugh Jackman) que possa ajudá-lo. Quando ele o encontra, por desafiar as autoridades da TVA, eles são jogados no Limbo, onde lá precisam enfrentar a mutante Cassandra Nova (Emma Corrin), a irmã gêmea perdida de Charles Xavier, e seu exército repleto de personagens coadjuvantes dos filmes do X-Men da Fox para retornar e salvar o mundo antes que seja tarde. Cara, já adianto: é muito bom. Ele tem alguns defeitos e limitações, muito por ter sido afetado durante as greves do ano passado, porém, nada que atrapalhe a grande experiência de acompanhar essa dupla incrível de ter um ótimo filme divertido e emocionante, que faz homenagens, tem participações, mas jamais deixa de ser sobre os personagens-título.

Na direção quem assume é Shawn Levy, um diretor que eu gosto, fez um bom trabalho com "Free Guy - Assumindo o Controle" (2021), e fez outros longas que você com certeza já assistiu, como a trilogia "Uma Noite no Museu" (2007-2014), "A Pantera Cor-de-Rosa" (2006) e "Doze é Demais" (2003), além de seu excelente trabalho na direção e no processo criativo de "Stranger Things" (2016-). Ele virou um grande parceiro do Ryan Reynolds, além do Free Guy, também tem "O Projeto Adam" (2022) e mais dois projetos vindouros. Além de que, também já trabalhou com Hugh Jackman no adorado "Gigantes de Aço" (2011). Então, já tendo esse conhecimento e amizade prévia com a dupla, Levy claramente se diverte dirigindo aqui, onde seu foco é criar um buddy cop, onde temos o mercenário tagarela irritante junto ao carcaju mal-encarado irritado. E é isso, não tem muito mais, é a mesma energia dos dois anteriores, apenas mudando a história para uma questão multiversal. O Levy entende bem a vibe do personagem, é um personagem caótico, maluco, que zoa e parodia de tudo e todos sem o minimo escrúpulo. É engraçado, irreverente, imaturo e violento, é tudo que a gente quer e tem que ver num filme do Deadpool sobre o Deadpool. É importante ressaltar isso também: não é porque é um filme que promete multiverso, cameo, piada, paródia e tudo mais, que deixa de ser sobre o protagonista, que ele deixa de ter um arco emocional e uma jornada para sua evolução. O nome do filme é Deadpool e Wolverine, e os dois são realmente o grande foco de toda a obra.

Eu curto muito como o Levy faz as cenas de ação, já que existe um cuidado muito grande em criar algo empolgante, mas bem feito, bem filmado, bem editado, na minha visão é um dos pontos altos do longa. A primeira cena já faz com esse torne-se instantaneamente o filme mais violento da Marvel. É muito legal que já começa com uma cena bastante criativa, sanguinolenta e engraçada pela natureza do personagem. A primeira cena, não sei se dá para ser considerado um spoiler, mas como é literalmente a primeira coisa do filme que temos, é o protagonista fazendo um massacre utilizando ossos do cadáver de adamantium do Logan enquanto dança "Bye Bye Bye" do *NSYNC, já começando no pico para nos mostrar o tamanho da loucura que iremos acompanhar durante as próximas duas horas. A parte cômica também é muito boa, existem gags bem interessantes, várias metalinguagens, o Deadpool tacando o pau no MCU, piadinhas envolvendo personagens consagrados, envolvendo o dinheiro que a Disney gasta ou não gasta, e tudo mais, é o filme que eu mais ri em muito tempo, isso com certeza. Ele pega tudo que vem de ruim nessa baixa dos heróis, ridiculariza e transforma em uma daquelas luzes no fim do túnel quanto nossas expectativas, é um acúmulo de tanta tralha que já nos trouxeram e mostram como também existem coisas boas que foram descartadas. O problema vem que algumas piadas são repetidas tantas vezes que enjoa, e uma hora chega a ser insuportável, ali denotam-se certas limitações que impediram o longa de ser melhor, no final eles tentam repetir piadinhas que não pegam justamente pelo reúso.

Outro problema é o antagonismo do longa, temos duas figuras para fazer esse papel, mas as duas juntas não dá um. No meu texto anterior sobre "Um Tira da Pesada 4: Axel Foley" (2024), eu falei que a tal franquia se sustentava por um caso qualquer que não passava de uma desculpa para o Eddie Murphy fazer graça e dar tiro. Posso falar o mesmo sobre Deadpool e Ryan Reynolds, já que este é um feito recorrente ao longo da trilogia, e não mudaria no terceiro filme só por conta da mudança de universo. Mas enfim, esse problema de vilão é recorrente, nenhum deles é marcante, as cenas mais famosas do Deadpool são envolvendo capangas aleatórios como adversários. O mais próximo de ser lembrado é o Fanático no segundo, mas você lembra como ele foi derrotado? Não, só dele partindo o Wade em dois. Aqui temos a Cassandra Nova, irmã perdida do Professor X, que tem telecinese, lê mentes e tal, mas ela aparece bem pouco e acaba que é redundante, poderia ser o Magneto ou qualquer outro mutante ali que não faria a diferença. Sinceramente não curti muito ela ali, é uma ameaça inodora, não tem presença nenhuma nem dentro e nem fora de tela. Apesar de não ser uma atuação ruim da Emma Corrin, infelizmente torna-se uma vilã subaproveitada e esquecível. Assim como o Paradox, que não é bem um vilão, ele apenas tem uma ideia que gera o drama e o conflito do longa, e até vai, pelo menos tem uma motivação crível para fazer o que ele faz. Tem algumas outras questões de roteiro, mas não tantas quanto o povo da internet fala que tem, uma que eu achei bem rasa é a função do Pyro (Aaron Stanford), já que ele serve para pouco e depois é descartado, em uma subtrama que poderia ser melhor explorada se tivesse uma ceninha a mais. Outros cameos de personagens secundários funcionam porque o longa sequer dá a mínima para tentar criar uma função para eles, nem fala eles tem, o que não acontece com o Pyro, e por isso se marca como um defeito.

Como disse em um dos parágrafos anteriores, ainda é um filme do Deadpool sobre o Deadpool. E cara, vão demorar décadas para que surja outro ator capaz de interpretar esse personagem com tanto encaixe e maestria quanto o Ryan Reynolds. Ele nasceu para esse papel, que indiscutivelmente é o melhor de sua carreira e é tão bom a ponto dele interpretar quase a mesma coisa em todos os seus trabalhos subsequentes há uns seis anos, e isso não é uma crítica, é uma prova de seu encaixe no papel é tão perfeito que ele ficou marcado, ele tem um carisma imbatível, um timing cômico excelente, que aqui é indiferente, mas também o diferencial desta franquia. Até na parte dramática ele dá uma convencida já que todo seu arco aqui é sobre ser um herói pelo bem maior e não por si mesmo, e a relação dele com os personagens que a gente conhece dos dois anteriores, especialmente a Vanessa (Morena Baccarin), é o grande motor dramático dele e funciona cem por cento. Combinando perfeitamente com a amargura do Logan, e olha, que deleite ver o Hugh Jackman de volta ao papel. Não é o mesmo do universo Fox que acompanhamos por quase duas décadas, é uma variante do multiverso, mas mesmo assim é muito bom. Esta versão tem seus problemas, entretanto, o diferencial é a culpa, já que em seu universo, ele é o último X-Men restante, ele não tem essa culpa de sobrevivente, mas ainda mais a sensação de que ele poderia ter evitado. A performance do ator é a seta que eleva o longa, já que ele passa por todo esse processo de luto e de tentar se encontrar novamente, e o Hugh é certeiro em mostrar tudo isso através de sua interpretação, seu olhar, o porte de derrotado, mas quando ele recupera, meu amigo, é arrepiante.

E a melhor coisa do filme, que dá para perceber desde muito tempo, é claramente a interação dos dois. Ajuda muito que ali é todo mundo amigo, o Shawn Levy com ambos os atores, mas especialmente o Hugh e o Ryan, que são mais do que amigos, são bros há muito e muito tempo (não do mesmo jeito que em "Rivais", eu espero). Eu acompanho os dois nas redes sociais há anos e é extremamente comum posts de um zoando o outro e vice versa. E esse bromance sendo visto na tela do cinema é muito legal, até porque vai tendo uma construção. É o clássico buddy cop, os dois são totalmente opostos, se odeiam, mas vão lentamente resolvendo as diferenças e no final eles já viram grandes amigos. E as piadas de um com o outro, a interação, é uma baita química em tela, eles entendem muito bem um ao outro, tem até uma questão bem metalinguística em relação à isso. Uma das grandes provas são as cenas de ação em que eles estão juntos, seja lutando ao lado do outro ou um contra o outro. A batalha final desse filme é uma loucura, é um plano-sequência (não totalmente porque tem um corte para uma piada da Al Cega) gravado como se fosse um jogo beat'em up é catártico, é impossível não se arrepiar vendo aqueles dois personagens icônicos lutando lado a lado, é difícil descrever como fã a sensação de finalmente ver isso em tela. A cena do carro é engraçada e bastante criativa (os caras tiveram que encenar uma coreografia de luta dentro de um Honda), a cena que toca AC/DC no Limbo, e outra cena que pode ser reveladora, também são momentos bem marcantes que me deixaram com um sorriso no rosto.

O que mais posso dizer sobre "Deadpool & Wolverine"? Bom, sem spoilers fica por isso, após a nota terá um comentário com spoilers. Mas cara, é um filme muito legal, é um filme divertidíssimo de se assistir, seja pelas ótimas cenas de ação, pela comédia impiedosa com tudo e todos, ou pelos personagens principais com os intérpretes que eles tem, e aqui há a prova definitiva de que não existem pessoas melhores para Deadpool e Wolverine do que Ryan Reynolds e Hugh Jackman, respectivamente. O maior problema para mim são os vilões, que são figuras bem mais ou menos, e outro problema que não é do filme, mas sim a forma como vendem ele, não só a Marvel, com um exagero tamanho ao dizer que era mais importante que Ultimato (o que é comum no marketing do cinema), mas principalmente através de canais e portais nerds que criam expectativas irreais sobre o filme e depois se dão bem com a decepção de nenhum daqueles absurdos terem acontecido (Tony Stark, Andrew Garfield com simbionte, Doutor Estranho, Tobey Maguire, ó as ideia). Mas não é por isso que deixa de ser um filme importante, é uma grande homenagem ao gênero e devo dizer que é a Marvel agradecendo a Fox por dar fama e visibilidade aos seus personagens. É um evento cinematográfico de qualquer forma, já está prestes a bater um recorde, e é um belíssimo entretenimento, dá vontade de reassistir instantaneamente.

Nota - 8,0/10


🚨 Com spoilers 🚨

Participações especiais? Temos, muitas! Umas mais esperadas, algumas menos empolgantes. Contudo, o que me deixou mais feliz foi que eles deram função aos cameos, cada um traz seu impacto para a trama como um todo, mas tem um ou outro que não. Aquele mais escrotizado acaba sendo um que já era um alívio cômico, que é o Chris Evans como Tocha Humana. Essa sacada a gente já queria há muito tempo, desde quando anunciaram o multiverso, e finalmente acontecer, do jeito que era para ser, é fantástico. Temos Jennifer Garner como Elektra, que já estava confirmada há mais de um ano, e a participação dela é legal, eu gosto dela no papel, apesar dos filmes que ela aparece serem péssimos, mas ela funciona, assim como aqui, com uma participação massa. Agora, o que cinema foi abaixo na minha sessão foi o Blade do Wesley Snipes. Esse eu não achava que iria acontecer porque ele e o Reynolds se odiavam, mas é do cacete ver ele de novo, esse sim tinha filmes bons e ele era melhor ainda. Ele tem toda aquela pinta de brucutu bad boy dos anos 90, que traz uma nostalgia boa da sua teologia. E o Channing Tatum finalmente como Gambit, um casting anunciado que nunca aconteceu de um filme que ia ser lançado em 2017 e jamais foi produzido. Aqui tem ele metendo um sotaque francês, e basicamente todas suas falas são relacionadas à sua frustração, mas é bom ver ele, não só pelo ator, mas pelo personagem, naquele uniforme clássico, é muito massa, um dos meus X-Men preferidos. E tem a X-23, a Laura, interpretada pela Dafne Keen, que havia sido revelada semana passada, acaba que isso assassinou a surpresa quando ela aparece, mas ao mesmo tempo ela acaba sendo dessas a que mais movimenta a trama, sendo importantíssima para a jornada do Logan. E quando ela põe o óculos e aciona as garras não tem como não se arrepiar, e ver ela crescida é um baita choque de como o tempo passou (e olha, vou ter que dizer, cresceu bem, hein).

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