Crítica - Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (Beverly Hills Cop: Axel F, 2024)


Uma sequência-legado que acerta o ponto quanto às homenagens e à qualidade.

Foram trinta anos de espera, mas finalmente estamos aqui para ver mais as peripécias de Eddie Murphy vivendo como Axel Foley em Um Tira da Pesada (hoje, na sessão da tarde). Essa franquia tão adorada que retorna para mais um capítulo desse policial maluco com a música mais repetida e viciante da história do cinema (que posteriormente foi mais reconhecida no vídeo do Crazy Frog). Era uma franquia que o Eddie Murphy sempre quis fazer novamente, por gostar do papel e também para tirar o gosto amargo deixado pelo terceiro filme da série. Os dois primeiros eu considero sensacionais, assisti aos três recentemente em preparação, eu só lembrava de ter visto o primeiro, mas assistindo aos outros dois eu percebi que já devia ter visto na televisão quando pequeno. Porém, enfim, é uma franquia que já haviam ensaios de retornos, tem no YouTube um piloto de uma série cancelada sobre o Axel com um filho policial (que, obviamente, não tornou-se canônico), mas só agora, com um investimento gigantesco de $150 milhões de dólares pela Netflix, temos Foley de volta oficialmente em mais confusões do barulho, em um sucesso imediato do serviço de streaming.

Após mais de 40 anos em serviço para a polícia de Detroit, Axel Foley (Eddie Murphy) é uma figura reconhecida e amada em sua cidade. No entanto, em Beverly Hills, quando a advogada Jane (Taylour Paige), filha de Foley, pega um caso envolvendo cartel de drogas e um possível assassinato de um policial por parte de seu cliente, o que faz com que ela seja perseguida e sofra uma tentativa de homicídio. Quando o seu antigo parceiro, Billy Rosewood (Judge Reinhold), o aciona, Foley volta mais uma vez para Los Angeles para livrar sua filha dessa parada. Nisso, ele se reencontra com velhos amigos, como o agora delegado John Taggart (John Ashton), e com novas parcerias, como o detetive Bobby Abbott (Joseph Gordon-Levitt), em busca de resolver o caso, salvar sua filha e reconciliar sua conturbada relação com ela. Temos aqui então o que é chamado de "legacy sequel" na gringa, ou "sequência legado" (não, não sou eu), que é nada mais nada menos do que resgatar um personagem antigo em um longa que traz a essência e nostalgia de um grande clássico. Tivemos Sylvester Stallone retornando em "Rocky Balboa" (2006), Tom Cruise em "Top Gun: Maverick" (2022), e agora Eddie Murphy, após uma tentativa falha com "Um Príncipe em Nova York 2" (2020), traz algo decente e que acerta o ponto na nostalgia.

Entregam a direção na mão de Mark Molloy... Quem? Exatamente, ninguém sabe, é o primeiro longa desse cara, tem pouquíssimos créditos no IMDb, este sendo literalmente o primeiro longa-metragem que ele trabalhou. Bom, acaba que segue a "tradição" de cada entrada da franquia ser com um diretor diferente (o que não é bem uma tradição, é questão contratual, burocracia e tudo mais). E ele basicamente só emula muito do Martin Brest do primeiro filme e pega um pouco de inspiração no trabalho do segundo, realizado pelo Tony Scott. Não existe nada de muito original, eles jogam no seguro e seguem a fórmula básica da série: existe um caso e colocam este de plano de fundo para que chegue o Eddie Murphy fazendo suas piadocas em meio a tiroteios e perseguições extrapoladas que são inexplicavelmente legais de se assistir. E, honestamente, funciona muito bem, eles pegam essa fórmula e fazem com que seja algo para que você sinta nostalgia mesmo assistindo, que surja o sentimento da alegria tome o painel de controle da sua cabeça enquanto você assiste, porque é isso, é impossível não abrir o filme, ver o Foley dirigindo o carro por Detroit enquanto toca "The Heat Is On" no rádio, a nostalgia pura já começa ali (ainda mais que depois eu voltei o filme para dar uma olhada na dublagem e colocam lá a narração do Márcio Seixas falando "versão brasileira: Netflix", que não é a Hébert Richers, mas já traz algum sentimento nostálgico de volta).

Como disse anteriormente, assisti a antiga trilogia antes de assistir a este, e cara, as piadas não envelheceram nada, tudo continua muito engraçado, são raríssimas as piadas que ficaram inadequadas com o teste do tempo, e aqui existe a mesma lógica para o humor, só que com encaixes de piadas e discussões atuais para trazer esse retrato de época. Tem piadas que acabam sendo recicladas, como o personagem Serge (Bronson Pinchot), o homossexual estereotipado da galeria de arte lá do original, que retorna brevemente no terceiro, e aqui ele tem algumas cenas, e apesar dele ser extremamente caricato, não chega a ser ofensivo, porque ele é feito para ser uma piada, mas não ri dele, e sim com ele, já que o engraçado são suas comparações e seu jeito de falar que é bem refinado, inclusive errando o nome Axel até hoje. Tem algumas piadas que são mais estendidas, mas que ainda acabam funcionando pelo carisma do protagonista em sustentar por tanto tempo algumas delas sem que a repetição fique chata, como tem a piada sobre o Foley elogiar um figurante de um filme que ele não viu, ou ele conseguir fazer uma piada sobre o sobrenome trocado da filha dele ser ridículo e engraçado, que acaba sendo cômico pela maneira que o Eddie Murphy vai interpretando, quebrando até a própria atriz que estava contracenando com ele (aquela risada foi muito genuína).

Em questão da ação, não tem muito o que acrescentar, acaba que não é tão impressionante, apesar de um final bem mais violento do que o esperado. Tem boas setpieces, eu gostei bastante da fuga no limpa-neve no início, já para começar com o Foley destruindo a cidade inteira, como de praxe; a cena do helicóptero, essa é maravilhosa, justamente por aquilo que falei no parágrafo anterior, que o ator principal consegue estender suas piadas sem deixá-las irritantes ou chatas, e aqui ele acaba combinando o seu tom humorístico com a situação absurda que eles estão passando ali, que é uma das melhores cenas do longa. E a batalha final, que é uma grande sequência, na verdade, não só o conflito em si, mas a construção que vai levando e concluindo alguns conflitos e que acaba se definindo nesse final (apesar de uma questão importante ser deixada de lado sem necessidade). O que não curti mesmo foi o vilão, que é interpretado pelo Kevin Bacon, um policial corrupto que está na elite da cidade, e ele é bem qualquer coisa, o plano dele é bem merreco, a atuação dele é bastante automática, e ele serve as vezes para exposição desnecessária em diálogos, onde soa que ele está quase quebrando a quarta parede de tanta obviedade no que ele fala.

Mas o que carrega, o que vale 100% a pena e o que me fez dar um leve aumento na nota é ele, é o Eddie Murphy, é ver o Axel Foley de volta. Ver ele na pele de um dos seus personagens mais icônicos, com a mesma jaqueta, a mesma trilha sonora chiclete e repetitiva, cria um sentimento tão bom, tão feliz, nostálgico. É uma franquia estruturada para ele brilhar, como disse anteriormente, as tramas que existem são apenas desculpas para ele brilhar em sequências de comédia e de ação, sendo que na parte cômica existe tanta naturalidade, talento, muita piada longa, alguns improvisos, mas o principal é: ele quer estar ali, ele adora estar ali, e adora estar fazendo isso, que é justamente o sentimento necessário que qualquer um precisa ter e ver em uma sequência legado. Ele consegue tirar piadas do nada, tendo tiradas (com o perdão do trocadilho) com tudo e qualquer coisa a frente, sendo zombando sobre um nome, seja falando sobre um filme, fingindo ser outra pessoa como de praxe, as mesmas manias e loucuras. Outro fator é contagiar seus colegas de elenco com essa sua alegria, visivelmente ele deixa todo mundo confortável em cena e está todo mundo feliz de estar ali com ele. Seu sucesso não é à toa, não surpreende vários pais terem colocado o nome dos filhos de Eddie Murphy (esse comercial é genial).

Na parte dos coadjuvantes, temos vários personagens antigos que retornam, como eu já citei tem o Serge, que aparece só em uma cena, mas também é muito engraçado, o Bronson Pinchot tem um excelente timing cômico dentro do personagem. Tem também o Jeffrey, o amigo do Foley que bate a Ferrari dele, que está nos dois primeiros filmes, e é interpretado pelo grande Paul Reiser, que tornou-se o chefe da polícia de Detroit e tem uma participação curtinha no início do longa, mostrando que ele é o que consegue manter o Axel na DP por tanto tempo. Os dois parceiros do Foley em Beverly Hills também estão de volta, o Rosewood e o Taggart. O Rosewood é mais escanteado, ele aparece no início do filme, depois parte da jornada é para resgatá-lo, mas nesse tempo dá para ver que ele é realmente um amigão do protagonista, que é família para ele e sua filha. Junto com o Taggart, que agora está bem mais velho, quase nos oitenta anos, ainda casado e com seus problemas com a esposa, e que agora é delegado, e que é o rabugento, que pede distintivo, mas que na verdade é ele que gostaria de estar na ação. E a pouca interação que temos entre esses três dá uma nostalgia tão massa, só o fato deles aparecerem e gostarem de estar ali já dá um sentimento feliz que faz você lembrar o quão bom eram os antigos (os dois primeiros).

Dos novos personagens, os que acabam se destacando são a Taylour Paige, o Joseph Gordon-Levitt e o Kevin Bacon (que eu já falei anteriormente). A filha dele no início eu achei bem batido, bem paia, porque é aquela coisa toda de novo do protagonista ter sido um pai ruim, de ter pensado mais nele do que na sua cria, de ter forçado sonhos dele na criança e tudo mais. É claro que existe isso na vida real, é bem comum, mas a forma que é retratado no longa é aquela que já foi utilizada um milhão de vezes, da filha reprovar o pai e tal. Porém, à medida que isso vai passando, a interação vai compensando, e o drama na atuação cômica do Murphy acaba sendo o que salva essa personagem da Jane. A atriz manda bem, tem uma cara de pau igual o pai que é impressionante, ela sabe como manipular, mas ao mesmo tempo tem honestidade no que ela fala e faz. O Gordon-Levitt me surpreendeu, sinceramente, pois achei que seria só um personagem para contrapor o conservadorismo do protagonista com a modernidade, mas ele entrega um ótimo parceiro nessa interação buddy cop, sendo visivelmente mais medroso, ansioso, sério, centrado, que vai bem nesse contraponto com a excentricidade do Axel, já que ele é um jovem detetive, que busca espaço tentando resolver seus próprios casos, mas acaba que sua inexperiência e seu nervosismo o atrapalham. A cena do helicóptero é o que comprova isso, tanto sua mentalidade quanto a boa interação com o Eddie.

Podemos dizer que, apesar de alguns erros, temos um ótimo entretenimento em "Um Tira da Pesada 4: Axel Foley". Não é um filme que está interessado em nada além de divertir, trazer nostalgia e mostrar as loucuras do Eddie Murphy em seu modo mais clássico, sem aquelas bobagens dele se maquiando como vinte diferentes personagens, sem forçação e overacting desnecessário, temos o Eddie Murphy do antigo testamento de volta e isso cria um sentimento tão nostálgico que é impossível não ver ele em tela sem estampar um sorriso no rosto. Tem boas cenas de ação, tem bons momentos, a cena do limpa-neve no começo e a do helicóptero no meio são os principais exemplos, e que denotam uma modernidade na feitura das cenas. Uma comédia muito bem feita e coerente ao que havia sido apresentado anteriormente na franquia, principalmente pelos diálogos e maluquices do Eddie Murphy, que carrega totalmente aqui. É uma sequência legado que realmente honra o legado da franquia, e por mim, acho que mais um é bem-vindo.

Nota - 7,5/10

Postagens mais visitadas