Crítica - Um Maluco no Golfe 2 (Happy Gilmore 2, 2025)
O super-herói do golfe está de volta.
Fico muito feliz sempre que tenho a oportunidade de falar sobre duas figuras nessa página: Seth Rogen é nosso protagonista de hoje, o genial Adam Sandler. Sou um grande apreciador de Adam Sandler e seu Sandlerverso, onde ele Sandleriza o gênero da comédia e entrega obras incríveis, desde as mais clássicas e absurdas como "Afinado no Amor" (1998), "Como Se Fosse a Primeira Vez" (2004) e o próprio "Um Maluco no Golfe" (1996), até suas comédias familiares, onde em ambas ele vai para um local de férias e se relaciona com mulheres mil vezes mais atraentes que ele, como "Esposa de Mentirinha" (2011), "Gente Grande" (2010) e "Juntos e Misturados" (2014). Um de seus maiores clássicos é justamente "Um Maluco no Golfe", que é o ápice de sua carreira como comediante, já que vinha numa crescente muito grande e é um de seus poucos filmes que é um consenso, praticamente todo mundo gosta. Agora, com uma grana maior e o investimento da Netflix, decidiram fazer uma sequência depois de 29 anos, onde decidiram trazer de volta o icônico jogador de hockey que vai jogar golfe, agora em uma nova jornada, onde temos a mesma fórmula do anterior, mas naquela velha fórmula da sequência ao mesmo tempo.
Anos após seu sucesso como jogador de golfe e um hexacampeonato do PGA Tour, Happy Gilmore (Adam Sandler) perde tudo ao não saber fazer a contabilidade de suas finanças e agora é um pai solteiro com cinco filhos para criar. Numa vida mais pacata e simples, ao mesmo tempo que sofre com o alcoolismo, Gilmore decide voltar ao golfe quando sua filha, Vienna (Sunny Sandler), uma prodígio do balé, precisa de dinheiro para ingresssar numa escola de dança em Paris. Além disso, Gilmore tem de impedir uma revolução no esporte, quando o empresário megalomaníaco Frank Manatee (Benny Safdie) quer mudar o esporte, mudando as regras e o traduzindo para uma nova geração. Com isso, Happy precisará da ajuda de velhos e novos aliados, como seu antigo rival, Shooter McGavin (Christopher McDonald), que se une a Happy em prol do bem do golfe. Não é uma trama muito complexa, na realidade esse filme nem precisa de uma trama realmente boa ou bem elaborada, já que o primeiro funciona por ter uma base muito boa, onde só cria situações e as cenas vão acontecendo de maneira fluída, e aqui tenta repetir uma fórmula similar, onde a base é bem simplória e a loucura vai rolando através do Adam Sandler e das coisas bizarras que eles e seus amigos vão fazendo.
O primeiro filme é a base do que eu gosto de chamar de "Sandlerização", onde há o básico da carreira do Adam Sandler: grande elenco de coadjuvantes, muitas participações especiais, esposa do Adam Sandler com um grandioso gap de beleza para ele e muita, muita zoeira. E aqui eles usam disso com a evolução da Sandlerização que houve posteriormente com as dezenas de filmes que ele foi fazendo nas últimas quase três décadas, mesclando com a nostalgia do clássico, onde eles usam todas, mas literalmente todas as referências do original, é uma reverência usando todas as referências, vai desde retornos de personagens terciários como o cara da receita federal ou o loirinho carregador, e ao mesmo tempo traz tudo que o Adam Sandler se acostumou a fazer em sua carreira, trazendo diversas participações especiais e diversos amigos dele para participar, então tem o Nick Swardson, o Rob Schneider, o Steve Buscemi, retorna o Dennis Dugan do primeiro, o Ben Stiller retorna, o Christopher McDonald, a Julie Bowen, e os atores que já nos deixaram, como o Carl Weathers, o Richard Kiel, são referenciados tendo filhos interpretados pelos amigos do Adam Sandler. Então, é o básico de um filme do Adam Sandler, mas com a abertura para a loucura escrachada um pouco mais fantástica que existia no original dos anos 90.
Uma decisão que eu achei muito zoada logo de cara, foi matar a Virginia, o par romântico do Happy, nos primeiros minutos de filme, desperdiçando a Julie Bowen de uma forma meio bisonha. Mas, acho que o filme consegue justificar usando isso como uma motivação constante para o protagonista durante o longa todo, sendo o motivo tanto para ele se manter, quanto para ele sair da linha. Porém, é aquela velha utilização do conceito da mulher na geladeira também, onde a mulher só morre para motivar o protagonista e eu acho que foi uma decisão bem desnecessária como um todo, porque tudo que acontece quanto a isso dentro da trama poderia ser contornado tranquilamente com outras coisas que teriam os mesmos fins. Outra coisa que eu acho que o longa erra é em criar relação do Happy Gilmore com certos personagens, onde eles tentam apelar muito para nostalgia em trazer um filho do Chubbs, que tem a mesma piada da mão de madeira, e claramente o Chubbs não iria retornar nem se o Carl Weathers estivesse vivo, pois o próprio morre já no primeiro filme, no entanto, acaba sendo uma relação apressada que não tem nenhum desenvolvimento e, consequentemente, nenhum peso para que nos importemos. O mesmo pode se dizer da rivalidade dele por aqui, já que a rivalidade dele com o Shooter era uma das melhores coisas do clássico, e aqui ele tem como rival o moleque de "O Sexto Sentido", o Haley Joel Osment, que não tem uma dualidade muito bacana não, acaba que é só um bom jogador que está do outro lado da força.
Por outro lado, eu achei muito interessante o outro vilão interpretado pelo Benny Safdie. Não foge muito do engravatado do mal, naquela forma mais moderna de ser retratado, que é o jovem (não) engravatado que é um magnata da tecnologia, e eu acho a crítica através dele muito interessante, que é a da modernização desnecessária dos esportes, cujo estamos vendo acontecendo com frequência na vida real várias formas de trazer um esporte para uma nova geração, mas sendo patético como isso é realizado, como vemos o futebol tendo a Kings League e por aí vai. Essa visão de que as pessoas estão tentando acabar com a essência dos esportes como conhecemos para transformá-lo em uma coisa de uma nova geração impaciente e cronicamente online, que não consegue prestar atenção numa partida de nada sem mexer no celular (isso não é uma crítica, é uma observação). Gosto também de como o filme resolve coisas do anterior, trazendo de volta aquele personagem escroto do Ben Stiller, que é muito engraçado, e ele com aquele bigodão aparecendo de forma esporádica, mas sempre engraçada, é uma ótima gag recorrente do longa que funciona muito bem, o Ben Stiller interpretando maluco é genial, é uma das coisas mais engraçadas do longa. Outro personagem que agregou bem ao filme foi o Sebastian, interpretado pelo Bad Bunny, que é o carregador do Adam Sandler aqui, que tem um encaixe cômico muito bom, onde ele tem cenas bem engraçadas e ele tem uma interação funcional com o Sandler, acho que eu ri em todas as piadas que envolvem esse personagem de alguma forma, ficou muito bom.
Também achei legal como eles conseguiram encaixar várias referências ao original, mesmo que algumas claramente sejam adaptações meio desnecessárias para serem encaixadas, mas a grande maioria é funcional. Eu achei muito engraçado ver o Boban Marjanovic, aquele jogador de basquete de dois metros e meio que é magricelo, sendo o filho do maluco que tinha o prego na cabeça, essa aí me pegou legal nas duas vezes que aparece, porque encaixaram de uma forma que ficou engraçada. Outra coisa que eu curti foi como trouxeram de volta o Shooter, o vilão original, que é boa porque o filme original é uma paródia com filmes esportivos, isso inclui "Rocky" (não à toa, tem o literal Apollo Creed), e aqui eles usam dessa referência para trazer o Shooter se unindo ao Happy Gilmore assim como Apollo Creed se uniu ao Rocky em "Rocky III", e o Christopher McDonald tem um timing cômico muito bom, ele tem uma expressividade que é muito engraçada, e a interação dele com o Adam Sandler, trazendo as referências do anterior, os diálogos deles, o reencontro deles no cemitério é muito engraçado, eles tem uma interação que acaba por elevar ambos dentro da obra.
Curti o desenvolvimento do próprio Happy Gilmore, onde apesar daquilo que eu citei de usarem desnecessariamente o conceito da mulher na geladeira, acaba funcionando por outros diversos fatores. Mas, uma coisa que eu acho que poderia ter sido mantida é a autozoação que o Adam Sandler faz com si mesmo, pois apesar do Happy ser um herói, ele passa o filme todo se ferrando. Aqui, não é bem assim, ele acaba muitas vezes sendo um herói, fazendo muitas coisas que ele só faz por ser o protagonista, tipo, ele dá uma surra no vilão na mão. O longa até tenta, mostrando ele falido, sem dinheiro e tal, mas é uma autozoação mentirosa, pois a gente sabe que ele vai virar um herói de novo em pouco tempo. As melhores cenas são justamente dele se ferrando, como a briga dele no cemitério ou a cena dele retornando ao campo de golfe pela primeira vez em dez anos, são esses os momentos que causam a maior simpatia pelo personagem, porque essa vulnerabilidade que dão para ele que o deixa interessante de fato. Mas uma coisa muito bem feita foi ele como pai, a relação de família que constroem entre ele e seus filhos, a paternidade dele é muito bem mostrada, você compra ele como um bom pai que daria tudo pelos seus filhos e como eles puxaram ao pai (a piada recorrente da bingola eu achei muito engraçada).
Enfim, não sei nem porque eu fiz uma crítica sobre "Um Maluco no Golfe 2", já que não é lá algo que eu geralmente faria. Bom, é um filme do Adam Sandler, que entrega o que já se espera de um filme do Adam Sandler, o que eu devo falar mais sobre? Bem, esse aqui fica um pouco melhor por ter uma abordagem mais aberta ao ridículo, em ser uma zoação, em seguir um caminho similar do original, em ser uma paródia de filmes esportivos, mas que ainda tem mensagens que fazem valer a pena, como no original ele faz tudo o que faz pela avó e aqui ele faz tudo pelos filhos, que são bem feitas, que são genuínas no que tentam entregar. É divertido na medida certa, entrega o que se é esperado, mas que ainda comete erros que acabam deixando bem inferior ao original para mim, já que as vezes parece que está mais preocupado em entregar cameos e gente famosa brotando do nada, do que em fazer algo factualmente divertido. É legal, eu curti assistir, mas creio que é dispensável como continuação do primeiro como um todo.
Nota - 6,5/10