Crítica - Karatê Kid: Lendas (Karatê Kid: Legends, 2025)

Bota casaco, tira qualidade.

Se você me acompanha, sabe que sou um grande entusiasta da franquia "Karatê Kid", trouxe crítica sobre todos os filmes aqui e mais as seis temporadas de "Cobra Kai", e por consequência, estava animado para a nova entrada da franquia, apesar de ter noção que é um caça-níquel barato que vem para surfar no hype que a marca reconquistou com a série pelos últimos oito anos. Mas, ao invés de fazerem um filme continuando os eventos da série, decidiram meter um retcon desgraçado para situar que as histórias de Daniel San e Sr. Miyagi se passam no mesmo universo que a história de Xiao Dre e Sr. Han no adorado remake/reboot/soft reboot (pelo visto esse último agora) "Karatê Kid" (2010), que é sempre bom remarcar o fato de que se chama "Karatê Kid", mas eles lutam Kung Fu. Agora, em 2025, temos um filme que une essas duas vertentes da franquia e cria uma árvore de duas raízes fortes. No entanto, acho que ninguém se importou muito, não fez tanto barulho quanto o esperado e acho que ficou bem claro que era melhor ter encerrado junto com a series finale que "Cobra Kai" teve em fevereiro desse ano.

Li Fong (Ben Wang) é um prodígio do kung fu treinado pelo Sr. Han (Jackie Chan), que agora tem sua própria academia de artes marciais em Pequim. Fong viu seu irmão, um lutador tão talentoso quanto ele, ser morto após um torneio, com isso, sua mãe o obriga a se mudar com ela para Nova York e recomeçar sua vida após a tragédia, mas agora sem se envolver em lutas. No entanto, na cidade grande, Li Fong decide ajudar Victor (Joshua Jackson) e sua filha Mia (Sadie Stanley) a quitar as dívidas de sua pizzaria, que está prestes a fechar. Com isso, Li decide lutar no 5 Bairros, o torneio de artes marciais de Nova York, onde irá enfrentar o ex-namorado de Mia, Conor (Aramis Knight), o melhor lutador da cidade. Para esta missão, Li precisará da ajuda não só do Sr. Han, mas também de Daniel LaRusso (Ralph Macchio), que o ensinará os princípios do caratê Miyagi-Do para ajudá-lo a vencer o torneio. Mesma trama de sempre, basicamente: cidade nova, menina bonita, ex babaca que coincidentemente é um exímio lutador, treinamento, torneio. A única diferença desse para os demais Karatê Kids é que Li Fong já havia um background nas artes marciais, o que é um bom argumento para ser crível que ele não virou um monstro da luta em dois meses.

A questão é: para quem esse filme foi feito? Pois ao mesmo tempo que ele busca apelar para nostalgia em diversos pontos, ele quer buscar um público mais jovem, nisso, tem uma edição muito enfeitada e rápida que eu não duvido de ter sido feita através do CapCut, porque eu conseguiria tranquilo fazer o que foi feito ali pelo meu celular de graça. O grande problema é realmente este, o ritmo do filme, porque a história não é nada demais, a história de nenhum dos filmes é, mas esse aqui tinha linhas narrativas muito interessantes que se bem desenvolvidas, gerariam um baita filme. Agora, do jeito que foi trabalhado, fica muito aquém, deixando um clima terrível de que as coisas vão acontecendo, mas ao mesmo tempo não acontece nada, pois você não se importa com praticamente nenhuma das coisas que vão rolando em cena, a partir de um certo ponto parece que o filme já não sabe mais quais histórias e quais personagens quer desenvolver, criando uma suruba narrativa impressionante, onde tem tanta coisa, tanto personagem, tantos conflitos feitos pela metade, que chega a um certo ponto de sentir dor de cabeça com tanta coisa rolando em tão pouco tempo.

Li Fong é um bom personagem, o ator Ben Wang é realmente bem carismático e consegue entregar um moleque gente fina, que tem seus objetivos, que sabe muito bem o que quer e qual a sua vocação, e eu acho que ele é um grande acerto do filme, pois eu acabei gostando dele, ele é simpático, ele por si só me dá vontade de torcer por ele. Agora, todo o entorno me faz desistir dessa ideia, porque não passam de ideias mal desenvolvidas, que acabam criando um filme murcho. Acho que todo o desenvolvimento dele quanto ao trauma do irmão é bem interessante, e se tivessem focado mais nisso do que em apenas três cenas rápidas, trabalhar realmente isso através da relação dele com a mãe e com o Sr. Han, acho que seria muito melhor, pois era um pontapé dramático que tinha potencial, mas fica nessa de vai e não vai, e acaba de fato não indo. A relação dele com a mãe é outra coisa que poderia ser melhor explorada, já que ela age daquela forma mais ríspida de "você não vai lutar", ela é um empecilho no caminho do que ele quer, mas isso num ponto é totalmente esquecido e ela tem uma virada sem qualquer trabalho prévio, onde do nada ela está apoiando o filho dela a lutar sem motivo algum. Eu acredito que existia material disso, que poderia deixar o longa bem mais coeso, mas devem ter achado que eram diálogos demais para os jovens.

O arco do Li Fong com o pizzaiolo é outra coisa que poderia ter sido muito melhor explorada, já que eu acho que ali tinha uma bela relação que poderia elevá-lo como personagem, e isso até acontece, mas de uma forma muito brusca e quebrada. Tem algo interessante ali, onde um é um lutador em ascensão com as mãos atadas, enquanto o outro já foi uma lenda da luta, mas está fora do jogo há muito tempo, e o treinamento deles dois é realmente legal de se acompanhar, como eles vão se entendendo e criando essa relação, até mesmo acho muito bacana a inserção de uma nova arte marcial na franquia, de trazer esse lado do boxe, é algo diferenciado e que dá um ar de novidade. Mas no fim, acaba que essa trama vai lentamente sendo esquecida pela própria obra. Ainda tem o desenvolvimento romântico do Li com a Mia, que olha, essa menina é lindíssima, os dois tem uma interação bacana, mas todo o conflito é enfiado no meio, de forma jogada e até meio idiota, onde as resoluções conseguem ser ainda mais jogadas e idiotas. Não chega a ser ruim como o casal principal do filme, eles dois até tem alguma química juntos, mas como tentam construir drama em cima disso, mais de uma vez, é muito mal colocada, chega a ser meio ridícula.

Agora, se for para elencar alguma coisa como o top 1 pior coisa desse filme, com certeza são os vilões, porque, meu mano, que coisa ridícula. Primeiro que é de novo a mesma historinha do ex que manja da luta e que fica esquentadinho de ver a ex-namorada com o novato, e esse mesmo babaca é manipulado por um professor ainda mais babaca que na realidade é quase um criminoso. Mesma coisa das outras duas versões, isso era esperado. Agora, aqui é muito mal feito, já que toda a ameaça desse moleque está na relação dele com a menina, ele não tem necessidade de provação, ele não tem necessidade de nada, ele é quase um NPC que luta bem e quer receber um chá de vez em quando. Eles ensaiam muito isso do mestre dele ser uma pessoa ruim, mas fica só no ensaio, porque se esse professor dele tiver mais que três falas no filme eu me surpreendo, já que toda cena dele se resume a ficar encarando o aluno com cara de mau. E esse vilão também é muito bucha, a ameaça dele é muito pouca, você vê ele lutando e sabe que o protagonista sola a cara dele quando quiser, a questão é que ele não consegue porque o filme precisa que ele não consiga para ter história. Você sabe que vai chegar na luta final e esse moleque, que parece uma versão de baixo orçamento do Tommy dos Power Rangers, vai ser humilhado pelo chinês, não tem emoção alguma. E o torneio final também é uma porcaria, já que é tratado com tanta rapidez e de uma forma tão acelerada, que perde-se a emoção das fases e dá a sensação de que foi fácil chegar na final, deixando um clima tão esquisito e incomodativo que não deveria existir.

O que se salva, além do bom Li Fong, é justamente o Sr. Han do Jackie Chan e o Daniel LaRusso do Ralph Macchio, mas especificamente os dois juntos. Eu achei a interação deles dois o ponto forte do filme de muito longe, já que é muito divertido ver os dois em ação como professores, cada um dentro de seu método, mas em prol do mesmo resultado, e é legal porque finalmente temos, ao menos, uma noção de como seria o Daniel treinando alguém junto do Sr. Miyagi, por mais que o Sr. Han seja (e não seja) a versão rebootada do Miyagi. Eu ficava vendo as cenas deles treinando o Li Fong e imaginando quão legal seria em Cobra Kai com o Miyagi vivo, os dois treinando o Robby, a Samantha e até mesmo o Johnny no fatídico episódio da troca de estilos. Acho que ainda sim falta coisa nisso tudo, já que eles funcionam na parte da ação e especialmente da comédia, mas faltam coisas para compor ambos dentro dessa nova narrativa. Como o Sr. Han abriu sua escola? O que houve com o Dre? O que aconteceu entre Dre e Sr. Han? Como o Sr. Han superou a morte de um aluno? O mesmo vale para o Daniel. O que houve com ele e sua família? Como estão as coisas no dojo? Como está a relação entre ele e o Johnny? O que houve com seus velhos alunos? O filme cria todas essas perguntas, mas não responde nada, acaba apenas deixando elas flutuando no ar como balões e fica nessa de focar em um bando de coisa que ninguém se importa.

A forma ideal de continuar Karatê Kid agora é esperar um pouco e em 2028/29 lançar nos cinemas um filme dando sequência a "Cobra Kai", onde surgiria um novo torneio muito brabo que fariam os adolescentes, agora mais velhos, irem todos disputar. Nessa brincadeira dá para incluir todo mundo: o Johnny liderando o Cobra Kai com Miguel, Tory, Falcão; o Daniel com o Miyagi-Do com a Samantha e com o Robby; Sr. Han e seus alunos chineses, o Li Fong, até mesmo o Xiao Dre e quem sabe o Cheng; dá para trazer a Hilary Swank e colocar ela como sensei; dá para trazer de volta o Lewis Tan com os Iron Dragons; o Chozen com o Miyagi-Do do Japão; a Sensei Kim com o Cobra Kai da Coreia; dá até para meter os Guerreiros Wasabi ali no meio. Esse é o filme que os fãs querem ver e ainda não sabem. Não deem sequência a esses personagens rasos que ninguém liga, façam acontecer o torneio final, o Mortal Kombat do Karatê Kid, pode usufruir da ideia, Sony, tem a minha permissão.

No fim, termina que "Karatê Kid: Lendas" não sabe o que quer, se quer apresentar a franquia para uma nova geração, ou causar nostalgia nos velhos que adoram a franquia. Nesse lenga a lenga todo, acaba que não faz nenhuma das duas coisas e acaba ficando naquele espaço de sequência caça-níquel que já era esperado, mas mesmo assim eles poderiam ter buscado fazer algo melhor, já que a base do roteiro é interessante e cria conflitos que poderiam ter sido bons, mas que são mal trabalhados e resolvidos em conclusões simplistas e sem graça, a qual temos um filme cheio de personagens sem graça, com a mesma emoção de encarar uma parede, onde a única coisa que funciona é o personagem principal e os dois personagens antigos que retornam, pois são as únicas coisas que há algo a mais do que apenas o raso da tentativa. Tem momentos engraçados, mas tem mais momentos que me fizeram questionar: "por que eu estou vendo isso?", e pior ainda, momentos onde eu me questionava: "por que esse filme existe?".

Nota - 4,5/10

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