Crítica - Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011)

Um filme de herói interessante, porém falta algo.

Outro dos filmes da Marvel que eu vi poucas vezes, também faz muitos anos que eu não o via e foi bem interessante revê-lo, ele tem algumas coisas verdadeiramente boas, porém o problema é que falta impacto, falta alma, é um filme que em certos momentos parece vazio. Capitão América foi criado nos anos 40 quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, a capa da primeira HQ do herói já era ele socando a cara do Hitler para se ter uma noção. Ele era utilizado como símbolo de patriotismo e motivação para jovens que se alistaram a defender o seu país (isso é referenciado nesse filme aqui). Depois que a guerra acabou, o Capitão foi engavetado e só voltou nos anos 60 sendo achado pelos Vingadores congelado no fundo do oceano. Já tentaram adaptar o Capitão de todas as formas no audiovisual mas nenhuma deu certo ou teve alguma continuidade até a versão de Chris Evans chegar justamente aqui.

A direção fica a cargo de Joe Johnston, um diretor não muito famoso, não tem um nome forte na indústria ou para os consumidores de cinema, porém ele dirigiu vários filmes infantis famosos dos anos 80 e 90, como "Querida, Encolhi As Crianças", "Jumanji" e "O Céu de Outubro" e por consequência, mesmo por serem obras infantis, são os filmes mais adorados dele e por isso eu achei que não combinou com esse aqui em questão, que na minha visão precisava ter uma visão um pouco mais séria. Ele se sai bem ao desenvolver o protagonista, mas a execução da história é muito bagunçada, tem muita coisa que é jogada, tem cenas muito aleatórias (como uma mulher do nada dando em cima do Steve, só para insinuar que ele perdeu a virgindade), sinceramente eu descartaria muita coisa, pois se alonga muito, tem pouco ritmo, é tão lento que dá para tirar uns bocejos de vez em quando, tem cenas que eu já tinha perdido total a atenção, é uma condução que falha em prender a atenção do espectador e criar uma experiência imersiva.

Porém, para mim as piores coisas são justamente as cenas de ação, onde especialmente o diretor não poderia vacilar, porque ao mesmo tempo que é um filme de herói, também é um filme de guerra, ter cenas de ação ruins em um filme de guerra é quase heresia. As cenas de ação parecem mais um compilado que colocam no SuperBowl, é muita linguagem de videoclipe, muito corte e muita câmera lenta durante explosões (ou seja, muito Michael Bay), é algo de fácil estranhamento para o alto padrão hollywoodiano. Além da falta de carga dramática, é aquilo que eu falei, o cara dirigia obras infantis de comédia e o mais dramático que ele fez é o "O Lobisomem" (2010), que é péssimo - e nem é um drama em si, é um filme de terror, então ele toma várias decisões erradas aqui, como começar já mostrando o descobrimento do Capitão no presente, aí acaba com muito do peso da história, termina com o drama do sacrifício dele no final e a promessa à Peggy Carter (Hayley Atwell) que ele não irá cumprir, porque você já sabe que ele não morreu, o verdadeiro impacto disso só veio a acontecer na sequência. Também não tem sentimento algum na cena que o Bucky Barnes (Sebastian Stan) "morre", tudo bem que eu já sabia que ele ia retornar, mas vendo eu me esqueci disso e quando ele cai do trem eu só fiquei com a sensação de "que bosta" e deveria ser uma cena bem dramática, o Steve acabou de perder o melhor amigo e você não sente impacto nenhum naquilo. Tinha muito potencial para ser um dos melhores filmes de heróis mas o diretor não ajuda, se fosse outro diretor, os próprios Irmãos Russo mesmo, acho que seria bem melhor, mas é aquela coisa, se estamos falando "e se?", é porque não existe e nunca existirá.

Acho que tem algumas coisas no filme que são muitíssimo bem trabalhadas e que salvam o filme para mim e dão valor de entretenimento a ele. A primeira é o vilão do filme, os vilões, na verdade, a H.Y.D.R.A, na realidade, o próprio Caveira Vermelha (Hugo Weaving) é um ótimo vilão também, ele é um cara maluco e funciona muito vendo por esse lado, o cara é tão louco que até os nazistas consideravam ele maluco (para chegar nesse ponto tem que ser um muito perturbado, mais do que um shitposter). A motivação dele é aquela estereotipada de vilão risadinha que quer destruir tudo, mas desde a criação dele nas HQs ele é assim, é uma adaptação bem fiel, ele apresenta sua imponência, bota medo quando necessário e quando aparece você sente que ele é uma ameaça, a maquiagem feita no ator é muito boa, creio eu que seja prótese e é bem crível e ela também ajuda muito em crer que aquele maluco ali é perigoso. A atuação do Hugo Weaving mesmo é muito boa, ele como eu disse acima, ele é imponente e consegue transpassar a loucura, eu não lembrava que era um vilão tão bom assim e tão fiel ao original. Além de que também a H.Y.D.R.A é muito bem apresentada e vai ser bem mais desenvolvida no segundo filme, mas a estrada criada para isso lá é feita muito bem aqui.

O próprio desenvolvimento do Capitão é excelente, ele começa magrelo, frágil e fracassado, mas ambicioso (inclusive são efeitos de "deepfake" muito bem feitos que envelheceram incrivelmente bem, me surpreendi), ele é um líder nato, é corajoso, tem garra e ele é um dos maiores heróis da Marvel na minha opinião, porque ele não pode ser o mais poderoso, nem o mais rápido e nem o mais inteligente, mas é um personagem com mentalidade forte, com liderança, um símbolo de esperança (em termos futebolísticos, ele seria basicamente o Puyol) e é legal como ao longo dos filmes dele e dos Vingadores ele vai se desiludindo com o governo e vai perdendo a esperança no país (tanto que ele deixa o manto), é uma ótima apresentação de personagem - que justamente apresenta essa inocência com o governo para depois ela ser destroçada aos poucos. Também adoro como ele sai de apenas uma figura de propaganda e vira um símbolo de luta, de esperança e de liberdade, uma figura importante para a população estadunidense, sempre surge uma figura assim em tempos difíceis para os EUA.

No geral, "Capitão América: O Primeiro Vingador" tem muitas coisas ruins, mas também tem muitas coisas boas, é a apresentação no cinema de um dos maiores heróis da história das HQs e como apresentação do Steve Rogers e do Capitão, funciona bem, mas não funciona bem como um filme. Entretém, tem um bom desenvolvimento de personagem, mas falta alma, coragem, falta apego emocional com os personagens, precisava de um diretor melhor, pois esse aqui é fraquíssimo e acabou gerando um filme mais mediano do que tudo. É sem graça mas não é ofensivo, não chega a ser ruim, mas também não chega a ser bom.

Nota - 6,0/10

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