Crítica - O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent, 2022)
Ame alguém igual ao Nicolas Cage se ama.
Há 14 anos atrás, Jean-Claude Van Damme estrelava o filme "JCVD" (2008), onde ele interpretava ele mesmo em uma versão dele falida e com problemas familiares. Aqui, temos basicamente isso, só que com o Nicolas Cage em um filme que é uma homenagem ao Nicolas Cage e ao cinema em si. Esse filme é incrível, é sensacional, eu saí da sala de cinema sorrindo à toa, que filme maravilhoso, faziam anos que eu não ria tanto assim no cinema sem brincadeira. É um filme que funciona como comédia, funciona como filme de ação, funciona como filme de espionagem, como filme de crime e até como um filme sobre filmes.
Muita gente hoje em dia considera Nicolas Cage um ator ruim, essa opinião herege se dá ao fato de que Nicolas Cage faz muitos filmes que são verdadeiramente ruins onde ele faz overractings desastrosos em filmes que apenas os fãs mais hardcores assistem, mas Nicolas Cage teve um dos auges mais absurdos da história do cinema, lançando em sequência: "Despedida em Las Vegas" (1995), "A Rocha" (1996), "Con Air: Rota de Fuga" (1997), "A Outra Face" (1997), "Cidade dos Anjos" (1998), "Olhos de Serpente" (1998) de Brian De Palma, "8 Milímetros" (1999), "Vivendo no Limite" (1999) de Martin Scorsese, "60 Segundos" (2000) e encerrando-se com "Um Homem de Família" (2000) e Nicolas Cage anos depois começou a ter complicações financeiras e precisou aceitar esses filmes pequenos para pagar as dívidas. E em questão de personalidade, Nicolas Cage é doidão, ele mudou o nome dele por causa do Luke Cage da Marvel, colocou o nome do filho dele de Kal-El, perseguiu a Patricia Arquette por nove anos para casar com ele e quase fugiu no altar na hora de se casar, se casou com a filha do Elvis Presley só porque Elvis era o ídolo dele, tentou comprar uma cabeça de dinossauro e foi proibido pelo governo da Mongólia. Esse cara é incrível e se o filme retratasse 1% do que ele é, já seria sensacional.
E o filme retrata uns 98%, mostra o Nicolas Cage em busca de papéis, achando que qualquer papel seria o grande papel da sua carreira, mostra ele fazendo os overractings exagerados dele e também mostra o quanto ele é um cara narcisista que só pensa nele mesmo, mostra o quanto ele se ama e com isso trabalham o como esse egocentrismo faz com que todo mundo queira se afastar dele, eu gosto de como se estabelece esse drama do Nicolas Cage, totalmente ligado a família dele e como ele acaba se isolando por conta de seu ego, a resolução que vai se encontrando ao longo do filme me agradou muito, essa coisa sobre os pais quererem caracterizar os filhos como pequenas versões deles é algo muito verdadeiro e que eu achei bacana a retratação no filme. Também curto muito as cenas onde o Nicolas Cage conversa com ele mesmo, fazendo esse conflito geracional entre um Nicolas Cage dos anos 80 e o Nicolas Cage atual e essas cenas provam que ele se ama tanto que ele se beijaria se pudesse (sem spoilers).
Acho que o filme ele começa a ganhar mais quando o Nicolas Cage se encontra com o Javi (Pedro Pascal), essa é uma das melhores duplas que eu vi nos últimos anos no cinema, a interação entre eles é sensacional e a pira dos dois em construir um roteiro de filme é incrível e gera uma metalinguagem maravilhosa que vai crescendo ao longo do filme e ficando cada vez melhor, a aventura deles é muito legal de assistir e eles discutindo sobre filmes é espetacular. A jornada do filme é muito legal de acompanhar, porque se você conseguir ter uma experiência imersiva, você vai adorar como o filme vai virando um filme de espionagem aos poucos e é realmente bom, é brilhante e o filme vai ficando frenético, com cenas de ação que contém bastante adrenalina, que contém realmente ação, ainda mais misturado com humor e esse subgênero de ação+comédia sempre me agrada.
Esse filme mesmo fala muito sobre cinema, fala sobre o desdém que os jovens de hoje em dia tem com o cinema, porque nenhum adolescente (normal) gostaria de ver filmes europeus em preto e branco de 100 anos atrás e fala também sobre como cada vez mais o interesse por cinema vai morrendo e como as pessoas só ligam para filmes blockbusters como os filmes da Marvel e a forma como isso retarda as pessoas, vai se criar uma geração cujo não vai conseguir ver um filme sem que tenha um retardado que solta poderzinho, piadinha forçada e easter egg a cada três segundos, não que os filmes sejam ruins, mas isso está deixando as pessoas mal acostumadas e faz com que as pessoas nunca consigam apreciar um filme que se leva mais a sério, nunca consigam apreciar verdadeiramente um faroeste clássico, um drama ou um romance, por exemplo. Por mais que isso seja falado pouco no filme, gera um debate bastante interessante.
Queria destacar as atuações, começando com o próprio Nicolas Cage, que, sim, faz ele mesmo e você pensa: que dificuldade teria o Nicolas Cage para interpretar ele próprio? Bom, primeiro que para uma atuação ser boa, o papel não precisa ser difícil de atuar, segundo que mesmo sendo (teoricamente) simples atuar como a pessoa que o cara é diariamente, ainda é incrível como ele consegue criar esse complexidade do personagem, porque ao mesmo tempo que ele é aquele Nicolas Cage malucão e excêntrico, ele se sai bem no drama, se sai bem nas cenas de ação e o carisma dele é gigante, é impossível não gostar desse cara. O Pedro Pascal também é maravilhoso, virei fã dele por conta do papel dele, é muito carisma para uma pessoa só, é impressionante o quanto esse cara gostou do papel, gostou de viver o personagem, dá para sentir o prazer que o cara teve em gravar o filme, o personagem é legal, tem uma ótima motivação, uma bela lista de top 3 filmes de todos os tempos e um bigode estupendo.
Uma bela comédia de ação, "O Peso do Talento" é o cool movie de 2022, é um filme divertidão, engraçado, envolvente, que tem uma trama imersiva e que dará um tempo de qualidade para passar. Além de ter o Nicolas Cage em um papel espetacular sendo ele mesmo com todas as suas clássicas características, tem ainda um Pedro Pascal se divertido muito no seu papel e um timing cômico excelente. Apesar de ser comédia, o filme traz reflexões bastante interessantes sobre a forma qual o cinema é visto nos dias de hoje pelo público geral e gera ótimos debates. Adianto que não é um filme para todo mundo, é mais um filme para quem realmente gosta desse estilo de filme e do Nicolas Cage, então eu entendo quem não gostar, mas na minha opinião, esse filme é simplesmente genial!
Nota - 8,0/10