Crítica - Asteroid City (2023)
A filmografia de Wes Anderson já está tão saturada quanto a paleta de cores de seus filmes.
Wes Anderson é um dos diretores mais amados pela tal "cinefilia do Letterboxd", um termo que eu acabei de inventar para refletir essa galera que se apaixona por todo filme que de alguma forma foge do convencional, dando um amor exagerado para alguns longas que nem deveriam ter todo esse calor na repercussão, como o atual vencedor do Oscar "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" (2022), que eu gosto bastante, mas que, convenhamos, foi um surto coletivo aquela recepção. E essa linha se segue com outras obras e diretores que acabam gerando muitos fãs (o que é natural), porém muito hate justamente por essa emoção excessiva que faz com que o brilho da tal obra se esvaeça, sendo muitos exemplos que eu posso citar (e a maioria vindo do estúdio A24). No entanto, o que Anderson recebe é um dos amores mais exagerados que eu já vi, ele é bom diretor (na realidade, já foi), mas ontem eu vi um vídeo no reels do Instagram o colocando no mesmo patamar de Stanley Kubrick, Francis Ford Coppola e Steven Spielberg (!), o que me deu dor física só de olhar. Eu gosto de alguns longas do Wes, mas eu acho "A Crônica Francesa" (2021), seu último filme antes desse, um saco, horroroso, um porre de assistir, e o anterior, que é "Ilha dos Cachorros" (2018), é melhorzinho, mas ainda é chato, tudo porque essa galera que o venera fez com que ele se prendesse em uma bolha cujo ele praticamente vem contando as mesmas histórias com situações diferentes, perdendo o brilho que ele tinha.
Aqui, ele já começa inventando moda na sinopse, com o filme sendo uma apresentação de uma peça na televisão, só que começa a alternar entre esse teatro e os bastidores com o escritor que são intermediados pelo Bryan Cranston (e olha, a presença dele, que é basicamente dizer o que vemos na tela, é um dos pontos altos do filme só por ser ele ali, se fosse um ator menos capacitado seria horrível). E é essa a sinopse, é uma peça besta cujo a história por trás dela acaba sendo pior ainda. Sinceramente, estou criando uma má vontade com o Wes Anderson depois de tudo isso, ele aparenta ficar cada vez mais seguro dentro dessa bolha desses filmes que são tecnicamente perfeitos, polidos, cor pastel chamativa, planos simétricos e humor que tenta se pagar de espertinho, isso resumir quase todo filme dele denota já uma saturação maior do que a dos filtros que ele usa dentro de suas tramas, que basicamente estão se tornando a mesma coisa só que com outros personagens, pois sua originalidade já se foi há eras, com sua obra tornando-se redundante. Todo filme dele alguém morre ou some e o resto são os oitocentos personagens lidando com as consequências, é sempre isso, eu já não consigo mais suportar, sempre envolve óbito ou sumiço. Parece que ele criou uma seita, que não importa o quão repetitiva seja a estória que ele contará, ele vai ser elogiado por esse padrão que virou irritante, é tão insuportável que com quinze minutos eu já estava cansado.
Wes inegavelmente tem uma mão certeira, é um excelente diretor na parte técnica, especialmente o figurino, direção de arte, maquiagem e penteados, tanto que sempre mantém um padrão artístico invejável, uma padronização cujo se você ver uma cena isolada reconhecerá seu estilo, porém a técnica dele já está cansativa, pois você já sabe como funciona, porque é a mesma desde seu primeiro filme, o "Bottle Rocket" (1996). São os mesmos planos, os mesmos timings para cortes, as jogadas de câmera, a simetria, lógico, ele foi evoluindo com o tempo, mas agora é tão automático que vira sem graça, sem paixão, o diretor a esse ponto já tá igual uma inteligência artificial, parece pré-programado para fazer isso toda hora. A história mesmo, se você me perguntar, eu que acabei de ver, eu não saberei dizer o que que é além de uma comediazinha barata com cores saturadas. E agora ele começou com essa desgraça de mudar a paleta de cores, das cores pastel para o preto e branco, e ele trata como se fosse a coisa mais original do mundo, como se ele estivesse revolucionando o storytelling, porque ninguém nunca abordou outra história em um longa mudando o filtro, parabéns pela originalidade!!! Acho que a única coisa original de verdade é o beijo gay entre o Jason Schwartzman e o Edward Norton (que inclusive não tem nenhuma função na trama).
O cara já não inova mais nem no elenco, as únicas adições inéditas são a Scarlett Johansson e o Tom Hanks, mas tem o Jason Schwartzman como sempre, tem o Edward Norton, a Tilda Swinton, Adrien Brody, Jeffrey Wright, Liev Schreiber, Tony Revolori, Seu Jorge, Willem Dafoe, e até o Bill Murray, uns com mais destaques que os outros, mas no fim é essa mesma patotinha, o que não tem problema nenhum, são excelentes atores e reclamar disso seria um atestado de chatice inacreditável, o real bicho de sete cabeças é a forma como eles são utilizados. Schwartzman não passa de uma tentativa de Sheldon Cooper que exagera em monólogos cujo ele não diz nada com nada (mas pelo menos o coitado finalmente conseguiu um papel principal, depois de anos na indústria chegou a vez dele), Norton e Brody são extremamente desperdiçados, sendo jogados nos piores momentos do longa, com papéis horríveis, a Tilda Swinton fazendo um arquétipo batido dela mesma que ela já fez várias vezes, é tudo igual com roupas diferentes no final. Acho que quem se salva é a Scarlett Johansson, que consegue entregar essa incerteza na personagem, as incógnitas que ela enfrenta em relação a sua função, a forma como ela se sente vista, ela tem uma atuação calma, com uma voz marcante. Ela é braba de verdade, o resto joga fora.
Acho que vou encerrar por aqui, não estou com tanta paciência para xingar o filme por não sei quantos parágrafos, pois uma hora eu me tornaria tão repetitivo quanto o Wes ao fazer a crítica de uma obra de uma hora e quarenta (as 1h40m mais longas de toda a minha vida). Mas "Asteroid City" é basicamente isso, é bonito visualmente, mantém um padrão do diretor, fotografia bonita, cenários bem feitos, mas a história é esquecível, as discussões que tentam construir são fracas e obsoletas, toda a direção é repetitiva, não tem novidades, é algo que Wes Anderson acaba se prendendo novamente nessa zona de conforto e a saturação já está maior que a das cores que o cara usa, é chato, é um porre, é insuportável, sem criatividade, as mesmas piadas sem graça que tentam se passar de espertinha, algumas tiradas são até doentias em um nível inimaginável. Eu particularmente já perdi a paciência com o Wesley, eu não suporto mais as cores pastel, as simetrias nos frames, esse mesmo elenco com os mesmos cabelos e bigodes estilizados, a mesma trilha sonora do Alexander Desplat que é enjoativa. Eu gostava do diretor, adoro "Moonrise Kingdom" (2012) e principalmente "Os Excêntricos Tenenbaums" (2001), mas agora ele virou um diretor ruim, sem originalidade alguma, parece um robô, é um estilo tão batido que no editor de fotos que eu uso para fazer os posts tem um filtro chamado Wes que remete aos filmes dele. Cara, para mim, já deu! Talvez nunca mais veja uma obra desse cara, porque eu não aguento mais!
Nota - 3,5/10