Crítica - Uma Batalha Após a Outra (One Battle After Another, 2025)
O melhor filme de Paul Thomas Anderson?
Depois de três anos, cá estamos de volta para falar sobre o novo filme de Paul Thomas Anderson, após o sensacional e belíssimo "Licorice Pizza" (2021), um dos meus filmes favoritos do ano em que lançou, e PTA traz agora algo diferente, um suspense épico de ação de quase três horas. Vocês sabem que eu não sou lá um grande fã do PTA como um todo, eu não gosto de "O Mestre" (2012), por exemplo, que é um filme aclamado dele, tem outros que eu não vejo tem muito tempo e acaba que não sobreviveram bem na minha memória, e podem me criticar, mas "Trama Fantasma" (2017) e "Sangue Negro" (2007) são dois que eu não curto muito e em breve talvez eu reveja para reavaliar as opiniões do jovem Legado. Mas, em compensação, eu gosto bastante de "Boogie Nights - Prazer Sem Limites" (1997), é muito engraçado, e um muito emocionante que é o "Magnólia" (1999), que esse aí é brincadeira, beira a obra-prima. Então, é um diretor que eu sou meio dividido quanto a ele, mas eu sou coração aberto com o que ele vier trazer a seguir, e o que ele trouxe na esteira do "Licorice Pizza", foi um longa diferente, mas tão bom quanto, no que eu acho que é tanto um dos melhores filmes desse belo ano para o cinema que vem sendo 2025, quanto um possível vencedor do Oscar de Melhor Filme, não só pela qualidade, mas por todo o contexto que o envolve.
Pat Calhoun (Leonardo DiCaprio), conhecido como "Ghetto", é um membro de um grupo revolucionário de extrema-esquerda chamado de French 75, onde lá conhece e se apaixona por Perfidia (Teyana Taylor), que é uma das líderes do bando, e eles juntos causam atentados, assaltos e libertações rebeldes em protesto ao governo norte-americano. No entanto, Perfidia também desperta a paixão de Steven J. Lockjaw (Sean Penn), um coronel do exército americano, que fica sexualmente obcecado por ela, o que gera um conflito maior que resulta no sumiço de Perfidia, e Pat tendo que fugir com a filha do casal com novas identidades. 16 anos depois, Pat, agora chamado de Bob Ferguson, precisa proteger a sua filha Willa (Chase Infiniti), com ajuda do que sobrou do French 75, pois Lockjaw está vindo atrás da garota para descobrir se ela é ou não a sua filha com Perfidia, e se for, ele busca eliminar a garota para manter a sua pureza branca para entrar para o grupo supremacista chamado de Aventureiros Natalinos. Primeiro de tudo, por que eu acho que esse já é o favorito ao Oscar de melhor filme? Primeiro por ser uma obra de um diretor aclamado que nunca venceu nenhuma estatueta, o que já é um fator importante, mas também pelo tema que o longa trata sobre conflitos políticos. Se você viu uma edição de algum jornal em 2025, sabe de toda a questão envolvendo imigrantes e a polarização política que vem acontecendo em grande escala nos Estados Unidos desde a segunda eleição do presidente Donald Trump, que começou seu mandato esse ano, diga-se de passagem, um que beira o autoritarismo, banindo programas de televisão porque criticaram ele, por exemplo, e tentando estornar os imigrantes, com o uso em massa da ICE para deportação. Nisso, o país lá está enfrentando um conflito ideológico bizarro, onde existem protestos e mais protestos sobre os direitos dos imigrantes e direitos humanos como um todo, o que é um dos temas principais do longa, que é esse conflito ideológico, que acaba conversando muito com a realidade atual que os EUA estão vivendo.
PTA traz esse tema à tona de forma muito inteligente, porque ele não fica jogando na sua cara o tema político o tempo todo, é um pano de fundo presente em todo o longa, mas não é nenhum discurso, palestrinha, nem nada, ele traz isso tudo com uma naturalidade que é admirável. Claro que tem uma visão política alinhada com o diretor muito clara, é só ver o que são os "mocinhos" da obra, mas isso também é crucial para uma mensagem forte sobre extremos, onde nem todo o extremo será, de fato, extremo, quebrando paradigmas e estereótipos em todos os personagens. Acho que esse é o primeiro filme contemporâneo que o Paul Thomas Anderson faz em muito tempo, ele tem toda uma estética clássica e tudo (falo mais disso mais para a frente), então os temas são muito atuais e tudo aqui é muito moderno, incluindo essa quebra de estereótipo do que é um direitista e do que é um esquerdista, já que isso mudou de 2009 (onde se passa o começo do longa) para cá. Tem o Bob, por exemplo, que é um esquerdista que não está ligado nas questões de identidade de gênero, de sexualidade e essas coisas, enquanto o Lockjaw, o vilão, que é um supremacista branco, é totalmente obcecado por mulheres negras no sentido sexual, e precisa esconder isso para não se sentir menos branco (o que é parte da trama principal do longa).
Toda essa questão é feita num excelente prólogo, de aproximadamente ali uns 35 minutos ou perto disso, e essa introdução toda é muito bem construída. Já de cara na primeira cena temos uma sequência espetacular, que já explica bem três personagens do longa. O Pat, ou melhor, Bob (que eu irei chamar de Bob ao longo do texto, já que é como ele é chamado na maior parte do filme), já em pouco tempo é introduzido como um cara crente em suas escolhas políticas, um pouco mais responsável, inteligente, ele que cria os explosivos do French 75, por exemplo. Enquanto o Lockjaw é apresentado como esse militar parrudo, mais sério, mas que desenvolve essa obsessão pela Perfidia e que fica maluco atrás dela, indo até observar ela de longe com um carro para se masturbar olhando para a bunda dela com um binóculos (eu estava me matando de rir nessa cena, ainda mais com a cara que ele faz quando ele descobre que ela tem namorado). E também apresenta e conta praticamente toda a história da Perfidia, já que ela é tratada com aquele ar de mulher forte, revolucionária, que faz com que os outros olhem para ela, que saibam que é ela, ela gosta de ser o centro das atenções. Esse prólogo todo consegue já estabelecer bem quais serão os conflitos da trama, o que o protagonista e o antagonista irão enfrentar pelo resto da exibição, e pavimentar o caminho para o que vier mais para a frente.
O resto do filme é uma loucura, já que é um thriller de ação muito bem construído pelo PTA. Ele estabelece diversos conceitos logo de cara para ir usando-os ao longo da narrativa de forma muito acertada, como o porquê da obsessão do Lockjaw por negras e posteriormente a obsessão dele por fingir que não, quanto a French 75, o que é essa organização e como os membros dela agem, os códigos, as senhas e tudo mais. Tem até uma sequência muito engraçada onde o Bob fica discutindo com um novato no telefone onde ele fica jurando que é um membro da organização e que esqueceu a senha e o cara fica ignorando ele. É muito mais suspense e ação, mas aqui tem um senso de humor excelente também, o PTA tem um timing cômico muito diferenciado, onde tem coisas que são engraçadas no meio de uma tensão absurda, que não altera em nada o clima da história, são momentos que são engraçados mesmo inseridos em uma situações tensas. A direção é absurda porque o filme te prende, você fica imerso naquela trama e mal pisca em alguns momentos, eu fiquei tão dentro daquela história que eu esquecia que era um filme determinada hora. Mas, também, se fosse para apontar um problema, é que eu acho que existe uma barriguinha determinada hora, tem momentos que você sente que existe coisa a mais do que deveria, e bem, tiveram dez minutos cortados, e acho que ficou excelente assim, pois acho que o tempo de exibição está no limite do que deveria, pois se tivesse um minuto a mais, talvez ficaria com a impressão de que ficou arrastado em um certo momento. Não chega a ficar totalmente, mas dá para notar umas quebras em algum momento.
Mas, o que me fez gostar mais ainda, foi que o longa não se é sobre uma mensagem política, ele pega e vai para uma mensagem mais pessoal sobre família. Existe uma sensibilidade muito grande na criação dessa relação de pai e filha entre o Bob e a Willa. Primeiro, é aquela coisa padrão da adolescente ser um pouco rebelde e ir contra algumas crenças do pai, mas nesse caso faz sentido, já que Bob ficou paranóico depois de tanto tempo nessa nova vida, obriga a garota a usar um rastreador e tudo mais, obrigou ela a aprender os códigos do French 75 no passado, ele é bem protetor e bem alucinado com tudo que os envolve, mas, ao longo da rodagem, vamos vendo o quanto disso foi feito pelo bem dela. Aqui, vou entrar em um ponto um pouco mais com spoilers, então se você não viu, pula logo direto para o próximo parágrafo. E o spoiler é o seguinte: existe esse mistério todo de quem é o pai biológico da Willa, se é o próprio Bob ou se é o Lockjaw, e acontece que chega uma hora que fazem o teste de DNA e dá positivo que ela é filha do personagem do Sean Penn. Porém, meu irmão, não é porque o cara foi o genitor dela que ele é o pai, já que o laço paterno do Bob para ela é tão forte que isso não abala a relação deles, ela sequer conta para ele que não é filha biológica dele, pois não importa, foi ele quem a cuidou a vida inteira, foi ele que lhe proveu a vida que ela tem, eles são pai e filha não importa o quê. O final é belíssimo, não só a conclusão final do terceiro ato, como o epílogo, especialmente na parte que envolve esses dois personagens, que, meu mano, tinha gente chorando no cinema. A última cena é tão linda, tão simbólica e passa um sentimento de renovação tão grande, que eu saí do cinema com um sorriso no rosto. Então, pode ser uma obra que pareça passar mensagens políticas e sociais, uma reflexão sobre a sociedade atual, mas, para mim, esse filme é sobre família.
Agora, voltando para a parte sem spoilers, vamos começar falando das atuações e dos personagens. Começando pelo nosso protagonista, o Bob, interpretado pelo Leonardo DiCaprio. É a primeira colaboração do Leo com o PTA, uma dupla que muitos gostariam de ver, finalmente se realizou e, bem, o DiCaprio, como de praxe, entrega uma das melhores atuações do ano. É mais um dos personagens malucos que ele interpreta, pois ele tem toda essa neurose dele, ele é bem paranóico por conta da maneira em que eles vivem, parece que a qualquer momento ele vai falar que os caras tão no teto, tão na maldade, querendo roubar a makita dele. Mas, brincadeiras à parte, é muito legal ver como o DiCaprio constrói esse personagem, como esse pai preocupado, que põe a segurança da filha acima de qualquer outra coisa, como um cara que parece estar na noia o tempo todo, um pouco ansioso e um pouco irritado, mas justamente essa noia, essa ansiedade e essa irritação que deixam o personagem bastante fácil de se identificar, porque é uma situação que, desde o começo, justifica totalmente ele ser assim. O jeito que ele demonstra isso é muito bom e até engraçado, a cena dele no telefone eu me matei de rir, porque ele tem um timing que não era nem para ser engraçado no grosso do texto, mas fica engraçado pela atuação dele e isso é proposital, conhecendo o PTA. Também gosto como ele demonstra o viés e as opiniões do personagem com uma sutileza, como numa cena que ele vai numa reunião na escola da filha e olha os ícones da história americana na parede, perguntando se eles também ensinam o lado podre que não querem que eles descubram sobre, como o Benjamin Franklin, por exemplo, que ele relembra que era dono de escravos. Ou, também, com ele vendo "A Batalha de Argel" (1966), um filme sobre revolução, na TV, em determinado ponto. Creio que nesses momentos o DiCaprio não estava atuando e por isso que funciona tão bem (é brincadeira, mas pode ser verdade também).
Enquanto o Lockjaw, cara, que vilão bom, tem tudo para se tornar icônico daqui para a frente, ele me passa uma vibe meio Anton Chigurh de "Onde os Fracos Não tem Vez" (2007) e um pouco de Hans Landa de "Bastardos Inglórios" (2009), o jeito dele me remeteu a esses dois por nenhum motivo específico, mas eu senti algo parecido vendo ele que eu senti vendo esses outros vilões pela primeira vez. Irmão, essa é a melhor atuação do Sean Penn desde o "Sobre Meninos e Lobos" (2003), ele consegue dar vida a um vilão extremamente arrombado, você sente ódio desse cara, você torce para ele perder. Contudo, você também ri muito com ele, já que ele também é muito engraçado aqui. Cara, essa obsessão dele pela Perfidia, por mais que doentia, gera cenas muito engraçadas, a primeira cena dele se rendendo de pau duro, eu estava me segurando para não rir, depois tem a cena dele no carro que eu já comentei, que essa aí é outra que é muito engraçada pela situação e pela forma que o ator se porta como o personagem dentro dela, a mudança de expressão facial dele nesse momento é ouro puro, sem contar a melhor frase da obra, que vem dele: "Você curte uma pretinha? Eu as amo", o tom dele nessa fala é comicamente genial. Ele tem diversas partes dessas mais engraçadas, mas ele também é um desgraçado quando necessário, você sente raiva dele. Primeiro, por ele querer ser um supremacista, ele nem é de fato, o cara é simplesmente viciado em mulheres negras, mas ele quer fazer parte daquele culto supremacista de qualquer forma, e ele vai fazer de tudo para isso, para ir nessa crença que ele não tem, mas que quer ter, pelo poder. Ele tem uma interação com o DiCaprio no longa, mas a forma que ele contracena com a Willa é funcional, pois faz com que você tenha a raiva necessária dele. Cara, esse vilão aqui, é um dos melhores do cinema em muito tempo, acho que desde o Thanos não tinha um vilão tão bom assim, porque ele entrega tudo que é necessário de um belo antagonista de um filme memorável e torcerei pelo Sean Penn no Oscar, porque é a melhor atuação que eu vi esse ano até agora.
Outra personagem com bastante destaque é a Willa, a filha do DiCaprio, interpretada pela Chase Infiniti. Ela tem bastante destaque em dois terços do longa, quase uma co-protagonista, já que a trama principal vai se enrolando encima da figura da personagem dela, ela é basicamente o macguffin dessa história, já que gira tudo no entorno dela. É uma personagem bem construída, no sentido de que ela é filha do Bob e tem que conviver com essas noias dele, ela não pode ter celular, tem que ter sempre um rastreador, e ela não entende muito o porquê, mas vai entendendo ao longo da narrativa. Eu gosto como ela é trabalhada um pouco diferente nesse arquétipo daquela adolescente que fala "ain, meu pai não me entende", quando na realidade é ela que não entende o pai dela, ela não tem muita noção do passado, ela só vai na onda das coisas que ela foi ensinada anteriormente pelo Bob e vive assim. Lentamente ela vai ganhando mais destaque e essa menina é muito boa atriz, a forma como a personagem dela vai entendendo as coisas, vai percebendo tudo o que ela viveu e não viveu para ser quem ela é hoje, as batalhas que seus pais enfrentaram para proteger ela, que ela vai entendendo aos poucos, até o epílogo eu acredito que ela não entenda muito bem, acho que após a carta fica um pouco mais claro, mas ela ainda está se descobrindo, ainda está perseguindo quem ela quer ser. O final dela é tão bonito, onde mostra ela seguindo os passos de quem cuidou dela a vida toda, seguindo os passos do pai, aquele que ela quer por perto e que quis ela por perto, e os da mãe, que ela não conheceu, que sabe que ela errou muito, mas vendo isso, decidiu olhar para a frente e decidir fazer melhor. Eu saí com um sorrisão do cinema depois dessa cena final, e um casal de idosos (idosos é um pouco forte, cinquentões) do meu lado estava chorando. O desenvolvimento dela no terceiro ato, o crescimento praticamente invisível que a leva até ali, ela vai sendo moldada aos poucos para ser parecida com a mãe, mas para ser melhor, e isso foi um acerto sensacional na minha visão.
Falei da filha, agora vou falar da mãe, interpretada pela Teyana Taylor, que é uma das personagens mais interessantes do filme. É impossível você gostar dessa personagem, ela tem até um tom descolado e tudo mais, mas pô, ela trai o Bob com um fascista, ela mata um inocente, causa todo um escândalo absurdo e acaba ferrando com a vida do marido, da filha e do amante pelos próximos dezesseis anos. Ela é narcisista, ela gosta de ser o centro das atenções, ela gosta que saibam que ela quem causa os atentados, que é ela quem liberta os imigrantes, ela literalmente pensa que é a protagonista. Tudo tem que girar na volta dela e ela fica chateada quando isso não acontece, tanto que depois é brilhante como o PTA faz a trama rodar em volta da filha dela, porque é justamente o que a Willa não quer que seja. O narcisismo e essa síndrome de protagonismo que ela tem é tão absurda, que leva a ela ter ciúme do marido dela cuidando da própria filha deles, é o que leva ela a querer se aparecer e nisso leva ela à proteção às testemunhas, que ela foge, justamente por não poder mais aparecer, por não poder estar no centro de nada. Como isso se correlaciona com a Willa, de que ela não quer ser o centro de nada, mas é o ponto central da história toda do longa, é muito bem pensado. Outro personagem que é muito massa é o Sensei, interpretado pelo Benicio Del Toro, que é um modelo de homem a ser seguido pela sociedade, o cara mais íntegro de toda a obra. Ele não tem muito uma função, a não ser ele ser um personagem que dá a sidequest e ajuda o protagonista a voltar para a questão principal através dela, mas os momentos dele são todos muito bons, a interação com o DiCaprio funciona perfeitamente, gostaria até que tivesse mais dele.
Até a questão técnica é toda muito boa, eu gosto de como o PTA usa ela para engrandecer a obra. Em especial, a cinematografia é absurda, é do Michael Bauman, que era do setor de iluminação e começou a trabalhar como cinegrafista com o PTA em "Licorice Pizza", e aqui é usada aquela tecnologia antiga do VistaVision, que foi todo um chamariz ano passado para o possante e suposto filme "O Brutalista", que esse aí é tão raso que o fato de usar VistaVision é o grande diferencial daquele filme, enquanto esse é só uma opção técnica para dar uma realçada melhor nos detalhes, criar uma profundidade maior e dar um sentimento mais clássico quanto a obra. O filme tem planos excelentes, alguns que dão quadros, ela é um pouco granulada, não chega a ser tão saturada, e isso cria aquele sentimento de que esse filme aqui é importante, de alguma forma, não que ele seja, mas causa essa impressão só pela escala que a fotografia dá. Ver no cinema é realmente impressionante, pois o nível de detalhe e como os cenários, especialmente os abertos, são gravados, é como se fosse um quadro sendo lentamente pintado.
Outra coisa que cria esse sentimento de ser um clássico é a montagem, que também é incrível, do Andy Jurgensen, que é um caso similar ao do diretor de fotografia, que começou a trabalhar com o PTA no último filme e foi mantido, e esse cara evoluiu muito do Licorice para este, onde aqui a montagem é tão coesa e bem encaixada, que te dá duas linhas narrativas diferentes, que você sabe que contam a mesma história, que uma hora vão se chocar, mas ainda sim te deixa ansioso para saber o que está acontecendo num canto ou outro. Creio que a divisão feita é bem construída e consegue quebrar um pouco da expectativa ao ficar se passando tempo demais em uma das linhas, justamente para aumentar a ansiedade do que está acontecendo na outra. A cena da estrada no final é o maior exemplo disso, pois as duas tramas estão no mesmo local, mas você fica ansioso para o choque delas do mesmo jeito. Agora, se esses dois últimos são colaboradores recentes do diretor, esse aqui é de longa data, o compositor Jonny Greenwood, famoso guitarrista do Radiohead, que a trilha dele, novamente, é abismal. A maneira como a trilha vai ajudando a engrandecer o longa é brincadeira, os temas são todos muito bem colocados e a escala dele é adequada ao parecer que tudo é mais grandioso, acredito que se não fosse a trilha, minha nota seria até um pouco menor, já que ela ajuda mesmo na construção narrativa e passa um sentimento épico. Rapidinho, só para finalizar esse parágrafo, o som desse filme é brincadeira também, ver no cinema talvez aumente essa impressão, mas o trabalho sonoro é sensacional, cada tiro é sentido como se fosse disparado ao seu lado, os carros parece que estão passando na sua frente, é quase sensorial.
Um dos melhores de 2025 até agora, "Uma Batalha Após a Outra" é uma verdadeira experiência, especialmente vendo nas telonas. Acho que ele tem sim uma comoção exagerada, não chega a ser a obra-prima que estão pintando porque ele tem um probleminha ali de ritmo e tem outro problema que é o vilão final meio aleatório e alheio ao resto da trama, que não faz diferença ele estar lá, mas eu dou uma relevada porque essa cena final é uma das melhores cenas do ano, então está perdoado. Porém, esse filme ainda é sensacional, porque ele subverte várias expectativas, ele pega uma trama supostamente sobre política e polarização, e dela faz uma transformação para virar uma história sobre família, sobre pai e filha, onde toda essa questão política é sim, importante, mas é só uma base para a verdadeira história, que fala sobre pessoas afetadas por suas escolhas políticas extremistas e que nisso a vida de todos foi para pior. Na real, se tiver alguma mensagem política aqui, é como essa polarização é mais prejudicial para quem a causa, do que para quem é afetado indiretamente, que é o caso do protagonista e do antagonista do longa. Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Chase Infiniti são absurdos como os personagens centrais dessa história, especialmente o Sean Penn, que entrega um dos melhores vilões do cinema em algum tempinho, e uma história que o PTA finge que vai ser mais sombria, mais crítica, mas chega ao final e eu terminei com o coração aquecido e sorrindo, porque subverte tanto, que termina sendo melhor do que eu achei que seria, realmente um filmaço!
Nota - 9,0/10