Crítica - Lilo & Stitch (2025)
Finalmente a Disney acertou em um live action?
Depois de muitos anos de live action da Disney nos cinemas, já estamos no décimo quinto ano, desde que "Alice no País das Maravilhas" (2010) até esse que é o último até então, e a Disney, sendo a mestre capitalista que é, conseguiu farmar grana com a grande maioria dos seus longas nessa linha, com diversos batendo a marca do bilhão, como "A Bela e a Fera" (2017), "Aladdin" (2019) e "O Rei Leão" (2019). Porém, se for levar por qualidade, dá para contar nos dedos quais desses realmente prestaram, os melhorzinhos foram "Mogli: O Menino Lobo" (2016) e o já citado "A Bela e a Fera", na minha opinião, que não são lá obras primas, mas cumprem bem o objetivo. Porém, depois do resultado pífio qualitativo de "O Rei Leão", eu simplesmente abri mão e criei minha própria regra de nunca mais ver nada dessa linha, pois ficou claro que a Disney buscava única e exclusivamente o lucro comercial utilizando de nostalgia barata e preguiçosa. Porém, decidi abrir uma exceção, e ir assistir "Lilo & Stitch", já que o original é um dos meus favoritos da Disney, e tem um dos melhores personagens de animação, que é o próprio Stitch. Este cujo nós vivemos em uma utopia capitalista à sua volta, onde todo produto comercializável que você possa imaginar, vai existir um do Stitch. No entanto, quando você junta o capitalismo 2 (Disney) com uma das maiores figuras possíveis de merchandising, não tinha muito para onde fugir e acaba caindo na mesma leva de superficialidade propagandista de todos os outros.
Na Federação Galáctica Interplanetária, no planeta Turo, o cientista Jumba (Zach Galifianakis) é condenado pela condução ilegal de experiências genéticas, gerando o ser mais perigoso já visto: o Experimento 626. Quando exilado, o Experimento pega uma nave (vermelha) e acaba caindo no planeta Terra, mais especificamente no Havaí, onde é encontrado por Lilo Pelekai (Maia Kealoha), que acaba o adotando pensando que é um cachorro e o batiza como Stitch. No entanto, enquanto precisa se passar como uma criatura terrestre para se camuflar no planeta, Stitch é perseguido pela Federação, pelo seu criador Jumba e pelo especialista terrestre Peakley (Billy Magnussen). Contudo, em seu período na Terra, Lilo e Stitch vão se aproximando e tornando-se Ohana (família, no idioma havaiano), enquanto precisam lidar com Nani (Sydney Elizebeth Agudong), a irmã mais velha e responsável legal de Lilo, que está prestes a perder a guarda de sua irmãzinha. É a mesma base da história do original, que eu revi este ano e continua espetacular. No entanto, o live action faz mudanças que não me agradaram, algumas até que me irritaram em um certo ponto, a única coisa que esse aqui acerta na realidade é o Stitch, de resto, eu acho que não tem nenhuma qualidade assim visível, acho que tem muitos erros, não é uma das piores coisas que eu já vi, mas tem muita porcaria nele.
Ao começar que eu reclamei que "Como Treinar o Seu Dragão" não mudava nada da animação para o live action, e lá eu acabei elogiando o filme como um todo, devido ao que existe ali, o contexto de ser o mesmo diretor contando a história de novo, existe uma paixão por lá na DreamWorks. Aqui, em Lilo & Stitch, muda muita coisa, é justamente o caminho contrário do Dragão, contudo, eles conseguiram piorar todas essas alterações, eles deixam isso aqui muito fechado numa história que não leva a lugar nenhum. Eles mudam muita coisa, muita mesmo, o que poderia ser um acerto e eles fazerem algo realmente diferente do clássico, mas acontece que, no fim, todas as mudanças foram para pior. Meu irmão, parece que os caras foram proibidos de acertar, todas as mudanças são pífias, tem algumas que são constrangedoras. Personagens importantes que são subjugados para papéis muito menores, enquanto existem outros originais que não agregam em nada, além da mudança de função de outros personagens, que acabam por serem mais argumentos a favor de que não devem mudar e apenas seguir o original. O que é triste, já que esse era meu medo quando eu falei lá de "Como Treinar o Seu Dragão" live action, onde a tendência após o sucesso de crítica e bilheteria daquele mostrava um caminho de remakes copia e cola, esse aqui dá motivos justamente para não mudar nada, já que todas as mudanças são, de fato, para pior, e é triste que teremos que passar por uma tonelada de ctrl+c/ctrl+v daqui para a frente. Pelo menos, é o dinheiro que vem desse tipo de filme que financiam os menores de bons diretores, então, vamos ser otimistas.
Fazendo essa comparação inevitável com "Como Treinar o Seu Dragão" mais uma vez (que além de serem dois live actions lançados no mesmo ano, ainda são dirigidos pelas mesmas pessoas em suas versões originais), o que diferencia lá, é que o pessoal envolvido com o filme original também está envolvido no remake, especialmente o Dean DeBlois, diretor e roteirista do original de 2010 (e de Lilo & Stitch original também, obviamente). Aqui, do original de 2002, o único retorno é do Chris Sanders e ele nem dirige e nem escreve, ele só reprisa seu papel de voz do Stitch, então quem faz aqui, não é uma galera tão conectada com o filme de 2002, e isso é notável, já que não existe nenhum pouco de sentimento quanto a história que eles contam. O diretor é até bom, o Dean Fleischer-Camp, que fez a belíssima animação "Marcel, a Concha de Sapatos" (2022), mas ele foi claramente limitado pelo estúdio, eu genuinamente não consigo ver nenhuma ideia dele aqui, nem em planos de direção, acontecimentos narrativos, nem nada. Parece que ele trabalhou no automático para receber uma graninha da Disney fazendo apenas o que eles querem e lucrou, acabou de ficar podre de rico. A obra aqui parece que foi toda pensada e arquitetada para obter o lucro, e ele veio, não só na bilheteria, onde, até o momento da escrita do texto, é o único filme ocidental a bater a marca bilhão nas bilheterias, mas também temos que levar em conta a utopia mercadológica do merchandising do Stitch, que é uma coisa bizarra, pois conseguiu fazer com que as crianças comprassem por achar fofo e os pais comprassem pela nostalgia. Esse aqui era tudo que a Disney sonhava, esse sucesso comercial que lucra em diversas divisões da indústria.
Até agora, chegamos ao quinto parágrafo e eu mal falei do filme em si, por quê? Porque ele é tão vazio que mal tem o que falar sobre ele. Ele literalmente pega tudo do original, mesma base, e faz tudo de forma pior, e depois que sai da base, põe mudanças, que também mudam para pior. Eu gostei que deles manterem a trilha sonora 99% de Elvis Presley, era meu medo que eles trocassem o Rei por algum artista mais contemporâneo do TikTok, mas felizmente não aconteceu (mas olha, do jeito que está, era capaz deles terem mudado isso e voltado atrás). E acho que essa foi uma das poucas coisas que eu gostei, já que a história principal em si perde toda a graça. Aqui eles dão o foco muito na Nani, ela é a protagonista do longa de certa forma, já que todo o arco narrativo leva para as decisões e desfechos dela, e essa decisão foi terrível. Olha, eu entendo o que eles queriam fazer, queriam dar um drama mais pé no chão para a personagem, a jornada de amadurecimento dela aprender a ser uma boa irmã e uma boa mãe para a Lilo, mas parece que os caras pegam e jogam tudo isso fora, toda essa jornada de aprendizado, e criam um final inicial me confuso e cheio de informações sobre o que realmente iria acontecer, e eles anulam toda a jornada que a Nani teve, vão contra o conceito de Ohana, e simplesmente mandam ela embora para a faculdade. Literalmente os caras fizeram um final que vai contra a própria mensagem do filme, tanto que depois eles tentam fazer uma cortina de fumaça com uma cena pós-créditos que, basicamente, diz: "não é bem assim, hein". Ah, cara, é ridículo. Sem contar que essa atriz da Nani está muito mal, não tem nenhum carisma, não tem nada ali que me faça gostar dela, essa menina é a Isabela Merced paraguaia, acharam uma mina parecida, bonitinha, mas não colou, ficou fraco.
A Lilo é meio escanteada, o que é uma pena, já que a Maia Kealoha funciona bem no papel, claro, é uma criança de cinco anos, não vai ser a melhor atriz do mundo, mas é eficiente dentro da narrativa apresentada. Ela é carismática e a relação dela com o Stitch é agradável, você compra a ligação entre eles muito fácil, já que a interação funciona bem, mas do nada começam a dar um foco na Nani e em outros personagens, que acaba por deixar essa parte de lado. O próprio Stitch é muito bom, eu gosto muito de como eles adaptaram para live action. Primeiro no design e no CGI, ainda bem que não inventaram o Stitch realista, fizeram meio na onda do "Pokémon: Detetive Pikachu" (2019), onde trouxeram o mesmo desenho e só adicionaram uma pelugem para ficar mais palpável. O Stitch fazendo as loucuras e traquinagens dele é engraçado, é divertido. Mas, convenhamos, era muito fácil acertar aqui, se errasse isso também, pelo amor de Deus. Porém, quando vai para o arco de amadurecimento do Stitch, é muito abrupto, você não compra a mudança dele aqui, é muito apressado e acaba soando incompleto, não existe o mesmo impacto, porque realmente não tem o mesmo impacto. Parece que pegam toda a emoção do clássico de 2002 e jogam fora, uma das partes mais importantes que fazem aquele longa ser marcante e confortável para muitas pessoas, aqui eles usam disso para o único e exclusivo propósito de vender produtos. Tem uma cena pós-créditos que eles querem passar emoção e tudo mais, mas é tão... vazio, é tão artificial, que não passa sensação nenhuma enquanto assiste.
Outros personagens do original são trazidos de volta, mas nenhum com o mesmo impacto. Até adicionam uma personagem nova, uma velha havaiana, interpretada pela Amy Hill, que não serve para nada além de ser um elemento complementar dessa mensagem final meio conturbada. Agora, qual o motivo do Cobra Bubbles estar nesse filme? Transformaram ele num pamonha que não faz nada, nem ser o assistente social ele é, e essa mudança não faz o mínimo sentido. Além de que tiram que ele tinha ligação com os extraterrestres e até removem ele dizendo que foi ele que ludibriou a Federação para pensar que o mosquito era uma criatura interplanetária em extinção, ele é só um careca de óculos escuros que usa uma arma. Outro pamonha é o David, esse aí dá para contar nos dedos as falas que ele tem, foi muito subaproveitado. Mas, nada se compara com o Jumba, porque eles removem o Capitão Gantu, o vilão do original, e transformam o Jumba, um dos personagens mais carismáticos e bacanas, no vilão daqui, e foi uma decisão terrível, porque literalmente só trocaram o Gantu por ele e acaba que são dois papéis contraditórios do mesmo personagem. E, irmão, o Zach Galifianakis parecia um ótimo casting, mas, meu irmão, ele e o Billy Magnussen como Peakley, os dois são constrangedores, tanto juntos quanto separados, todas as cenas desses dois me deram vergonha alheia, não tem a mínima graça, é torturante.
Sinceramente, para mim já deu. "Lilo & Stitch" live action é ruim, é constrangedor, a ponto da adaptação manchar um pouco do original. É um filme sobre muita coisa, mas que não passa nada, não tem emoção, não tem paixão, é tudo muito artificial para vender boneco e muito merchandising do Stitch. Arrisco a dizer que a campanha de marketing é muito melhor do que o filme em si, os pôsteres do Stitch invadindo os outros filmes da Disney, o vídeo dele do SuperBowl, isso é muito mais legal do que o filme em si. Um longa que vai contra a sua própria mensagem de Ohana, onde pelo visto Ohana em 2025 quer dizer "abandone a sua família", onde a faculdade é muito mais importante do que a sua irmã, que é uma propaganda estudantil para as pessoas irem estudar, trabalhar, e continuar a engrenagem da máquina capitalista do sistema em que vivemos (ok, nessa última parte eu falei de sacanagem, eu não acredito nisso... Não totalmente...). É legal ver o Stitch fazendo as bagunças dele, mas o resto não é nada legal, é constrangedor, é feio, é sem graça, sem vida.
Nota - 3,5/10