Crítica - Apresentando Os Ricardos (Being The Ricardos, 2021)
O Assassinato de Aaron Sorkin pelo Covarde Aaron Sorkin.
Quando você lia o nome Aaron Sorkin há alguns anos atrás, você pensava nele como o roteirista genial, o cara dos diálogos rápidos, o adaptador de livros ruins que deixava eles bons, o homem do tribunal, porém, tem algum tempo que Aaron Sorkin tomou a péssima decisão de virar diretor, no início parecia uma boa ideia, mas já estamos em seu terceiro (e pior) filme e é impressionante o quanto esse cara é um diretor ruim, ele continuou escrevendo bom diálogos, continuou tendo boas histórias, mas o problema é que ele não é diretor, ele não nasceu para isso e o próprio Sorkin admite que ele não é diretor, não é a vocação dele, ele tem vocação para criar histórias, não para contá-las, tanto que qualquer filme dele nas mãos de outro diretor teria virado um filme excelente, nas mãos dele são filmes medíocres e esquecíveis.
Na minha opinião, essa aqui é a pior coisa que o Aaron Sorkin fez na carreira dele, envolvendo toda e qualquer área que ele tenha trabalhado, é um filme que nem os diálogos são bons, é um filme que o que salva é o carisma dos atores que nem estão em bom dia, um filme que não prende, não instiga, é um filme que só enche linguiça, se estende demais desnecessariamente, tem debates sociopolíticos apresentados de forma rasa e também é um filme que só funciona de americano para americano, pois o filme fala sobre "I Love Lucy", que provavelmente deve ser a maior sitcom da televisão americana em toda a história, é um fenômeno estadunidense que as pessoas por lá assistem até hoje, é um filme bem Oscar bait, filme de americano para americano que fala sobre os bastidores de Hollywood, que tem a história da mulher tentando se superar e etc. Filme feito para conseguir reconhecimento em premiações exclusivamente, sem compromisso com arte ou entretenimento - apesar de tentar muito parecer os dois ao mesmo tempo.
Aaron Sorkin toma péssimas decisões criativas, primeiramente ele tenta pôr algo mais documental colocando documentações de pessoas que trabalharam com a verdadeira Lucille Ball (aqui interpretada por Nicole Kidman) e é muito zoado, porque do nada o filme tá rolando e aparece uns idosos sentados contando historinha, é um filme extremamente problemático em questão de edição, tem várias cenas com uma montagem bisonha que deixa o filme confuso não-propositalmente e as vezes tem chroma key claríssimo em cena a céu aberto, dá para enxergar as bordas nas cabeças dos atores e é incrivelmente ridículo, diria até que é um pouco falta de compromisso com a qualidade do filme, não é possível que todo mundo tenha aprovado aquilo ou que tenha passado batido, é nítido. O Sorkin também tenta propôr discussões sobre feminismo, sobre o papel das mulheres na sociedade dos anos 50 e também uma discussão sobre o comunismo, mas é muito raso, é tão raso que não dá para puxar uma discussão mínima encima do que é apresentado por aqui, essa discussão sobre feminismo só me fez pensar: "será que esse filme não seria melhor dirigido por uma mulher?" e com certeza ficaria, visto o que o Sorkin sabe sobre o assunto, parece que os diálogos foram escritos com base na Wikipédia. Resumindo, o filme é zoado em questão de direção, de storytelling, de diálogo, de montagem, de design de produção, de questões abordadas, é quase um daqueles filmes "tão ruim que acaba ficando bom", mas a questão é que ele é tão ruim que só acaba ficando ruim mesmo.
O que deixa o filme no mínimo assistível é o elenco, que está todo mundo bem, mas ninguém tá absurdo, não pelo menos para indicações ao Oscar. O Javier Bardem tem um carisma, um charme, ele faz bem esse papel de charlatão, do galã, do cafetão, ele convence muito nas partes onde ele precisa mais de leveza e nas partes mais dramáticas ele manda bem, dá para entender as convicções do personagem pelo comportamento dele, é uma boa atuação e acho que ele é a melhor coisa do filme, apesar de ter muito menos tempo de tela do que precisava, tem uma parte do filme que ele é totalmente apagado. A Nicole Kidman tá até bem, ela consegue ir bem transpassando os problemas da personagem, a certa soberba que ela tinha e o sofrimento dela, acho que ela convence muito bem que ela realmente tá apaixonada pelo Javier Bardem, dá para comprar essa química dos dois, o problema da atuação dela não é ela em si, é a maquiagem dela que atrapalha muito, parece que rebocaram a cara dela com cimento, isso deixa ela inexpressiva em várias cenas e dá para sentir o volume altíssimo da maquiagem no rosto dela, tem cena que é desproporcional. Achei o J.K. Simmons divertido, o personagem dele funciona bem como um alívio cômico, ele tem boas cenas e o personagem dele tem os melhores diálogos do filme, é uma atuação padrão de qualidade do J.K. Simmons, nada incrível mas que merece ser destacado.
"Apresentando Os Ricardos" é um filme ruim, é o pior filme da carreira do Aaron Sorkin seja como roteirista ou diretor. É um filme que nem o talento dele para escrever diálogos salva, é um filme ruim no jeito que ele conta a história, que ele desenvolve a história e os personagens, nas questões que tenham ser debatidas e até em questões técnicas como a montagem e o trabalho de maquiagem. ele é salvo porque Javier Bardem e Nicole Kidman são Javier Bardem e Nicole Kidman e esses dois deixam o filme minimamente divertido de assistir, mas na real, esse filme é um filme dane-se, não faz falta se você ver ou não.
Nota - 4,5/10