Crítica - Red - Crescer É Uma Fera (Turning Red, 2022)
É fofo, mas é decepcionante.
Sendo sincero como sempre, desde que a Pixar anunciou esse filme com a seguinte premissa: "uma garota adolescente que toda vez que fica ansiosa se transforma em um panda vermelho chinês" eu já pensei: "que m&rda a Pixar tá fazendo?", sinceramente achei a premissa do filme péssima, os trailers que vieram depois não me animaram nem um pouco também, mas ainda havia esperanças de gostar e, olha, não vou dizer que é ruim, não é, mas é muito abaixo do que a Pixar já fez, é decepcionante e é cansativo, não em questão de ritmo, mas em questão de trama e de storytelling.
A diretora do filme é Domee Shi, diretora estreante em longas, mas que dirigiu o divisivo curta "Bao", que venceu o Oscar em 2019 e esse curta pode até ser considerado uma espécie de "trailer" do que é esse filme, pois ambos falam sobre mães superprotetoras, o "Bao" em questão da mãe que é apegada e não quer deixar o filho crescer, enquanto esse filme fala sobre uma mãe conservadora, rígida, que exige a perfeição de seus filhos e sinceramente é uma mensagem válida porque ainda existe muitos pais assim que pegam pesado com seus filhos e a grande maioria das pessoas que vai ver esse filme são crianças e pré-adolescentes e com certeza vão ter várias que vivem situações parecidas e que talvez precisem ver que aquilo não é correto (não tô falando também que os pais não precisam pegar pesado com os filhos algumas vezes, porque em toda relação de pai e filho vai ter momentos onde o filho vai fazer coisa errada e tem que ter consequências, mas uma coisa é pôr limites, outra coisa é ser proibitivo, protetor e não deixar ser livre, assim é mais capaz os filhos serem rebeldes por se sentirem presos em uma ditadura imposta dentro da própria casa - só minha opinião).
Mas meu problema com essa mensagem do filme é que ela quer ser em forma metafórica, mas desde o início é muito na cara e isso acaba ficando ridículo, pois dá a impressão que essa metáfora/mensagem é forçada, parece que a Domee Shi tá jogando aquilo na sua cara o tempo inteiro e sinceramente aquilo me incomodou, porque uma metáfora funciona quando ela é implícita, quando você tem que forçar sua mente para notá-la, quando a metáfora tá na sua cara o filme inteiro é chato, simplesmente isso. Domee Shi também faz um filme extremamente emocionalmente manipulativo, as cenas que querem te fazer chorar são forçadas demais, eles acabam por forçar várias situações para tentar você chorar, mas as situações sempre se contradizem ao que ocorre na cena anterior e isso deixa o filme um pouco hipócrita.
Você já se perguntou por que os filmes da Pixar são tão aclamados? Porque a maioria deles são filmes sobre amizades improváveis, amizades entre um cowboy e um astronauta, entre um monstro e um bebê, um pai solteiro e uma esquizofrênica, um rato e um filho bastardo, um idoso e uma criança e por aí vai, e todos eles também sempre mostram visões por coisas que nunca imaginamos, como brinquedos, monstros, insetos, peixes, robôs e chegando até em almas e sentimentos, isso está enraizado na Pixar e sei que é bom tentar sair dessa zona de conforto, mas no caso dos últimos dois filmes, não funcionou, pelo menos não para mim, "Luca" eu achei fraco e esse aqui é até bem melhor que "Luca", mas é uma história que me afastou muito, os dois curiosamente são sobre pessoas que se transformam em animais e sinceramente aonde isso se encaixa na essência da Pixar? Nenhum dos dois são nem grandes aventuras como "Os Incríveis", por exemplo, são até filmes bem infantis que falam através de metáforas sobre assuntos mais pesados, como homossexualidade e agora sobre conservadorismo parental.
Uma coisa que com certeza me afastou muito filme foi o grupinho de amigas da protagonista, uma é uma típica adolescente média que mela calcinha por qualquer carinha minimamente bonito, outra é uma emo irritante que só de aparecer já me irritava e a outra é uma baixinha extremamente chata que toda vez que abria a boca eu pensava seriamente em sair do filme, até agora não entendi a necessidade dessas personagens além de serem adolescentes chatas que ajudam a protagonista a ferrar a reputação com a mãe dela. E também o grande ápice do filme ser um show de um One Direction da deep web é algo que eu fiquei "é sério isso, Pixar?". O filme nitidamente tem um público alvo definido, que são garotas adolescentes fãs de boy-bands que babam por 1% de beleza em qualquer cara minimamente famoso, público totalmente o contrário do que eu sou e acho que por isso o filme não colou para mim, isso faz do filme ser ruim? Não, é só algo feito para um público alvo cujo não sou eu, tal como "Crepúsculo" e qualquer filme romântico que o cara precisa morrer para fazer mulher emotiva chorar.
Tem coisas boas no filme, eu gosto muito do visual do filme, como Toronto é filmada e se torna quase uma personagem dentro do filme. Gosto de como a mitologia da família Lee é trabalhada, é bem interessante e até colabora para uma metáfora para puberdade feminina (por que você acha que o animal do filme é um panda vermelho?). E o filme é lindão visualmente, principalmente na questão da criação do panda vermelho, acho que o visual do panda vermelho é muito bom, é fofo, essa é a realidade, é impossível não querer uma pelúcia desse bicho. Mas a melhor coisa do filme é a parte musical, a OST é composta pelo Ludwig Göransson, um compositor que utiliza muito do eletrônico na concepção de suas trilhas e que é bom compondo trilhas para representar diferentes culturas (tanto que ele ganhou um Oscar por sua magnífica trilha sonora de "Pantera Negra") e aqui ele se sai bem criando um clima de equilíbrio entre a cultura canadense e a cultura chinesa em suas principais faixas, é realmente surpreendente o que ele faz. E tem a canção chiclete do Finneas O'Conneal que é "Nobody Like U" que parece que vai ficar para sempre na minha cabeça, porque gruda, é viciante, não sei, é uma boa música que faz até um certo sentido dentro da história do filme.
Acho que o principal ponto positivo do filme é a personagem principal, a Mei-Mei é uma boa personagem e acho que esse desenvolvimento dela é muito bom, acho que se parece muito com uma adolescente convencida de que "olha eu sou matura e livre" e que acaba tendo um monte de decisão bosta durante a trama (que acaba levando ao clímax do filme e fazendo todo mundo ao redor dela ficar contra ela em algum momento da história), acho também muito madura a forma que é trabalhada essa ansiedade e troca de humor da personagem e acho inteligente como isso se conecta com a metáfora de puberdade que eu citei vagamente no parágrafo anterior, os nervos à flor da pele, o medo da reprovação e da descoberta, isso foi um ótimo trabalho da diretora.
De novo, "Red - Crescer É Uma Fera" é ruim? Não, eu só não curti tanto porque não é feito para mim, é feito para um público alvo bem definido e claro que eu não me encaixo em nada. Tem coisas muito boas e tem coisas muito ruins, tem bom desenvolvimento de personagem, tem bom design, tem excelente trabalho musical, assim como tem um elenco de coadjuvantes ruins, como tem metáforas mal colocadas, como tem coisas adolescentes que me irritam profundamente. No mais, é impossível desgostar do panda.
Nota - 6,5/10