Crítica - No Ritmo do Coração (CODA, 2021)

Bonitinho, emocionante, porém é problemático.

Na primeira vez que eu vi esse filme eu estava doente, de passar mal e tomar remédio, tanto que acho que foi o único filme que vi em um período de alguns dias e achei o filme excelente, mas confesso que uma hora depois de o filme ter acabado, eu já havia o esquecido, isso foi lá em outubro. No início desse ano de 2022, o filme apareceu de novo por conta de indicações ao Globo de Ouro, Critics Choice Awards, SAG e posteriormente, indicações históricas ao Oscar e sinceramente, para mim, ser indicado já era a vitória do filme, mas a campanha foi enorme e conseguiram fazer o filme ganhar e decidi seguir minha tradição de rever os vencedores do Oscar de Melhor Filme na semana seguinte a da cerimônia. Bom, é uma vitória contestável, é um bom filme, mas olha o nível de outros filmes indicados como "Licorice Pizza", como "Amor, Sublime Amor" e "Ataque dos Cães", não merecia ganhar, mas a indicação foi ok.

Quando você um filme que você gosta pela primeira vez você está tão imerso dentro daquela história que não nota os erros e problemas dele, quando você vê novamente, você decide prestar mais atenção em outros detalhes porque você já sabe os ocorridos e as vezes isso é muito bom, vários filmes que eu gosto melhoraram bastante na minha segunda visita, como um dos meus filmes favoritos que é "Amor Sem Escalas" do Jason Reitman que eu amo de paixão, mas não tinha achado grandes coisas na primeira vez que vi. Mas existem casos que os erros do filme são bastante aparentes e aconteceu isso comigo agora na reassistida, acho que a primeira hora do filme é bem problemática porque tem erros narrativos que parecem estar sendo jogados na sua cara, tipo, tem erros mesmo, tem uma cena que o surdo escuta um cara do outro lado da baía e eu não consegui ignorar e outros problemas que falo mais tarde.

Começar com o que eu gosto do filme, eu gosto da subversão que a diretora Siân Heder faz ao aproximar a protagonista da família, porque sempre nesses filmes de adolescente vemos a protagonista sendo excluída (na verdade se excluindo) da família, aqui vemos a protagonista que tem uma relação próxima com todos os membros da família e é muito bom que isso agrega em um dilema pobre que é apresentado em uma parte do filme. Eu gosto principalmente da relação com os pais, com o pai é muita boa porque dá para ver que é um cara que quer o melhor para a filha e que vai apoiá-la mesmo não conseguindo entender o que ela canta e acho que esse arco do pai é o melhor do filme (tanto que o ator Troy Kotsur foi merecidamente reconhecido como Melhor Ator Coadjuvante no Oscar), o Troy Kotsur manda bem, é um ator maravilhoso e ele convence muito nas emoções do personagem com o rosto, dá para entender os sentimentos dele só olhando para cara dele, é um negócio de maluco. Eu gosto do arco da mãe também que a mãe tem medo de se afastar da família por ela ser ouvinte (justamente porque essa diferença afastou ela da própria mãe) e a Marlee Maitlin vai muito bem nesse papel da mãe protetora, ela deixa essa visão materna muito crível, eu facilmente consigo enxergar minha mãe na personagem dela, é um arquétipo meio genérico? É, mas é funcional no que o filme se propõe.

Eu gosto também do desenvolvimento do romance da protagonista, porque é aquela clássica coisa de filme que a menina é perdidamente apaixonada pelo menino de cabelo preto cujo o ator tem cara de ser ruim (o desse filme não é), mas essa paixonite contribui mais para o desenvolvimento da personagem dentro de seu drama pessoal, porque quando ela consegue ter uma amizade mínima com esse menino, ela perde as inseguranças dela e isso deixa a personagem mais livre e de uma maior identificação para os espectadores. Porém acho que o relacionamento poderia ter sido melhor explorado além de duas cenas, porque os atores tem química, a relação que eles desenvolvem é bonitinha, acho que merecia mais espaço que uma relação inútil do irmão da protagonista com a melhor amiga dela (casalzinho meia boca ein).

Acho que é um filme bastante emocionante, não considero ele emocionalmente manipulativo porque se você for analisar as situações, são realmente situações que são tristes, depressivas, imagina que triste você amar fazer algo, querer fazer aquilo pelo resto da vida, porém não pode compartilhar isso com as pessoas que mais ama? É difícil, eu acho. Tem uma cena que me quebrou que a que a Ruby (Emilia Jones) está com seu pai na picape e ele pede para ela cantar para ele tentar sentir como é a voz dela e nossa, aquilo me deixou mal porque me fez pensar sobre minha própria vida e como seria se eu quisesse fazer algo incrível na vida e meus pais não pudessem presenciar, é difícil mesmo.

Não gosto do filme se prender em clichês bobos durante a execução inteiro, porque eu não ligo para clichês, quem me conhece sabe que eu sou um grande apreciador de comédias românticas, porém aqui tem umas coisas que são realmente irritantes, coincidências narrativas que não dá para deixar de lado. O principal erro que eu percebi é que o dilema da personagem principal é pobre, acho que falta algo para agregar verdadeiramente, a relação com a família dá uma agregada, mas não tenha nada do lado da música que traga alguma coisa realmente especial a esse drama, inclusive as coincidências narrativas são muito colocadas de maneira irritante nesse arco, pois os diálogos ficam:
- "Ain eu tenho aula, não posso faltar porque se não eu perco o negócio lá";
- "Mas você precisa traduzir isso para gente, filha, é importante, família importa mais".
Tem alguns diálogos desse filme que eu seriamente creio que foram escritos pelo Toretto, porque acho todos esses diálogos de "família importa" uma coisa meio "Velozes e Furiosos", que é forçado e meio genérico.

É bom relembrar que esse filme é um remake americano de um filme francês (que é considerado medíocre), então imagina os franceses vendo os estadunidenses roubando o filme deles e ainda ganhando mais reconhecimento e ganhando o prêmio máximo do Oscar, achei meio engraçado isso. No geral, eu gosto de "No Ritmo do Coração", é um filme legal, gostosinho de assistir, é emocionante, engraçado, é divertidinho, mas nessa segunda visita ficou bem claro que ele é meio genérico e que tem vários problemas narrativos. Eu acho que o que se destaca verdadeiramente no filme são as performances de Emilia Jones e Troy Kotsur que elevam o nível do filme para uma outra prateleira porque são as melhores coisas do filme em disparada, mas é um filme bem esquecível, é o clássico filme da Sessão da Tarde onde você passa uma horinha vendo, ri, chora, se emociona, gosta do momento passado e dez minutos depois se esquece da existência do filme. É um filme que eu não consigo desgostar, mas também não consigo achar a melhor coisa do mundo.

Nota - 7,0/10

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