Crítica - O Projeto Adam (The Adam Project, 2022)

Problemático, porém carismático.

A Netflix nos últimos anos notoriamente vem investindo alto em suas produções, primeiramente com "Bright", filme de David Ayer com o Will Smith que foi um sucesso no fim de 2017, depois com o épico de máfia "O Irlandês" do lendário Martin Scorsese que cria e inaugura uma tecnologia de rejuvenescimento facial e corporal em seus atores (inclusive vou falar dessa tecnologia daqui a pouco), depois vem uma sequência de superproduções do streaming, como "Esquadrão 6", "Resgate", "The Old Guard", "Enola Holmes", "Alerta Vermelho", "Não Olhe Para Cima" e vários outros, todos esses filmes (com exceção de "O Irlandês", que é um filme de autor) geralmente tem meio que uma fórmula a ser seguida: história de bem contra o mal, atores muito famosos e caros, construções que precisam de alto orçamento e uma história que envolva mistério, sci-fi, ação, tiros ou destruição global, alguns são bons, não vou generalizar, mas o que temos de concordar é que não são filmes que tenham um valor artístico muito grande, mas que cumprem o que um público médio quer ver, o alvo da Netflix é o espectador médio cansado que vê filminho para relaxar, que não vê com um olhar mais crítico e atento a tudo, então eu acho errado vir aqui e simplesmente falar "ah, o filme é ruim porque tal coisa e blá blá blá, diálogos ruins e tal tal tal", porque artisticamente falando o filme é péssimo, é incoerente e é desnecessariamente autoexplicativo, mas na questão de ser um filme divertido, que entretém por duas horas e tem o que o público quer ver geralmente, ele funciona muito bem, mas não é por isso que eu vou passar pano para os problemas desse filme e acredite, tem muitos.

O filme é dirigido por Shawn Levy, eu já falei sobre o "Free Guy - Assumindo o Controle" que ele fez ano passado também com o Ryan Reynolds que eu gostei bastante, acho um filme muito divertido e que é facilmente reassistível porque a vibe e o clima dele é maravilhoso (inclusive eu até dei nota 9,0/10 quando vi, depois eu vi que era meio exagerado, mas continua um ótimo filme para mim - inclusive é só procurar um pouco por aqui que você acha meu texto sobre o filme) e aqui eu criei até uma pequena expectativa porque é a dupla de repetindo, mas eu confesso que esse filme aqui me deu uma vibe diferente do "Free Guy - Assumindo o Controle", esse filme aqui ele tenta ser tenso e melancólico, não é igual ao outro que eu fiquei o filme todo com o sorriso no rosto, nesse aqui o problema dele justamente é tentar ser dramático e o Shawn Levy não é um cara que trabalha bem com o drama.

Shawn Levy é um diretor de filmes de comédia e de ação, ele não sabe trabalhar com drama pessoal e familiar, ele aqui até tenta, mas acaba saindo muito artificial e é mal aproveitado, ele tenta através do personagem do Adam (Ryan Reynolds na versão adulta, Walker Scobell na versão infantil) fazer meio que um drama, fazer esse encontro de gerações de um mesmo personagem um choque de realidade para ambos, de como o do futuro vê o quanto ele no passado era irritante, debochado e anti-social, e o do passado vê o do futuro como um cara que não teve a vida que ele esperou, poderia dar um baita drama se fosse explorado por um diretor que sabe trabalhar com isso, mas aqui fica sub-aproveitado e quando esse drama é trabalhado em duas cenas, é muito superficial. Acho que o drama dele com a mãe dele também é algo meio atrapalhado, é mostrado bem até, mas é escanteado o filme inteiro e acho que fizeram um mal aproveitamento disso, assim como o drama do pai, esse é até que é bom, mas falta tempo para desenvolver mais, queria ver mais do Mark Ruffalo na tela, ele aparece em uma cena, tem uns três diálogos, depois aparece de novo com o Adam só na batalha final, mais tempo da relação deles e com certeza eu não estaria destacando isso negativamente.

Outro problema do filme é a vilã, interpretada pela Catherine Keener e... Que vergonha, ein... Nossa, é ridículo, basicamente ela é só uma chefona do mal que quer matar o protagonista por nenhum bom motivo, só faltou dar a risadinha clássica de vilão genérico e o final da personagem é completamente tosco. E eu falei sobre a tecnologia de rejuvenescimento de "O Irlandês" acima e bom, usaram ela aqui também na Keener e ficou uma porcaria, parece um Space Jam em 3D e é totalmente incomodativo, dá desgosto de assistir aquilo, é muito mal finalizado.

Para mim o que salva o filme é o carisma dos atores, do Ryan Reynolds, do Walker Scobell e do Mark Ruffalo, acho que a interação do Adam do futuro com o Adam do passado é boa (apesar do problema do drama dela citado acima), eles tem uma química legal, eles tem um carisma parecido e o jeito deles se zoando é muito bom, inclusive o Ryan Reynolds é impressionante, porque ele faz literalmente o mesmo cara em todos os filmes, só que nele funciona, ele é incrível, o carisma dele é gigante, não é cansativo e ele visivelmente se diverte muito fazendo isso, ele é um cara excêntrico e naturalmente engraçado, por isso acho que funciona tão bem ele ser só... Ele e tá tudo bem, ele é ótimo. E o Mark Ruffalo é o Mark Ruffalo e ele é maravilhoso, ele é um ator que se sai bem em todo tipo de filme, é impressionante e aqui ele segura o tranco muito bem, ele é divertido, ele é bom na parte dramática, inclusive ameniza essa deficiência do filme e estranhamente ele e o Ryan Reynolds combinaram muito no papel de pai e filho.

Não vou mentir, "O Projeto Adam" é um filme divertido apesar de todos os seus (vários) problemas, se você quer desligar a mente e só relaxar, pode ser um bom filme, mas achei uma péssima decisão criativa focar muito em dramas em um filme dirigido por um cara que não entende muito disso, se o filme fosse como o seu "irmão", "Free Guy - Assumindo o Controle", se assumindo como um filme totalmente ação e totalmente comédia, com certeza seria um filme muito melhor e muito divertido. No mais, Ryan Reynolds é um baita comediante e um ator muito carismático, gosto muito dele e acho que esses filmes dele sendo ele não vão enjoar por agora e nem pelos próximos anos. É um filme que eu me senti entretido, mas eu não posso simplesmente negar e passar pano para problemas visíveis a olho nu, é um filme que não dá vontade de rever, é um filme que você vê uma vez, pronto, acabou e esqueceu, tô meio dividido, mas acho que o impacto é mais de decepção do que de filme sessão da tarde.

Nota - 5,5/10

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