Crítica - Enola Holmes 2 (2022)


Melhor que o primeiro. O que não é muito...

Em 2020, estávamos no auge da Pandemia da Covid-19 e não tínhamos muitos filmes para assistir, todos os grandes blockbusters foram adiados em um ou dois anos (tanto que até agora estamos colhendo frutos de várias ondas de adiamentos) e então tínhamos que nos contentar com o que nos foi dado por serviços de streamings, em especial a Netflix, que lançava um a cada semana. Com isso, vários sucessos momentâneos surgiram e ficaram na boca do povo, como "Resgate", "The Old Guard", "O Poço", "Projeto Power", "O Diabo de Cada Dia", a minissérie "O Gambito da Rainha", "O Festival Eurovision: A Saga de Sigrit & Lars" e por fim, o que deu origem ao filme da crítica, "Enola Holmes". A questão é que por terem sidos todos lançados nessa sequência por conta da pandemia, eles fizeram essa tremedeira toda, mas a maioria depois foi esquecida. Porém, alguns fizeram tanto sucesso, seja pela história ou carisma do elenco, que conseguiram arrancar uma continuação e a primeira a sair do papel e ser lançada é justamente a continuação da história da irmãzinha de Sherlock Holmes.

Para ser sincero, eu não tenho nada contra o primeiro. Não é um filme que eu goste, que eu veja alguma qualidade, mas eu também não me irrito com ele, eu só tenho sono porque é desnecessariamente longo, mas no geral é ok, uma nota 6/10. Minhas expectativas para o segundo eram nulas, eu nem sabia se iria ver, mas decidi ver pelo carisma absurdo da Millie Bobby Brown e cara, é um entretenimento bem bacana, também não é grandes maravilhas mas ele cumpre melhor a proposta do que deveria ser desde o original: uma história bem padrão, um mistério bem simples e uma condução agradável que resulte em uma boa Sessão da Tarde. É claro, tem bastante problemas, mas eu achei divertidinho, eu assistiria de novo. É claro que é bom lembrar que os filmes da Enola Holmes são feitos para o público infanto-juvenil, percebe-se isso por terem criado uma personagem nessa faixa etária adolescente para servir de introdução à mitologia de Sherlock Holmes, então é preciso analisar pensando nessa proposta, na qual cumpre muito bem.

A história como eu falei é bem simples, é um mistério de tentar encontrar uma garota desaparecida bem padrãozinho e quando vem essa missão para a protagonista já nos primeiros dez minutos de exibição, você já se investe na história do filme e vai acompanhando junto com Enola o desenrolar do caso e seu encerramento. Porém acho que o diretor Harry Bradbeer acaba perdendo um pouco a mão ao colocar uma perseguição atrás da protagonista que ao invés de aumentar o suspense, acaba aumentando a duração e deixando-o cair no mesmo erro do primeiro: ser desnecessariamente longo. Acaba ficando arrastado e cenas nada a ver são inclusas, deixando o que se tornaria uma aventurinha de Sessão da Tarde até ótimo em algo que é apenas legalzinho, até porque é notável que era para ter sido mais longo, pois há momentos muito corridos a partir dessa perseguição envolvendo a polícia e o vilão Grail (David Thewlis) à nossa queridíssima personagem principal. Eles tentam fazer uma caça de gato e rato, até meio baseado em algo como "Prenda-Me Se For Capaz" em uma versão mais Agatha Christie misturado com Wes Anderson, mas não funcionou muito bem.

Também não sou fã do que fazem com a montagem em vários momentos, até porque esse problema de duração tem grande parte ajudada pela edição, tem cena que fica muito curta, picotada e que você sente que precisava de mais tempo e outras que você fica cansado por ser tão longa e poderia ter sido reduzida em uns dois ou três minutos. Esse sentimento ocorre, principalmente, a partir da metade, você começa a sentir a duração assistindo e fica pensando: "quanto que falta para acabar?". Além de ter um plot twist relacionado ao universo Sherlock Holmes que eu achei bem deslocado do resto do filme e pareceu-me bem fanservice, mas um daqueles que você só pensa: "é sério?", pois pelo contexto dele me pareceu um pouco forçado, mas eu gostei da subversão de ser algo totalmente diferente do que estamos acostumados a ver esse personagem em todas as obras que envolvem essa mitologia.

O que carrega mesmo é a Millie Bobby Brown, ela é maravilhosa, ela é carismática, é engraçada e ela convence demais no papel, fazendo essa personagem que é curiosa, que sempre quer saber mais e o fato dela ser uma adolescente não é ignorado ao vermos ela sendo irresponsável e burra inúmeras vezes, algo muito comum nessa faixa etária. Eu gosto dessa coragem que ela demonstra, esse empoderamento é muito bem feito e passa uma mensagem bem importante para o público alvo buscado (meninas entre 10 e 17 anos). Eu acho que ela se destaca principalmente quando ela precisa se demonstrar sentimentalmente, tem as cenas dela apaixonada que eu acho sensacional a idiotice que ela passa por reprimir esse sentimento ao maxjmo, as partes dela resolvendo mistérios são bem legais e tem uma cena em um baile que ela tem um timing cômico excelente. Eu curto como o diretor utiliza a quebra de quarta parede e como a Millie aproveita e sempre conversa com o espectador coisas que vão nos ajudar a gostar dela e não só fala por falar que é parecido com Deadpool, tem função e eu gosto quando utilizam esse artifício a favor da trama e não por questões forçadas esteticamente.

O Henry Cavill como Sherlock Holmes é muito bom, a seriedade que ele passa no papel com aquela cara do meme da Ilha de Páscoa (🗿) é sensacional, o timing cômico que essa atuação traz é maravilhoso e o carisma do Cavill é inigualável, essa atuação dele mais fechada e tentando ser mais sério é o mais próximo que o Superman vai chegar de interpretar o Batman (que ironicamente é o herói favorito dele). Eu não curti a redução da importância do Tewkesbury (Louis Partridge), que, para mim, é o melhor personagem do primeiro filme e aqui ele é inútil, ele aparece umas três  vezes e das formas mais convenientes possíveis, sendo reduzido apenas ao papel de par romântico, o que tira muito do potencial dele e acaba por ser só mais alguma coisa desnecessária ali.

"Enola Holmes 2" chega a ser bom? Não tanto, mas também não é ruim, ele é ok, apenas isso. É uma vibe de Sessão da Tarde com um mistério infanto-juvenil bem trabalhado para um filme feito para este público alvo. É carregado pela protagonista ser excepcional e muito acima do que o filme precisa, além de ter vários méritos artísticos tecnicamente, como direção de arte, ambientação e figurino. No mais, não é grandes coisas, é divertido mas que se fosse um pouco menor, seria bem melhor.

Nota - 7,0/10

Postagens mais visitadas