Crítica - Noites Brutais (Barbarian, 2022)

Um terror que não inova, mas prende.

De 2020 a 2022, por conta da pandemia de Covid-19, um fenômeno aconteceu na indústria cinematográfica, já que o nível de blockbusters caiu muito dos anos anteriores, tanto em qualidade quanto apelo e bilheteria (mas esse último é justificável). As produções de grandes estúdios vem tendo desempenhos abaixo, se antigamente havia de oito a quinze filmes populares adorados por ano, hoje tem três ou quatro que são consenso, uns dez divisivos e o resto uma porcaria, então quem tomou a frente de sucesso recentemente foram os terrores independentes, com a onda trazendo só este ano: "X - A Marca da Morte" e sua prequel, "Pearl", "Mortes, Mortes, Mortes", "Watcher", "Fresh" e alguns outros. Estes que ganharam o coração de uma boa parte da cinefilia e aqui temos outro exemplo, pois ninguém conhecia e nem esperava pelo tal "Barbarian" (ou "Noites Brutais" aqui no Brasil) e geral acabou adorando e considerando o melhor terror do ano, mas, a dúvida que se instaurou na minha cabeça antes de ver: é realmente bom ou só hype?

Bom, dizer que é o melhor terror de 2022 eu considero exagero, mas realmente, é um grande filme, original e que prende bastante. Começa bem maroto, apresentação padrão de personagens, sendo Tess (Georgina Campbell) e Keith (Bill Skarsgård) e tendo um ou outro elementozinho de terror, uns projetos de jumpscare com situações comuns e por assim se desenvolve por mais ou menos trinta e cinco minutos, só que aí quando começa realmente a ser um filme de terror, a tensão utilizada pelo diretor Zach Cregger é bastante funcional, só que há um corte que volta para a apresentação de um novo elemento, AJ (Justin Long) e demora um pouquinho para retornar ao horror estabelecido, mas quando retorna, se prova um baita longa-metragem, só que sofre com clássicos erros do gênero, como a famigerada burrice dos protagonistas e também o surgimento de uma gordura em um certo ponto.

Esses problemas rítmicos acabam sendo prejudiciais à saúde da obra, já que depois de momentos cheios de tensão e apreensão por parte dos espectadores, entra uma explicação bem meia boca da criatura e uma esticada desnecessária, gerando um momento que me deixou sonolento e desinteressado, mas no último ato, o caminho é retomado e o desfecho é satisfatório. Mas eu curto bastante a construção até chegar na parte onde entra de vez no gênero de horror, construindo lentamente os personagens e há até uma desconfiança de quem seja o verdadeiro terror da história (ou melhor, de quem vai dizer no final que é o Barbarian para fazer o cinema ficar igual o Daniel Kaluuya em "Corra!") e aí você vai se afeiçoando e se apegando com aqueles personagens, você cria uma afeição pela Tess, pelo Keith e o diretor até insinua uma tensão sexual entre eles em um certo momento, mas a forma a qual o filme vai progredindo vai fazendo você esquecer desses minutos good vibrations e entrar na vibe "que p*rra é essa?", fazendo essa transição lentamente e sem forçar.

Adoro a originalidade no mal apresentado, é algo bastante diferente e inesperado, o conceito em si já dá para definir com estas mesmas palavras, esse negócio da "mãe maluca" é muito diferenciado e contribui para o sucesso da obra com o público ao apresentar um conceito quase nunca antes visto no cinema hollywoodiano. Porém, a forma em que surge a explicação de sua história foi mal feita, não a explicação em si, mas a sua colocação na obra errou o timing e acabou ficando deslocada do resto, até pensei que pode ter sido a intenção do diretor, para causar uma sensação maior de desconforto, mas pensar num negócio desse me fez perceber que é pior que eu imaginei. Só que eu gosto de como essa ameaça é criada e ambientada, sua tensão aos arredores sendo sempre presente é incrivelmente bem feita e causa arrepios ao espectador quando aparece, além de um visual bastante aterrorizante que acaba encaixando perfeitamente na proposta.

As atuações também são muito boas. Eu gostei dessa Georgina Campbell, não conhecia seu trabalho, mas aqui ela manda muito bem, consegue criar rapidamente uma afeição do espectador por ela, imediatamente estamos envolvidos em sua história, motivações, profissão e objetivos e quando começa a parte do terror nós nos preocupamos por ela estar naquela situação. Ela no geral tem cenas muito boas e tem algumas em que ela se destaca por passar perfeitamente o sentimento dela sem sequer dizer uma palavra, muito bom. O Bill Skarsgård aparece pouco, mas manda muito também, ele tem esse rosto naturalmente assustador e com isso você já pensa que ele pode ser o grande vilão (ou o Barbarian), mas no fim era só um cara legal que teve um desfecho injusto, além da química dele com a Tess ser gigante e funcionar muito bem durante os minutos que aparece, você até torce por alguns segundos que eles fiquem juntos. Justin Long talvez tenha a melhor atuação do filme, fazendo um personagem cujo você tem sentimentos mistos por ele, odiando ele por ser um babaca várias vezes e se apegando em alguns momentos por ele estar numa situação ruim, eu gosto de como ele passa o nervosismo do personagem e como ele pode virar mais desgraçado por isso. Enfim, não vou me estender muito porque esse parágrafo já ficou longo.

Buscando originalidade sem inovar, "Noites Brutais" se consagra como um dos melhores filmes de terror de 2022 em wue você fica imerso na história, porém há alguns problemas que tiraram minha atenção e fizeram com que eu perdesse contato com a trama em vários momentos. É original, é legal de assistir, tem uma direção muito boa, uma ideia excelente para antagonista, atuações surpreendentemente espetaculares e um final mindblowing e brutal que acaba por chocar e deixar uma sensação satisfatória. No geral é muito bom e acredito que os fãs de filmes de terror gostem mais do que eu.

Nota - 7,5/10

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