Crítica - A Mulher Rei (The Woman King, 2022)

Diferente, porém aquém do que poderia ser.

Já vimos Hollywood fazendo muitos épicos medievais, geralmente ambientados na França, Itália, Alemanha, Inglaterra e em países europeus no geral, então a ideia de fazer um filme desse estilo que se passa na África. Baseado em uma história real, temos adaptada a história de um exército feminino do reino de Daomé (que hoje é o país Benin, na África) chamado Agojie, que são tipo Amazonas africanas, como são conhecidas aqui no ocidente. Então aqui há um papel muito importante para a representação da mulher, especialmente da mulher negra, para demonstrar a força feminina e o quanto a misoginia é enraizada, porque as heroínas que vemos aqui eram subjugadas pelo próprio povo em sua época, consideradas descartáveis, então sabemos para qual público é direcionado, mas apelar para isso não vai fazer do longa algo bom. Considero um acerto nessa questão representativa, mas como uma obra cinematográfica, é bem fraca.

Primeiro que todo o marketing foi direcionado a Nanisca (Viola Davis) como a única personagem principal, mas ao vermos, notamos que todo o protagonismo (pelo menos 70% dele) é dado a Nawi (Thuso Mbedu), que comparado ao que faz e poderia ser feito pela Viola Davis, fica muito aquém, pois vendo essa Thuso Mbedu, eu me lembrei da Jade Picon atuando na atual novela das nove, porque essa menina parece estar forçando muito para atuar bem e acaba soando meio "meh", principalmente quando se compara com a monstruosidade absurda que é a Viola Davis em tela, mas das performances eu falo mais depois. A Nawi é uma personagem que não cativa, tem até um desenvolvimento interessante no início, mas depois de algum tempo fica entediante e algumas vezes ela é chata, não há apego. De quebra ainda tentam forçar um romance com um português, que nessa parte, parece que estava vendo uma adaptação de uma fanfic escrita por uma garota de treze anos no Reddit ou algo assim.

O filme inteiro parece uma fanfic na realidade, pois não passa nenhum peso de que aquilo ali era algo real, inclusive até mais pesado, apesar de assumidamente não ser baseado em uma história específica e ter personagens fictícios, parece que foi escrito por uma adolescente fanfiqueira. Não há nenhuma profundidade nos arcos (tem apenas uma cena que eu me lembre disso na verdade), os diálogos são a coisa mais genericamente mal escritas possíveis, não tem nenhum momento que passe seriedade, quando aparece o rei Ghezo (John Boyega) eu fiquei com uma sensação real de estar assistindo uma esquete do Casseta & Planeta, porque é tão caricato que me parece algo proposital, mas ao final da exibição eu percebi que não era. Acho que o que falta é isso, ter mais mão firme da diretora Gina Prince-Bythewood, que por aqui comete os mesmos erros de seu longa anterior, "The Old Guard": enredo fraco, personagens broxantes, diálogos que aparentam ser tirados do Wattpad, dar mais destaque para uma sidekick aleatória que para a personagem vendida como protagonista e o principal: focar em mais subtramas do que no que importa, se tirar todos os arcos secundários, deve dar vinte minutos ou menos.

Nessas subtramas, acaba por surgir uma envolvendo colonizadores portugueses, só que os atores escalados nitidamente não sabem falar português, é uma sensação de estranheza gigantesca e por ser brasileiro dá até agonia de ver aqueles gringos tentando imitar o português de Portugal, fica muito ridículo e soa ofensivo. Em contraponto, há coisas positivas, toda a questão da representatividade para a mulher negra que eu imagino que seja bastante funcional, pois você sente a força através das performances da Viola Davis e da Lashana Lynch e é suficiente para as mulheres olharem e se verem ali. Também gosto das cenas de ação, essa diretora é muito boa nesse quesito, tem uma violência impressionante, o impacto é sentido e a brutalidade envolvida é uma das mais funcionais que eu já presenciei em um épico medieval, dá para sentir aquele sangue caindo e aqueles ossos quebrando.

Nas atuações, tem essa Thuso Mbedu que é uma performance ruim de novela, novamente eu faço a comparação com a Jade Picon em Travessia, onde a caricatura e o protagonismo desnecessário da personagem é comum entre as duas. Cara, é difícil aguentar essa menina com carisma de porta por duas horas e quatorze tendo a mesma capacidade de expressão de uma cômoda e um papel redundante. Em contraparte, há a Viola Davis, que é uma das atrizes mais incríveis da atualidade, pois a presença dela é impressionante, poucas intérpretes tem esse "preenchimento" na tela, usei essa palavra pois quando ela aparece falando ou batalhando, ela anula todo o resto que tá acontecendo, como se só houvesse ela dando o seu show ali. Ela é uma atriz que se aparecer por cinco minutos, vai entregar uma das melhores performances do ano (já aconteceu isso, inclusive), que baita profissional!

Tecnicamente, representativamente e com uma ação funcional, "A Mulher Rei" falha por parecer um filme escrito por uma adolescente roteirista de fanfic de Crepúsculo ou qualquer coisa assim. Tem problemas por justamente ser muito caricato e imaturo em muitos momentos, há momentos que o longa estava tão entediante que minha vontade de desistir era quase inevitável, mas cheguei até o final e até que não é tão ruim. Não é um filme que eu goste, mas também não terminei ele irritado por ser ruim, então tá ok, aconteceu e vou esquecer dele amanhã.

Nota - 5,5/10

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