Crítica - O Menu (The Menu, 2022)

A gourmetização do terror (desculpa, não podia perder essa).

Muitos diretores sonham em fazer filmes excêntricos e originais que marcam época por sua criatividade, história e elenco. Isso começa com Quentin Tarantino nos anos 90, vários realizadores construíram carreira através de seus estilos diferentões em um casamento com grandes diretores, como Wes Anderson, Edgar Wright, Spike Jonze e recentemente outros conseguiram esse feito, como "Corra!" (2017), de Jordan Peele, e "Entre Facas e Segredos" (2019), de Rian Johnson. Todos esses tem em comum: ideias novas, tons cômicos (que varia de um diretor para o outro) e surpresas, muitas surpresas. Para funcionar, você precisa ter alguém que preste na direção, porque não adianta ter o roteiro mais inovador e genial da história, se não tiver uma pessoa ali que saiba comandar e conduzir tudo certo, não funciona e é exatamente o caso aqui na minha opinião, tem uma proposta interessante, mas o cara que dirige é um pau mole.

O diretor se chama Mark Mylod, que nunca fez nada de realmente relevante no cinema, ele só fez aquele "Qual o Seu Número?" (2011), com a Anna Faris e o Chris Evans, que é mediano até para uma comédia romântica e o seu trabalho mais conhecido é a aclamada série "Succession". Pelos créditos em séries parece um gênio, mas com filmes ele é excepcionalmente broxa. Inclusive o termo "broxa" é o que resume grande parte desse longa, porque tudo poderia ser muito mais do que foi, poderia ter sido mais chocante, poderia ter sido mais assustador, poderia ter sido mais equilibrado, mais legal de assistir, mas falta alma, falta vontade, deixa a desejar demais. Tem momentos bons, mas é difícil de se envolver, a imersão é quase nula, chega a parecer maior do que é, não chega a ser chato no sentido da palavra, mas parece que tudo de importante acontece com um intervalo de tempo maior do que deveria ser.

O filme tenta se pagar de original ao trazer essa história, de um restaurante elitista em uma ilha, que só gente ricassa vai e trazer personagens originais dentro dessa história, porém é nítido a metáfora com o cinema, com o chef Julian Slowik (Ralph Fiennes) sendo um diretor, um artista que se acha genial que quer ser mais do que realmente é (lembrou de um certo cara com origem em Londres, né?), enquanto cada cliente do restaurante representa algum tipo de cinéfilo: Margot (Anya Taylor-Joy) é o tipo comum, que quer o básico, mas bem feito; Tyler (Nicholas Hoult) é o cara que pensa que é cinéfilo no Twitter, o típico cara que acha qualquer baboseira genial e que se sente idiota ao ver tamanha suposta genialidade do artista (fã mais fraco de Christopher Nolan e Denis Villeneuve); Lilian (Elizabeth McTeer) representa os críticos chatos, que fica procurando pelo em ovo para desqualificar algo. E também vários outros, como o cara que assiste o filme e não absorve nada, nenhuma mensagem e tal e essa metáfora, para mim, é uma tentativa de transformar quem tá assistindo em idiota, então acabo por pensar que é uma obra bastante hipócrita, porque há uma crítica ao que o chef faz e isso é praticamente repetido pelo diretor tentando manipular os espectadores.

O que eu acho que mais peca é na falta de equilíbrio, porque é vendido como uma comédia/suspense/terror, porém a comédia é quase nula, porque eu quase não consegui enxergar quase nenhuma piada (ou está repleto de piadas e eu não percebi de tão boas que o diretor acha que são); momentos de terror são muito pontuais, três pontos, no máximo quatro; e o clima de suspense é o mais presente, porém em grande parte parece um episódio bem produzido do Masterchef, em que fica uma emoção inexistente no ar e é essa grande parte de momentos que tornam essa obra esquecível e travada, eu não consegui criar nenhuma imersão e muito menos imagino como alguém conseguiu criar, porque é sem alma alguma, sem ritmo, parece que foi feito por um robô. Ainda tentam meter esses pratos, que, ok, é um filme de cozinha, contudo é totalmente deslocado e desinteressante, um episódio do Masterchef mesmo é infinitamente melhor, tem mais adrenalina e mais emoção.

O que acaba sobrando de bom são as atuações. O Ralph Fiennes, na minha opinião, é um ator extremamente subestimado, porque ele entrega performances onde você consegue entender os personagens dele nas entrelinhas, ele acrescenta mínimos detalhes nas expressões, na forma como ele se movimenta que quando você para e analisa, você vê o quanto ele é mega talentoso, e aqui não é diferente, ele interpreta mais um vilão, que ele transpassa muito bem todo esse senso de genialidade, frieza, liderança e más intenções, desde sua primeira aparição você já vê que ele é meio estranho (justamente por esses detalhes minúsculos acrescentados pelo ator em sua maneira de atuar) e quanto mais o filme passa, mas louco ele vai ficando, mais insano ele fica e essa calmaria dele é no ponto, causa frio na espinha. Não é um vilão que tem muitas atitudes maléficas, ele machuca através de palavras, o fato dele ser quase um ditador que as pessoas matam e morrem por ele também é algo em que nós cada vez mais nos assustamos e isso é uma coisa que funciona mais pelo talento do Ralph Fiennes do que pela condução da história em si.

A Anya Taylor-Joy também vai muito bem, ela vem sendo muito consistente nos últimos papéis e entrega uma bela atuação (mas por favor, POR FAVOR, diretores de elenco, PAREM DE ESCALAR ELA EM TODO O FILME QUE ESTÁ SENDO PRODUZIDO, eu não aguento mais). Ela é meio misteriosa, você vê ela como uma mulher elegante, bem vestida, descolada e se pergunta como um idiota como aquele cara conseguiu ficar com ela (depois descobrimos o porquê e era a possibilidade mais viável). Ela vai muito bem como protagonista e entrega uma atuação que consegue fazer você ter uma imersão mínima, porque ela é a única que você consegue ter um apego e acompanhar ela é legal, mais mérito do carisma da atriz do que do longa em si também. Porque a verdade é essa, esse filme só presta minimamente por conta dela e do Ralph Fiennes, o resto do elenco é todo muito fraco e genérico, não tem nenhuma presença, nenhum impacto, são personagens que ninguém consegue se importar e muito menos torcer para que fiquem vivos.

No geral, "O Menu" é ruim? Não exatamente, tem uma história muito boa, ideias bastante interessantes, momentos que funcionam bem, mas o diretor é um pau mole que não consegue criar nenhum equilíbrio entre os gêneros que o próprio filme se vendeu e prometeu ser, não tem comédia, tensão e muito menos momentos assustadores. Acaba se salvando pelo talento do Ralph Fiennes, o carisma da Anya Taylor-Joy e bons momentos que envolvem um ou outro plot twist. Esse filme é mais uma prova que não precisa ter um roteiro brabo sem ter alguém que saiba dirigir, porque aqui temos mais um potencial enorme desperdiçado, enquanto alguns filmes que estão entre os melhores da temporada, como "Top Gun: Maverick" e "Avatar: O Caminho da Água" são super simples e estão onde chegaram. No final, mediano demais.

Nota - 6,0/10

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