Crítica - Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness, 2022)

Não tem triângulo e nem tristeza.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes duas vezes (uma com este filme, inclusive), Ruben Östlund pode ser um consenso na crítica, mas entre cinéfilos ele divide opiniões, principalmente agora e anteriormente com seu "The Square - A Arte da Discórdia" (2017), o qual eu sempre vejo opiniões bastante mistas (tem discórdia até no título). Aqui é mais um filme um divisivo que conseguiu a fama após o festival e semana passada conseguiu nomeação em três categorias importantíssimas do Oscar: Melhor Roteiro Original, Melhor Direção e Melhor Filme. Mas será que é tão bom para conseguir essa aclamação ou é só mais um longa feito para agradar a galera de Cannes e pegar uma indicação ou outra no Oscar? Bom, é bacana, tem bons diálogos, mas é só comum, é normal, esse reconhecimento todo é um pouco exagerado para mim, mas eu entendo porque eles gostam desse estilo, meio arrumadinho, boas atuações, bons diálogos e faz sentido.

Acho que o principal erro é justamente que falta um pouco de direção em alguns pontos, porque eu não tive uma imersão, não tem emoção, as coisas acontecem e você fica com uma cara de bunda olhando aquilo aconteceu, não tem surpresa, não tem momentos dramáticos convincentes, é só mais uma coisa mais do mesmo que tem uma metáfora ali para ser diferente, mas no geral é... Só ok. É o típico estilo de longa que essa galera de festival e premiação curte: é bem feitinho, arrumadinho, fotografia padrão com cores mais normais, atuações numa certa linha, é algo que tem quase todo ano. Há uma divisão de três capítulos: antes tem o prólogo, que na real só serve para um dos personagens falar o nome do filme e fazer a galera em Cannes gritar e aplaudir. Depois tem verdadeiramente o primeiro capítulo que nos apresenta Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), dois modelos e esse início é até interessante por tentar discutir a diferença salarial dos homens e as mulheres nesse ramo da beleza, mas fica por aí.

Depois entra os capítulos 2 (O Navio) e 3 (A Ilha), que aí entra de vez um conceito de tentar explorar dois sistemas econômicos: o capitalismo e o comunismo. Na parte dois vemos uma metáfora para o capitalismo, mostrando o poder do dinheiro, o quanto ele pode comprar tudo (inclusive a vontade dos funcionários do navio), mas dependendo da pessoa, porque aqui só vemos ricos na história, só gente que é realmente poderosa em alguma área, como um empreendedor que vendeu sua empresa e um cara que ficou multimilionário vendendo fertilizante para plantação e com isso acompanhamos o luxo. Depois há um certo evento que faz com que os personagens percam tudo e aí ficam todos iguais, em uma tentativa de simulação do comunismo/socialismo. Eu gosto como mostra tanto as vantagens quanto desvantagens de cada sistema e o que cada pessoa pensa sobre seu lado e o contrário, tem um diálogo muito bom entre o capitão do barco (Woody Harrelson) e o russo vendedor de merd* (Zlatko Burić), que um fica citando citações de ícones da direita e o outro de ícones da esquerda (é uma inversão legal até, ver um marxista americano e um capitalista russo). Mas no geral, é a única cena mais interessante envolvendo essa questão diretamente, toca até uma música do Refused ("New Noise"), que é uma banda que faz músicas puxando para um lado esquerdista, é bem bacana.

Entretanto, o terceiro capítulo tenta ser uma espécie de emulação do comunismo e aqui prova que o Östlund não tinha mais ideia do que fazer, ele tenta fazer uma metáfora que agora todo mundo tava na mesma situação, estão todos ferrados e aí ele pega uma figurante, a Abigail (Dolly De Leon), que ele tenta transformar em uma figura messiânica (a própria personagem tenta se colocar nesse papel), mas acaba ficando monótono, desinteressante, fica chato de verdade, só é mais legal pelas atuações mesmo, principalmente do Harris Dickinson e da própria Dolly De Leon. De quebra, ainda tem final em aberto, que termina abrupto só para gerar discussão entre cinéfilo e ocorrer a discórdia. É bacana a mensagem que ele tenta passar que tanto o capitalismo quanto o socialismo tem tanto seus males quanto seus benefícios, mas ele trabalha isso de forma muito qualquer coisa, parece perdido. A indicação ao Oscar do Ruben Östlund na categoria de direção é injustificável, o que ele faz é broxante, não tem impacto, não tem força, é só mais um e pronto. A única tentativa de impactar é na famigerada cena do vômito, que o cara precisou apelar para um assunto biológico (que nem é engraçado) para causar vergonha alheia, o bom é que causa, o ruim é que não é pelo vômito, é por ele ter escrito e realizado isso e ser aclamado.

O que salva um pouco o filme é o elenco. O Harris Dickinson é bem legal, ele tem uma parada de ser mais agressivo naturalmente, a linguagem corporal dele é bastante intensa e isso é até citado em algum ponto, porque ele é irritado, pavio curto e ele consegue fazer perfeitamente o protagonista que você odeia. A Charlbi Dean (que infelizmente veio a falecer no meio do ano passado) também é muito boa, ela faz bem essa modelo que é sexy e sabe disso, que é um pouco arrogante, ciumenta, ela tem algumas cenas bem legais, principalmente mais lá no último capítulo e funciona bem até. Uma pena mesmo essa fatalidade, ela era talentosa. Tem o Zlatko Burić que faz bem esse papel do capitalista meio antagônico, um cara rico que só pensa em lucro e nele mesmo, ele é realmente um bom personagem. A Dolly De Leon (que quase foi indicada ao Oscar até - outro exagero) é boazinha, ela realmente assume esse papel quase central no final e a imponência que ela tem é impressionante para alguém que não teve fala por noventa minutos. Agora o Woody Harrelson é um desperdício de um baita ator, ele tem uma cena boa, mas ele é subaproveitado e sofre com uma utilização pífia de seu talento e potencial do personagem.

No final, "Triângulo da Tristeza" é só mais um filme comum que o Oscar indicou, Cannes premiou e será esquecido em breve. Filme padrãozinho, bem feitinho, na linha, que tenta puxar uma metáfora para os dois extremos de sistema econômico, mas que acaba por ter uma utilização pífia desse subtexto e só é salvo por diálogos bem escritos e um bom elenco com bons papéis. É ruim que o Oscar prejudica um pouco esses filmes, porque se eu assistisse antes das indicações provavelmente não acharia nada demais, mas agora eu devo ter visto por aquela pressa e acaba prejudicando um pouco na nota, se eu visse antes provavelmente daria um 7,0/10, porque é genuinamente bom, com boas ideias, mas as vezes eu acho que essa pressa de ver os filmes prejudica, não sei. Dá até para fazer um post discutindo sobre isso. No final ok, não mudou minha vida nem afetou meu humor diariamente, é só mais um filme entre milhões.

Nota - 6,0/10

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