Crítica - Creed III (2023)
Um reinício interessantíssimo para uma aclamada franquia.
Vocês já leram as minhas críticas dos dois primeiros Creed e vocês sabem que eu curto muito esse spin-off/sequência do Rocky, a franquia como um todo é uma das minhas favoritas. Só que, podemos considerar o final de Rocky Balboa em "Creed II" (2018), porque aqui inicia-se uma nova e promissora era liderada por Michael B. Jordan não só no protagonismo, como na direção e produção, e pela primeira vez sem Sylvester Stallone interpretando seu personagem clássico, agora com o bastão passado todo para Adonis e seu novo arco sendo pai, empresário, mais maduro e mais aberto a falar de seu passado. O Michael assumiu a franquia de vez, agora como diretor ele segue os passos do Sly e começa a comandar os longas artisticamente e ele é bom, ein? Direção muito estilosa, estilo muito próprio e ele é bem criativo e bem artístico (elaboro melhor nisso depois), não só mandando bem atrás das câmeras, o cara tá se misturando tanto com o Adonis que chega a ser difícil de desassociar, você olha para o rosto do ator e já vê o Creed ali ao invés do Michael B. Jordan. No trabalho de realização, B. Jordan busca reinventar a franquia de um novo ponto de partida no qual vemos um peso um pouco menor, onde ele manda muito bem no geral e cria uma experiência de ação incrível, mas que tem alguns problemas narrativos.
Aqui, vemos Adonis aposentado reencontrando seu antigo amigo Dame Anderson (Jonathan Majors), que era um pugilista também quando os dois eram adolescentes, mas que acabou sendo preso por tentar proteger Donnie. Nisso, no futuro, Dame retorna buscando uma chance de tentar realizar seu sonho de ser o campeão mundial dos pesos pesados, mas o Adonis percebe que ele é meio maluquinho da cabeça. O meu principal medo era esse por dois motivos: o primeiro era, obviamente, a ausência do Rocky, que já era esperado pelo o que foi mostrado anteriormente no segundo, mas que ainda sim é um motivo para entrar na sala com o pé atrás, pois teoricamente é o filme do Rocky sem o Rocky; a segunda é que essa história do protagonista se apegar a um lutador promissor, porém cabeça quente e violento, me lembra do "Rocky V" (1990), que eu não gosto. Mas eu adorei, funcionou bem, conseguiram criar uma trama coesa e fechada naquela inimizade que vai surgindo entre Donnie e Damien, consegue suprir a presença do Stallone, só que não tem como não sentir a falta dele pelo carisma, mas nesse caso ele seria só um enfeite a mais na festa, poderia deixar o evento mais bonito, mas como não estava, não dá para notar muito a falta.
Eu curti que o B. Jordan diminuiu a proporção, de sair de algo mundial como a batalha do Donnie versus Drago ou versus Conlan, o diretor tenta voltar às raízes do Rocky original e se transformar em algo bem mais simples, bem mais cidadino, tanto que o evento final é chamado "Batalha de Los Angeles", porque é assumir que agora é preciso reinventar do zero, já que a impressão que dá ao final do anterior é que não tem mais histórias grandes para contar e que precisará construir novamente para um evento grande novamente em um possível quarto ou quinto longa. Outra coisa que eu curto muito na direção do Michael é como ele tem um estilo muito próprio e muito inventivo, além da coragem para testar coisas novas em uma franquia já estabelecida. Com isso, percebemos que o cara é um nerdola, já que nas cenas de luta parece que eu tô vendo filme de ação asiático, filmes de boxe e um episódio de Dragon Ball ao mesmo tempo, ele pega várias referências para criar algo inovador dentro da antologia do Rocky e eu adoro como ele usa a câmera e a montagem para dar uma sensação de que um confronto épico está por vir, os closes que ele dá bem nos olhos dos personagens são certeiros para ajudar na construção da rivalidade que as lutas envolvem, isso que culmina em um round onde eu achei bem legal a coragem do cara enfiar algo mais artístico e tirar a plateia do evento e deixar tudo escuro com exceção do ringue, porque tudo que importava para aqueles dois lutadores era resolver os problemas na porrada e esse foi um conceito bastante interessante.
A relação entre Adonis e Dame é estabelecida desde o primeiro minuto, vemos como os dois eram próximos como se fossem irmãos na adolescência, mas isso é deixado ambíguo e cria um mistério de "o que aconteceu com eles?" que é bem interessante, o espectador vai ficando intrigado, e quando você descobre a totalidade da relação deles é um drama muito bem feito e coeso, que nunca esperaríamos do personagem principal ter vivido aquele trauma e tal. Como a rivalidade é bem desenvolvida é interessante, porque o Damien, apesar de violento, é um cara carismático, que você entende as ambições dele e até torce por ele, mas aí quando ele consegue seu objetivo e se revela um grande babaca, você percebe não só o quanto o personagem é um desgraçado, quanto o Jonathan Majors é um baita ator por ter conseguido te enganar direitinho até ali e esse ponto de virada é algo que traz bastante adrenalina e emoção ao longa, que fica frenético a partir daqui.
As atuações eu acho que continuam excelentes. Como disse alguns parágrafos atrás, é impressionante como a persona do Michael B. Jordan está se misturando com a do Adonis, a cada filme ele está melhor desenvolvido, tem arcos excelentes e fica cada vez mais rico como personagem (no quesito conteúdo e no dinheiro também), o carisma dele é absurdo e aqui ele trabalha seu próprio personagem de um jeito bem interessante, explorando o passado ao lado do Dame, falando coisas que nunca saberíamos que ele passou. Ele tem realmente a força que um protagonista de uma franquia dessa força e impacto precisa. A Tessa Thompson também excelente, ela teve um grande arco e uma participação maior que no segundo e maior do que eu esperava, ela manda bem nesse papel, não só sendo um cônjuge para o Creed, mas também uma parte dele, uma força impressionante que sempre o ajuda e o entende enquanto tem suas próprias questões a ser resolvidas sendo uma grande artista, ela tá num nível já bem alto dentro da franquia. Dame é sensacional, é uma das grandes adições à franquia, uma das melhores e o melhor e mais ameaçador oponente de Adonis. As motivações dele são convincentes e condizentes com o que nos é apresentado e a atuação do Jonathan Majors é incrível, porque você tem pena dele, depois tem dúvida, depois o detesta e após tudo isso gosta dele de novo, ele é muito bom e será maravilhoso se ele voltar futuramente.
Mas, tem três pontos que eu não curti muito no longa. O primeiro é a edição, que visivelmente deixa algumas coisas muito apressadas na intenção de deixar um longa frenético, mas ao invés disso acaba deixando muito espremido em um certo tempo e isso me deu um incômodo, não o suficiente para me fazer desgostar, mas o bastante para curtir menos do que poderia. Justamente isso que causa os outros dois problemas, um deles é a relação do Creed com a mãe (Phylicia Rashãd), que mostra ela correndo algum risco de vida por problemas de saúde, mas fica aquém do esperado por conta que em duas cenas você não consegue entender muito bem e logo depois já dão um desfecho bonito emocionalmente, mas que termina vazio. O outro é a forma na qual o Viktor Drago (Florian Munteanu) é utilizado, porque dá para sentir que a participação dele era maior, mas nesse corte acaba sendo resumida a um mero sparring e uma figura, não um personagem em si, então apesar de ser legal ver ele e o Creed trabalhando lado a lado nas poucas cenas que ele aparece, acaba sendo insatisfatório pelo gancho deixado anteriormente.
Entre alguns erros e vários acertos, "Creed III" é um filme que pode causar uma divisão por alguns problemas, mas no geral eu me diverti bastante assistindo, principalmente pelo talento do Michael B. Jordan atuando e dirigindo com muita segurança, propriedade e inovação, e pelo Jonathan Majors como um vilão maravilhoso que pode vir a ser uma das grandes figuras da história da franquia dependendo da forma que e se ele aparecer futuramente nos próximos dois ou três vindouros longas onde o Michael B. Jordan ainda estará em forma para conseguir lutar. Tem uma excelente parte técnica, uma montagem que dá uma avacalhada pelo ritmo, mas que ajuda muito o diretor a construir um estilo bem mais criativo, uma fotografia bastante interessante que as vezes grava a luta como se fosse um jogo e uma trilha sonora que mistura muito bem os temas originais com os clássicos do Bill Conti. É uma nova e promissora era na franquia, que promete ser bem interessante e estilosa no comando de Michael, então é torcer para que os próximos filmes sejam tão bons ou melhores, porque esse foi muito legal de assistir.
Nota - 7,5/10