Crítica - Daisy Jones & The Six (Minissérie, 2023)

Uma experiência bacana, mas que perde peso aos poucos.

Se você me acompanha há algum tempo, sabe que eu sou do rock, eu vivo fazendo posts sobre músicas, falo sobre as bandas nos stories e tal, e um dos cenários que eu mais curto é o rock dos anos 70, aquele período após o Woodstock e o término dos Beatles, que cresce o cenário e surgem várias bandas de sucesso ao redor do mundo, como o Led Zeppelin, o Aerosmith, o Queen, Foreigner, Elton John, os ex-Beatles em suas carreiras solo, David Bowie e é claro, Fleetwood Mac, que falarei mais depois do porquê dei esse destaque. Essa série é baseada em um romance homônimo escrito por Taylor Jenkins Reid, que conta a história de uma banda fictícia situada justamente nessa onda rockeira setentista. Eu não li o livro, na real nem sabia que era um, quando me deparei com a primeira propaganda até pensei que seria sobre uma banda real que não fez tanto sucesso, mas depois quando fui ver a obra percebi que era literalmente o oposto. Mas me chamou a atenção justamente por isso, essa vibe do rock dos anos 70, que me lembra várias coisas que eu gosto, inclusive um dos meus filmes favoritos (top 3) que é o "Quase Famosos", eu tenho uma paixão por esse filme e na hora que eu vi as imagens, olhei para a estética, os figurinos, me lembrei na hora e decidi assistir. Mas, infelizmente, a série me causou um impacto bem passageiro. Apesar de ter segmentos bastante legais, acho que dá uma perdida mais para o final. São dez episódios que tem alguns ali que poderiam ter sido descartados e usados para a desenvoltura das storylines que estavam e que viriam a ser contadas, então eu gostei, achei do cacete, mas é problemático.

A série começa nos introduzindo a duas storylines: Daisy Jones (Riley Keough), uma jovem hippie em Los Angeles que era negligenciada pelos pais e vira musa de um popstar drogado completamente genérico, e os The Dunne Brothers, que posteriormente viraria o The Six, uma banda formada em Pittsburgh, Pensilvânia, cujo é liderada por Billy Dunne (Sam Claffin), vocalista, guitarrista base e o melador de calcinha da cidade, seguido pelo seu irmão, Graham Dunne (Will Harrison), o guitarrista solo; Eddie Roundtree (Josh Whitehouse), o baixista; Warren Rojas (Sebastian Chacon), o baterista; e depois entra Karen Sirko (Suki Waterhouse), a tecladista. Nos primeiros três episódios (até o quarto um pouco) vemos essa divisão e acho que aí a série deu uma vibe legal, de mostrar dois mundos totalmente distantes, mas próximos de alguma forma. Vemos Daisy, uma garota valente, mas insegura, tentando se encontrar como artista, enquanto o Billy busca se tornar o melhor cantor daquela atualidade com as ambições do grupo sendo aumentadas a cada episódio. É até legal que cria uma ansiedade para quando eles vão se juntar, mas até lá tem um desenvolvimento bastante interessante, só que mais para o arco do The Six que o da Daisy Jones, particularmente, eu achei ridiculamente superior e mais interessante, chegava até a ser chato quando ia para a protagonista feminina em alguns momentos, mas ainda era aceitável. Mas o que que acontece? No meio da temporada muda a direção, sai o James Ponsoldt, que dirige os primeiros cinco episódios (os melhores, diga-se de passagem) e entra a Nzingha Stewart e em um episódio o Will Graham, e a diretora até tem algumas ideias interessantes, mas no geral a série me perdeu ali no sétimo episódio, que parece um filler, é tenebroso e sofrível, o que acaba afetando o resto da série, que se salva milagrosamente no último episódio (pelo menos até o final, que o final em si é bem qualquer coisa).

Adorei a estética de falso documentário, achei uma ideia bastante interessante para contar uma história que parece tão longa e complicada em apenas dez episódios de cinquenta minutos, além de sempre entrar em momentos muito certeiros que ajudam muito no tom da minissérie, o teor das cenas, não tem uma dessas entradas que seja realmente desnecessária, é um acerto gigantesco que me deixou surpreendido. O plot twist final de quem dirige esse doc também é bastante surpreendente e é bem bonitinho até. Entretanto, a história me pareceu um tanto quanto... Inspirada, digamos assim, já que basicamente tentam vender como uma história original e tudo mais, mas no fim estão contando a história do Fleetwood Mac, só mudando os instrumentos de cada personagem, mas de resto é muito parecido. Quem não conhece, depois pesquise a história da banda e principalmente do álbum "Rumours", de 1977, que é muito igual, chega a ser ridículo (e escutem Fleetwood Mac que é maravilhoso, e a carreira solo da Stevie Nicks também, que é incrível).

Mas, se a série é sobre música, que pelo menos tenha boas músicas originais, não é mesmo? E para o meu gosto musical, tem, eu adorei as músicas, o tom delas que justamente acerta nessa vibe setentista, a vibe do rock mais clássico dessa época, algumas músicas que acertam em Bowie, outras no Zeppelin, várias no Mac (que novidade) e tem músicas que realmente ficam na cabeça, tem refrões marcantes e algumas foram para a minha playlist até. Eu gosto daquela "Look Me In The Eye", que toca tantas vezes nos primeiros episódios que você se sente praticamente obrigado a adorar, mas é bem legal, a letra é bacana, o riff é interessante. Outra muito boa é justamente o primeiro hit da banda no mundo da série, que é "Look At Us Now (Honeycomb)", que é viciante pelo refrão que fica repetindo o "But baby, look at us now" e deixa gravado na cabeça. A minha favorita foi "Let Me Down Easy", que essa dá vontade de ouvir em loop, é bem chiclete, fica perdurando na cabeça por dias e a voz dos dois combinada é uma junção inesperadamente incrível.

Os personagens eu gosto muito, são de um carisma espetacular. A personagem-título, a Daisy Jones, apesar do arco dela ser um saco, a personagem em si é apaixonante, o estilo dela, o jeito, as atitudes, a coragem, a beleza (estou apaixonado), ela tem algo ali que conquista o coração do espectador, ela é alguém que você consegue entender, não exatamente se identificar, mas consegue ver pela ótica dela e a atriz, a Riley Keough, ela manda bem demais, ela faz essa personagem que tem atitudes fortes, que é corajosa, que é excêntrica, mas que tem seus muitos problemas, seja de relações, seja com a bebida, drogas e tudo mais, além de cantar para um caramba, ela tem uma extensão vocal impressionante que imprime suas partes nas músicas. Detalhe que a atriz é neta de nada mais nada menos que Elvis Presley, ou seja, ela está fazendo uma cantora de rock sendo neta do rei e ela parece nem sentir esse peso que tem. Entretanto, como disse várias vezes, o arco dela acaba por se tornar o problema, especialmente na parte final da temporada com o sétimo episódio, que ela fica maluca e vai parar na Europa aleatoriamente e se casa, que nossa, esse episódio é insuportável, ele quebra todo clima da série, vai para um negócio muito aleatório e a única coisa que sobrevive para o futuro, é descartada da forma mais porca possível logo no episódio subsequente. Ainda tem a relação dela com a Simone (Nabiyah Be), que não me convenceu nada, não consegui comprar essa amizade, não consegui comprar a personagem da Simone, que me pareceu completamente deslocada dos demais dentro da trama, foi descartada de uma maneira horrenda e trazida de volta de uma forma pior ainda.

Para mim, o grande destaque é o Sam Claffin como Billy Dunne. Ele consegue criar várias versões do mesmo personagem, praticamente se reinventando a cada episódio, saindo do galãzinho adolescente no primeiro, indo para o superstar bêbado e drogado no segundo, um cara culpado que acabou de voltar da reabilitação no terceiro, um rockstar arrogante no quarto e por aí vai. Ele consegue evoluir e vai evoluindo o arco da série junto com ele, já que a direção e a história não ajudam, alguém tinha que ajudar. Ele tem vários momentos que se destaca, principalmente no último episódio, uma discussão dele com o Eddie no hotel que é espetacular a atuação, a raiva dele nítida, e antes a cena com a esposa dele, a Camila (Camila Morrone), no corredor, que ele faz algo mais discreto, mas faz perfeitamente. A relação entre os dois protagonistas é boa, a química é tamanha e tem um dilema bastante interessante pelo lado dele e os dois tem um encaixe, tanto na música quanto na personalidade, que chega a dar um brilho para a série em alguns pontos.

Vou passar rapidamente pelos outros personagens porque não tenho vontade de escrever um parágrafo só para eles: Graham é uma planta, só tem destaque real no nono episódio e ainda falta carisma ali. Carisma é o que sobra na Karen, ela é maravilhosa, tem um arco bem intrigante, especialmente mais para o final, a relação dela com o Graham acaba ganhando mais significado. Relação essa que surge da forma mais estranha e forçada, uma das coisas que eu menos curti na série para falar a real, é muito memes. O Eddie é um baita maluco chato que mereceu aquele olho roxo no final, que cara insuportável, ele fica toda a série se vitimizando, querendo ser o centro das atenções, ah vai a m*rda meu parceiro. O Warren é um baita alívio cômico, eu dei risada demais com ele, esse arquétipo do membro de banda maconhado é sempre um acerto quando bem feito, ele mesmo não tem um gtanre arco de personagem, mas conquista pelo carisma e leveza do papel. Agora, tudo isso que eu já citei: traição, olho roxo, relações e tal, só me fez perceber que isso tudo foi uma grande novela, porque é um negócio atrás do outro, plot twist, relacionamentos surgindo do nada, brigas, gritaria, soco na cara, é uma confusão gigantesca que me deu cansaço em alguns momentos, era algo que me tirou um pouco da imersão, porque é toda maldita hora, não pode nem respirar que já vem reviravolta.

No fim, "Daisy Jones & The Six" é uma boa série, mas é só algo passageiro que não sobreviverá tão bem futuramente, não imagino sendo lembrada daqui dez anos, por exemplo, igual várias outras minisséries recentes que marcaram o público. É salva por um carisma gigantesco do elenco e músicas surpreendentemente bem feitas que resgatam o espírito do rock setentista como, principalmente, Zeppelin e Mac. Mas a história, principalmente a partir do sexto episódio, vira uma novela, uma confusão desgraçada, que tira a imersão da série e deixa algo que estava bacana se tornar maçante, especialmente no sétimo e oitavo episódio. Entretanto, é bacana pela experiência do falso documentário e das músicas caso você goste do estilo, mas fica apenas ali como entretenimento passageiro e tá tudo bem. Se tivesse continuado na vibe dos primeiros cinco episódios tava incrível, mas foram inventar e deu nisso.

Nota - 7,5/10

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Nota por episódio:
EP1: "Track 1: Come and Get It" - 8,0/10
EP2: "Track 2: I'll Take You There" - 8,0/10
EP3: "Track 3: Someone Saved My Life Tonight" - 8,5/10
EP4: "Track 4: I Saw The Light" - 8,0/10
EP5: "Track 5: Fire" - 9,0/10
EP6: "Track 6: Whatever Gets You Thru The Night" - 7,0/10
EP7: "Track 7: She's Gone" - 5,0/10
EP8: "Track 8: Looks Like We Made It" - 6,5/10
EP9: "Track 9: Feels Like The First Time" - 7,0/10
EP10: "Track 10: Rock 'n' Roll Suicide" - 8,0/10

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