Crítica - Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods, 2023)
Um filme que pode ser definido por uma variedade enorme de adjetivos, sejam eles positivos ou pejorativos.
🚨 Texto com spoilers leves 🚨
Depois do famigerado e elogiado "Shazam!" (2019), temos o retorno dessa turminha do barulho em uma sequência. Mas, infelizmente, esse longa começou a ganhar fama por motivos errados, por ser um dos maiores fracassos da DC no cinema de todos os tempos em questão de bilheteria, fazendo U$30M nos Estados Unidos e U$65,5M no mundo em seu final de semana de estreia (para ter uma noção, um dos maiores fracassos de filmes de heróis recentes, "Morbius", abriu com U$84 milhões mundialmente), mas, afinal, merecia ser esse fracasso ou foi sabotado pela Warner? Bom, acredito eu que a distribuidora foi negligente com o longa, como se tivesse lançado só por descarte, como se fosse um livramento, foi uma desdém escondida por uma cortina de fumaça, porque é nítido que a Warner não queria mais e fez qualquer coisa para lançar, jogou em um mês complicado com outras três grandes franquias e se ferrou. Eu sinceramente fico triste, porque o primeiro deu um bom resultado de bilheteria, e eu ADORO o original, eu vi várias vezes quando lançou, eu acho uma história muito conquistadora e eu, como fã da DC e do personagem, me senti feliz assistindo. Aqui, são sentimentos mais mistos, mas acho que eu me diverti mais do que desgostei, então o saldo é mais positivo.
Na sequência, vemos Billy Batson (Asher Angel), agora quase sempre na forma de Shazam (Zachary Levi), se questionando se ele merece mesmo os poderes concedidos pelo Mago e tentando aproximar a família, já que cada um tá indo para uma direção diferente. Até que aparecem as Filhas de Atlas: Hespera (Helen Mirren) e Calypso (Lucy Liu), que buscam vingança contra o Mago Shazam (Djimon Hounson) e Billy pelo roubo dos poderes de seu pai. O tom particularmente me agradou na maior parte do tempo, eu gosto dessa questão mais família, algumas piadas, um negócio meio "Os Goonies" (1985) - referenciado por uma camisa usada pelo Billy; só que eu acho que as vezes falta equilíbrio, principalmente no meio do filme, acho que algumas vezes o humor sai do ponto, só que a culpa disso não é de direção e nem de roteiro principalmente, é do Zachary Levi, que exagera no tom e perde uma sintonia gigante com o Asher Angel, mas exploro melhor isso depois. Voltando ao tema, acho que o filme assume esse tom mais cômico, que apesar dos exageros, funciona como uma boa Sessão da Tarde e quando precisa ser sério, ele é e consegue funcionar de forma bem surpreendente, especialmente mais para perto da conclusão.
Eu acho a história bem simples que combina no tom que o filme nitidamente quer seguir, uma espécie de entretenimento mais cômico, mais familiar e tal, mas também é mais maduro em alguns pontos, principalmente para dar uma sensação de crescimento dos personagens ao lado do espectador, então aquele humor que sai de dancinha, carregar celular com raio e cantar musiquinha soltando poderzinho muda para algo que envolve mais dilemas dos personagens enquanto a vida, discussão de relacionamento amoroso, descobertas, amadurecimento e envelhecimento, tem uma subplot bem interessante da Mary (Grace Caroline Currey), que não foi para a faculdade para ajudar com as contas em casa, mas que ainda busca perseguir esse sonho. Tem o Pedro (normal: Jovan Armand, herói: D.J. Cotrona), que está se descobrindo gay e tenta meio que deixar isso dúbio com medo da reação dos pais (e gera a segunda piada que eu mais ri durante a exibição). O Freddy Freeman (normal: Jack Dylan Grazer, herói: Adam Brody), que se apaixona por uma garota pela primeira vez. Então são pontos interessantes de serem tocados já que a galera que tinha a idade dos personagens quatro anos atrás, entre 10-17 anos, hoje já tem 14-21, que são faixas etárias totalmente diferentes com dilemas diferentes e isso dá uma sensação de aproximação maior com aquela galera que você já amava no anterior, tem uma cena que a Mary tá de ressaca, uma que o Freddy passa vergonha perto da crush, são situações identificáveis pelo espectador.
Mas o principal problema é justamente o Zachary Levi, não em questão de atuação e tal, ele é bom, mas ele é muito destoante do Billy Batson do Asher Angel, na real parece que ele é mais maduro Billy do que Shazam. No primeiro já tinha gente que achava isso estanho, mas dá para justificar dizendo que o Billy se soltava e podia ser ele mesmo quando herói, mas aqui, ele já tem 17 anos e o Levi continua agindo igual um insolente, burro e punheteiro garoto de 12 anos (inclusive essa piada recorrente dele ser apaixonado pela Mulher Maravilha é muito engraçada, eu dei risada várias vezes pelo menos). Eu acho que no final isso dá uma maneirada, na batalha já tem mais um amadurecimento do personagem, mas no resto do filme é... Chato até, no meio então ele é insuportável. Inclusive o Asher Angel deve ter recebido uma grana boa para fazer nada, né? Dá para contar nos dedos por quantas vezes ele aparece, ou seja, já tão tentando esconder que a galera cresceu.
O verdadeiro protagonista é o Freddy, essa é a realidade, o Jack Dylan Grazer tem tanto destaque quanto o Billy e ele dá um show, é um elemento surpreendente desse universo que funciona de maneira incrível. Ele tem um arco próprio, o já citado do relacionamento, mas o fato dele querer ser um herói, mas lidar errado com os poderes, ser considerado um desastre aue explode o carro dos outros, mas ele entrega demais na atuação, tanto em partes mais cômicas quanto as sérias que ele carrega, ele dá aumenta a carga dramática até, principalmente no último ato (e eu achei estranho quando descobri que o herói favorito do Elvis era o Freddy, na real o Elvis era visionário). Inclusive, ô James Gunn, mantém esse moleque aí na DC, se não for reutilizar como Freddy, põe outro personagem para ele, dá para combinar como Wally West, Jason Todd e até Superboy, qualquer um, mas não desperdiça o talento. O Freeman faz uma bela dupla com o Mago Shazam, que tem uma participação incrível no longa, um carisma de outro mundo do Djimon Hounson e uma interação que surpreende pela forma que ocorre e como ocorre, já que a química entre os dois é estranhamente perfeita, os dois estavam nitidamente se divertindo nos papéis e é uma dupla que surrou qualquer combo naquele outro filme de herói desse ano que não deve ser mencionado.
As vilãs... Bem, acho que mais genérico e caricato, impossível. Sinceramente acho que a Helen Mirren e a Lucy Liu deviam estar devendo para alguém, o aluguel tava atrasado, porque as duas tão no maior piloto automático possível e ainda é somado com a motivação mais invisível, não tem nada, não tem um flashback, quando tem são diálogos expositivos que acabam por ficar desinteressantes. Era tão fácil colocar um flashback ali no início, ou o Mago narrando sob uma pintura na parede, mas decidiram deixar da pior forma possível. Ainda tem a terceira irmã, a Antheia (Rachel Zegler), que tenta fazer esse papel de dualidade, de ficar do lado errado mas sendo consciente enquanto a isso, ela é boa, manda bem no papel, mas ela não convence na maldade porque a persona que ela cria é muito boazinha, tanto que é a primeira a "se virar" contra as irmãs, mas a química dela com o Freddy é bem legal, os dois tem uma interação legal juntos.
Questão de ação, eu gosto mais da pancadaria aqui que no primeiro, acho que o aumento da verba deu certo nesse caso, porque a proporção é grande e vai crescendo e crescendo ao longo da trama. Eu acho a batalha final bem feita em quase todos os quesitos (tirando uns diálogos meia bomba e uma propaganda descarada do Skittles que faz parte da trama por algum motivo). A computação gráfica tá bem melhor, tá bem feito até demais, tem aquele dragão de madeira que é realmente bem feito, o design é bem legal (apesar do Billy zoar isso por ser de madeira), as criaturas mitológicas, como o minotauro, ciclopes e, principalmente, os unicórnios, também tem um visão bastante interessante e até fiel à retratação mitológica, eu curti. Uma coisa que eu achei desnecessária, e isso pode ser um spoiler ou não, mas foi a aparição da Gal Gadot como Mulher Maravilha. Primeiro que é totalmente forçada e ela aparece completamente do nada (e ainda com aquele solo do Junkie XL que parece obrigatório tocar quando ela aparece); segundo que ela nem fala quase nada e resolve um problema complexo que tira todo o peso dramático do final, todo o impacto do que acontece e que justificaria o porquê de não termos o Shazam no futuro DCU do James Gunn; terceiro que nem era a Gal Gadot, nitidamente era um deepfake e nos créditos até aparece o nome da dublê (kkkkkkkk).
No geral, eu acredito que "Shazam! Fúria dos Deuses" tem muitas qualidades e muitos defeitos, mas na minha experiência a positividade se sobressaiu a negatividade, porque é aquela Sessão da Tarde de ação e comédia que eu entrei no cinema e relaxei assistindo. Foi legal rever essa galera, olhar a evolução desses personagens, o crescimento desse pessoal que era baixinho e fofinho e hoje já estão adolescentes (me senti velho, confesso). Tem uma boa ação, elenco majoritariamente carismático e algo que me conquista pela simplicidade, pela honestidade. Uma pena que foi sabotado e negligenciado pela Warner, não merecia esse fracasso todo.
Nota - 7,0/10