Crítica - John Wick 4: Baba Yaga (John Wick: Chapter 4, 2023)

Um encerramento maduro em uma ação desenfreada.

🚨 Texto sem spoilers 🚨

Vocês já leram minhas críticas de John Wick, vocês sabem que eu gosto muito dos outros três e é óbvio que eu iria para o cinema com uma expectativa alta, mas não imaginava que ela seria superada porque a franquia continua em uma crescente absurda em todos os quesitos. Basicamente, temos todos os elementos que fizeram dos anteriores sucessos de público e crítica sendo utilizados novamente: trama simples, situações exageradas mas agradáveis, boa expansão de universo, elenco carismático e ação desenfreada que agrada pela forma que é feita, só que aqui atinge um ápice que é inacreditável, que fez eu ficar na ponta da cadeira do início ao fim, é um filmaço de ação, um baita thriller, que encerra esse arco de John Wick (Keanu Reeves), a Alta Cúpula e o Continental, e o que vem pela frente... Eu não sei, inclusive esse texto estará dividido em duas partes, uma sem spoilers e depois da nota eu faço um parágrafo discutindo e imaginando o futuro da franquia, mas estou animado para os spin-offs e pelo já confirmado quinto capítulo.

Acompanhamos dessa vez John sendo caçado pelo Marquês (Bill Skarsgård), um homem poderosíssimo dentro da Alta Cúpula, que quer dar um fim ao nosso protagonista pela bagunça que ele causou por tantas vezes em tantos lugares nos últimos dois longas. Eu gosto da estrutura que o Chad Stahelski estabeleceu na franquia, é como se fosse um videogame, onde o John Wick vai passando por várias fases e nunca perde a graça, são desafios que ele tem que superar para conseguir alcançar o verdadeiro objetivo final, tipo: "Fase 1: Osaka", "Fase 2: Berlim", "Fase 3: Paris"; essa dinâmica é bem interessante, é fácil de entender a divisão de atos e ajuda muito o espectador a criar a imersão, pois sempre queremos ver mais, o que vai rolar depois e se o nosso personagem principal conseguirá vencer os objetivos, que estão cada vez mais criativos, utilizando de referências interessantes que fazem uma ode ao gênero e à própria série que começou há quase dez anos, tem referência que vai desde "007 - Cassino Royale" (2006) e filmes de ação orientais até western spaghetti e o Pinguim do Batman, tudo isso em prol de fazer um dos melhores filmes de ação dos últimos anos, um dos mais eletrizantes e memoráveis no mínimo.

Para que esse rótulo fosse possível, era óbvio que as cenas de ação precisariam ser evoluídas a outro nível, aí você pensa: "dá para melhorar a ação do John Wick?" e eu respondo: SIM. Aqui tem muita coisa interessante de ver, tecnicamente e visualmente com design de produção, fotografia e montagem (que falo mais especificamente depois), mas principalmente com a coreografia e o trabalho de dublês, que cria cenas de ação excepcionais e vibrantes. Tem muita inspiração de arte marcial, principalmente agora as que usam armas e agora tendo até um confronto de armas de fogo com katanas e arco e flecha em uma das cenas mais incríveis da franquia (que acontece ainda no primeiro ato), tem cena que utiliza muito de karatê e taekwondo, muita cena de corpo a corpo com lâminas ou pistolas e, graças ao design sonoro e a edição, tem um impacto muito grande e sentido. Quem tiver a oportunidade de ver no cinema, veja, porque vai ajudar bastante na sua experiência, acho que ver John Wick em casa já é incrível, mas ver no cinema dá uma sensação mais grandiosa para aquilo.

Falando agora de técnica, eu acho impressionante como a direção de arte e a cenografia da franquia é bem feita para um caramba, porque é cada cenário lindo e criativo que chega a ser chocante. As salas de vidro do Continental no terceiro já eram lindas, mas aqui tem o Continental de Osaka, que é uma construção absurda, que traz um quê da cultura japonesa misturado com um desenho mais futurista, que usa muitos tons um pouco mais brilhantes, e depois quando obviamente falta luz (porque pareve regra da franquia as lutas serem num blecaute) fica algo com luzes azuis e verdes de forma até meio neon, é lindíssimo e ajuda muito nessa estética neo-noir; também tem a boate de Berlim, que é absurdamente bem construída, bem pensada, a forma como a água faz parte dessa cena é bem interessante. Na real eu acho que essa é a franquia que melhor utiliza os cenários, já que sempre tem uma função na trama em qualquer cena, desde algo mais elaborado como um dos hotéis ou algo mais simples como um lance de escadas. Isso é auxiliado perfeitamente por uma fotografia excelente, que não só dá essa beleza visual ao longa e a cada local que Johnathan passa, mas também faz um jogo bastante interessante de acompanhar nas lutas, tem planos originais e outros que acertam o tom nas referências - o duelo final é um exemplo. Misturado com uma montagem incrivelmente energética, que deixa um filme de duas horas e cinquenta parecer noventa minutos, porque é esse conjunto de história com uma perfeição técnica que cria experiências memoráveis na série.

O elenco novamente é incrível. Deve ser a melhor atuação do Keanu Reeves na franquia, mas provavelmente você já deve estar cansado de eu ficar falando da atuação dele porque são os mesmos elogios de sempre nos últimos três filmes, mas irei repetir que ele faz muito bem esse resgate do herói bad-ass caladão, agora mais que nunca, porque são suas poucas palavras que o tornam imponente, aqui a referência ao Clint Eastwood fica mais clara que nunca lá no ato final, ele é muito bom, um personagem marcante que conclui esse arco contra a Alta Cúpula de forma agradável. O vilão do filme é o Bill Skarsgård, que consegue convencer bem com aquela cara de babaca dele, ele faz bem esse papel de um chefão arrogante, mimado e ele tem uma presença boa, uma frieza bem explorada e uma motivação simples, mas que ajuda a criar empatia por ele. Só que o grande destaque, na minha visão, é o Donnie Yen, primeiro que o cara que teve a ideia de escalar esse ator para a franquia é um gênio, já que ele é um dos maiores artistas marciais do cinema, agora vemos ele aqui interpretando um cego que bate de frente com o John e que tem um arco próprio, ele não é só um caçador, ele tem um desenvolvimento de que ele quer ser livrado da Alta Cúpula e viver de boas com a filha, mas que ele precisa cumprir algumas promessas indesejadas e ele manda bem, ele é um ator muito versátil, o cara entrega tão bem a atuação de um cego que eu cheguei a achar que ele tinha perdido a visão e eu não sabia (até poreue não é o primeiro cego que ele interpreta em Hollywood). Cara, a relação dele com o John Wick é maravilhosa, mas não irei detalhar para evitar spoiler.

O Winston (Ian McShane) é um personagem de apoio bem interessante novamente, essa relação meio conturbada dele com o John funciona muito bem, agora ele tem um objetivo mais definido e ele ajuda o protagonista a aceitar melhor algumas ideias da vida. Ainda tem a relação dele com o Charon (Lance Reddick), que aqui é menor por motivos que não podem ser falados, mas que ainda é impactante para a trama e no final do longa. Inclusive o Lance Reddick faleceu recentemente, uma pena, ele era um cara bem carismático e que foi marcante nessa franquia e várias outras obras, tava em várias séries de televisão, jogos, é uma pena, fica aqui minha homenagem a esse artista que marcou tantas pessoas. Enfim, voltando ao longa, outro destaque é a trilha sonora, que acho é o ponto de maior evolução do filme, porque aqui tem um destaque enorme que acaba deixando algumas cenas mais épicas, mais grandiosas. A composição é do Tyler Bates novamente, mas sinto wue aqui ele estava mais inspirado e cria temas que ajudam muito na construção da vibe do suspense neo-noir, as faixas combinam muito com cada momento e a versatilidade é mais visível aqui, tem músicas mais densas e sombrias, outras mais eletrônicas que ajudam nas lutas e até trilhas incidentais emocionantes, quem diria? É realmente um baita trabalho.

Melhor da franquia até então, "John Wick 4: Baba Yaga" é um encerramento maduro e redondo de um ciclo que ficará marcado por algum tempo no gênero de ação. É responsável e honesto em encerrar agora essa trama toda da Alta Cúpula caçando o John, do Continental, acho que tava na hora de acabar com isso de vez e dar uma nova vida. Tem cenas de ação eletrizantes e arrepiantes, coreografias de ação de deixar o queixo caído, uma parte técnica impressionante e um elenco carismático que conta com um Keanu Reeves bem bad-ass, um Bill Skarsgård ameaçador e um Donnie Yen sensacional. É incrível, é tudo que os fãs precisavam, essa franquia é sensacional e espero que melhore ainda mais, porque apesar do final, nos deixa a entender que não é o fim de tudo, mas por aqui, temos mais um filmaço.

Nota - 9,0/10

🚨 Spoilers e discussão sobre o futuro - continue se apenas já viu ou se não se importa 🚨

No final do filme o John Wick morre, e agora quem não assistiu e leu sem querer deve estar achando que é até zoeira, mas não, ele morre mesmo. Só que temos um quinto capítulo confirmado e aí fica uma grande dúvida: será que ele morreu mesmo? Porque só aparece ele caindo e depois o túmulo, mas nunca aparece o corpo em si morto, ou uma autópsia, alguma coisa, só se encerra assim, com o Winston e o King olhando para a lápide do protagonista. Aí temos a incerteza se ele vai ressuscitar, se ele nunca morreu ou se o próximo capítulo será um prequel que mostraria sua vida antes do casamento, mas acho essa última improvável porque teria que contratar outro ator ou usar rejuvenescimento no Keanu, e nisso acho que a essência da franquia iria para o escambau. Tem uma cena pós-créditos que mostra o Donnie Yen indo de base pela Akira, filha do chefe do Continental de Osaka (o qual é morto pelo Donnie) e isso deixa uma brecha para pensar o que vem por aí. Mas teremos spin-off sobre o Continental, teremos "Ballerina" com a Ana de Armas (literalmente de Armas se parar para pensar) e o Capítulo 5, então nos resta aguardar.

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