Crítica - Superman & Lois (2ª Temporada, 2022)
Um bom desenrolar em uma bela adaptação.
Após uma primeira temporada espetacular, que surpreendeu positivamente este que vos fala e resgatou a esperança em uma boa retratação de um dos meus heróis favoritos, cá estou para falar sobre a segunda temporada dessa série incrível. Faz muito sentido, inclusive, a CW ter retirado essa série do Arrowverse, porque ela faz algo que é quase impossível nessas séries da CW: manter o nível de uma temporada para a outra, já que são raros os casos. A série geralmente chegava no seu pico, no melhor de sua qualidade, e decaia bruscamente. É como "The Flash", que tem duas temporadas espetaculares, uma terceira abaixo que mantém o nível, uma quarta que cai, mas ainda era bom, só que o que vem depois é inassistível. Mesma coisa com "Arrow", que viveu de oscilações, duas temporadas boas, duas ruins em sequência, para uma espetacular, e depois voltar para a mediocridade. E "Legends of Tomorrow", que é minha favorita, duas temporadas sensacionais que são a segunda e a terceira, para vir a quarta que acaba com as melhores coisas dessas anteriores. O lado bom, é que Superman e Lois sabe o que tem mãos, o material, o potencial e as possibilidades, fazendo assim com que até alguns erros tornem-se ímpares para desenvolvimento da história e dos personagens, sabendo muito bem o que quer.
No segundo ano, acompanhamos a evolução de Clark Kent, o Superman (Tyler Hoechlin) em como ficar mais perto de sua família e protegê-la já que todos sabem que ele é o Superman. Jordan (Alex Garfin) ainda está apaixonado por Sarah (Inde Navarrete), mas descobre que ela o traiu durante o acampamento de verão e terá de lidar com as consequências de um coração partido. Jonathan (Jordan Elsass) está tentando um lugar no time de futebol americano do colégio, mas ao descobrir que seus adversários estavam sob uso de substâncias criadas a partir de Kryptonita X, ele decide fazer o mesmo. Enquanto Lois Lane (Bitsie Tulloch) decide investigar sobre Ally Allston (Rya Kihlstedt), uma coach que diz para as pessoas que existe um outro mundo exatamente igual, o qual elas se fundirão em breve com suas cópias do outro lado. Nessa seita alimentada por Ally, está Lucy Lane (Jenna Dewan), irmã de Lois, a qual brigou com a irmã e é uma fanática pelos ideiais de Allston. Quando descobrem que a existência desse outro mundo é real e que ele é bizarro, um outro Superman aparece, mas com os poderes ao contrário e uma pele esclarecida, com uma mensagem de que pode estar chegando um fim para as duas Terras caso não haja intervenção.
O foco dessa temporada começa com o Bizarro (interpretado pelo próprio Tyler Hoechlin, já que eles seguem a história do Bizarro ser de outro mundo igual ao nosso só que contrário), a gente pensa que ele será a grande ameaça da série, existe até uma certa construção, no entanto, a série nos pega de surpresa ao matá-lo antes da metade da temporada, fazendo com que o foco mude, mas sem sair do mundo bizarro. Há uma crítica clara nessa leva sobre líderes, o quanto o extremismo de um líder carismático pode levar as pessoas a ruínas. Existe esse culto da Ally Allston, cujo a própria é uma líder muito manipuladora, convicta em suas falas, sabe trazer o que fala com a verdade, nisso fazendo dezenas de "fiéis" aos seus ideais e absurdos ditos, colocando Lucy contra Lois sem a menor dificuldade. Essa crítica é bem feita, é sútil, mas sabemos que tipo de gente o programa quer atingir falando disso e da maneira que fala, mostra o quanto é fácil manipular um público vulnerável que se sente na necessidade de ter uma figura central para seguir, de ter uma visão messiânica sobre alguma coisa e ter fidelidade em uma verdade que pode ser falsa. Neste caso, realmente existia um outro universo, porém, acaba que Ally, em busca de seus objetivos absurdos, faz com que várias pessoas morram no caminho, especialmente as que a seguiam.
Essa temporada começa meio devagar, existem bons episódios, mas nada que empolguei tanto quanto a temporada anterior, mas quando engrena encaixa uma bela sequência de episódios. É legal acompanhar essa jornada envolvendo o Mundo Bizarro e a possível fusão dele com o universo que estamos acompanhando, como isso traz consequências pesadas e como tudo isto faz com que personagens evoluam, a história avance e cada um consiga terminar a season de um lugar diferente do que começou. É uma história muito móvel, dinâmica, que faz com que todos os personagens tenham uma evolução e seus pontos de partida se diferenciem das suas chegadas. Até personagens que eu considerava insuportáveis como o Jordan, o Kyle (Erik Valdez) e o vilão da última temporada, Tal-Rho (Adam Rayner) tenham excelentes desenvolvimentos, culminando em bons trabalhos de personagens sendo feitos. No entanto, apesar de eu ter visto que é um episódio bastante elogiado, achei meio broxante um episódio focado 100% no Mundo Bizarro e no Jonathan daquele universo. Apesar de ser uma boa referência ao Superboy, com uma personalidade que puxa mais para o Superboy Prime, eu achei esse episódio um saco e uma pausa desnecessária naquilo que vinha se construindo. O break da primeira temporada num episódio de flashback foi perfeito, justamente porque agrega muito mais ao arco de Lois e Clark, mas aqui eles desenvolvem uma variante fajuta do Jonathan que é derrotada no episódio seguinte.
O Superman, no entanto, continua excelente, é preciso mais uma vez elogiar o trabalho do Tyler Hoechlin no papel. Quando ele está trajado como Superman ser bastante diferente da personalidade do Clark é muito bem feito, e como ele mesmo diz: as pessoas vêem só quem elas querem enxergar. O Superman é visto com o olhar da esperança, da salvação, as pessoas olham para ele com um olhar de admiração, de respeito, de fã. Enquanto o Clark é visto como o caipira que é pai de família e gosta de ajudar as pessoas quando preciso. A maneira no qual trabalham ele, essa relação que ele constrói aqui com sua própria herança kryptoniana, seus poderes, sua relação com sua mãe biológica através da IA dela, a relação com Tal-Rho que se fortalece, a dualidade dele com o Bizarro, enquanto também traz seu lado humano, treinando Jordan, dando bronca em Jonathan, sendo o marido exemplar para Lois Lane, é muito bem feito, é uma bela visão sobre o herói e como ele consegue lidar com tudo ao mesmo tempo. Essa parte da paternidade consegue ser tão boa ao ponto de nós vermos como ele também tem falhas, com até Lois as vezes discordando da forma dele de agir. Mostra bem o quão humano ele é, mesmo não sendo por sangue.
Já o arco da Lois nesta temporada é relacionado com a sua irmã, Lucy. Tem toda a questão dela querer livrar a irmã dela dessa lavagem cerebral que ela sofreu, o quão a relação dela vive entre poucos altos e muitos baixos, pois as discordâncias delas afetam sua fraternidade em um nível tão grande que mesmo quando há lapsos de perdão, sempre vai ter algo que vai afetar de novo. Isso acaba sendo o arco do General Lane (Dylan Walsh) na temporada, já que ele precisa apartar todo esse fogo entre suas filhas. Agora vemos ele aposentado, mas não conseguindo curtir sua aposentadoria, ele se vê no meio de vários confrontos, além dos das suas filhas, o de Jordan em busca de treinamento e controle de seus poderes. Mas, voltando ao assunto da Lois, ela nessa temporada deu uma decaída da primeira, nos primeiros dez episódios da temporada ela tem certos momentos que ela torna-se tão insuportável quanto a Iris em "The Flash", porém, a diferença desta para as demais séries desse canal é que sabe utilizar de seus erros para melhorar seus personagens, assim fazendo com que Lois consiga se redimir e aprender lições com seus erros. Ela toma várias decisões questionáveis, mas que se justificam ao final, impactando na relação dela com Clark, mas principalmente com suas amigas, a qual ela sente perdendo a confiança ao longo da temporada.
Uma delas é Lana Lang (Emmanuelle Chriqui), que tem uma jornada bem interessante nesta temporada, pois ela torna-se a prefeita de Smallville durante o desenrolar dos episódios. Vemos ela lidando com essa responsabilidade de estar num cargo desse nível, como ela se sente insegura, como ela vai lidar com sua família e equilibrar isso com suas obrigações políticas. Sem contar que ela descobre que Clark é o Superman no meio da temporada, fazendo com que haja uma boa mudança na dinâmica entre ela e o casal protagonista. E eu curto muito como vemos a Lana como uma melhor amiga tanto para a Lois, quanto para o Clark, eu já falei isso no outro texto, mas é muito legal ver essa amizade sendo desenvolvida, acaba funcionando bem como ela é usada como alguém que eles podem contar e vice-versa. E aqui há um conserto muito bem feito quanto ao Kyle, o marido da Lana, que torna-se ex-marido no início da temporada. Eu achava ele insuportável na primeira temporada, porém, a melhor decisão criativa dessa série foi separá-lo da Lana, pois traz um peso muito maior quando vemos ele em tela. O arco dele é bastante crível, de um cara que traiu a esposa, se arrependeu, mas ela descobriu e não aceitou bem, fazendo com que ele sinta-se perdido pelo resto da temporada. É gratificante ver ele tentando se reconstruir, Lois não é só um homem se levantando depois da separação, é um personagem se redimindo da sua participação na season anterior, é muito funcional.
Mas, nem toda a família é bem feita, já que a Sarah continua insuportável. Essa menina fica pior a cada episódio, parece que a proposta dos roteiristas é decidir qual decisão dela irá te irritar mais ao longo da série. No melhor momento dela, ela ainda é insuportável, eu não consigo gostar dela. Ela é tão chata num ponto que me fez sentir pena do Jordan, que eu odiava mais do que ela até aquele ponto, quando eu percebi que eu senti pena de um moleque tão irritante por culpa dela, eu não consegui mais perdoar. Eu admiro muito a maturidade dessa série para falar sobre vários assuntos, como paternidade e maternidade, fraternidade, adolescência, questões pessoais, crescimento, casamento, é tudo muito bem desenvolvido, no caso da Sarah, tem a questão de saúde mental, depressão, ela não sabe bem o que faz, porém eles tentam usar isso de justificativa para as coisas mais insuportáveis que ela faz e não cola, pois é tão irritante que é impossível acreditar que ela faz tudo aquilo só por seus problemas de saúde mental. Ainda tentam criar um momento que seria, supostamente, a redenção dela, colocam ela cantando uma música autoral num bar, mas é tão ruim que eu não consigo aproveitar nenhum possível momento em que ela vai se redimir, até porque ela não irá, pois eu já assisti aos primeiros episódios da terceira temporada enquanto eu escrevo e ela piora, ela toma mais atitudes intakáveis.
Como eu falei, ela foi tão insuportável que me deu pena do Jordan, e aqui há um início de uma redenção para ele, mas esta sim, é crível. Na primeira temporada ele era insuportável, não dava para aguentar, todo momento que ele aparecia falando me dava vontade de pular a cena. No entanto, apesar dele ainda ter momentos insuportáveis, de tentar desafiar seus pais, ter aquelas crises de adolescente querendo saber mais que adulto, existem momentos que ele torna-se legal, como ele no modo vigilante salvando o Jonathan de um traficante usando kryptonita-x, os treinos dele com o avô, ou o momento dele derrotando os Supers do Mundo Bizarro na reunião da cidade, esta última foi um belo ensaio, pois é um momento que você realmente torce por ele. No entanto, entre os filhos do casal principal, o arco do Jonathan se destaca por aqui, já que tem toda uma questão de ascensão e queda. Ele começa a usar kryptonita-x como estimulante para jogar futebol, é pego, é expulso da escola, se recusa a entregar sua namorada que trafica essa kryptonita para sobreviver, tem que arrumar um emprego e etc. Ele é bem desenvolvido, colocam isso dele fazer uma coisa errada, mas utilizar deste erro para transformá-lo em alguém melhor, ele termina a temporada num ponto bem diferente do que começou, mais maduro e melhor desenvolvido.
O Aço (Wolé Parks) também é melhor trabalhado nesta temporada e torna-se um dos meus favoritos dessa série. O John Henry já é um ótimo personagem em todas as mídias, eu particularmente adoro ver ele sendo tão bem trabalhado em live action, com uma adaptação que é muito bem feita. O Wolé Parks é incrivelmente carismático, é difícil lembrar agora do personagem sem lembrar desse ator no papel, já que ele encarna a vibe de herói, trazendo um quê mais cool para ele. Ele tem uma vibe de tiozão legal, de paizão, de amigo confiável. Todo o desenvolvimento dele de recomeçar do zero num novo universo, esse set que é feito para sua reconstrução, é excelente. A série tem uma excelente adição, que é a filha dele, a Natalie (Tayler Buck), que começa na vibe da Sarah de ser chata, mas acaba que ela faz sentido ser assim, você entende o lado dela, e a maneira a qual ela é trabalhada, como ela vira realmente uma irmã para Jordan e Jonathan, como o desenvolvimento dela leva a ela se tornar uma super-heroína. Nos quadrinhos ela não existe, ela é uma adaptação da Natasha Irons, que é a sobrinha do John Henry, mas essa troca de parentesco, de nome, é tradicional da CW, mas acaba funcionando bem, faz mais sentido ser uma relação pai e filha do que tio e sobrinha nesse contexto, a mesma coisa da Iris ser irmã do Wally lá em The Flash do que tia dele.
No mais, não há muito o que falar, dá para cravar que "Superman & Lois" é uma série bastante constante, que sabe o que quer fazer. Dependendo das demais temporadas, acho que dá para entrar no ranking de melhores séries de heróis da história, apesar de ser da CW, onde a constância não é lá seu forte, acaba que essa é diferente, essa não é só uma boa série de super-herói, ela é uma boa série no geral. É abaixo da anterior, não vou mentir, o Tal-Rho é um antagonista muito superior ao culto da Ally, acho que não tem comparação (inclusive gosto muito da participação do Tal nessa temporada, o caminho para a redenção dele é muito bem construído) e creio que esta seja a principal disparidade. No mais, conserta erros da primeira temporada, consegue construir bem seus personagens, dar um caminho diferente para vários deles, entregar eles para uma terceira temporada diferente de como eles saíram da primeira e foram se moldando durante esta segunda. Boas adaptações de vários elementos dos quadrinhos, vários personagens sendo bem trabalhados, criando uma diferente visão, mas respeitosa e incrível, uma das melhores adaptações do herói possíveis, Tyler Hoechlin é o melhor Superman desde o Christopher Reeve, não tem nem que haver discussão disto.
Nota - 8,0/10
Nota por episódio:
2x1: "What Lies Beneath" - 8,5/10
2x2: "The Ties That Band" - 7,5/10
2x3: "The Thing in the Mines" - 8,0/10
2x4: "The Inverse Method" - 7,5/10
2x5: "Girl... You'll Be a Woman, Soon" - 8,5/10
2x6: "Tried and True" - 7,5/10
2x7: "Anti-Hero" - 8,5/10
2x8: "Into Oblivion" - 8,0/10
2x9: "30 Days and 30 Nights" - 8,5/10
2x10: "Bizarros in a Bizarro World" - 6,5/10
2x11: "Truth and Consequences" - 8,5/10
2x12: "Lies That Bind" - 8,5/10
2x13: "All is Lost" - 8,0/10
2x14: "Worlds War Bizarro" - 8,5/10
2x15: "Waiting for Superman" - 8,0/10