Crítica - Emília Pérez (2024)

Uma grande diarreia cinematográfica.

Bom, o Oscar se aproxima, essa época maravilhosa, a Copa do Mundo da Cinefilia, um momento de apostar, se divertir, torcer, rir, acabamos conhecendo filmes ótimos que dificilmente conheceríamos em condições normais, temos ótimas surpresas. Por outro lado, tem muita desgraça que também vemos, pois eu já passei tanta raiva aqui na página falando de filmes como estes, cada ano tem um que faz eu querer inverter minha pele para dentro dela mesma. Ano passado foi "Maestro" (2023), retrasado foi "Babilônia" (2022), e em 2021 eu até perdi as contas, teve "Apresentando os Ricardos", "Casa Gucci", "Os Olhos de Tammy Faye", "King Richard - Criando Campeãs", "Belfast", só para citar os principais. Em 2024, eu estava esperando qual que seria o que eu teria que passar pela tortura de assistir para trazer a crítica aqui para vocês, e claro, poder falar mal com propriedade. Bom, posso dizer que eu tinha certeza que era esse, desde o início. Um filme francês, que se passa no México, falando em espanhol, cantado em inglês, com dinheiro americano. Parece que os caras estão apelando para o diferente e tentar fazer das premiações parecerem inclusivas com filmes internacionais, mas isso não me engana, é só uma tentativa de Oscar por parte da dona Netflix que, felizmente, vai perder novamente, porque este filme é uma bela porcaria, e devo dizer, que o musical é dos males, o menor.

 O longa conta a história de Emília Pérez (Karla Sofía Gascón), uma mulher transsexual, que antes de sua transição era um chefão do cartel de drogas do México chamado de Manitas, que tinha uma família, sendo casado com Jessi (Selena Gomez) e tendo dois filhos com ela, e que forja sua morte antes de realizar o procedimento para não deixar rastros de sua vida passada, contando com a ajuda da advogada Rita (Zoe Saldaña) para tal. Anos depois, quando Emília decide que quer seus filhos de volta em sua vida, ela convence Rita a trazer Jessi e as crianças à sua casa, se passando por uma prima de seu antigo alter ego. Porém, à medida que a história avança, vamos descobrindo quanto de Emília e de sua vida criminosa realmente se foram, e quanto ainda vivem dentro de sua alma. Com direção de Jacques Audiard, um diretor francês com um nome meio conhecido, eu nunca vi nenhum de seus trabalhos, mas ele é bem quisto. Agora, meu mano, isso aqui é uma batida geográfica, é um filme com personagens mexicanas, feito com dinheiro dos Estados Unidos, falado em espanhol, cantado em inglês, passa pela Ásia, Londres, e representa a França no Oscar. O que isso significa? Pegaram todos os países que a Academia gosta (ou que finge que gosta) e juntaram num só, criando um frankenstein esquisito no que ele quer ser. Ora fala espanhol, ora vem músicas em inglês. Ora quer parecer mexicano, ora as atrizes falam coisas básicas do inglês com uma pronúncia perfeita.

É um musical, e eu não sou tão hater de musical como as pessoas geralmente são, um dos meus filmes favoritos é "Amor, Sublime Amor" (2021), que é um exemplo a ser seguido de como fazer uma boa obra dentro do gênero, não só ele, como uma leva que veio na mesma época, até ano passado tivemos o ótimo "Wonka" (2023). Porém, neste caso, estamos falando de um musical tenebroso, que é ruim dentro de sua proposta e, no geral, é insuportável, pois vem uma música atrás da outra, são literalmente sequências de músicas. Tudo bem, poderia dar certo, mas é impressionante como TODAS as músicas são ruins, as que mais se salvam são mais pela melodia bem feita, por um instrumental massa, mas, cara, as letras são horríveis. Tem músicas que se preocupam mais em ser uma palestra das pautas que o longa defende, de um ativismo barato e forçado, do que realmente ter uma letra que se encaixe na melodia em que está sendo tocada. E parece que cada coisinha mínima na trama torna-se um motivo para vir uma música e é uma pior que a outra, os caras colocam figurante para cantar, mendigo pedindo esmola, doutor explicando procedimento, é tudo uma desculpa para números musicais incessantes e mal encaixados. Um ou outro tem boa coreografia, mas tem dois números que são as duas piores transições da trama para a música que eu já vi em um musical na minha vida.

Fora as músicas, a trama não existe, parece algo sem direção, sem propósito, sem caminho. Como eu disse, ele inicia pautas que ensaiam ser discutidas, mas a trama literalmente não faz nada com isso. Transição de sexo? é um artifício narrativo, não há algo desenvolvido entorno disso, não existe uma mensagem em volta sobre os benefícios para a pessoa que a realiza, os impactos às outras pessoas, é mais usado para criar uma tentativa de palestrinha que não acontece. Tentam trazer à tona corrupção, traição, assuntos políticos, mas nada cativa, nada tem impacto, são palavras vazias ditas de maneira bonita para parecer que quem fez isto está realmente se importando com os assuntos apresentados em tela. A real é que tudo isso que é colocado não passa deles querendo aparecer, é a Netflix querendo a todo custo um Oscar, o diretor e as atrizes no mesmo barco e, olha, pelo andar da carruagem, infelizmente vai acontecer mesmo, ainda por cima sendo premiado do nosso orgulho nacional "Ainda Estou Aqui", e olha, ele ser um competidor direto do nosso BR não impactou em nada minha experiência com o longa, pois, no fim, é isso que eu acabei de falar. Tentam trazer pautas atuais, se dizendo progressistas, mas na realidade é só um Oscar bait descarado que coloca tudo que a Academia gosta num filme (e que tenta gostar, como mexicanos) para conseguir uma aclamação artificial.

Artificial é a palavra exata que define esse filme, nada aqui é genuíno. Não há emoção, não há sentimento no que é mostrado, no que é dito, são imagens vazias, falas vazias, músicas vazias, é um vazio imenso. Assistir isso e ver meu vizinho rebocando parede é a mesma coisa, a diferença é que meu vizinho rebocando parede tem emoção, tem a adrenalina, o desgaste, a necessidade de uma finalização digna, coisa que não existe aqui. Tudo que acontece é um grande saco de vazio, é a mesma coisa que comer um pastel de vento, mas a massa de pastel pura tem sabor, tem charme. Isso aqui não é nada, existe uma tentativa de estilo narrativo, de autoralidade, mas tudo isso não passam de atitudes pretensiosas, pedantes e arrogantes, pois é uma daquelas obras que você sente na raíz dela que quem está fez acredita estar melhor do que realmente é. Tem momentos que são bizarros, inacreditáveis, você não acredita em certas coisas que acontecem em tela. A gota d'água é o epílogo, onde mostra que Emília Pérez se tornou uma espécie de Santa. MERMÃO, VAI TOMAR NO CENTRO DO OLHO DO SEU C*! O filme não tem a mínima construção para isso, não justifica em nenhuma das ações da personagem que isso seja plausível, que realmente foi importante para um ser daquele longa. Cara, não dá, simplesmente não dá...

É preciso ainda falar desse trio de atuações que foi tão elogiado, que ganhou prêmio conjunto de Melhor Atriz no Festival de Cannes... Com todo respeito, não é possível que são as mesmas atuações que eu vi aqui. Karla Sofía Gascón tem até um trabalho admirável, interpretando duas versões da mesma pessoa, realmente é bem feita essa transição de Manitas para Emília, mas, meu mano, que performance bem broxa. As músicas que dão a ela são péssimas, as piores do longa, ela cantando causa um incômodo por ser alguém com uma voz mais grossa tentando emular uma voz mais fina, numa tentativa de agudo, mas que só incomoda pela chatice mesmo, e de resto é pífio, é ridículo, o desenvolvimento da personagem é terrível, mal executado e parece que não há nenhuma consequência real o que ela faz até o final. A Selena Gomez então, é tenebrosa, realmente ruim. A cena dela chorando em frente à televisão é nível websérie da ViihTube. Além de outras cenas dela com expressões claramente forçadas, uma tremedeira bizarra, que remete direto e não propositalmente a uma novela mexicana, é tão desnecessariamente dramática que causa um sentimento negativo. Zoe Saldaña é a melhorzinha, ela tem a melhor voz (nos seus números) e as cenas mais interessantes, mas também todo o resto não colabora a seu favor. Inclusive, ela entrar nas premiações como coadjuvante é bisonho, ela aparece mais que a personagem-título, tem mais destaque e o longa termina com ela. Soa como trapaça de categoria...

Sinceramente, não tem mais o que falar por aqui, é algo bizarro, que faz tempo que eu não sentia, um ódio de levar sangue aos meus olhos por um filme. Eu assisti a muita coisa ruim nesse ano de 2024, desde filme com incesto, Mickey Mouse assassino, Megamente 2, Madame Teia, filmes gerados por algoritmo na Netflix que tem o mesmo estilo em tudo, Coringa 2, mas nenhum desses me deixou com uma raiva verdadeira. Sabe o porquê? Porque estes são tratados como merecem, como os verdadeiros lixos que são, enquanto "Emília Pérez" é recompensado positivamente, com recordes, indicações, em uma das provas de que o Oscar tem muita campanha safada por trás. É inacreditável, é impossível que algo assim teria tanta repercussão sem o dinheiro da Netflix envolvido. É um filme que se passa no México, dirigido por um francês e estrelando americanas, é óbvio que isso impacta, um diretor mexicano, ou de raiz latina poderia ter feito disso um bom longa, mas aqui parece que é uma junção de tudo que essas premiações querem premiar e soa como algo artificial, sem alma, sem coração e sem o mínimo de amor ao cinema, parece uma carta de ódio aos meus olhos e ouvidos, foi uma torturante experiência de duas horas que eu espero que nunca mais se repita em hipótese alguma. Uma vergonha, uma desgraça, uma vergonha para a humanidade produzir um lixo tóxico deste tamanho.

Nota - 1,0/10

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