Crítica - Operação Natal (Red One, 2024)
Nos últimos anos venho trazendo especiais de Natal para a página, trouxe já vários clássicos e em grandes quantidades, como em 2022, onde fiz textos para cinco filmes, incluindo "Duro de Matar" (1988), "Esqueceram de Mim" (1990), "O Grinch" (2000) e "A Felicidade Não Se Compra" (1946), e ano passado, onde trouxe mais quatro, com "Sexo, Drogas e Jingle Bells" (2015), "Simplesmente Amor" (2003) "Noite Infeliz" (2022) e "Edward Mãos de Tesoura" (1990). Todos filmes famosos, que trazem diferentes vertentes do feriado e que são muito assistidos nessa época. No entanto, nem tudo que é bom dura, já que este ano não deu para fazer um grande especial, e acabou que sobrou para eu fazer um texto de um lançamento, que, olha, quando eu soube da existência de um filme como esse, com uma premissa como essa e estrelas como estas que estampam o pôster, eu jurava que era um original Netflix, pois tem toda uma carinha daquela lavagem de dinheiro básica do streaming, ainda mais com o maior lavador de dinheiro de Hollywood: The Rock. Mas, por incrível que pareça, é da Amazon, ou seja, trocamos o seis por meia dúzia. E, olha, parece ruim, pela capa dá para perceber que não é lá grandes coisas, parece mais uma daquelas bizarrices blockbusters que os caras levantam a bola para ver se alguém compra. Bom, pelo visto não foi comprado, pois até existia um potencial para ser divertido, mas acaba que se perde em suas próprias enrolações e torna-se algo bastante esquecível.
Jack O'Malley (Chris Evans) é um famoso criminoso e hacker, chamado de "O Lobo", e ele sempre foi cético em relação às coisas, especialmente quanto ao Papai Noel e ao Natal. No entanto, o que ele não sabia,
é que era verdade e o Bom Velhinho realmente existe. Nick (J. K. Simmons) tem seu trabalho de entregar presentes e alegrar as pessoas há séculos, sendo protegido pela E.L.F, a liga de seguranças do Polo Norte, liderada por Callum Drift (Dwayne Johnson), o chefe de segurança, guarda-costas pessoal e melhor amigo do mascote da Coca-Cola. Quando o Noel é sequestrado por Gryla (Kiernan Shipka), a Bruxa do Natal, que pretende apagar todas as pessoas da Lista dos Malvados e tomar o lugar do velho, a M.O.R.A, a agência de proteção a seres mitológicos, liderada por Zoe (Lucy Liu) contata Jack para rastrear o barbudo. Nisso, Jack e Callum formam uma dupla em busca de salvar o Natal antes que seja tarde. Cara, por essa trama, é muito oito ou oitenta, poderia tanto ser aquele blockbuster divertido que surpreende pela originalidade e acaba cativando, ou poderia ser uma das premissas bizarras que só se comprova ser bizarra e sem objetivo. Acaba que para mim cai mais para o segundo do que para o primeiro, já que não convence em nada, até começa interessante, mas vai ficando cada vez mais extenso em situações que não convencem, em um drama besta e um buddy cop sem graça.
Não é de todo mal, ele tem seus momentos divertidos, mas a sua fórmula está tão batida que não cativa mais, pois eles não fazem o mínimo esforço para mudar, realmente parece uma lavagem de dinheiro sem tamanho. O diretor é Jake Kasdan, que é o responsável pelos novos "Jumanji", que quem é o protagonista? Exatamente, The Rock. E a vibe acaba que é quase a mesma dessa nova leva de Jumanjis. Eu gosto do primeiro, o segundo eu nunca vi até o final, mas este aqui é bem pior que os outros dois. Claramente há muita coisa ali feita às pressas, tem momentos onde dá para perceber que alguns atores nem estavam juntos no set e a montagem torna-se um remendo gigantesco, me lembrando outro filme com Chris Evans, o execrável "Ghosted - Sem Resposta" (2023), que é um dos pontos onde mais claramente dá para notar o amadorismo e a pressa daquela produção, é só mais um produto descartável para streaming, onde foi feito rapidamente numa espécie de blockbuster fast food, que é feito rápido, sendo um entretenimento vazio que não convence por se parecer demais com qualquer outra coisa. Inclusive, este me lembrou muito "Alerta Vermelho" (2021), que também tem o The Rock, mas aquele lá é bem mais feito direito, apesar de também ser uma adição de catálogo com nomes de peso, lá funcionava, tinha o Ryan Reynolds carregando nas costas. Aqui, tentam colocar o Chris Evans no mesmo papel, mas só me deixou triste vendo o rumo que a carreira do Capitão está tomando.
Eu gosto de algumas decisões criativas, eu gosto de algumas visões que eles trazem, eles pegam várias coisas e fazem uma adaptação bem interessante. Eu gosto desse negócio da agência de proteção às figuras mitológicas, é uma visão artística bem interessante que poderia ter sido melhor explorada em um contexto mais agradável, onde isso poderia ser mais do que é, é algo que não chega a ser totalmente original, mas a maneira que eles trabalham poderia ter tido uma abordagem mais legal. O conceito da E.L.F é também bem legal, existem os elfos, tudo mais, mas essa criação de uma ordem de segurança para o Papai Noel é muito massa de ser explorada, ainda mais com a variedade de espécies que eles colocam nisso, tem pinguim hippie antropomórfico, urso polar bombado antropomórfico, cara, é um conceito tão massa e fantasioso, mas é trabalhado de uma forma qualquer, não existe surpresa em ter um ursão gigante ali, o Chris Evans até se assusta de primeiro momento, mas a forma natural na qual é tratada chega a ser bem esquisito, ainda mais sendo um urso latino, que poderia gerar um escopo bem mais amplo de piadas por ser um bicho com sotaque, mas parece que nem sequer pensaram nisso. A direção as vezes dá uma declinada, especialmente quando começa a aventura dos dois, onde se inicia uma longa barrigada, parece que eles vão empurrando o longa de qualquer jeito, as piadas e as coisas que em teoria eram cômicas acabam não funcionando, é tudo feito de qualquer forma para chegar a tempo do Natal.
Pô, eu gosto muito do Chris Evans, marcou minha adolescência interpretando o Capitão América, mas, meu mano, ele precisa trocar urgentemente de empresário. Ele é um bom ator, já interpretou ótimos personagens, especialmente em comédias, mas todos seus últimos filmes ultimamente têm sido ruins, verdadeiramente ruins, eu fiz crítica de praticamente todos estes por aqui: "Agente Oculto" (2022), o já citado "Ghosted", "Máfia da Dor" (2023), os três são de um nível tão baixo em qualidade e este é mais um que se junta a essa lista. Ele é muito carismático, isso é inegável, no entanto esse carisma não é suficiente para que salve o filme, nem que o carregue, já que às vezes soan forçadas várias ações que ele toma na narrativa. Tipo, a primeira cena, para mostrar que ele é mal, mostra ele invadindo um local, tacando fogo em tomada, roubando um crachá, isso já era o suficiente para entender que ele não é flor que se cheire, mas aí colocam ele roubando pirulito de um bebê, e eu pergunto: para que? Precisava? Não! E além do mais, o resto do longa, ele serve como aquele personagem imbecil cujo fica perguntando para haver as explicações para ele. Ainda colocam um filho para ele, onde a relação dele com esse moleque é bisonha, já que é óbvio que ele é um péssimo pai, que não é presente, que ensina coisas erradas, mas se fosse só uma cena disso no início, funcionaria. Agora, meu mano, esse moleque aparece o filme todo e ainda tem função na trama, eu fiquei de cara, porque é muito esquisita a inserção dele na história, ainda fazendo com que automaticamente o vagabundo do pai dele torne-se uma pessoa boa em uma mísera cena.
E o The Rock... Bom, interpreta aquele velho personagem de sempre, o Dwayne Johnson. Cara, não tem muito o que falar, é exatamente mais uma versão dele sendo ele mesmo e já era, não existe complexidade, não tem arco de personagem, a personalidade dele é aquela mesma do cara bom, bad-ass, meio burro as vezes, mas que serve para sair no soco com os outros. Tentam colocar até uma motivação para ele, já que ele está prestes a sair de sua função no Polo Norte pois ele está entristecido que o espírito de Natal está se perdendo, que tem mais gente na lista dos malvados do que na lista dos bons, que isso deixa ele muito depressivo e que está na hora dele ser substituído para alguém que tenha paciência com gente má. Que pessoa boa que é o The Rock, hein, meu mano, que ser humano puro, nem em filme ele consegue ser diferente do que ele é na vida real, ser esse paizão gente fina, é o único elogio que tem para ser feito. Ele e o Chris Evans tinham tudo para ser uma dupla legal, mas a interação e a química deles é claramente atrapalhada por em vários momentos ser notável que eles não estavam juntos em cena, dá para perceber o chroma key bisonho atrás deles, o enquadramento na câmera, é tudo muito falso e artificial.
Uma coisa que eu gostei foi o J. K. Simmons como Papai Noel, é um dos grandes destaques do longa, ele realmente combina com o bom velhinho, numa versão mais parruda, bondosa e divertida, que traz um senso de esperança, de magia, é muito legal ver ele em tela e dá uma abrilhantada quando ele aparece. Tem a Lucy Liu, fazendo uma espécie de Nick Fury deste filme, mas também não passa disso, é uma atuação que ela tá fazendo para pagar aluguel. Tem uma vilã, interpretada pela Kiernan Shipka, a tal da Gryla, a bruxa do natal, mas ela não apresenta ameaça nenhuma, é uma vilã bem qualquer coisa, bem genérica, com um plano bem mequetrefe, ela na verdade só serve para ficar com um visual preto e se tornar o rosto daquele meme da "gótica sulista" que rejeitam pela pureza da "raça maranhense" (no caso, obviamente, ela é a gótica sulista). Tem alguns destaques, eu acho o CGI muito bom, esse negócio mais antropomorfizado de alguns animais, os pinguins, o urso polar gigante, as criaturas da mitologia natalina que aparecem também. O design de produção é bastante interessante, apesar de muitas vezes utilizarem bastante chroma key, eles tem algumas ideias bacanas para cenários, especialmente o Polo Norte.
Vou encerrar por aqui, pois não é um filme que tenha muito a ser dito, nem merece que tenha muita coisa a ser dita. Na realidade, ele não dá muito material que dê para ser falado, o que eu não falei sobre ele aqui é totalmente redundante. "Operação Natal" é um filme vazio, tão vazio que eu tive que me forçar para tirar leite de pedra, pois não tem conteúdo, não tem diversão, é apenas mais uma obra artificial feita com o objetivo de preencher lacunas de calendário e aderir ao Prime Vídeo um original com estrelas como The Rock e Chris Evans, pois como filme, ele nem sequer tenta. Começa bem, começa divertido, mas depois vai se perdendo e o que poderia ser ao menos divertido para passar o tempo, acaba sendo maçante, difícil de terminar e um saco, utilizando-se de todos os clichês bizarros e até de alguns que nem se encaixam na trama, como essa relação pai e filho esquisita e totalmente qualquer coisa. No mais, as únicas coisas realmente boas aqui são o J. K. Simmons, que é um ótimo Papai Noel, a Lucy Liu e a Kiernan Shipka estão bem bonitas (só bonitas mesmo, as atuações são para pagar aluguel atrasado) e a piada da Mulher Maravilha. Não é dos piores que eu vi esse ano, mas é ruim, é bem fraquinho.
Nota - 5,0/10