Crítica - Belfast (2021)
A pieguice Oscar Bait do ano.
Desde que o mundo descobriu sobre a existência desse filme, já começaram as comparações com "Roma" do Alfonso Cuarón só pelo pôster em P&B com a fonte do título amarela, porém, vendo o filme, as comparações não foram atoa, falo disso mais detalhadamente em outro parágrafo, mas na questão técnica e até de storytelling, é idêntico à "Roma". O filme é dirigido por Kenneth Branagh, um ator e diretor que todos sabemos do seu talento e do seu potencial, mas que nunca alcançou ele e praticamente, todos os seus filmes que não são baseados em obras de William Shakespeare são bombas, aqui ele deixa seu talento mais uma vez de lado e gera um dos filmes mais indecisos, desorganizados, chatos e esquecíveis do ano.
É um filme que não sabe o que que ser, o Branagh diz abertamente que o filme é baseado em sua infância, mas acho que ele não entendeu que não dá para botar tudo da sua infância em apenas uma hora e meia de filme, porque tem muita coisa no filme, o filme não sabe se quer contar a história do casamento dos pais do protagonista, se quer contar a paixão do protagonista pelo cinema ou se quer contar sobre o conflito civil entre católicos e protestantes ocorridos na Irlanda do Norte no final dos anos 60, ele quer contar essas três histórias, mas nunca chega em um equilíbrio entre as três e o filme parece desconjuntado, uma cena tem uma vibe completamente diferente da outra e fica muito estranho.
E cara, é impressionante como o Branagh consegue deixar o filme lento de uma forma pejorativa, porque parece que o filme dura uma eternidade, cinco minutos de filme parecem vinte, parece que eu vi esse filme por umas cinco ou seis horas sendo que ele tem 98 minutos, a história do filme (se é que tem uma) não é envolvente, não é agradável, é só dane-se mesmo, você não sabe o que tá acontecendo, toda hora é uma trama diferente e fica difícil de acompanhar, olha que um dos meus cinco filmes favoritos é um filme nesse estilo de não ter uma trama definida, mas aqui não dá, é mais bagunçado e desorganizado que o Barcelona de Ronald Koeman.
Quando eu falo que o filme é igual ao "Roma", é porque é realmente IDÊNTICO em várias partes, sem exagero, parece o mesmo filme só que britânico e sem a empregada: o estilo de filmagem é o mesmo, os enquadramentos são estranhamente idênticos, as atuações novelescas por parte da maioria do elenco é igual, o design sonoro é igual, até o clímax de ambos os filmes são parecidos, a diferença é que aqui a cena tem no máximo uns quatro minutos, sem esquecermos que ambos levam o nome do lugar onde o filme se passa cujo é o mesmo que o diretor foi criado quando criança. Obviamente isso não torna esse filme aqui ser ruim, mas isso nem dá para chamar de inspiração, é quase um remake mesmo. Vocês sabem, eu não tenho problema com remake, inspiração e tal, o problema aqui é que "Roma", apesar de não gostar, é feito com muito amor à obra e ao cinema, enquanto aqui é feito com objetivos gananciosos e ambiciosos de uma forma superficial para ganhar prêmios prestigiados em Hollywood, sem dar valor nenhum à arte que o cinema é e o que ela representa.
Porém, não é um filme de todo o mal, tem coisas boas nele. Eu gostei muito do soundtrack do filme, tem músicas muito boas, que fazem uma boa contextualização do ano que o filme se ambienta, são músicas muito boas que realmente melhoram o filme. E eu gostei também bastante da atuação do Jamie Dornan, um cara que é zoado por ter feito o Christian Grey em "50 Tons de Cinza", mas que eu defendo que em algum lugar ele tinha algum talento como ator e aqui ele se prova um bom ator, ele tem várias cenas boas, ele apresenta bem o contexto do personagem, ele o caracteriza bem, mostra bem o arquétipo do pai de família trabalhador porém ausente e a cena dele cantando e dançando é um absurdo, ele merece aí uma nomeação ao Oscar, na minha visão não é nenhum absurdo.
As outras atuações do filme beiram à novelesca, literalmente parece um novelão da Globo, dava até para fazer uma escalação de elenco com Globais que se botassem no lugar dos atores do filme, não faria nenhuma diferença e talvez o filme tivesse até um saldo mais positivo, não duvido nada. Se trocassem a Caitriona Balfe pela Alinne Moraes, a Judi Dench pela Cláudia Raia e o Ciarán Hinds pelo Alexandre Nero, era capaz de ficar melhor do que no próprio filme, porque parece que esses atores só foram ali para fazer hora extra, é impressionante a falta de vontade desses atores e o quanto eles forçam em algumas cenas para beliscar uma indicaçãozinha ao Oscar.
Tava demorando, mas o desse ano chegou, "Belfast" é um clássico Oscar Bait, um filme pessoal, com criança, atores bonitos de olhos azuis, P&B, sobre valor familiar, de época, que vai ganhar o Oscar de melhor filme e entrar no dia seguinte para o hall de piores filmes a ganhar a estatueta e começar um hate generalizado para cima dele. É um filme que não parece artístico, apenas uma superficialidade qualquer para ganhar o carecão nu de ouro, que na verdade mais parece um remake britânico de um filme considerado injustiçado no Oscar. Tem seus méritos, tem uma atuação espetacular do Jamie Dornan, tem uma trilha maravilhosa, recomendo verem e tirar as próprias conclusões, porque as minhas não foram muito positivas.
Nota - 4,0/10