Crítica - Scream 4 (Pânico 4)
A sociedade adoecida aos olhos de Craven
Sendo o mais sincero possível com vocês, até a parte do festival de filmes eu tava achando o filme um saco, sem emoção e parecia que seria um filme hipócrita igual ao anterior onde o legal do filme estaria apenas em ver as pessoas sendo mortas de jeitos extravagantes, mas a partir da parte da Gale invadindo o festival, o filme fica em uma crescente gigante e não desce em nenhum momento, é um absurdo o quanto o Wes Craven se recupera do último filme para cá, claro, 11 anos de diferença, do filme anterior para esse mudou muita coisa no mundo, o acesso à informação e à arte ficou muito maior e como consequência disso a obsessão das pessoas com coisas fúteis foi aumentando, uma delas principalmente a busca pela fama.
No filme Craven faz novamente uma crítica social, dessa vez diretamente à internet, não uma dessas críticas de vovozinho conservador preocupado, uma crítica com nexo, pois é logicamente visível que a sociedade se mostrou mais doente cada vez mais desde o aumento da acesso à internet, se tu entrar em qualquer rede social é um show de horror de burrice, falsidade, opiniões mal formadas e principalmente a busca pela fama, essa última o principal objetivo de críticas de Craven; Jill, a vilã do filme é apenas uma garotinha invejosa, cresceu numa família desde sempre assediada por conta de ser a mesma de Sidney e usa a filosofia de que seu sucesso será a sua maior vingança, pois para ela nada importa, ela vê suas duas melhores amigas e sua própria mãe sendo mortas e não faz nada para não estragar o seu momento de glória.
Jill com certeza é a melhor Ghostface da série, a psicopatia nela é imprevisível pois sempre vemos ela como uma garota rebelde, mas que parece ter boas intenções, aí quando vem a cena de revelação do Ghostface é assustador, pois é realmente inesperado, mas vendo a motivação dela faz sentido ela ser a vilã, deve ser triste viver sendo assediada por causa de uma parente que não tem nada a ver com você e eu gosto como é mostrada a doença dentro dela além de matar as pessoas, ela é doente pela fama ao ponto de se esfaquear, se descabelar, se atirar em vidro (duas vezes) e se desmaiar só para sair como uma heroína sobrevivente, isso é sensacional porque demonstra mais resistência por parte do vilão e causa mais medo em quem assiste.
O filme meio que se auto assume como um remake do primeiro filme e um reboot da franquia, tentando meio que começar novamente parecido com o original mas como diria o Randy: "a primeira regra de um remake é respeitar o original" e com o desrespeito de Jill e Charlie mudarem a história botando os newgens de Sidney e Randy como vilões é o acaba gerando na morte de ambos e na falha do plano dos dois de serem as vítimas famosas, isso é ótimo pois mostra que o que é aprendido nos anteriores com o Randy não é esquecido e que a franquia não precisa se contradizer para fazer algo diferente.
Se você leu meu texto sobre "Pânico 3" sabe que eu disse que o grande erro do filme era deixar a Sidney de lado por muito tempo e dar destaque até demais para Gale e Dewey com a Courteney Cox e o David Arquette no auge do alzheimer de talento e aqui até parece que vai ser isso, mas o Craven no meio do filme tira os dois de cena e dá mais destaque para o grupo de jovens, desenvolvendo-os, mostrando suas ambições, suas motivações, seus passados e seus conflitos, a gente começa a se importar com eles e o mais importante de tudo é que os personagens são suportáveis, são legais e que não me dão vontade de enfiar uma caneta no olho quando abrem a boca igual são os personagens do antecessor.
A Sidney continua perfeita igual nos dois primeiros, aqui vemos uma Sidney mais madura, confiante e corajosa, uma Sidney que ainda contra-ataca e agora também ataca por conta própria, que superou os traumas causados pelos primeiros dois (ou quatro) Ghostfaces, além de ter também a Neve Campbell em uma atuação mais segura, mais focada em fazer um bom papel dramático e consegue, ela consegue passar todas as sensações da Sidney de medo, de tensão, de coragem, de bravura e também até uma postura mais bad-ass, ótima atuação.
Para mim, "Pânico 4" bate de frente com o primeiro em questão de ser o melhor da franquia, esse aqui só perde porque no primeiro cada minuto é perfeito e aqui o filme peca nos primeiros 50 minutos, mas depois é uma escada rolante subindo infinitamente, o filme tem um segundo e um terceiro ato perfeito, assustador chocante, reflexivo e brutal, sinceramente maravilhoso, um dos melhores filmes de terror já feitos.
Nota - 10/10