Crítica - Não Olhe Para Cima (Don't Look Up, 2021)
Tão automático quanto um carro.
A cada dia mais, a indústria do cinema prova que não aprende nunca com seus erros, um desses grandes erros é ter a prepotência de achar que se juntar vários atores incríveis no mesmo filme vai dar certo, sendo que deu certo muitas poucas vezes pegar oito ou nove superstars, juntar e fazer funcionar, acho que um dos poucos exemplos que se salva é "O Poderoso Chefão" (antes que falem da Marvel, é importante lembrar que foi a Marvel que transformou seus atores em superstars), mas em maioria, juntar vários atores talentosos e estelares geralmente gera resultados questionáveis, aqui é mais um exemplo da lista, olha o elenco desse filme: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Timothée Chalamet, Mark Rylance, Jonah Hill, Ariana Grande, Tyler Perry, Cate Blanchett, Rob Morgan, Ron Perlman e Himesh Patel, geralmente quando juntam tantos atores nesse nível um quer aparecer mais que o outro sempre tentando se destacar mais e também precisa equilibrar as aparições e isso atrapalha muito no storytelling do filme, aqui não é diferente, explico melhor depois.
Na direção um cara que é acostumado a trabalhar com grandes elencos, Adam McKay, que é meio babado por uma galera mas que na realidade é um diretor medíocre que teve um golpe de sorte ao dirigir "A Grande Aposta" (que mesmo assim, é um filme divisivo), ele tem sim grandes elencos em suas mãos desde sempre, mas são no máximo cinco grandes atores com destaque, aqui são 12, ele se atrapalha muito em querer fazer um filme perfeitinho e dar um espaço de tela coreto para cada um, mas isso atrapalha muito na maneira que ele conta a história porque sempre precisa ficar lembrando que tal personagem existe, que tal personagem tem tal motivo, que tal personagem é isso e aquilo, isso deixa o filme meio atrapalhado e no final parece um filme feito por fazer em modo bem automático, é como se fosse um trabalho em grupo na escola, você passa horas fazendo e no final ninguém no grupo se entendeu bem, sai algo ruim e leva um zero bem redondo, acabei de resumir o filme aqui.
O filme tem várias referências políticas e sociais válidas, utilizando delas de forma humorada, como a zoação do fato do povo ligar mais para relacionamento de famoso do que para coisas que botam as próprias vidas em risco, críticas ao modo que o governo e os ricos só ligam para catástrofes quando percebem que pode gerar lucro monetário para eles, isso usado como piada é sensacional, mas como um subtexto político dentro da trama é algo pobre, o filme é visivelmente inspirado no clássico "Dr. Fantástico" de Stanley Kubrick - um filme que critica como nós botamos seres idiotas no poder para tomar decisões que afetam diretamente nossas vidas, basicamente é a mesma crítica só que posta de uma forma muito mais mal apresentada e mal desenvolvida e de uma forma sem tanto a complexidade apresentada por Kubrick, aqui o filme se utiliza de momentos humorísticos estereotipados e sem graça para fazer essas críticas, em momentos que o timing da situação não permite e fica algo anticlimático e até meio confuso. Em resumo, no papel a discussão que o filme quer apresentar e a crítica que o filme quer passar é sensacional, mas dentro do filme em si ficou muito confuso.
O filme ainda apresenta várias coisas que parecem importantes para a trama mas no final não dá em nada, como o relacionamento do Dr. Randall (Leonardo DiCaprio) com Brie (Cate Blanchett), que é apresentado, desenvolvido, mas que no final não serviu de nada, tá lá jogado no meio da trama, parece até que o próprio filme esqueceu da existência desse casal em algum momento. E também é um filme feito todo de forma automática, todo mundo vai lá, faz o trabalho de forma canastra e volta para casa, ninguém tá dando o máximo aqui, quem se salva por incrível que pareça não é Meryl Streep, Cate Blanchett nem Jonah Hill, mas sim o Timothée Chalamet no papel de um skatista maconheiro que é evangélico - basicamente o Monark só que com 20 anos e estadunidense.
É uma pena o elenco estar tão desinteressado porque a sátira nos personagens é muito boa, a sátira que o filme faz com os personagens é incrível, cada personagem é obviamente baseado em personas da nossa vida real, tem a presidenta Meryl Streep que é uma patriota, negacionista, gananciosa e fascista que utiliza de seu poder para dar cargos ao seu filho de forma nepotista (qualquer semelhança com um tal presidente com físico de atleta é mera coincidência), tem o personagem do Mark Rylance que é basicamente um what if? de como seria o filho do Elon Musk com o Zuckerberg, a sátira dos jornalistas sensacionalistas da TV, é verdadeiramente bom essa sátira.
O único ator que eu considero que está bem no filme como atuação mesmo é o Leo, porque ele simplesmente taca um dane-se danado e faz algo que eu chamo de "invocação do Nic", que é quando um ator começa a ficar irritado do nada no meio de uma atuação e começa a atuar com um overacting exagerado que é genial, aqui ele faz isso mais de uma vez e os resultados são muito engraçados, porque ele não tá levando a sério, mas ele faz parecer que tá e isso é incrível, parece até improvisado pela reação dos outros atores no set, não é a melhor atuação da carreira dele, obviamente, o auge dele já passou, mas é uma atuação que para um filme de comédia funcionou muito bem.
Sinceramente eu esperava tão pouco de "Não Olhe Para Cima" que acabei me surpreendendo com algumas coisas, não é um filme ruim, é até bastante divertido, tem várias piadas engraçadas, tem o Leonardo DiCaprio sendo possuído pelo espírito do Nicolas Cage, mas é um filme que se perde muito em seu storytelling sempre tendo apresentado novas relações, novas motivações, novos objetivos, mas que são esquecidas ao longo da trama. Eu me diverti, não vou mentir, mas também não achei um filme realmente bom, é um filme mediano no sentido mais literal da palavra, vale a pena ver para tirar as próprias conclusões.
Nota - 6,0/10