Crítica - King Richard - Criando Campeãs (King Richard, 2021)

Romantização superficial de pais controladores.

Cinebiografia é um estilo de filme difícil de ser trabalhado, pois existem dois extremos nesse sub-gênero: ou você trata o cinebiografado como uma pessoa perfeita e sem defeitos, ou você trata o cinebiografado sem máscaras, mostrando os erros dele, mostrando quando foi completamente babaca e geralmente são histórias de ascensão e queda (no geral, as melhores cinebiografias são nesse estilo, tanto que três filmes do meu top 10 filmes favoritos são cinebiografias onde o biografado é um idiota total). Aqui, é a cinebiografia que trata o protagonista como um anjo, mas que na verdade é um cara chato, ambicioso, controlador e rígido, pelo menos foi essa a impressão que o filme me passou sobre Richard Williams (Will Smith).

Richard Williams é nada mais, nada menos que o pai de duas das maiores atletas vivas: Serena Williams e Venus Williams, é visível que esse filme é feito como uma homenagem a Richard, pois até as próprias Venus e Serena produziram o projeto, mas isso de tratar o cara de uma forma altamente fantasiosa, quase como passando um pano para ele, não colou, é um filme que, em minha interpretação, é a romantização de uma rigidez parental tóxica, pensa comigo: Richard, antes mesmo de engravidar a esposa, já havia escrito um planejamento de 78 páginas para uma carreira inteira de crianças que ainda não eram nem fetos? E depois quando as crianças já haviam consciência da sua existência, não deram nem opção de escolha para o que elas queriam ser? Isso na minha visão é um negócio extremamente absurdo e o filme trata isso normalizando, sendo que não é normal, isso é um pai extremamente controlador e uma pessoa muito arrogante que quis que suas filhas fizessem sucesso para que ele fizesse sucesso junto, e eu não tô falando que o Richard era um mau pai, ou que ele era babaca, pelas filmagens reais que aparecem no final do filme ele parecia ser um cara legal, gente boa, mas no filme em si, a impressão que me deu foi essa citada acima.

É um filme clichê ao máximo, não inova em nada, não tenta utilizar os clichês ao seu favor e colocar no filme de um jeito agradável, parece que esse filme já foi visto milhares de vezes só que muda os atores e o esporte, até os ângulos de câmera de tentar as vezes ser uma coisa meio documental já foi visto outras vezes e sinceramente, isso é cansativo, ninguém quer ver o mesmo filme mil vezes e esse filme tranquilamente me lembra uns cinco que eu já vi passando na Sessão da Tarde, só que um era sobre ginástica artística, o outro sobre basquete, o outro sobre futebol americano e por aí vai, a única coisa cujo esse filme inova é em o personagem do Jon Bernthal não ser um escroto por completo. E o jeito que o filme mostra o esporte em si, o tênis, é muito bizarro, porque não dá para sentir o impacto da bola batendo da raquete, não dá para sentir a tensão do jogo e a batalha que é um jogo de tênis, é difícil demonstrar um jogo onde uma partida dura de duas a quatro horas em média, então dá para levar em vão, mas o jeito que o jogo é filmado parece um jogo mobile e também fica bem óbvio que são dublês e não as atrizes jogando.

O filme também tenta se aprofundar várias vezes em questões sociopolíticas, como racismo, classes sociais, drogas e etc. Mas, é um filme extremamente conservador que quer ser um filme progressista, tem vários diálogos que quem escreveu com certeza pensou: "certeza que o Twitter vai gostar", mas se você for analisar de uma forma mais geral, o filme mostra um lado mais retrógrado sobre vários assuntos, principalmente na retratação do gueto, onde parece que a intenção é mostrar apenas a família Williams como humilde, correta e a única onde ninguém é criminoso atualmente, além de que na retratação sobre declínio profissional e drogas, esse filme parece ser uma co-produção do Proerd.

E a principal razão por esse filme estar sendo comentado é: será que finalmente vem o Oscar do Will Smith? Primeiramente, o Will Smith é um bom ator? É, ele tem talento, mas Oscar ele nunca mereceu, o Will Smith é valorizado demais pela pessoa que ele é, é impossível não gostar dele, ele é um cara engraçado, divertido, ele é "gente como a gente", por assim dizer, só que muita gente confunde ele ser um ótimo cara com ser um ótimo ator, ele nunca mereceu um Oscar, ele é um ator muito limitado, se você parar para pensar nos melhores papéis da carreira dele, a maior parte são comédias, ele é um excelente comediante, mas no drama, dá para contar nos dedos as boas atuações dele. Aqui é drama 100%, nenhum momento cômico do filme vem por parte dele e ele não vai mal até, mas ele tenta emular o sotaque do cinebiografado e sai ridículo, porque as vezes tem, as vezes não tem e confunde a cabeça do espectador, ele fica com uma cara de reacionário pronto para explodir o filme inteiro e chega a ser engraçado um pouco, é uma atuação ok, nada fora do comum, mas se ganhar o Oscar, vai ser uma injustiça enorme, principalmente quando na disputa vemos Andrew Garfield por "tick, tick... BOOM!" e Benedict Cumberbatch por "Ataque dos Cães" dando a vida e o Will tem uma atuação automática que as vezes apela para o emocionalmente manipulativo.

É um filme que tem umas coisas legais até, principalmente em questões sonoras, de desenho de som, de trilha sonora e tem uma música muito boa da Beyoncé que com certeza vai concorrer ao Oscar em canção original, mas tirando isso, eu não curti nada no filme além da peruca do Jon Bernthal. "King Richard - Criando Campeãs" é uma cinebiografia superficial, romantizada e emocionalmente manipulativa, feita com o objetivo de exaltar um cara incrível mas a retratação dele no filme me deixou com a impressão dele ser controlador, reacionário e irritante, o filme também é feito como uma tentativa de dar um Oscar injusto para o Will Smith quando até a atuação inexpressiva dele em "Eu Sou A Lenda" é melhor. É um filme esportivo clichê que vai passar na Sessão da Tarde uma hora ou outra, nada demais.

Nota - 3,0/10

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