Crítica - A Pior Pessoa do Mundo (Verdens verste menneske / The Worst Person in The World, 2021)

Comédia, drama e muito sexo.

"Ela é indecisa, ela não consegue decidir"
- Sean Kingston
Esse trecho da música "Eenie Meenie" (um grande clássico contemporâneo da música, diga-se de passagem), é a descrição perfeita para esse filme e sua protagonista, ao longo do texto e das balelas que eu vou falando, vocês vão entender melhor (na verdade vocês vão entender melhor se pararem de vagabundagem e irem ver a p#rra do filme). O filme é dirigido por Joachim Trier, primo do nosso tão odiado e desmamado Lars von Trier, e confesso que esse foi meu primeiro contato com a filmografia de Joachim porque sempre tive um pé atrás com o sobrenome Trier (eu sei, é um preconceito fajuto), mas decidi ver esse aqui porque todo mundo que eu conheço fala muito bem sobre e tá no Oscar em duas categorias principais e, agora, depois de assistir, eu só me pergunto: "Por que que eu não tinha visto isso antes?", esse filme é bem o estilo de filme que eu curto: engraçadinho, bonitinho, fofo, que do nada vai ficando depressivo, tenso e triste.

Eu começaria os elogios sobre este filme começando pelo título, porque é longamente maravilhoso e depois de ver o filme, ele faz sentido, pelo menos na minha interpretação, onde as vezes você se sente a pior pessoa do mundo por alguma decisão errada, ou por ter tido atitudes que não queria, ou ter um pensamento que não devia, isso é normal, todos nós passamos por isso e por esse sentimento de culpa e de decepção consigo mesmo e aqui nesse filme são 12 capítulos, um prólogo e um epílogo que mostram esses sentimentos através de Julie (Renate Reinsve) e as decisões dela, pensamentos, tudo é mostrado com excelência, esse Joachim Trier sabe muito bem trabalhar as relações entre personagens, aqui basicamente tem dois extremos para onde Julie vai: o amor verdadeiro e a diversão, e quando ela tem uma série de decisões erradas, por trocar um desses extremos pelo outro, é onde o filme começa a ficar mais melancólico e reflexivo.

É um filme que passa por vários momentos de uma vida adulta, como a dificuldade de achar sua vocação, de tentar se encaixar em algum emprego, porque é tudo muito concreto ou muito vazio e a Julie vai tentando achar um meio termo esses dois e essa busca dela por paixão por uma profissão é algo bastante identificavél, eu nunca passei por isso, mas vendo ali no filme dá para entender perfeitamente o que ela tá sentindo e como tudo as vezes parece ser errado. E essa questão de meio termo também funciona para a parte de romance do filme, onde Julie sempre tenta buscar o meio termo entre amor, troca, diversão e cumplicidade e ela acha que não era aquilo, mas era, e ela perdeu, para sempre, pela troca apenas pela pura diversão e isso é algo que pode acontecer com todo mundo, você perder o amor verdadeiro e uma pessoa que realmente te ama ir embora porque você que fez dar ruim (eu também nunca passei por isso, mas eu vi "How I Met Your Mother" doze vezes e sei bem como é isso) e pô, é doloroso os últimos minutos de filme, porque dá para sentir tanto o arrependimento de Julie que chega a machucar um pouco. E é um filme emocionalmente manipulativo, mas não desse jeito ruim, de filme onde criança morre nem nada, o Joachim Trier brinca com as emoções humanas do espectador o tempo todo, você, durante o filme, sente dentro daquela história momentos de leveza, engraçados, sutis, românticos, malucos, tensos, sexuais, momentos onde você fica com raiva, momentos tristes, momentos depressivos e momentos onde a mente explode e quanto mais imerso na trama, melhor é essa experiência, esse filme é um mix de emoções muito doidos que eu com certeza, no futuro, quero ter novamente.

E Renate Reinsve... que atriz! Ela tem, na minha humilde opinião, uma das melhores atuações do ano de 2021, talvez seja até a melhor, não sei, o debate que se gera entre ela, Kristen Stewart (por "Spencer"), Olivia Colman (por "A Filha Perdida") e outras, pode vir a ser bastante interessante, mas acho que o trabalho da Reinsve é demonstrar bem mais emoções que qualquer outra atriz de qualquer outro filme de 2021, ela tem um trabalho bem mais complicado de tentar ajudar em uma manipulação emocional quase como se ela fosse 50% disso, tanto que ela ser o primeiro nome dos créditos finais é muito mais que merecido, o mérito dela é gigantesco, ela consegue passar todas aquelas sensações que o espectador sente que eu citei no parágrafo anterior. Tem momentos onde sentimos que ela tá leve, se divertindo, se aventurando no amor e tal, mas também vamos vendo momentos onde ela fica triste, reflexiva, arrependida e com medo, é uma atuação espetacular que ajuda muito tanto no desenvolvimento da personagem quanto da trama, ela se entrega de corpo e alma ali, uma atuação bela de se ver.

Tem uma ou outra coisa que eu não sou muito fã no filme, tem uns dois seguimentos que eu acho desnecessários, mas é só isso mesmo que eu não curti. Eu gostei muito da performance do Anders Danielsen Lie como Aksel, ele faz um bom papel do artista, o cara que é meio reflexivo, que vai além nas comparações, que as vezes sai de si por discordâncias envolvendo sua obra e eu acho que nas partes finais do filme ele entrega muito, pois dá para sentir através do rosto pelado dele vários pensamentos negativos e sofrimentos e como omitir a verdade não ajuda em nada, eu quase chorei na performance dele na cena do carro. Meu capítulo favorito do filme é o do congumelo, não lembro se é o sexto ou sétimo capítulo, mas esse aí é maravilhoso porque vemos a personagem em uma viagem psicodélica maluca a là David Lynch e a montagem desse seguimento é excepcional, pois vai mostrando ali como quase um pesadelo que é estar sob influência de uma droga estragada, é engraçado, é triste e é bizarro ao mesmo tempo.

Se você ainda não viu "A Pior Pessoa do Mundo", veja imediatamente, pois eu demorei para assistir e quando acabou eu só pensei no quanto eu fui idiota de não ter visto antes, é um filme engraçado, bonito, sútil, sensível, tenso, bizarro, triste, raivoso e depressivo, um mix emocional imperdível e uma experiência maravilhosa. É um filme de um estilo bem agradável em questão de storytelling, de desenvolvimento de personagem e de criação e desenvolvimento de relações interpessoais, além de ser um filme bem único no que ele causa. Filmão!

Nota - 8,5/10

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