Crítica - Blonde (2022)
Esse filme realmente faz jus a vida da Marilyn: uma bosta.
Se eu te falar o nome Norma Jeanne Baker você, com toda a certeza do mundo, não reconhecerá, mas a dona desse nome é muito mais famosa do que você pensa, estamos falando Marilyn Monroe, a atriz e modelo que é uma das mulheres mais famosas, atraentes e influentes da história, até hoje é conhecida mundialmente, é um ícone da cultura pop, tem pôsteres e cenas icônicas que até quem não tem a mínima ideia de quem seja ela, conhece (como a clássica cena do vestido branco na ventilação). Não é a primeira vez que vemos Marilyn sendo retratada no audiovisual, já tivemos outras vezes, sendo a mais bem sucedida a versão "Sete Dias com Marilyn" (2011), com Michelle Williams no papel da artista (a mesma indicada ao Oscar por este papel). Marilyn teve uma vida péssima, sendo modesto, foi uma vivência lotada de abusos, perdas e desvalorização, mas, pela visão do diretor, o Andrew Dominik, parece que a vida dela foi só isso, transformando sua obra em um compilado de infelicidades, nudez e estupros em um dos filmes mais nojentos e repulsivos do ano.
Primeiro eu gostaria de começar já detonando o diretor, porque esse Andrew Dominik é um profissional mediano, só fez um único filme bom na vida e aqui ele com certeza pensou que estava fazendo a melhor cinebiografia de todos os tempos, pois ele fica mesclando diferentes técnicas a cada três segundos, mudando do modo preto e branco para o modo colorido e metendo vários simbolismos, mas o que acontece é que essa mescla é irritante assim como a troca de filtro e esses simbolismos são todos muito óbvios e sem graça, é sempre coisinha do tipo: "olha, a chama está pegando só na frente daquele personagem para demonstrar a raiva" e é um desses por cena, deixando essa coisa aqui previsível e chata. Mas principalmente, esse Dominik é um tarado, porque parece que ele só está interessado em fazer cenas de sexo e nudez e qualquer oportunidade que ele tem de deixar a personagem principal sem roupa, ele não desperdiça, nas primeiras três vezes é legal, contudo, ao longo do filme, você vai pegando repulsa daquilo pois dá para sentir que ele pegou uma tara gigante pelo corpo da Ana de Armas e é nojento, tem muita nudez desnecessária, muita cena de sexo sem sentido e o cúmulo disso tudo é quando ele coloca uma cena explícita de sexo oral, que é um dos momentos que eu mais senti raiva de qualquer diretor em qualquer filme, porque ele está se contradizendo com a mensagem que esse filme passa (ou deveria passar) de fazer atrizes se submeterem a situações desagradáveis e desnecessárias para conseguirem o que querem, no caso Ana de Armas faz tudo isso para conseguir um Oscar e, pela recepção, não vai ser dessa vez, porque isso aqui parece um filme pornográfico sem fundamento algum.
Voltando a falar de simbolismos, há um recorrente que é sobre o pai de Marilyn e ela chamar todo santo homem de "daddy", essa questão do pai é outra coisa que o diretor achava que tava zero defeitos mas ele não sabe fazer essas metáforas, fica apagado por parte do filme e o cara devia estar achando que tava mandando super bem. Inclusive é recorrente o papel masculino tóxico e a misoginia, como se fosse meio que o assunto principal do filme, só que o filme é dirigido por um homem que logicamente não sabe o que é sofrer machismo, principalmente o mais pesado dos anos 50 (na realidade por esse filme, dá para teorizar que ele seja um desses misóginos de Hollywood), esse cara se aproveita de toda a violência e abuso que a Marilyn sofreu como desculpa para fazer cenas sexuais e eu consigo sentir que ele talvez estava tendo prazer em gravar aquelas cenas, não é que seja uma cena, são três, quatro, talvez até cinco, é uma obsessão doentia por ver não a Marilyn Monroe fazendo sexo, mas sim a Ana de Armas, porque a fixação dele chega a ser nojenta, repito: qualquer oportunidade de que tinha de colocar ela nua, ele aproveitava, é desnecessário e desrespeitoso.
Mas, enquanto a própria Marilyn? Ela pelo menos foi uma personagem boa? Não! Pois na visão do Andrew Dominik a Marilyn Monroe só existiu para ele ter a oportunidade de ver a Ana de Armas pelada, a ele quer que a gente fique do lado da Marilyn Monroe, mas eu particularmente não consegui porque a mulher é uma otária, uma idiota, burra, imbecil, esdrúxula, eles só mostram o lado vítima dela e transformam a vida dela numa desgraça completa, sendo que ela era uma artista incrível, uma comediante incrível, uma atriz incrível e o diretor só se preocupa em mostrar a mulher se ferrando, sendo violada, sofrendo uns vinte abortos, vocês acham que a Marilyn Monroe gostaria de ver ela sendo retratada desse jeito? Como uma completa idiota? Ignorando tudo que essa mulher fez pela moda, pelo cinema e só sendo vista como objeto sexual não só pelos homens do filme, como o próprio diretor? Cara, que filme desgraçado!
O que se salva nesse filme? A atuação da Ana de Armas é boa, muito boa inclusive, eu acho que ela conseguiu capturar perfeitamente a aura da Marilyn Monroe, o tom de voz no ponto certo, essa voz mais fina e dócil, os trejeitos mais inocentes que ajudam você a entender bem quem era Marilyn Monroe, eu gosto das cenas que vemos a personagem atuando, pois ali é onde ela se destaca, principalmente em uma cena do início onde ela faz um teste que é muito bem atuada, ela se entregou de verdade ali, no filme todo na verdade ela mandou bem, pena que o resto da galera não contribuiu, ela é um arco-íris no escuro. A maquiagem do filme também é bem boa, os caras conseguiram deixar a Ana de Armas idêntica, até os sinais e as pintas no rosto, o cabelo loiro reluzente, foi um belo trabalho porque a Anne of Guns nada igual a biografada e deixaram ela verdadeiramente similar à Marilyn.
Eu considero um filme divisivo e polêmico, mas para mim, "Blonde" é um filme pornográfico socialmente aceito, é uma obra sem sentido, lotada de simbolismos baratos e irritantes e principalmente, desrespeitosa com a pessoa e figura que foi Marilyn Monroe, praticamente ignoraram tudo que essa mulher fez e transformaram ela em um alvo de violação sexual, tem várias cenas desnecessárias de sexo, estupro e nudez que são colocadas por pura tara do diretor que nitidamente rodou esse filme ereto. Então, eu fecho esse texto com uma bela frase proferida por Martin Scorsese no Oscar 2020, que me resume enquanto assistia esse filme: "a mimir".
Nota - 3,0/10