Crítica - Justiceiras (Do Revenge, 2022)

Eu odeio adolescentes.

Nos últimos anos, o destacamento cinematográfico dos filmes adolescentes vem passando por uma reforma aguda onde estão adaptando a forma de contar histórias de jovens para o público jovem com pessoas que sabem o espírito moderno, são filmes que tentam ser progressistas, usar gírias da moda e falar sobre assuntos sérios de forma que converse com seu público alvo. Esse filme nessa proposta me parecia interessante, tem a Maya Hawke que faz "Stranger Things" e decidi ver, só que esse filme é tão feito para adolescentes de quatorze anos que parece que foi escrito e dirigido por meninas pseudo feministas dessa idade que leram a página da Wikipédia sobre e se acharam as entendedoras máximas do assunto, é um filme que tem uma ideia interessante, ele começa bem, os primeiros vinte minutos são muito bons, mas depois o filme decai em níveis absurdos ao ponto de ficar insuportável e se tornar um sonífero.

Esse filme sofre de um problema que vem sendo percebido cada vez mais pela indústria: feminismo corporativo, que é utilizar da referência dessa causa que é séria e importante dentro da sociedade que vivemos, como um instrumento dentro de um filme ou série de um jeito vazio, tendo sua referência apenas para enganar as pessoas que participam desse grupo social acharem que o filme é realmente muito bom e que essa é uma das pautas principais dele, mas na verdade o feminismo aqui é utilizado como uma espécie de válvula de escape para fazer adolescente militante de cabelo colorido elogiar muito no Twitter, tanto que depois desses vinte minutos iniciais, tem função nenhuma na trama. Porém achei boa as piadas que fazem em torno disso com o antagonista do filme, um moleque de classe alta, poderoso, que é um maluco problemático e se paga de esquerdomacho para pegar mulher e até cria um "clube" chamando: "Homens Cis Brancos Defensores", essa ridicularização desse tipo de pessoa foi incrível porque esse arquétipo na vida real já é ridículo, em um filme demonstrando isso mais claramente fica mais ridiculamente engraçado ainda.

O filme é meio genérico, tem um andamento que aparenta isso: menina que é rica e bem sucedida se ferra e perde status social, ela conhece a menina estranha, as duas formam um plano que envolve disfarce, durante o andar do plano viram amigas, porém com o disfarce a personagem vira o que não é e as protagonistas brigam. Até aí está bem clichê cansativo, porém tem um plot twist que parece que o rumo vai mudar e o filme finalmente vai ficar interessante, mas depois de dez minutos o filme volta ao que estava antes de uma forma ridícula, todo o conflito que foi gerado por essa reviravolta é terminado rapidamente em uma cena com um pedido de desculpas... Que raiva, na moral. Quando parece que vai, o filme decide que não vai não, continua sendo o que já tava antes e fica confuso, fica cansativo e é incrivelmente preguiçoso, o desenvolvimento na desconstrução do plot twist não existe, simplesmente acontece e fica ridículo.

As atrizes protagonistas tem carisma, a Camila Mendes tem uma certa atratividade, mas, a personagem é uma pessoa horrível, o filme faz a gente ficar do lado dela pelas coisas ruins que ocorreram com ela e a vingança dela faz sentido, porém ao longo do filme você vai notando como aquela menina é irritante, arrogante, egoísta e é uma péssima amiga, então, como que eu vou torcer para uma personagem dessa? Não é só porque ela teve um vídeo vazado e se ferrou por causa disso que eu torci por ela, não foi o suficiente, eu até entendo o lado do vilão (o ex-namorado que vazou o vídeo), não concordo, logicamente, com o vazamento de um vídeo íntimo e nem acho que ele está certo em relação a mais nenhuma outra coisa, mas o lado dele não está tão errado assim quando ele diz seus motivos, apesar do egocentrismo claro. E só para somar mais, essa atriz parece que só faz o mesmo tipo de personagem: a menina rica, popular, destemida e eu fico meio assim com isso já que eu percebo um talento nela, mas se ela ficar se prendendo nesse papel, nunca vai conseguir explorar esse potencial. A Maya  Hawke é o que salva o filme, ela não faz quase nada de diferente da Robin, é o mesmo arquétipo de lésbica desanimada que não gosta de socializar (a única diferença é que a Robin é debochada, essa é só depressiva mesmo), a jornada dela faz sentido, nos cinco minutos de plot twist ela tem uma boa performance e tal, mas não é nada de incrível também que deixe o filme mais assistível.

Em "Justiceiras" temos um filme que quer ser inovador para os filmes teens, é um filme progressista, mas que explora de forma errônea os ideais que quer defender, usando de forma corporativa para apenas vender o filme como sendo feminista, mas o feminismo em si não tem utilidade alguma na trama. Protagonistas desperdiçadas, história desperdiçada, casais sem química alguma, você não se importa com os personagens, com as ações dele ou com trama, é mais um filme Netflix que faz sucesso agora e daqui uma semana será completamente esquecido. É importante frisar que eu não sou o público alvo do filme, não sou uma menina militante de Twitter de 13 anos, então se você se encaixar nesse perfil, vai amar.

Nota - 4,5/10

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