Crítica - Lightyear (2022)
Uma aventura legal de assistir, mas genérica.
Eu adoro o Buzz Lightyear, era um dos meus personagens favoritos quando criança e eu sou muito fã dele até os dias atuais (tanto que até hoje tenho um boneco gigante dele da Bandeirante que eu ganhei quando eu tinha quatro anos, eu guardo quase como se fosse uma relíquia). Quando anunciaram um filme do Buzz eu fiquei meio confuso, pois o que seria esse filme? Um spin-off? Continuação? Ou seria o filme que virou febre no universo de Toy Story? E acabou que foi esse último, o que eu esperava que fosse e o que era o caminho mais justificável para a produção. Para falar a real, eu estou um pouco decepcionado com a Pixar ultimamente, parece que toda a habilidade dos caras foi gastada em "Soul" (2020) e depois vieram dois filmes genéricos com boas mensagens, mas que foram tão bestas que eu acabei por achar bem medianos: "Luca" (2021) e "Red - Crescer É Uma Fera" (2022) e para falar a verdade, esse filme não tem muita originalidade, mas ainda sim é uma jornada divertida que eu curti acompanhar, eu creio que se eu fosse uma criança do universo de Toy Story em 1995 eu também teria ficado maluco com esse filme, porque esse filme tem uma cara daquelas aventuras noventistas clássicas da Sessão da Tarde que me conquistou.
Não é a primeira vez que a Pixar faz um spin-off do Buzz, já tivemos lá em 2000 uma animação 2D e posteriormente uma série animada homônima chamada "Buzz Lightyear do Comando Estelar", que eu confesso que ainda não assisti, mas eu fui pesquisar sobre e é algo diferente, porém parecido, o grande vilão é o Zurg e o Buzz tem de impedi-lo com ajuda de sua equipe formada por uma inteligente, um desastrado e um robô. O que acontece aqui é basicamente isso, mas com toques mais puxados para ficção científica na questão de viagem temporal, aí vem as referências de "De Volta para o Futuro", "Exterminador do Futuro" e "Star Wars". Cara, falando a real, é uma aventura boba, ok, mas que você vai se importando com o problema e os personagens a medida que o filme passa, eu gostei disso, dessa pegada noventista puxada para o sci-fi, a ação e a mensagem sobre trabalho em equipe, vários filmes infanto-juvenis daquela época, como o próprio "Toy Story" tem essas mensagens sobre ajuda e tal, gostei de como trouxeram essa adaptação para cá e também curti a forma como a narrativa se desenrola rapidamente, não é corrido mas é rápido, as coisas vão acontecendo de um jeito energético que culmina em algo legal de assistir, esse ritmo mais frenético remetendo a filmes lançados perto de 1995 que fizeram tremendo sucesso como "Velocidade Máxima" (1994) e "O Máskara" (1994).
Eu gostei muito dos personagens do filme. O Buzz (Chris Evans) é o Buzz, né? Por mais que não seja o brinquedo que conquistou nossos corações, ainda é aquele personagem (de uma certa forma), eu gostei muito dele, essa coisa de que no início ele ter negação aos patrulheiros novatos, de não suportar inexperiência e ir aprendendo na marra a se virar com pessoas desse tipo, além disso há todo o grande desenvolvimento dele com a sua melhor amiga, a Alisha Hawthorne (Uzo Aduba), que é uma figura fraternal para ele e que ele vai perdendo as etapas mais importantes da vida dela (casamento, maternidade, promoções, velhices) por arrogância e fixação dele em querer completar uma missão difícil de cumprir, a mensagem é como se o Buzz tivesse parado no tempo por um motivo só enquanto ela e o resto continuou envelhecendo, mas ele tava travado naquele único objetivo e por um egoísmo de não aceitar sua falha, acabou se ferrando e viu todo mundo que ele ama morrer enquanto ele ainda estava no auge dos seus trinta e poucos.
Os personagens coadjuvantes também são bem carismáticos e a cara dos anos 90. É bem noventista essa questão da equipe que é totalmente diferente entre os membros, sempre tem o protagonista, a amiga do protagonista, o mascote, o que é um ímã de bosta e um mais experiente e reclamão, existem mais mas esses no caso são os arquétipos retratados aqui. Temos Izzy (Keke Palmer), uma personagem que tem um desenvolvimento legal, uma missão própria de querer honrar o legado da sua vó, mas justamente ter medo do local onde sua avó trabalhava, ela ter que superar esse medo para que o Buzz e o mundo sejam salvos é uma jornada interessante de acompanhar e tensa, pois você sente o medo dela enquanto ela tenta vencê-lo e é uma das cenas mais tensas do filme. Aí temos Mo (Taika Waititi) e Darby (Dale Soules) que são os grandes alívios cômicos do filme. O personagem do Taika é, obviamente, um palhaço, porque é o que o Taika é, um palhaço que não leva nada a sério com um humor besta e aqui ele tem esse estilo humorístico utilizado na construção do medo do personagem e deixa ele bastante identificável, o fato dele ser atrapalhado, bobo e se culpar por tudo nos faz entender o porquê ele é inseguro daquele jeito. Darby é mais uma personagem séria que faz um contraponto a isso, é nada demais, mas tem momentos cômicos muito bons.
Contudo, o grande destaque geral do filme para mim é Sox, o gato robótico (Peter Sohn), esse personagem é um dos mais queridos que eu já vi na Pixar. Ele é fofo, ele é engraçado, ele é uma boa combinação para o Buzz e os demais personagens, tanto cômica quanto dramaticamente, ele por exemplo ajuda Izzy a superar seu medo, assim como ajuda Buzz a sair dessa prisão que é tentar finalizar sua missão inicial, ele para mim foi o grande personagem do filme e eu já quero o bonequinho dele. Outro acerto desse filme é o visual, é a animação mais bonita que eu já vi ao lado do já citado "Soul" (2020) e também de "Homem-Aranha no Aranhaverso" (2018), é tudo muito bem feito e tudo muito bonito, dá para sentir o desgaste daqueles uniformes, a sujeira e escuridão dos cenários, você consegue sentir a areia, as plantas, as águas, toda a idade visual das naves, dos robôs, das inteligências artificiais em si é tudo muito bem trabalhado e que chega a ser impressionante de lindo.
Apesar disso tudo, é um filme problemático, o principal problema mesmo está justamente em ser uma aventura genérica, não é exatamente um problema para falar a real, mas é uma falta de originalidade notável quanto ao objetivo final dos personagens, é uma decisão criativa que a Pixar de 2020 ou antes não tomaria, pois a identidade da Pixar é fugir desses problemas óbvios e criar dramas e soluções críveis e originais em seus filmes, mas aqui parece que eles se acomodam no clichê e ver isso em um filme da Pixar é decepcionante. Outra coisa que não fui fã é o Zurg (James Brolin), o plot twist todo é surpreendente e tal, a revelação e depois a mensagem por trás disso tudo, mas no geral é algo que poderia ter sido bem mais explorado, pois se resume a:
- "Você pode voltar no tempo e realizar seus sonhos, Buzz"
- "Mas se eu realizar meus sonhos, várias coisas boas serão destruídas"
- "Ah é, é? Então vem, cai no pau para ver se tu é homem mesmo"
É basicamente isso que ocorreu e me decepcionou muito, porque quando ocorre essa reviravolta toda, parece que vai ser algo incrível mas no final é só mais uma coisa genérica em um filme que não deveria ser.
Em geral, eu gosto de "Lightyear", essa aventura noventista movida a nostalgia e bom humor me conquistou, o carisma dos personagens foi fundamental e essa história dos heróis espaciais é legal de assistir, é uma jornada gostosa de acompanhar. O filme sofre com problemas claros, há uma falta de originalidade e uma falta de desenvolvimento do vilão que, inegavelmente, fazem falta, mas no final, o saldo para mim foi positivo. De novo, se eu tivesse em 1995 com dez anos e lançasse esse filme assim, eu também ficaria maluco e diria que é o filme mais incrível da história (igual quando eu vi "Armageddon" achando que era um dos melhores sci-fis da história aos doze anos).
Nota - 6,5/10