Crítica - Adão Negro (Black Adam, 2022)
Problemático, porém puro entretenimento.
🚨 Texto sem spoilers 🚨
A hierarquia de poder está mudando dentro da DC, dentro das telas e fora delas, pois este filme é a consagração e o recomeço da DC nos cinemas. Depois do fracasso comercial do Snyderverso, resultando na demissão de Zack Snyder em 2017 e as regravações de Joss Whedon para "Liga da Justiça" (2017), a DC meio que está passando por alterações internas e tentando se encontrar nos cinemas e eu como DCnauta devo dizer que foi uma organização péssima de universo compartilhado e acabou que os filmes estão todos em ordem aleatória e não sabemos no que vai resultar. Porém, todo mundo que fez a DC ser esse grande problema já vazou e agora estamos vendo o renascimento, esse filme é como se fosse o que foi o primeiro "Homem de Ferro" (2008) para a Marvel e é a partir dos acontecimentos desse filme que todo o universo vai se desenrolar, mas isso sem desconsiderar os dois filmes da Mulher Maravilha, "Aquaman" (2018), "Shazam!" (2019), "O Esquadrão Suicida" (2021) e "Pacificador" (2022-), o resto creio eu que não será tão relevante assim. Essa organização toda se deve a Dwayne Johnson, ou The Rock, como é mais conhecido, que passou por cima de todos esses executivos que impediam o avanço da DC, conseguiu fazer o filme de seu personagem do jeito que ele queria e de quebra ainda conseguiu organizar tudo fazendo coisas que se eu falar, acabam por ser spoilers, mas vocês já devem saber o que é.
O primeiro rumor de The Rock como Adão Negro surgiu nos anos 90 e desde lá ele vem sendo especulado no papel, até que finalmente isso se concretizou aqui, depois de anos de produção, o filme da vida do Pedra acabou acontecendo. Cara, eu admiro muito o que ele fez para que isso fosse lançado, o cara passou por cima de produtor, ele lutou para ter a história que ele queria e até se esforçou em atuar um pouco diferente do que ele geralmente faz, porque o The Rock não é um ator, o cara é apenas um brucutu bombado extremamente carismático que faz papéis em filmes e é impossível desgostar dele porque ele é uma pessoa muito legal que em seus projetos se impõe de uma forma muito bad-ass e faz com que todo mundo admire ele, mesmo ele sempre fazendo dois tipos de papéis: o bombado com atitude de herói de ação de filme dos anos 90 e o bombado engraçado por ser bombado. Aqui ele interpreta Teth-Adam, o Campeão de Khandaq, um dos vilões mais poderosos da DC, principal rival do Shazam (coitado daquele moleque quando eles se encontrarem) e cara, não é uma atuação primorosa, mas é legal ver o The Rock saindo da zona de conforto e fazendo um personagem bruto, sem muito carisma e com poucas palavras, é um personagem bad-ass que você se apega a ele por seus poderes e sua história, é muito legal ver ele nesse papel e a imponência que esse cara passa é sem igual, você entende desde o início que esse cara é incrível e é isso, você compra ele logo de cara sem dificuldades.
Já falei sobre o The Rock e sua performance, vamos falar do que é o filme em si. É uma loucura desenfreada, toda hora é ação, porradaria, não tem nenhum respiro, tá sempre na adrenalina, é sempre gente se pegando na porrada, efeito especial o tempo todo e isso já era esperado por mim, ser um filme de herói comum com cenas de ação brabas e nada além disso, o próprio filme tem consciência de que ele não é mais que isso, em nenhum momento vemos o diretor tentando fazer de sua obra algo épico ou altamente consequente, é redondinho e fechadinho, apenas abrindo consequências para o futuro do universo na cena pós-créditos (assim como o já citado primeiro filme do Homem de Ferro). Quando eu digo que é ação o tempo todo, é ação o tempo todo, começa na ação e termina na ação e é impressionante o quanto é bem coreografado, a montagem ajuda muito, eu fiquei na ponta da cadeira vendo, tem várias cenas que tem adrenalina, emoção, principalmente as lutas entre Adão Negro e os membros da Sociedade da Justiça. Inclusive é incrível que em meio dessa crise do CGI em Hollywood, temos um CGI decente, os efeitos visuais se destacam muito, apesar do chroma key não estar lá aquelas coisas, o resto é muito bem feito, os uniformes são lindíssimos, os poderes dos personagens são excepcionalmente bem feitos e a construção dos cenários também é um destaque a ser feito.
Eu considero esse filme uma espécie de Sessão da Tarde só que mais pesada, eu gostei do que eles fizeram com o protagonista nesse contexto, ele não é um herói, mas ele também não é um vilão, ele é apenas o protetor de Khandaq que tem seus métodos para proteger sua terra e com isso ele é muito violento, deram uma liberdade para ele ser bastante agressivo, o cara explode gente viva, deixa soldado carbonizado, parte vilão genérico ao meio e isso funciona muito bem à medida que você vai conhecendo mais sobre o Campeão e o melhor é que essa violência mais dura é pontual, não é forçada e funciona justamente por isso. Essa última frase também se aplica ao humor aqui apresentado, há piadas, sátiras e tiradas, mas (quase) nunca é forçado ou sem graça, praticamente toda piada é engraçada e são aquelas piadas de situação, que acontecem por acontecer naturalmente, igual a Marvel em sua fase de ouro ou os filmes do Homem-Aranha do Sam Raimi.
Precisamos falar sobre a Sociedade da Justiça... Que equipe f@da! É meio diferente dos quadrinhos, lá é uma equipe gigantesca fixa e aqui pelo visto a equipe é por convocatória e temos poucos membros, o filme já é uma loucura gigante com quatro membros, imagina se tivesse mais. Mas esses quatro membros nos ajudam a perceber o quão grande é esse DCEU e o quanto ele se expande cada vez mais e que ele não é só Batman, Superman, Mulher Maravilha, Aquaman, Flash e Shazam como pensávamos, tem muita gente incrível ainda por aí que pode aparecer futuramente. Para mim o destaque máximo da SJA é Kent Nelson, a.k.a. Senhor Destino (Pierce Brosnan), finalmente o Destino nos cinemas, ele é o que eu considero particularmente o herói mais apelão da DC e agora ver ele nos cinemas é especial. Eles retratam o Kent Nelson como um centenário experiente que vê o futuro e nossa, ficou tudo perfeito, o uniforme, os poderes, a sabedoria e a atuação do Pierce Brosnan. Não tenho medo de dizer: Pierce Brosnan como Senhor Destino é um dos casts mais acertados da história dos filmes de heróis, ele encaixou perfeitamente no papel e teve uma participação satisfatória, que incrível que foi ver ele na telona, ele transpassa perfeitamente esse centramento do personagem em seus objetivos, suas questões pessoais, seu papel como um líder intelectual que faz a mediação entre os outros personagens e a forma como o Pierce Brosnan demonstra essa sabedoria é impressionante e realmente emocionante, além de sempre estar no ponto, nunca tem uma participação dele desnecessária. E eu fecho meu comentário sobre o personagem dizendo que O PAI. TÁ. ON!!!
Sobre os outros membros, temos Carter Hall, o Gavião Negro (Aldis Hodge) e esse também ficou maravilhoso. Gavião Negro é um dos personagens que eu mais esperava ver nos cinemas também e nesse filme ele está espetacular. Ele basicamente faz a frente com o Adão Negro e serve como seu contraponto, enquanto Adam é violento e vingativo, Carter prega pelo heroísmo e o justo julgamento, essa dualidade e esse debate são muito interessantes, além de que não é puxado para nenhum dos lados e deixa esse debate sobre se heróis devem matar pessoas ou não (um assunto recorrente nas histórias em quadrinhos da DC). O Aldis Hodge como Gavião Negro também foi um casting acertadíssimo, o cara vai muito bem, rouba a cena em vários momentos, a postura dele de um líder que prega essa coisa de ter que ser justo funcionou perfeitamente e o conflito dele com suas crenças pessoais é muito interessante ao longo do filme. Tivemos também Maxine Hunkel, a Ciclone (Quintessa Swindell), essa menina é puro carisma, ela não tem um arco de verdade como o Teth-Adam, o Gavião Negro ou o Kent Nelson, mas ela no filme utilizando os poderes nas batalhas e interagindo com os outros personagens foi muito legal, a atriz é muito boa e merecia mais tempo de tela. Outro que merecia mais screentime é Al Rothstein, o Esmaga-Átomo (Noah Centineo), ele fica mais apagado, o papel dele na trama remete meio que ao Peter Parker em Guerra Infinita e eu gosto desse ator, ele é cativante e tem piadas muito boas enquanto a ele ser novato e inexperiente, mas faltou tempo para ele brilhar mais, apesar de suas cenas de ação serem muito boas.
Só que para mim, o filme é problemático, tem dois problemas que tiram pontos do filme e ele poderia ser bem melhor se não fosse isso. Primeiramente o vilão, que não é nada, o Sabbac (Marwan Kenzhari) é um personagem genérico que se torna um vilão genérico que não apresenta nenhuma ameaça e só serve como saco de pancadas, apesar de você ver que ele é poderoso e o CGI dele ser verdadeiramente muito bom, o personagem é zero, é vazio, esquecível é pouco, inclusive esse ator, o Marwan Kenzhari é o novo nome da vilania hollywoodiana (como sempre os estadunidenses colocando os estrangeiros que chegam lá sempre como antagonistas), já é o segundo blockbuster dele interpretando um vilão genérico que atrapalha a qualidade do filme e não é nada contra o ator, não é culpa dele os personagens que ele consegue serem mal desenvolvidos, isso é culpa da equipe criativa do filme que parece subestimar o potencial do cara para lhe entregar esses papéis ridículos.
O outro problema (e esse é maior ainda) é a criança, o Amon (Bodhi Sabongui), que moleque desgraçado do capeta e eu não vou nem criticar o ator, é só uma criança que também não tem culpa de seu personagem ter sido mal escrito, é muito ruim, tentam dar um papel de co-protagonista para esse garoto, sempre dando um jeito dele aparecer e motivar alguém de alguma forma, além de que quando ele aparece, ele sempre faz alguma coisa de ruim para ser conveniente com a história e depois ele se ferrar de novo, o pior é que isso só acontece nos momentos que o bicho tá pegando, tá rolando a maior briga e tal, aí vai para essa criança do cacete, parece os humanos nos filmes recentes do Godzilla só atrapalha a história ao invés de ajudá-la.
"Adão Negro" tem alguns erros, mas tem bem mais acertos, é um filme frenético do início ao fim, a ação quase nunca para, é um filme realmente de ação clichê que você sabe o que vai acontecer, tem macguffin, tem coadjuvante desnecessário, tem vilão inútil, mas em compensação tem excelentes personagens, questões muito interessantes abordadas, cenas de ação maravilhosas, um CGI muito bem feito que é um respiro nessa crise, um trabalho técnico muito impressionante no geral, design de produção, maquiagem e trilha sonora impecáveis também que te põem naquele universo ali. O filme é redondinho, fechado, expande o universo cinematográfico da DC de forma esplêndida e que é realmente um filme pipoca, é puro entretenimento, é aquelas Aventura que você tá no shopping e decide ver para passar o tempo, é um filme perfeito para ir assistir em um domingo de tarde ensolarado com uma pipoca e um refri para relaxar e nessa questão ele funciona muito bem, apesar dos problemas.
Nota - 6,5/10