Crítica - Mulher-Hulk: Defensora de Heróis (She-Hulk: Attorney At Law, 2022)

Criativo, corajoso e faz nerdola chorar. Maravilhoso!

🚨 Texto com spoilers 🚨

Demorou quatorze anos, mas ela finalmente apareceu. Mulher-Hulk é, como dá para notar, a versão feminina do Hulk, ela surgiu em uma época onde o movimento feminista estava ressurgindo em alta lá nos anos 70 e as editoras acompanharam criando versões femininas dos heróis, a DC criou Batgirl e Supergirl, a Marvel criou a Mulher-Hulk. Nos quadrinhos, eu arrisco a dizer que ela é muito superior ao seu primo e é uma das personagens mais carismáticas que temos. Ela foi a primeira personagem das HQs a quebrar a quarta parede e interagir com o espectador, criando um caminho para futuros personagens como o nosso querido Deadpool. Ela nas histórias da Marvel é de exímia importância e era meio chocante o fato de durante a Saga do Infinito ela ser sequer citada, visto sua relevância. Quando foi anunciada essa série, já estava mais que na hora, ainda mais com a atriz vencedora do Emmy Tatiana Maslany. A série em si, eu falo de cara, eu gostei, ela não começa bem mas sua evolução é agradável e ainda sua crítica certeira aos nerdolas e haters, os famosos boomers, que são, justamente quem estão detonando a série nas interwebs.

Quando saíram as primeiras imagens da série, chocou os fãs com o fato dos efeitos visuais estarem inacabados e isso foi sacanagem mesmo, tanto que até agora a Marvel não liberou trailers de certos filmes futuros justamente por esse motivo, mas na série em si, virou uma discussão: qual a importância real do CGI para uma obra? E eu digo: NENHUMA! É uma frescura gigantesca reclamar da qualidade de um filme ou uma série por causa de pontos irrelevantes, o importante é a história ser boa e é isso. Inclusive o CGI zoado é ridicularizado na série algumas vezes, como em um episódio cujo alguém se refere a ela como "Shrek" e nesse último episódio que mandam ela se transformar de volta em Jennifer Walters pois a versão Hulk é muito cara de fazer. Há várias questões que justificam essa questão do CGI, orçamento, são empresas diferentes fazendo cenas diferentes com orçamento e tempo diferentes, então é entendível e quem reclama do CGI é besta, influencia em pouca coisa na qualidade da história.

Não vou mentir, os dois primeiros episódios são verdadeiramente um saco, tudo bem, é a apresentação da história, serve para estabelecer quem é a Jennifer Walters, suas vivências, seus amigos, família, trabalho e por aí vai, mas não funciona tão bem, só que a partir do momento que a série se torna episódica, com cada episódio contando uma história fechada, com participações especiais de outros personagens como o próprio Hulk (Mark Ruffalo), Wong (Benedict Wong) e o retorno de Emil Blonsky, o Abominável (Tim Roth), ela fica muito boa, muito divertida de assistir, foi bem legal acompanhar a série durante esses quase dois meses. A vibe da série é bem original, fazendo uma adaptação perfeita do que é a Mulher-Hulk dos quadrinhos, ela é engraçada, carismática, inteligente, brincalhona, sexy e muito gosto... Gostável, gostável, essa é a palavra. Além do mais a série é autoconsciente, tendo noção de ser uma série B da Marvel, uma série de comédia que você assiste no celular durante o horário de almoço e funciona perfeitamente nessa proposta.

Inclusive eu preciso separar um parágrafo só para xingar nerdola, porque xingar esses boomers nunca é demais e nunca é cansativo. Primeiro que essa questão do CGI foi utilizada por várias pessoas para maquiar uma misoginia com o fato da utilização da personagem, usando adjetivos para a personagem título como "lacradora", "vitimista", "chata", "vagabunda" e até "put4", mas esse pessoal ridículo é justamente a piada da série, pois a oportunidade que os caras tiveram para zoar esses fracassados foi utilizada mas do que aparentava, tratam eles como verdadeiros idiotas, chorões, machistas e burros que eles são, a radicalidade dos personagens é até leve comparado a comentários da vida real, onde não podem ver uma mulher, um negro, um LGBTQIA+, que já saem reclamando de "lacração" e é legal que esses caras são os que se pagam de hétero top e que fazem comentários dizendo que "são machos de verdade", mas esses malucos odeiam tanto as mulheres que parecem ter tendências homossexuais agudas, é um machismo tão descarado que é nojento e repulsivo, tanto que os vilões da série são os mais otários possíveis.

Voltando ao que importa. Eu creio que a série vai em um caminho meio montanha russa, começa muito mal, aí depois os episódios 3, 4 e 5 são maravilhosos, aí depois continua bom só que em um nível mais baixo, até que vem os últimos dois episódios e a série se estabelece como a melhor série da Marvel, ou então top 3. O que eu curti muito foi a protagonista, a Jen, como eu disse uns parágrafos atrás, ela é tudo que ela é nos quadrinhos e isso foi transpassado com maestria pels Tatiana Maslany, que você pode desgostar da série ou do universo inteiro, eu não me importo com sua opinião sobre isso, mas é inegável que o elenco da Marvel é incrível e aqui temos novamente um acerto porque eu amei ver a Maslany nesse papel, ela consegue fazer todo o questionamento e amadurecimento da Jen perfeitamente durante os sete primeiros episódios para nos dois episódios finais ela já estar madura (com o perdão do trocadilho) e ser uma personagem que você gosta cada vez mais. Ansioso para vê-la no futuro e como vão utilizá-la sem a quarta parede. A quarta parede no início era insuportável e parecia que tava lá por cumprir tabela, mas ao longo dos episódios o uso dela vai se justificando e sendo essencial, até que chega um ponto que ela não quebra mais a quarta parede, ela quebra a oitava parede ou sei lá o que, em uma das cenas mais absurdamente geniais já escritas em um projeto da Marvel no último episódio, que loucura foi aquele momento ali, o encontro dela com o "Kevin Feige" e as várias citações e autocríticas ao próprio MCU (incluindo a x-word), cara, que série surpreendente.

É inegável também a qualidade dos coadjuvantes e secundários. A Nikki (Ginger Gonzaga), a melhor amiga dela, é apaixonante, o carisma é tamanho e a cada episódio ela vai ficando melhor, sendo um complemento perfeito para a Maslany em vários momentos e ter cenas engraçadíssimas. O Pug (Josh Segarra) é provavelmente o cara mais legal dessa Fase 4 inteira (talvez fique só atrás do Wong e do Andrew Garfield) e essa nerdice dele é muito bem explorada e gera cenas inesperadamente engraçadas, inclusive não é a primeira vez que o ator interpreta um advogado em série de herói, mas nessa aqui o personagem dele é um grande destaque e deveria ter aparecido mais. Eu particularmente não curto o Hulk do Mark Ruffalo em "Vingadores: Ultimato" (2019), mas aqui ele foi bem legal, bem melhor desenvolvido e gerou cenas muito boas no primeiro episódio, eu gosto muito do Mark Ruffalo e aqui ele provou ser um bom Hulk apesar de todas as críticas por ele fazer yoga (que ele inclusive já fazia desde que era o Edward Norton no papel ainda), além que praticamente confirmaram um filme de "Planeta Hulk" e mal posso esperar para ver isso aí, mas só achei sacanagem fazerem o filho dele calvo, sendo que é cabeludo nos quadrinhos.

Ainda tem o Blonsky, num retorno maravilhoso do Tim Roth, que vemos um outro lado do Abominável e foi muito engraçado e bastante legal ver o personagem com profundidade, no "O Incrível Hulk" (2008) ele era só um soldado que levou gama e é isso, aqui temos a exploração dele e ele funcionou perfeitamente bem, foi legal ver esse outro lado de que o cara foi só uma vítima do General Ross, além de que depois de ver isso, chega a ser incrível ele não estar nos Thunderbolts. E é claro, não podemos deixar de falar do Wong e do Demolidor (Charlie Cox). O Wong rouba a cena em todo o episódio que ele aparece (todos os dois) e ele tem uma interação muito legal com os outros personagens, esse lado culto e certinho dele causa momentos cômicos sensacionais e aquele episódio que ele se junta com aquela Madisynn é muito bom, essa menina também rouba demais a cena e gera momentos hilários. E Matt Murdock... Ai que saudade que eu tava dele, dessa vez ele sendo muito mais fiel aos quadrinhos, com uma versão pegadora, sarcástica e mais aberto ao trabalho em equipe e eu prefiro ele retratado desse jeito que o jeito sombrio da Netflix (não que seja melhor que o da Netflix, é só uma preferência de adaptação, ele como personagem na série dele continua sendo melhor), além de toda a química com a Maslany, foi muito legal esse retorno.

Em "Mulher-Hulk: Defensora de Heróis" (um subtítulo brasileiro muito ruim e desnecessário por sinal, ela praticamente não defende nenhum herói na série) temos a exploração de um lado diferente da Marvel onde vemos coisas que não veríamos em um filme, como estilista de heróis, pirataria com os heróis (avongers), a retratação do bizarro e do diferente (James Gunn deve ter amado essa série). Com personagens maravilhosos, um tom cômico meio divisivo mas que particularmente me agrada e que de quebra ainda põe nerdola para chorar e bostejar na internet, a série cumpre perfeitamente seu papel de ser algo rapidinho para se assistir no horário de almoço do trabalho como apenas entretenimento e é isso. Eu gostei, entendo quem gosta, entendo quem não gosta e é isso. Paz.

Nota - 7,5/10

Nota por Episódio:
1x1: "A Normal Amount of Rage" - 5,5/10

1x2: "Superhuman Law" - 5,0/10

1x3: "The People vs. Emily Blonsky" - 7,0/10

1x4: "Is This Not Real Magic?" - 8,0/10

1x5: "Mean, Green, and Straight Poured into These Jeans" - 8,0/10

1x6: "Just Jen" - 7,0/10

1x7: "The Retreat" - 7,0/10

1x8: "Ribbit and Rip It" - 8,5/10

1x9: "Whose Show is This?" - 8,5/10

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