Crítica - Trem-Bala (Bullet Train, 2022)

Um dos filmes mais legais dos últimos anos!

Se você me conhece minimamente aqui nas interwebs, sabe que eu gosto muito de comédias de ação, filmes como "Em Ritmo de Fuga" (2017), como "Zumbilândia" (2009), como "Guardiões da Galáxia" (2014), "Deadpool" (2016) e por aí vai, então, um filme dirigido por David Leitch, dublê e diretor de filmes de ação como "Atômica" (2017) e o grande e profético "Deadpool 2" (2018), além de ser co-diretor de "De Volta ao Jogo" (2014), o primeiro filme da franquia John Wick - e ainda estrelado por Brad Pitt, um dos meus atores preferidos, era lógico que eu tinha uma expectativa alta para ver isso aqui, só não achei que iria curtir tanto, é incrivelmente divertido, é uma jornada eletrizante que culmina num valor de entretenimento sem igual em um filme que agrada praticamente todos os públicos, não creio que há uma divisão enquanto a esse filme, é um daqueles que tu assiste e ele persiste na tua cabeça por semanas contigo pensando "poxa, aquele filme foi muito da hora", é um filme perfeito para relaxar e assistir se você curte uma boa porradaria em uma trama interessante.

O filme inicialmente lhe apresenta a vários personagens diferentes cujo as histórias vão se conectar em algum momento, o nosso personagem central, Ladybug (Brad Pitt), que é um agente azarado cujo recebe esse codinome justamente para ter alguma sorte; Os irmãos Tangerine (Aaron Taylor-Johnson) e Lemon (Bryan Tyree Henry), dois assassinos de aluguel com nome de frutas (seria isso uma referência a "Todo Mundo Odeia o Chris"?); Prince (Joey King), uma jovem moça que finge ser uma garotinha fofa e inocente, mas na verdade é o pandemônio; e Kimura (Andrew Koji), filho do The Elder (Hiroyuki Sanada), que busca descobrir quem empurrou o seu filho de cima de um prédio. Basicamente esses quatro arcos são as bases do filme que vão se unindo ao longo da exibição, até porque há um macguffin que os reúne dentro desse trem-bala e o se passa praticamente todo dentro desse transporte, parece algo meio batido, mas esse fato é até zoado no início do filme quando Maria (Sandra Bullock) pergunta sarcasticamente a Ladybug o que tem dentro da mala e ele responde: "dinheiro, é sempre dinheiro", então é um filme consciente de seus clichês, de seu macguffin, de suas armas de Tchekhov, só que ele usa tudo isso que é, teoricamente, "ruim" e põe ao seu favor, fazendo da trama que vem a seguir, ser uma das mais empolgantes e descolados do ano.

Esse é um daqueles que você assiste com um sorriso no rosto, ele traz a essência do blockbuster de um jeito perfeito, eu me arrependo de não ter ido assistir no cinema, pois eu acho que essa vibe dele é a ideal para ir ao cinema, sabe? Aquele filme que você entra na sala, desliga sua mente, presta atenção na tela e fica lá assistindo aquilo por duas horas sem parar porque é tão maneiro, tão legal, que não perde a graça. É baseado no romance japonês homônimo escrito por Kõtarõ Isaka e eu não li esse livro, não sei o que acontece nele, mas se for igual ao filme, deve ser um livro extremamente bacana, pois aqui o Leitch pega essa história com clichês e recursos narrativos óbvios e faz algo surpreendente, lotado de reviravoltas e várias delas muito inesperadas, chega um momento que é um plot twist atrás do outro e a cabeça vai explodindo, é cada revelação bombástica que lembra um romance de Agatha Christie, ou até filmes com a mesma vibe tipo "Entre Facas e Segredos" (2019), esse filme na realidade é a adaptação perfeita de um livro da Agatha Christie que não é da Agatha Christie, a influência é mais que óbvia, toda essa coisa meio claustrofóbica de estar sempre lá dentro, o objeto macguffin, as armas de Tchekhov, é tudo usado com alta maestria, fazendo com que você curta sua experiência ao assistir.

Leitch, como ex-dublê e ex-coordenador de dublês, sabe fazer ótimas cenas de ação, é cada momento que é maluco e é bem coreografado, o filme não se sustenta só com soco, cotovelada, joelhada e tiro, a violência sempre vai ganhando novos níveis, até chegar ao ponto de uma luta de espadas como se fosse uma batalha do Japão feudal envolvendo dois samurais, só que se passando em mundo moderno dentro de um vagão a 5000km por hora. Tem várias outras cenas de ação incríveis, como o Brad Pitt surrando o Bad Bunny (ele merece, esse cantor de bosta), o Bryan Tyree Henry e o Aaron Taylor-Johnson, todas essas cenas citadas até agora nesse parágrafo tem as mesmas características: rápidas, bem feitas, críveis e divertidíssimas, tem aqueles exageros também clássicos de obras de ação onde o personagem dá uma cambalhota dupla para cair no chão, é bem legal mesmo.

O elenco também é muito participativo em transformar isso aqui em um dos filmes mais "cool" do ano. Cara, o Brad Pitt fazendo esse papel de um cara meio otário, de um cara que é ruim mesmo no trabalho dele e tendo que virar um grande herói de ação por conveniência é muito engraçado, é diferente do que ele geralmente faz, porque ele sempre é bad-ass, sempre é incrível, o melhor agente do mundo nos filmes de ação dele e aqui ele faz totalmente ao contrário, muitas das mortes que ele comete são por acidente e ele sempre tá sendo pessimista, ficou muito bom esse papel diferentão nele. O Aaron Taylor-Johnson e o Bryan Tyree Henry estranhamente tem uma química interessante, uma relação fraternal convincente, esse arquétipo clássico da dupla buddy cop meio atrapalhada mas eficiente que é funcional aqui, você se apega aqueles personagens porque o carisma deles tanto em dupla quanto coletivamente é espetacular. A Joey King também é maravilhosa, ela faz uma quebra de arquétipo que é usada dentro da história do filme, da menininha fofa, inocente, fisionomia padrão, roupas rosas, presilha de lacinho, o suficiente para fazer alguém se desculpar por falar um palavrão na frente dela mesmo ela tendo 25 anos. Essa coisa dela ser assim por ser renegada, ser sortuda (e exaltar isso a cada dez minutos) e usar o pensamento popular de que "meninas são frágeis e delicadas, não as temam" é muito certeiro, pois essa garota é uma psicopata que utiliza de sua fofura e feminilidade para manipular as pessoas a sua volta e convence a todas elas, chega até uma hora que um dos personagens fala "droga, menina, cê fez aula de atuação? Isso é muito convincente".

Um filme bem legal de assistir, "Trem-Bala" é bastante legal de assistir, um thriller de ação divertido, energético e surpreendente que usa seus clichês de um jeito inesperado que te põe cada vez mais dentro daquela trama, é, no geral, bastante carismático. O carisma dos personagens é inigualável, o elenco é espetacular, os vilões são muito irritantes como devem ser, essa quebra de arquétipos existente aqui que funciona muito bem, um filme que foge desses padrões apesar de utilizar historinhas sobre um macguffin ou armas de Tchekhov, até isso que geralmente é cansativo no cinema atual, nesse dilme em específico, funciona excepcionalmente bem. Assistam, vale muito a pena.

Nota - 8,5/10

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