Crítica - Sem Novidades no Front (All Quiet On The Western Front, 1930)

Um filme à frente de seu tempo.

Em 1930, surgia esta obra, que fez com que a visão sobre a guerra para as pessoas mudasse completamente. A Grande Guerra (ou Primeira Guerra Mundial, como é chamado o confronto nos dias atuais) havia acabado há doze anos, as sequelas do combate estavam se curando e poderia ser arriscado fazer um filme sobre o assunto, ainda mais em um país que não teve um alto envolvimento no confronto, mas deu certo e isso aqui é um dos filmes de guerra mais chocantes, poderosos, belos e assustadores que existem, pois os horrores vistos em um front de batalha são inesquecíveis e acabam mudando uma pessoa completamente.

É um filme extremamente antiguerra, na realidade, para mim, se fala sobre a guerra, já não pode ser totalmente antiguerra, mas mesmo assim o diretor Lewis Milestone deixa claro o viés contra a batalha nítido durante quase toda exibição. Essa que inicia-se com um monólogo onde um professor fala para adolescentes entre quinze e dezessete anos irem lutar pelo futuro de seu país (Alemanha) na França, discurso esse que utiliza-se do patriotismo colocado à força nas crianças desde quando nascem, você é obrigado a amar seu país não importa o quê e precisas fazer de tudo por ele, porém os questionamentos feitos durante a trama são justamente nesse tópico: O quão longe um homem precisa ir para atingir um nível de amor à pátria? O quanto vale a pena se arriscar em uma luta que não é sua? Será que o certo é receber ordens de coisas que você não quer fazer? Por que a humanidade está sendo tão cruel com ela mesma? E por aí vai.

Temos um protagonista definido: Paul Bäumer (Lew Ayres) e é através desse garoto em que vemos essas atrocidades e a fantasia patriota sendo destroçada de pouco em pouco. Através dele vemos esse pensamento fabuloso adolescente de que numa guerra você vai pegar um rifle e sair metendo tiro, matando todo mundo que está contra você e virar um herói e uma lenda em seu país, porém em um front você é tão vulnerável quanto seus inimigos e você também nota que seus adversários não são meros NPCs que foram programados por anos apenas para serem mortos por você em uma batalha, são pessoas assim como você, que têm uma mãe, um pai, um irmão, uma esposa ou um filho, esperando-os voltar para casa quando o mais provável é que não. Isso é demonstrado no primeiro assassinato de Paul, onde ele mata um rival e logo se arrepende só perceber que aquele homem era um ser humano como ele, que estava lá naquela batalha sendo feito de idiota por um governo que não ligava para ele ou sua família, apenas para os fins benéficos para a nação, isso se aplica a todos os países envolvidos em qualquer confronto armado, não há nada além de puro ego envolvido em jogo.

Com essas mensagens e demonstrações de humanidade, o filme se mostra à frente de seu tempo e enxergarmos o quanto isso, uma obra dos anos 30, se encaixa no nosso contexto atual, onde estamos vendo há meses a Rússia atacando a Ucrânia por motivos puramente egocêntricos por parte de um presidente fascista que só quer o benefício próprio, você vê aqueles jovens se matando aqui durante anos e anos de suas vidas, a ponto de não conseguirem mais se encaixar em uma vivência cotidiana comum por estarem tão acostumados a viverem no inferno terrestre que não tem mais capacidade para viver comumente, o comum para eles agora é ver gente sangrando, sendo explodida, amputada e perdendo a vida em uma briga que eles não deveriam ter se envolvido. É uma mensagem poderosa, pesada e visionária. A cena em que Paul retorna para sua casa e reencontra sua família é o perfeito exemplo disso, o garoto está tão traumatizado que uma das primeiras coisas que sua mãe lhe diz é "você é o mesmo, mas não me parece mais a mesma pessoa", o que acaba por ser a perfeita representação do que a guerra te faz, te deixa amargurado, frio, sombrio e traumatizado.

Em "Sem Novidades no Front", temos um dos maiores clássicos do gênero de guerra que o cinema já produziu. É pesado, sombrio, é triste e mostra o quanto a guerra é um horror e um verdadeiro inferno. Mostra muito bem a jornada de seu protagonista ao perceber o que é realmente essa batalha, o que ela significa e o quanto ela só é destrutiva e o tanto que ela é feita por motivos egoístas, ignorantes e imbecis, além desse mesmo protagonista ter uma das melhores performances que eu já vi na arte do cinema. Sabe por que o nome do filme é esse, Sem Novidades no Front? Porque em um front só há sangue, tiro, explosão, terror e lágrimas, nunca é algo diferente, é sempre essa mesmice, sem nenhuma novidade.

Nota - 9,5/10

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