Crítica - Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981)
O clássico dos clássicos.
Estou a falar de uma das maiores franquias do cinema novamente aqui no perfil (a primeira vez foram as mesmas opiniões, mas escrita de uma maneira que prefiro nem lembrar), agora às vésperas da estreia do quinto e último capítulo da saga, que virá a estrear no final de junho aqui no Brasil, e cara, acho que não é segredo para ninguém que eu amo essa série de filmes, que o Indiana Jones é um dos meus personagens favoritos desde que eu era criança e que Steven Spielberg é o meu diretor favorito (empatado com o Clint Eastwood). É difícil falar sobre Indiana Jones, sobre essa franquia tão grandiosa e o que ela representa, pois é algo tão icônico, que está tão intrínseco em nossas memórias mesmo que não tenha lançado nada inédito oficialmente há quase quinze anos, mas que está viva até hoje, tem uma comunidade de fãs muito grande, é de um apelo popular tão absurdo que 80% dos filmes e séries de hoje em dia o referenciam em algum ponto, seja simplesmente mencionando a existência do filme, seja tocando a marcante trilha sonora em algum momento, usando das marcas registradas do protagonista (o chapéu e/ou o chicote), citando falas ditas nos longas, ou referenciando alguma cena icônica. É tão maioral que hoje em dia pode parecer genérico ou batido para uma geração mais nova, porém todos esses arquétipos e artifícios que dão essa sensação na realidade foram popularizados justamente aqui. Então, perdão se ficar meio ruim, mas é muito difícil definir em alguns parágrafos o que isso significa para a história do cinema e da cultura pop.
Desde a primeira cena, Spielberg nos apresenta ao Dr. Indiana Jones (Harrison Ford), um arqueólogo e professor que já no início é mostrado que é um aventureiro excêntrico, que se mete em várias enrascadas. Na trama, vemos o Dr. Jones no ano de 1936 em busca de interceptar os nazistas de adquirir a Arca das Alianças, ou a Arca Perdida (que dá nome ao filme), a tábua na qual foram escritos os Dez Mandamentos da Bíblia. Com essa premissa básica, se originou um dos melhores e maiores filmes de ação e aventura do cinema cujo sua importância e relevância são inegáveis, é claro que a importância não transforma nenhum longa em algo incrível automaticamente, mas esse é um daqueles casos que você assiste e o clássico se justifica por ele. Uma coisa que o Spielberg e outros diretores de sua geração provam é que a grande elaboração nas narrativas não são tão necessárias se você tem um bom material em mãos que criam uma grande experiência dentro dos gêneros em que se propõe, a história aqui é bem simples, mas é de um carisma gigantesco, é cativante, divertido, que cria tantos momentos, cenas e símbolos marcantes que deixa praticamente impossível de assistir sem abrir um sorriso de orelha a orelha.
Para algumas pessoas, o filme foi arruinado por uma observação da personagem Dra. Amy Farrah Fowler da série "The Big Bang Theory" (2007-2019), onde ela diz que: "[...] o Indiana Jones é totalmente irrelevante para a trama", e eu sei que isso é apenas uma piada de sitcom, mas é algo que gera uma discussão bastante interessante, afinal, o personagem não influencia diretamente no desfecho do arco dos antagonistas no final. Entretanto, os nazistas só pegam a Arca e morrem por conta dela por decisões e ações do protagonista que vão levando para que os nazis peguem o artefato e acabem indo de base por abri-lo. Aliás, é bem intrigante voltar a assistir depois de mais velho, pois você percebe que existe ali uma mensagem sobre a corrupção que o poder causa, como as pessoas adoecem por objetivos e ideais errados, uma busca por poderes divinos, que levam a fins indesejados por conta da ganância, da avareza, uma espécie de prepotência natural do ser humano que direciona a esse destino. Os vilões do filme são um grande exemplo, são nazistas, e como sabemos, nazistas não tem humanidade, são apenas soldados moldados à imagem de um ditador assassino maluco que odeia judeus e precisam ser destruídos, então daí já vem o motivo para serem detestáveis, e a forma qual eles são derrotados é poética e totalmente satisfatória.
O próprio Indiana Jones é espetacular, não importa o que uma personagem de série de comédia diz, ele é brabo. Existe um dizer que um personagem só é icônico de verdade quando você consegue reconhecê-lo pela silhueta, e o Indy é um dos principais exemplos disso, pois você reconhece aquele chapéu e o chicote de qualquer ângulo. O que eu curto mais é que ele é um grande herói de ação, mas ele é falho, ele não é 100% incrível, ele tem medo de cobras, ele é meio burro em relação à algumas questões, é cético em relação a várias coisas, todo o conhecimento que ele adquire como aventureiro é literalmente vivendo e aprendendo. Isso é de uma humanidade tão grande que aproxima o espectador, ele é um cara normal que vira um aventureiro por necessidade da profissão, isso combinado a um carisma e uma atuação incrível do Harrison Ford, que a persona dele praticamente se mistura com a do Dr. Jones, até porque nenhum personagem acaba sendo memorável sem uma boa atuação do intérprete, é extremamente cativante, cada atitude dele durante a narrativa é muito legal de assistir, além de todos os momentos icônicos e memoráveis.
Uma coisa que complementa o arco do Indy é sua parceira, Marion Ravenwood (Karen Allen), e na minha opinião, ela é uma grande figura feminina desses blockbusters. Em uma época em que mulheres em longas de ação ou aventura só serviam para serem donzelas em perigo que gritam o nome do protagonista masculino, Marion se destaca por ser proativa. Sim, ela foi sequestrada e feita de refém, mas a forma na qual ela age se diferencia, ela é resiliente, estrategista, confiante, até mesmo quando ela é raptada pelos nazistas ela não se dá por vencida, ela não vira o arquétipo da mocinha em situação de perigo, ela tenta formular uma estratégia para enganar o Dr. René Belloq (Paul Freeman) e tentar escapar do cativeiro (se deu certo é outra história). A Karen Allen tem uma química perfeita com o Harrison Ford, os dois em cena combinam muito bem juntos, uma interação meio forçada pela circunstância que são colocados, mas que cresce de forma tão fluída, tão crível, que é impossível não gostar, tanto que até hoje é o melhor interesse romântico do Dr. Jones (e vai continuar sendo, porque o quinto, aparentemente, não vai ter um romance para o herói).
Se tem algum problema, acho que é a coreografia de lutas corpo a corpo, que aí sim ficou datado, envelheceu um pouco mal, porque já é meio fraco e a montagem não auxilia muito, mas isso é pouco comparado ao quão grandioso é o filme, é apenas um detalhe. "Os Caçadores da Arca Perdida" é um dos maiores clássicos do cinema, um dos melhores de Steven Spielberg e, com certeza, o filme que redefiniu o gênero de aventura na arte como um todo, o tanto de filmes, série e jogos (principalmente) baseados nisso aqui não está escrito. Com uma trama carismática, cenas muito bem feitas (tirando essa do Indiana enfrentando o segurança), parte técnica simplesmente perfeita que envelheceu extremamente bem e uma das melhores e mais memoráveis trilhas sonoras da história do cinema composta pelo grandioso John Williams, temos um clássico atemporal que até hoje nenhum outro longa de aventura chegou nem perto dessa franquia no geral.
Nota - 10/10